Mudblood escrita por Ella


Capítulo 7
Adorável


Notas iniciais do capítulo

Oi, moços e moças
Por favorzinho, não me apedrejem. Eu acabei de escrever o capítulo na sexta e iria postar de madrugada, lá pra meia-noite mesmo. Aí, quando eu enfim reviso duas vezes, adiciono um monte de coisa, coloco tudo no Nyah e pá, clico em postar... A internet cai. Sim, eu tenho consciência de como isso parece mentira deslavada. Mas não é, juro. Não postei depois por motivos de: estava viajando e pra onde eu fui não tinha computador. O fim do mundo fica na Bahia. Vi dois dinossauros lá, inclusive.
Enfim, aqui o capítulo.
P.S.: Alohomora é um feitiço de Harry Potter que se usa pra abrir fechaduras e portas.



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Taylor

   — Senhora Darling, temo que não seja a primeira vez que a vejo esse mês.

   Mais uma vez. Eu vou ser expulso mais uma vez, eu posso pressentir isso.

   O garoto atrás de mim tinha uma mãe aparentemente raivosa que apertava seu ombro e tentava fazer o ferimento em seu nariz doer menos. A Diretora reclamou um pouco mais sobre disciplina e essas outras coisas de não poder socar o colega mesmo que ele seja um completo idiota.

   Eu, Taylor, com o sempre presente rótulo de excluído do fundo da sala e ele, Eric, como um desses alunos perfeitos e populares que lideram o grêmio estudantil. A luta já estava ganha antes mesmo de começar. Claro que todos vamos ignorar o fato de ele ter me chamado de sangue-ruim.

   É, tecnicamente foi por isso que eu soquei o rosto dele.

   Mas claro que também vamos ignorar o fato de que a minha mão deve estar doendo bem mais que o nariz dele. E também que as piadinhas sobre Harry Potter já não eram mais engraçadas ou originais. Ou que me trancar no meu armário até que eu grite “Alohomora” não era tão gentil.

   A mulher por fim decidiu que não devia me culpar. Deu uma suspensão para nós dois, mas me avisou que na próxima vez me eu não teria a mesma sorte. Os garotos agora me perturbariam ainda mais, o que me levava a questionar se não ser expulso era algo bom ou ruim. Fomos obrigados a escrever uma redação sobre a importância das nossas marcas no nosso mundo, pra dar um toque didático em tudo isso.

   E isso me dava o direito de xingar J.K. Rowling e todos os seus ancestrais.

 

  

   — Você não é o meu parceiro de Química, a Norrie é – Andy falou assim que passei pela porta da sala. Ela estava com a cabeça deitada nos braços, olhando pra mim sem expressão no rosto.

      Norrie estava organizando uma festa que tem algo a ver com beisebol, sem um motivo aparente, já que ela não fazia parte do grupo que devia fazer isso. Nos poucos segundos que estava perto dela, tinha a visto gritar umas quatro vezes, e, pelo fato de ela ser amedrontadora, todos atenderam.

   Ela me mandou fazer companhia pra Hill, preocupada com a falta de ânimo recente da amiga.

   Andy estava obviamente pra baixo. E quando eu digo obviamente, eu digo que era o mesmo que um cartaz neon dizendo “Não perturbe”. Ela parecia não ter tido uma noite de sono em anos, mas eu sabia que se tentasse lhe dizer isso ela apenas me ignoraria e tentaria mostrar o contrário. Ela era mais transparente do que achava, ao menos pra mim.

   — Como você vai me levar pra casa hoje sem a moto?

   Viemos no carro da mãe dela hoje, que havia pedido uma folga. Eu havia mais ou menos mentido pra Andy, não querendo dizer que estava de castigo.

   Ela achava que o pneu da moto tinha furado por causa do Ronan. E isso não era exatamente uma mentira, já que eu estava sem moto por uma semana por culpa dele. Eu sentia falta da Jolly e do ronco do motor dela e Andy não mentia quando dizia que o ônibus escolar fedia.

   Esse é apenas um parágrafo de uma sala inteira cheia de pastas sobre os lados ruins de ser irmão mais velho.

   Ronan era a ovelha negra da família. Ele, assim como a Senhora Teimosia, odeia as marcas. 

