Mudblood escrita por Ella


Capítulo 8
Ego


Notas iniciais do capítulo

*Se esquiva das pedras*
Olá, moços e moças ♥
Minha desculpa da vez é reforma na casa e preguiça. Super desculpa. Eu sei que eu sou um ser humano horrível.
Quero dizer também que não me responsabilizo por nada que a Andy faz. Ela faz as merdas, eu só as escrevo.
Aproveitem o capítulo ♥
PS: Eu acho que tô ficando louca. Eu tô escrevendo Andy Darling no lugar de Hill. Desculpa pelo vacilo.



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  Motivo número nove para odiar Taylor Darling: Ele tira as minhas certezas.

    A mulher não fugiu do meu olhar irritado.

   Conversar sobre as tristezas do meu passado com a Srta. Rabitt não era o que eu planejava para o meu feriado.

   — Se a tatuagem é tão sem importância para você, porque é tão importante tirá-la? – ela perguntou, como se eu soubesse a resposta pra essas coisas.

   — Eu não sei.

   Ela anota mais alguma coisa na caderneta verde dela. 

   — Você ainda parece estar abalada com o que aconteceu entre a sua mãe e o seu pai. Tem certeza de que nada disso influencia no fato de você não gostar da sua marca?

   Neal e Jenn eram a minha maior prova de que as almas gêmeas não são uma certeza. Eu repeti isso por anos, mas havia feito isso com mais frequência nos últimos dias pra mim mesma. Mais precisamente toda vez que eu olhava para Taylor Darling.

   Eu estava amolecendo. Havia uma diferença meio óbvia entre a Andy pré Era Malfoy e a Andy que eu era agora. Eu já havia visto isso acontecer antes, e estava com medo do que viria em seguir.

   Quando Alex e eu nos conhecemos, finalmente senti que não era uma aberração por não querer uma pessoa destinada pra mim. Claro que a justificativa dele era que relacionamentos a dois não eram a sua praia, mas ainda assim eu conseguia abraça-lo e planejar a minha viagem para o Backspace com ele. Quando Norrie disse ter encontrado o Elliot, Alexander nem mesmo olhou uma vez pra trás. Só bastou se olharem. Só isso e Alex se perdeu e passou para o lado negro da força.

   Isso me incomodou muito na época, hoje em dia eu só reclamo quando eles começam a falar esse monte de asneira romântica em volta da minha pessoa.

   Mas se aquilo havia acontecido com Alex, o que restava para mim?

   — Eu não sei.

   — Se pretende continuar com o objetivo de apagar a marca, por favor, responda as perguntas seriamente.

   Uma perda de tempo. Em breve eu faria dezoito anos e com isso vinha a minha capacidade de tirar a minha marca. Eu era responsável! Não bastava isso? Precisava mesmo de todas essas perguntas e a avaliação psicológica? Isso porque eu optei por ser justa e não viajar para a Suíça.

   — Você me disse que conheceu o seu destinado e ainda assim nada em sua mente mudou. Fale-me mais sobre isso. – Me encolhi.

   Claro que essa era uma mentira deslavada, mas se eu confessasse isso conseguiria ir para algum lugar?

   Quando eu digo não saber a resposta pra algo, é porque eu, na verdade, estou totalmente perdida. Eu não sabia se queria apagar a marca, nem se odiava realmente Malfoy, nem se voltar atrás na decisão de ir ao Backspace queria dizer algo sobre o que eu sentia por ele. Todas as minha certezas estavam se desintegrando.

   — Ele simplesmente não combina comigo.

   E nunca – nunca mesmo – uma mentira pareceu tão errada.

 

 

 

    Eu odeio Natal.

   E não apenas por toda essa teoria sobre amor que envolve ele. É pelos pequenos gestos, como acordar de madrugada pra reclamar dos filhos do vizinho que jogam bolas de neve na sua janela, como fingir que o peru da vizinha não tem gosto de areia, como usar os suéteres mais velhos do fundo do guarda-roupa.

   Natal é uma época de falsidade. Todos lembram do amor ao próximo, tentam se redimir, esquecer os erros e comemorar os acertos. Nada daquilo combinava comigo.

