Mudblood escrita por Ella


Capítulo 6
Tempo


Notas iniciais do capítulo

Vocês sabem quem sou eu? Alô, alô, graças a Zeus ♥
Postando hoje já que deixei vocês sem capítulo na semana passada. Podem me odiar por isso. Esse cap é meio chatinho, mais porquê é uma escada pros outros e também por que a Andy tá de mau humor. Mas não o mau humor natural dela, tipo, o mal humor de quando ela tá irritada, cês me entendem?
Desde o capítulo anterior eu tô pensando nos contras de uma vassoura, então se alguém souber, me avise. E me digam também como vocês imaginam o Taylor. É um ator, um cantor ou uma pessoa só da mente de vocês? Falem da Andy também. Eu nem falo da aparência dela na fic, ainda que tenha a minha Andy na cabeça. Ou seja, ela é aberta pra imaginação de vocês.
Enfim, continuando o barraco do capítulo anterior...



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   Você só percebe que sua vida era perfeita quando o verdadeiro caos começa a acontecer. Meu verdadeiro caos se chamava Neal.

   Era engraçado, até.

   Lá estava ele, com um olhar feliz e emocionado, olhando para mim como se eu fosse a oitava maravilha do mundo. Meus olhos talvez estivessem tão avermelhados e brilhantes quanto os dele, ainda que não expressassem os mesmos sentimentos.

   Eu estava em choque. Mas não como quando terminei o primeiro livro de Harry Potter, ou quando conheci Taylor. Não. Era o tipo de choque que aperta e esmaga o seu coração, te faz ficar sem ar e buscar por abrigo. O ar estava denso e impossível de respirar mas só eu parecia sentir isso. Dei passos para trás e Taylor se postou na minha frente, mesmo que não entendesse nada.

   — É você. É mesmo você! Você me conhece?

   — Eu sei quem você é – a frase saiu acuada. Neal tentou se aproximar novamente mas agora minhas costas bateram na parede.

  Taylor estava confuso e revezava o olhar entre eu e o homem que sorria pra mim. Neal nem mesmo olhou pra ele, me fitar devia ser bem mais importante. Quando enfim ficou de frente pra mim, puxou meu corpo para um abraço.

   Quando pequena, essa cena sempre passava na minha cabeça sonhadora. Com Jenn inclusa, é claro.  Ele viria e me pegaria no colo e beijaria os lábios dela, explicaria que tudo fora um mal entendido e que nunca mais nos deixaria, que foi um erro nos deixar. E, agora, com ele na minha frente, parecendo querer concretizar toda essa utopia que vivia em minha cabeça, eu só conseguia desejar que realmente tivesse sido apenas sonho.

   — Você está tão bonita. Meu Deus, o tempo corre! – ele disse, como se dezessete anos tivessem se passado enquanto ele ia à padaria. Me debati em seus braços, me perguntando em qual mundo paralelo eu havia acabado de entrar. Neal finalmente percebeu a minha feição e se afastou desconfortável.

   — Sai de perto de mim – virei o rosto para o lado e esfregando as têmporas. Não conseguia fazer meu cérebro parar de gritar. Tudo parecia rápido e minha pressão parecia ter caído. Passei a mão na testa, tirando o cabelo dali para limpar o suor. — O que você está fazendo aqui?

   — Eu quase não a reconheci, está tão diferente das fotos!  – quando não entendi, ele pegou uma foto meio amarelada da carteira, me mostrando uma foto minha no meu aniversário de doze anos. Como ele tinha conseguido aquilo?

   — Andy, quem é ele? – Taylor perguntou enquanto eu tomava a foto da mão do outro homem.

   — Ok, pode parar de agir como se fosse normal aparecer na porta da minha casa depois de dezessete anos – apontei o dedo pra ele, só então percebendo quanto minhas mãos tremiam. — Agora me responda; porque você está aqui?

   — E-eu... Onde está a sua mãe? Ela está bem? A gente pode sentar e conversar tudo isso, nós três...

   — Você não vai entrar na minha casa. Ela não está aqui e, não, você não vai conversar com ela. Se tem algo pra falar, fale comigo agora e depois vá embora – a audácia dele não deixava nada mais ameno. Pensando bem, nada deixaria. — Não vai ser difícil, você já fez isso antes, não?

   — Andy? – Taylor procurou por respostas mais uma vez.

   — Eu vou te dar a chance de dar meia-volta e ir pro inferno de onde você veio. É melhor aceitar - Neal olhou pro chão, desviando do meu olhar raivoso.

   — Você não entende, me deixe explicar. Eu tive os meus motivos. Sua mãe vai me ouvir, ela sempre ouviu. Onde ela está?

   — Bem longe daqui.