   Na nossa família a história de meus pais é uma referência. Ela é famosa, até já saiu na coluna sobre almas gêmeas do jornal de Brighton. Minha mãe sempre escreve sobre nas dedicatórias dos seus livros e meu pai sempre a conta na ceia de Ação de Graças.

 

   Era meio que impossível não crescer querendo algo como o que meus pais tinham. Mas Ronan, de alguma forma, conseguiu ultrapassar essa barreira.

   Andy chegou e algo mudou no clima da casa.

   Meus pais começaram a falar mais comigo no almoço, o tópico sempre era ela. Rubi e Tanya desenhavam corações com o as iniciais AH no meu caderno de poemas. Peter só ficava fazendo piadas sem graça. Tori achava que era uma boa ideia colocar camisinhas na minha carteira. Ronan só se dirigia a mim para falar algo maldoso ou de baixo-calão, isso veio da paixão estranha que ele desenvolveu pela Andy.  Ela não tinha visto ele quando foi lá em casa, o pirralho tinha ficado envergonhado e se escondido na escada, observando de longe.

   Resumindo, ele me odeia, brigamos e falamos as palavras más que minha mãe não nos deixa falar. Sem moto por uma semana pra mim, sem computador e videogame pra ele.

   — Ainda temos o ônibus, não?

   — Não quero. Ir a pé consegue ser melhor que olhar mais uma vez pra Judith e pro Leopold se beijando.

   — Eles são um casal bonito, admita.

   — São, mas não deixa de ser estranho.

   E mesmo que eu soubesse que Andy não amava ele, não pude deixar de ficar aliviado por não ter ouvido ciúmes no tom dela.

   — Você devia ir pra casa e dormir – falei.

   — Suas olheiras são bonitas, pelo visto não tenho a mesma sorte.

   — Você continua linda – Andy revirou os olhos e bocejou, montando uma feição convencida e me fazendo querer beijar todas as partes de seu rosto. 

   — Eu realmente gosto das suas olheiras.

   — E dos meus olhos também, não se esqueça. – ela riu, por incrível que pareça.

   Quando estava pra baixo, lembrar dela grogue e falando do cinza dos meus olhos inflava um pouco o meu ego.

   — Eu realmente disse isso no meio do sono?

   — E nem queira saber o resto. – Ela cobriu o rosto com as mãos, gemendo irritada. Deitou a cabeça no meu ombro, mais um daqueles momentos em que ela enfim parava de agir como se me detestasse. Lembrei-me de algo que a Norrie me falou, sobre ela tentar se convencer de coisas que ela nem chega perto de acreditar.

   — Eu pareço ter vocação pra passar vergonha. – E ainda assim ela nunca parecia realmente envergonhada com nada.

   Com o silêncio que veio depois disso, Andy começou a fechar os olhos.

   — Parece que o professor faltou hoje. – E foi o que precisou pra suspirar e dormir depois de alguns minutos.

   Ela não acordou quando o sinal soou por toda a escola e nem quando eu beijei o lado esquerdo de seu rosto.

 

 

   — Não precisa de pressa, Malfoy. – Era ridículo como eu amava esse apelido, mas só quando saía da boca dela.

   Hill puxou o meu braço para sair debaixo do teto da escola, me obrigando a sentir os pingos gelados no rosto. O capuz não permitia que eu me molhasse. Eu odiava chuva, diferente dela, que aceitava-a e parecia amar o frio. Andy realmente preferia ir a pé pra casa do que ir no ônibus, descobri.

   E esse não seria um problema se a chuva não estivesse ficando mais forte e a sua casa fosse um pouco longe.  Ela tentou me convencer a ir no ônibus, mas não quis. Quando Andy Hill esconde o orgulho e te convida pra assistir algo com ela, recusar não é uma alternativa.

   — Você vai acabar pegando um resfriado.

   — Eu nunca fico doente. Nunca. 

   Eu preferia o sol mas estava estranhamente feliz em poder usar algum casaco. Apesar de ter chovido ultimamente aqui, sempre parece estar quente. Talvez com a chegada do Natal, o tempo comece a esfriar ainda mais.

   — O que vai fazer no feriado?

