Imperium Lan - A Queda de Um Império escrita por Accord2


Capítulo 13
XIII




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— O que vem a ser isto, general?

            - O que lhe parece que seja isto, senador? A partir deste dia todos os poderes estão nas mãos do general Julius de Pompus. O senado e todos os senadores deste, perdem os seus poderes e as suas fortunas estão confiscadas pelo estado. As greves estão proibidas, as manifestações são ilegais e as liberdades individuais condicionadas pelo estado. Isto, senador, é o que chamam de um golpe de estado.

            O senado tornou-se num violento campo de batalha. Folhas de papel voavam em todas as direções, palavras de ódio eram trocadas entre os senadores e os militares que os rodeavam. Depois de vários minutos em que a confusão reinou, vários tiros foram disparados e o silêncio voltou-se a instalar.

            - Silêncio. Por Abacus, sois mesmo mal comportados, pareceis crianças. – Disse subindo as escadas que levavam ao lugar do imperador no senado, debaixo da enorme bandeira que cobria toda a parede da assembleia. – Sou o general Julius, para quem não me conhece. Prazer em conhecer-vos, meus senadores. Como sabeis sou o novo “imperador”, exijo respeito.

            - Respeito? O senhor chega aqui e apodera-se de tudo como se isto fosse seu! – gritou um senador em fúria.

            - Por amor aos deuses, quem é você para estar sentado nesse lugar? Esse lugar pertence ao escolhido pelo povo.

            - O povo… O povo… Está sempre o povo metido ao barulho. Tenha dó, senhor senador. O povo não foi capaz de escolher um líder nestes últimos meses e enquanto brincais às eleições o império desfaz-se. – Faz uma pausa e contempla a arquitetura da sala do plenário. – Belo sitio este, mas enquanto os senhores estão aqui dentro, cercados por estas quatro paredes luxuosas, perdem a noção do que se passa realmente lá fora. Só na semana passada morreram dez mil homens dos nossos num ataque rebelde, a décima quinta frota da Força foi dizimada, o planeta de Xanos foi dizimado, os civis passados pela espada e as colheitas destruídas. A metrópole está por reconstruir e passa-se fome nas ruas. O Inverno está a chegar e não temos comida suficiente para todos. Esta é a cruel realidades, meus senhores, e vós estais mais preocupados em brincar às eleições imperiais.

            - Brincar às eleições? Estamos a escolher aquele que representa a vontade do povo, aquele que nos liderará nos próximos anos.

            - Sim… Sim… Já conheço essa história tal como conheço a palma da minha mão. Pelos poderes que tenho, anuncio que o senado está dissolvido. Queiram regressar às vossas casas, caros senadores, não tendes mais nada que fazer aqui.

            Empurrados pelas armas dos soldados que os cercavam, os senadores foram aos poucos arrumando as suas coisas e saindo. Não tardou muito que a assembleia ficasse deserta. Pela cúpula de vidro entrava a alaranjada luz do fim de tarde. As paredes brancas tornaram-se laranjas e as estátuas ganharam um ar cansado, como se estivessem saturadas de tudo aquilo. Sentado na cadeira que pertenceu em tempos ao falecido Imperador, Julius desfolhava o que viria a ser a nova constituição. Trabalhara meses a fio naquilo que mais se orgulhava, a constituição que acreditava levar o Império ao caminho da glória e prosperidades, em que teve noutros tempos. Acreditava com toda a sua fé que era possível levantar de novo o Império Lan. Nos últimos meses, após ataques sucessivos, a frota da Força estava dizimada e espalhada pela galáxia, perdida e sem rumo. Todos os dias morriam milhares de pessoas, umas à fome, outras na guerra, e não havia fim à vista.

            Quando saiu chuviscava, tal como a metrologia avisara. Já era noite e o céu estava carregado de estrelas. Há um mês que não eletricidade em metade da capital, muitos dos transformadores ficaram destruídos e ninguém os reparou desde então. Julius não tinha carro, odiava todos os veículos, incluindo os do seu quartel. Andou a passo de caracol para o metro, não tinha medo da chuva, nunca teve. De certo modo encontrava paz nos dias chuvosos, como que se a sua consciência fosse lavada por toda aquela água e se tornasse outra, uma mais limpa, sem os pecados do dia a dia. Nunca nos seus quarenta e sete anos de vida viu tantos pedintes como agora. Eram milhares espalhados pelas ruas da capital. As obras de reconstrução estavam paradas, muitos dos negócios, que outrora apareciam como cogumelos em todas as esquinas e ruas, fechavam todos os dias para nunca mais se abrirem. O império tinha-se tornado pobre, decadente, miserável. Se o imperador ainda fosse vivo, voltava a morrer de desgosto. A corrupção na função pública tinha atingido níveis alarmantes, os senadores esbanjavam o erário público sem controlo e as eleições decorriam com toda a calma do mundo, concorrendo pessoas que Julius desprezava.

            Os deuses choravam, em luto pelo sonho da fundação da nação. Há mil anos atrás, aquando da fundação do império, era sonho dos fundadores que todos tivessem um lar, comida e um trabalho. O realidade não podia estar a afastar-se mais do sonho, e cada vez fazia-o mais depressa.

            A estação de metro estava deserta. Já quase ninguém andava pelas ruas àquela hora da noite, tinham medo dos assaltantes, que eram tantos que já nem a polícia metropolitana se dava ao trabalho de os apanhar. A cidade estava recolhida em casa, trancada a sete chaves, esperando que o dia chegasse, que mais um dia passasse. Já ninguém tinha esperanças, em tempos o próprio Julius as perdeu. Já ninguém sabia a quem rezar, ou pedir, ou suplicar, era sempre tudo em vão. Os deuses viraram as costas ao homem. O Império Lan desabava a olhos vistos, a maior nação da galáxia estava sozinha na rua escura e cercada de inimigos. Neste ponto da história, Julius já não se perguntava será que a nação vai cair? mas sim quanto tempo levará até que a nação moribunda se desfaça nas águas do tempo?


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