    Eu sou um bom ser humano? Não sou.

   Eu tento melhorar todo dia, me renovando e aprendendo com as merdas que me acontecem? Também não.

   — O que vocês acham de um bolo de chocolate salgado? – Norrie escondeu o rosto atrás da prova de que não se deve deixar ela perto da cozinha.

   Abaixei o bundt e olhei-a. Pela careta que ela fazia enquanto mastigava o bolo, nem tive vontade provar, apenas joguei tudo no lixo. Olhei para o relógio, Taylor disse que viria ás três horas. Ele estava atrasado por dois minutos. Isso porque dizem que britânicos são pontuais.

   — Para evitar mais um desastre, vamos cuidar da árvore.

   Os enfeites ficavam no quarto da minha mãe. Ela havia percebido que aquele era o melhor caminho quando eu resolvi que quebrar tudo relacionado ao Natal faria o dia desaparecer.

   Norrie me seguiu e começou a olhar pro chão, bricando com os dedos. Ela queria me ignorar, coisa que não conseguiria. Quando a porta do quarto se fechou, ela cruzou os braços e fingiu procurar embaixo da cama.

   Deitei-me na cama e continuei a fitar ela. Fugindo do meu olhar, Norrie pegou a caixa e se dirigiu até a porta. Quando viu que estava trancada, enfim se virou pra mim. Afastei-me para o canto e bati no lugar do meu lado. Eleanor praguejou e se jogou de bruços na cama.

   — Tudo bem?

   — Otimamente bem.

   — Não parece.

   — Eu não quero conversar, Andy.

   — Nem um pouquinho? – Ela se escondeu dentro dos cobertores, deixando a voz bem mais baixa e abafada quando falou.

   Ela ponderou por uns segundos.

   — Talvez um pouco.

   — Fale. – Norrie levantou o tecido, me mandando entrar. Ficamos nos olhando por alguns minutos, eu, esperando as palavras dela saírem, ela, pela coragem necessária para soltá-las.

   Eu percebi Eleanor com dez anos, quando ela era o pontinho vermelho no canto da sala que ninguém nunca tinha visto a marca e que nunca a soletrava quando a professora mandava fazer isso. Fui eu quem acabou na diretoria depois de empurrar Judith por prender ela no banheiro feminino e levantar a manga da sua blusa.

   Eu só conheci Norrie com onze. Na festa de Halloween, quando Chad achou a sua alma gêmea bem na minha frente e eu corri para o terraço. Lá estava ela, prestes a pular.

   Era o esperado. Afinal, que fim se esperaria para as pessoas sem marca? Você não vê muitas delas nascerem sem marca por aí. Isso porque em sua maioria são psicopatas em manicômios, freiras presas em conventos ou crianças morrendo de alguma doença bem séria aos dois anos de idade. São apenas o por cento acuado.

   Mas lá estava ela; zero por cento psicopata, completamente viva e saudável. Morrendo.

   — Meus pais querem outro filho. Uma criança que não é defeituosa.

   Os pais dela ainda não aceitavam a ideia de ter uma filha em branco, como se ela precisasse de mais uma razão pra se odiar. Eles acreditavam na ideia de pessoas nascerem sem marca por serem amaldiçoadas, assim como os meus tatatataravós. Eu os detestava e o sentimento era recíproco. O Sr. e a Sra. Curtis acreditavam que eu era uma má influência por tentar destruir os planos dela de ir para um convento.

   — O que você acha disso?

   — Talvez com um bebê pra cuidar, eles desistam da ideia de me transformar numa freira – Ela tentou rir.

   — É a pior ideia de todas.

   — Você consegue ter umas quase tão ruins.

   — Sou obrigada a discordar.

   Eu concordava bastante.

   — O que você realmente acha disso?

   Norrie não me respondeu de imediato. Sua pele começou a ficar vermelha e os olhos começaram a lacrimejar. Fechei meus olhos e fingi não ver. Era o nosso pequeno trato. Ela não me via chorando por Neal, eu não a via chorar pela falta de marca.