   — Meus irmãos querem arrastar eles para a casa da minha tia. Eu não quero ir, ela me odeia. E você? - Tia Debbie realmente me odiava. E normalmente eu sinto que preciso que todos gostem de mim, mas dela eu não exigia isso. Tia D não gostava de ninguém além do gato sem pelo horroroso dela, que sempre comia a comida do Aslam quando ia lá em casa.

   — Vai ser o de sempre. Eu, Kurt, Norrie, Kenz e Jenn. Talvez vovó apareça pra acabar com o humor de todo mundo e bem possivelmente a vizinha da frente vai oferecer o peru horrível que ela faz. Mamãe é mais ou menos vegetariana, aí consegue se sentir bem em não comer. Soa triste? Bem, é. Eu odeio Natal.

   — Você pode passar o Natal comigo. Talvez não seja tão horrível.

   — Você pode passar o Natal comigo. Talvez não seja tão horrível. – Alguma parte dela pareceu se arrepender de pois de falar isso, mas logo foi deixada pra lá. Seus olhos correram pelo meu rosto, procurando uma resposta. O tipo de olhar que me fazia considerar seriamente a possibilidade de ela ler a minha mente.

   Eu enfim entendia o que Percy dizia sobre se sentir como uma das vacas sagradas de Apolo. Winnifred fazia com que eu me sentisse lento, burro e vermelho. Ela podia gostar da brincadeira de “Odeie o Taylor”, mas ela amava ainda mais me deixar sem graça. E eu, como o idiota apaixonado que era, adorava o sorriso de lado que ela me lançava nessas horas.

   — Talvez minha mãe deixe. Ela te adora.

   — Também gostei dela.

   — Você viu a marca no pulso dela? Eu ainda estou esperando você perguntar sobre.

   — Pensei em perguntar, mas achei que seria grosseiro demais.

   — Todo mundo pergunta, ela ama responder. – Andy parou de pular nas poças de água e apertou mais a minha jaqueta em seu corpo. Virou-se pra mim e me esperou começar. — Era uma vez, Anne. Anne nasceu com um “Oi”. Assim como todos os outros que tem essa grande sorte, Anne acha que nunca vai encontrar sua alma gêmea e que vai morrer sozinha.

   — Me lembre de te apresentar pra Kenz. Você conta histórias quase tão bem quanto ela.

   — Mas aí ela conheceu um cara que também tinha “Oi” e se apaixonou. Quando ele achou a alma gêmea dele, que por acaso não era a minha mãe, ela se revoltou. Resolveu apagar a marca ilegalmente. Roubou um carro e fugiu pra Suíça. Você sabe que na Inglaterra nós não temos o Backspace como aqui, não sabe?

   — Já li algo sobre.

   — Enfim, existe um motivo pelo qual ela não tinha um carro. O outro ela tinha batido. Ela ainda não sabe dirigir, na verdade. Meu pai disse que ela estava drogada, que sentiu o cheiro vindo do carro, mas ela diz que só estava com sono. É, ela atropelou ele.

   — Não existe melhor forma de começar uma história de amor. - Andy pousou as mãos no peito dramaticamente.

   — Ela não deu a mínima quando ele falou “Oi”, minha mãe estava com medo de ter matado ele e a palavra parou de significar algo pra ela com o tempo. Meu pai bateu a cabeça quebrou o braço direito e um monte de costelas. Ele perdeu a memória, não lembrava o próprio nome, idade, cor de cabelo...

   — E nem a marca.

   — E nem a marca – repeti. — Tipo, eu e você sabemos que somos. Mas eles? Eles não tinham a mínima ideia. Se apaixonaram, ignorando as tatuagens. 

   — E aí?

   — E aí ele lembrou.

   Andy não revirou os olhos quando eu falei sobre nós, como eu previ que faria. Ela só continuou me fitando, meio perdida e quieta e voltou a pular nas poças.

 

 

   — Bater a cabeça na parede passa ser mais tentador a cada minuto – Hill falou.

   Eu tinha que concordar com ela.

   Norrie estava irritada com Judith, algo sobre ela e Leopold estarem juntos, segundo Andy. Qualquer um logo pensaria que ela gosta do Leopold, mas não. Eleanor quase me bateu quando eu levantei a possibilidade. Era algo bem mais simples. Norrie estava com inveja. Porque, se uma pessoa horrível como Judith conseguia achar uma alma gêmea, como uma mulher sensacional como Eleanor Curtis vai morrer sozinha?