   — Eu vou me sentir menos culpada – ela falou em sussurros. – Mamãe parou de rezar pra minha marca aparecer, sabia? Não sei se isso é algo bom ou ruim.

   Norrie sempre fala demais. Fala tudo o que pode e o que não pode também. Mas agora ela só soluça e se aninha mais no meu abraço, como a criança assustada que nunca foi e isso me dói. Ela foi se acalmando, parando de chorar, até que enfim o meu coração parou de sufocar também.

   Só nos separamos quando Kenz bateu na porta por dois minutos seguidos, chateando nós duas com mais uma das suas músicas natalinas irritantes, vindas de programas infantis mais irritantes ainda. Norrie pegou a caixa de enfeites e eu destranquei a porta. Ignorei os gritos infantis de Mackenzie, a joguei no meu ombro e desci as escadas correndo.

 

 

 

   Uma das coisas que eu mais odeio sobre o Natal é, sem sombra de dúvidas, a água congelada. Essas famigeradas partículas de gelo que caem do céu em forma de floco e te deixam com pneumonia, febre e nariz vermelho podem parecer super legais nos filmes, mas não são.

   Kurt percebeu que só Elliot sabia cozinhar e por isso enxotou eu, Norrie, Alex e Taylor, que tinha chegado bem na hora, nos mandando tirar neve do passeio. Mas claro que ninguém quer apenas tirar a maldita neve. Meus amigos têm a necessidade de se atirar no chão para fazer crateras feias e nem um pouco parecida com anjos, jogar amontoados arredondados de gelo nos meus cabelos, que pra melhorar já não se dão muito bem com frio e, por fim, gritarem como crianças toda vez que Mackenzie se mostrava capaz de acertar um alvo que está a meio metro do rosto dela.

   — Eu sou oitenta e cinco por cento adulta, não vou me prestar a esse papel.

   — Você é cem por cento chata, Winnifred! – Eleanor gritou enquanto fugia de um vulto branco que surgiu do nada.

   Taylor e Mackenzie se esconderam atrás de mim para se proteger de Eleanor e Alexander. A ruiva parecia feliz e isso pareceu o bastante pra tirar a feição irritada do meu rosto. Fiz a maior bola de neve que consegui e tentei acertar no rosto do Taylor. Só tentei mesmo, já que ele conseguiu de algum jeito me segurar pela cintura com um braço e a menina com o outro, nos levando para trás do carro de Kurt.

   Kenz correu de volta para o campo de batalha, deixando Taylor e eu rindo por nenhum motivo aparente. Ele tirou o chapéu de duende que usava, deixando os cabelos platinados perfeitamente desajeitados.

   — Feliz Natal, Hill.

   — Eu também.

   Se me perguntassem na hora o que eu tinha acabado de dizer, eu não conseguiria responder. O sorriso dele era desconcertante e infinitamente mais interessante.

 

 

 

   Kurt é o melhor cozinheiro de todos. Ele impedia a minha intoxicação alimentar toda vez que resolvia cozinhar em uma data importante. Eu podia amar Jennevive, mas amar a comida dela exigia muito mais que amor. Exigia coragem e falta de paladar.

   Taylor trouxe o gato dele para cá e posso dizer que ele odeia todos menos eu. Me sinto bem com isso.

   Kurt estava falando sobre chá com o Taylor, tentando entender porque colocar leite em água e folha é uma boa escolha. Mamãe ria e segurava a mão dele por cima da mesa, ignorando todos nós e lançando seu sorriso adolescente com todos os dentes à mostra.

   Eu conseguia ver o seu pulso em branco daqui. A mulher dele tinha morrido no parto da Kenz e com os meses a frase foi dele foi sumindo. Jenn diz que ele passou anos de luto, ainda se referindo a ela como se estivesse viva.

     — Medford é bem diferente de Brighton. As pessoas são...

   — Chatas? Velhas? Fofoqueiras? Entediantes? Muito chatas? – resmunguei, mesmo que amasse o tédio dos dias daqui.  Norrie riu com a boca cheia de salada.

   — Acho que a palavra que o Taylor está procurando é “antiquadas” – Jenn sorriu para ele. Aslam, o gato mais fofo do mundo, se remexeu em meu colo e começou morder o fio solto do meu suéter. Malfoy sorriu para o felino e estendeu a mão para acariciar a barriga dele, sendo totalmente ignorado pelo mesmo. Sorri feliz e ele cruzou os braços, murmurando um “traidor”.

   — Seus pais não se importam de você passar o Natal aqui? – Alex perguntou. 

   — Minha mãe gosta muito da Andy. Ela não viu problema.

 —  Não me disse que tinha conhecido a mãe dele, Andy. – Totalmente ignoro o olhar divertido de mamãe (Que, eu juro, quase pega a câmera dela para tirar foto do momento), Eleanor e Alex. Kurt bufa irritado, mantendo o papel de pai preocupado com as intenções do namorado da filha. Elliot só pega mais batatas e nem ao menos tenta esconder a satisfação de seu rosto quando olha de mim para o loiro do meu lado.

   Quando o jantar acaba, Aslam resolve que é uma boa hora pra tirar as luzes da árvore. Ele tem uma garra muito boa. Kenz o adora e por isso passa um bom tempo correndo atrás do coitado, fazendo Darling correr atrás de ambos. Quando a menina enfim conseguiu, dormiu no sofá minutos depois, ainda agarrada ao gato. Mamãe tirou muitas fotos disso.

   Já é madrugada quando Alex resolve ir embora e levar Norrie, Elliot e Taylor pra casa. Os dois primeiros voltaram a brigar de guerra de bola de neve e o casal de namorados da terceira idade provavelmente estava se pegando na cozinha, o que me deixa sozinha com Malfoy.

    — Não foi horrível como você disse que seria.

   — Liguei para “meu pai” e garanti que ele não deixaria vovó vir. Por isso foi bom. – Levei ele para a porta.

   — Qual o nome dele?

   — Neal. – Só a menção dele já me dava calafrios.

   — É um nome horrível – gargalhei, mais por ter sido ele falando aquilo do que da piada em si. — Podemos chamá-lo de Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado se ajuda.

   — Tsk, tsk. Não ofenda o Lord, Malfoy. – Apenas ficamos olhando sorridentes para o outro na entrada, não dizendo nada por um tempo.

   Olho pra cima e lá está um visco.

   Não estava lá quando Norrie saiu e talvez por isso meus três amigos estejam rindo no carro enquanto me encaram. Os lábios de Taylor estão se mexendo. Ele está falando algo. Não sei o que é, ele me confunde e só consigo pensar no gosto que a boca dele pode ter. Concordo com a cabeça, mas não sei com o quê. Os lábios dele parecem se aproximar dos meus, o que é esquisito, visto que nós dois estamos parados.

   — Você sabe a tradição do visco que a gente tem aqui na América? Então...

   As palavras saíram da minha boca por si mesmas. Taylor olhou para cima também e cruzou os braços. Ele parecia achar algo engraçado.

   — Não.

   — "Não" o quê? – Cruzei os meus braços também.

   — Eu não vou tentar beijar você, Andy Hill.

   Acordei do transe, já irritada com o sorriso convencido que estava no rosto dele. O que diabos eles estava falando?

   — Do que...

   — Eu sou muito fácil. Seu ego vai ficar incontrolável se eu continuar.

   — Eu não quero que você me beije! E o meu ego não é grande.

   — E em todas as vezes que eu tentei te beijar...

   — Foram só quatro! – Nem sei porque estou irritada com isso. Eu. Definitivamente. Não. Quero. Beijar. Ele.

   Eu acho.

   —... Algo dava errado. O destino está tentando dizer que você tem que fazer isso

   — É a maior merda que eu ouvi. – Malfoy segurou a minha bochecha e – ainda rindo, vale ressaltar – deu um selinho no canto do meu lábio.

   O bastardo se virou vitorioso e risonho, entrando no carro e indo embora com os outros.

   Ao menos eu tenho mais um motivo pra colocar na minha lista, já estava ficando sem ideias.

   Motivo número dez para odiar Taylor Maxwell Darling: Ele é mau. Simplesmente mau.  


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Notas finais do capítulo

Ele é mau.