   E todo esse drama acabou fazendo ela chorar muito, muito forte. Andy foi doce e compreensiva. Norrie adulou e a outra acabou concordando em colocar um romance dramático na TV.

   Foi assim que eu acabei assistindo o filme mais triste da minha vida.

   Nunca entendi a necessidade das pessoas em, quando tristes, procurarem coisas que as deixem ainda mais tristes. O filme era um desses clichês onde um dos personagens não tem marca e a ruiva não tinha parado de chorar desde que o casal se conheceu. Ela se lembrou do final, foi a justificativa.

   — Nem é tão ruim assim. – Ela estava errada. Era sim.

   — Olha pra cara dessa mulher, ela claramente é infeliz. Vai morrer sozinha.

   Mas ela não morreu. O cachorro e o par romântico dela, por outro lado, não tiveram a mesma sorte.

   Andy não tinha chorado, deixou bem claro que esse tipo de coisa nunca comove ela. Eu estava evitando pensar naquele final, me dava vontade de enfiar a cabeça no travesseiro e chorar até o fim dos meus dias.

   A Sra. Hill chegou um pouco depois do filme acabar. Beijou a testa de nós três e perguntou do nosso dia. Andy subitamente ficou calada, provavelmente tinha algo a ver com o homem que, ao que tudo indica, era o pai dela. Eu ainda estava confuso, mas forçar ela a falar não seria bom.

   Algo me dizia que Jenn não sabia sobre. Como a Andy conseguiu esconder, isso sim era um mistério.

   A mulher desceu para atender a porta, vi Winnifred arregalar os olhos. Ela correu pra janela e relaxou os ombros quando viu quem era.

   Anne me ligou, me lembrando do castigo, mandando um beijo pra Andy e perguntando se eu tinha almoçado. Ah, e também falou que se eu deixasse a toalha molhada mais uma vez em cima da cama, ficaria sem a Jolly por mais uma semana.

   A minha barriga roncou e as outras duas garotas também reclamaram de fome. Desci as escadas com as meninas, não entendendo o silêncio estranho que reinava na casa.

   Quando chegamos no último degrau, Eleanor atravessou o braço e nos parou, apontando para a porta da sala.

   Lá estava a Jenn se atracando com o cara que ameaçou fazer da minha vida um inferno se eu quebrasse o coração da Andy, mesmo que o contrário fosse mais provável.

    Eles ficaram se olhando por um tempo, parecendo perdidos nos olhares um do outro. Eu estava mais desconfortável que tudo, enquanto Norrie parecia maravilhada e Andy chocada. Ela se afastou rapidamente dele quando uma voz infantil chamou Kurt. Entregou uma xícara e fechou a porta, encostando  na madeira e suspirando quando pensou que ninguém veria.

   — Ew! – O ser do meu lado teve que abrir a boca. — Mães não deviam saber dar beijo de língua.

   Jennevive nos notou. Nós quatro nos encaramos por dez segundos inteiros, apenas reagindo quando as palmas animadas de Eleanor soaram.

   Jenn corou e abraçou a filha, escondendo o rosto na curva do seu pescoço e sussurrando algo sobre ela ser a melhor filha do mundo e alguma outra frase que realmente envergonhou a garota. Andy, incrivelmente, começou a ficar vermelha. Sem parecer saber o que fazer por um tempo mas no fim apenas retribuiu o abraço e olhou pra mim.

   Pisquei pra ela, aproveitando o momento e chance. Quando abaixou a cabeça e pigarreou, só me deu mais motivos pra continuar com o sorriso vitorioso que tomava o  meu rosto.

   Senhoras e senhores, Andy Hill é adorável.

   Só precisa trabalhar um pouco mais esse lado, é claro.


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Notas finais do capítulo

Andy gosta de socar as pessoas. Taylor gosta de socar as pessoas. Se isso não é destino, eu não sei o que é.
Vocês podem estranhar ver eles falando de Natal, mas no EUA as aulas começam em setembro e eu imagino que o Taylor chegou um pouco depois disso.
Gente, quais as músicas que pra vocês combinam com Mudblood?
Ah, e obrigada pelos cem comentários ♥ Pra mim a fanfic ia flopar e tal. Mas nem. Vocês são lindos demais.