   — Sua avó, minha mãe, me falou bastante sobre você. A língua afiada, o temperamento difícil... Jennevive também era assim. Acredite, eu me arrependo muito do que fiz. Eu era um adolescente, você precisa entender isso. Era inconsequente e... Nunca foi a minha intenção. Eu precisava ver você, Jenn, ver se estão bem – claro que Vovó falou com ele. Não era óbvio? E claro que tinha me insultado, era tudo o que ela fazia.

   — Eu estou ótima, ela melhor ainda. Pode ir.

   — Eu realmente preciso falar com ela – insistiu.

   — Mas não vai. Não a procure, não me procure. Estamos ótimas sem você – finalmente algo saiu forte e confiante na minha voz. Eu odiava soar como uma criancinha com medo de monstros de armários, mas era difícil quando se está cara a cara com o pior deles.

   — Eu tenho que fazer isso, filha – a última palavra provocou todas as reações negativas possíveis em mim. Minhas mãos se apertaram em punho e tudo que eu conseguia pensar era em machucar ele.  — Sei que ela iria querer me ver.  Eu tenho o número dela e pensei em ligar, mas conversar pessoalmente é bem melhor. Preciso ser corajoso uma vez na vida, não é? – riu fraco, com uma leveza que não se adequava ao momento, que não condizia com nada.

   Taylor o empurrou quando tentou tocar meu braço e Neal deu um passo para trás, irritado.

    A realização de que ele tentaria ligar pra Jenn me acertou em cheio. Pensei em todas as vezes que ela chorou no aniversário dele, ou no Dia das Almas Gêmeas, quando ela se escondia no quarto pra assistir filmes de ação e fingir que o resto do mundo não existia, em todas as ofensas que a Vovó a fez ouvir nos meus aniversários. Pensei em todo o mal que ele causou e em tudo que ainda causaria.

   — Vamos conversar.

 

 

      Eu tinha opções. Podia prender ele, eu acho. Era crime largar uma criança? E mesmo que minha mãe nunca tivesse dito nada, tinha quase certeza de que ela era violento com ela. Não consigo pensar em um relacionamento bom saindo dele. Nem mesmo conseguia imaginar ela amando um cara como ele.

   Jenn é doce, engraçada e infantil. Algumas vezes, me pego pensando que uma acaba cuidando da outra.

   Um mês. Era tudo o que ela havia me dado. Neal não queria esperar, mas nos devia isso, Jenn havia o esperado por dezessete anos.

   Eu havia dado o meu número para ele, assim poderia conversar comigo e tentar me fazer entender o porque de ter feito o que fez.  Eu não iria, inclusive já tinha colocado o seu contato com o nome “Não atenda”, mas manteria isso em segredo se a ideia o mantivesse longe de mamãe. Falei que se ele esperasse esse tempo, daria uma chance para se redimir. Mas eu não daria, nada me faria esquecer.

   Toda vez que lembrava do sorriso dele sentia vontade de quebrar tudo a minha volta. Toda vez que lembrava da sensação dos braços dele me abraçando, queria esfregar meu corpo e tirar todas as digitais dele de mim.

   Neal estava bem. Trabalhava em algum jornal nova-iorquino famoso, tinha uma coluna só dele. Tinha duas casas, uma em NY e outra em uma dessas ilhas que ninguém nunca grava o nome. E isso me irritava. Pessoas como ele não deviam ter a opção ser feliz.

   — Esse é o pior hambúrguer que eu já comi na minha vida – Norrie reclamou mais uma vez.

   — É só parar de comer, Eleanor – Elliot resmungou, gritando algum incentivo para Alex logo depois.

   — Alguém pode me relembrar o motivo de estarmos aqui? – Taylor conseguia parecer mais entediado que eu.

   — Somos bons amigos e amamos esportes – Elliot estava bem perto de enfiar a pipoca dele na boca dos dois.

   Hoje seria o primeiro treino da temporada de jogos para o Alex. Ele estava bem calmo, mas Elliot não. Taylor só queria me encurralar em algum lugar e perguntar sobre o episódio de ontem, já que assim que Neal entrou em casa eu o mandei embora. Ele de vez em quando olhava pra mim, me esperando esclarecer tudo. Eleanor, que estava entre nós dois, sorria maliciosamente e tentava apertar a minha bochecha.

   — Eu já assisti isso mil vezes. Esse jogo não faz sentido nenhum, se quer saber a minha opinião – Norrie reclamou. — Por quê eles estão jogando futebol com pás?

   — O nome é Lacrosse, eu acho – e os três se viraram pra mim.

   Sorri, ou tentei. Tanto faz.

   Quando sua vida vira um inferno silencioso e você não sabe o que fazer, se pergunte o que Katniss Everdeen faria. Ou seja, a resposta para tudo era enfiar uma flecha no meio do olho de Neal. A imagem era bastante reconfortante, mas não o suficiente pra tirar o descontentamento aparente no meu rosto.

   Meu humor hoje estava péssimo. Não que não estivesse em todos os outros dias, mas hoje nada parecia ser bom o bastante para me animar. Minha primeira aula foi ótima, o professor passou um filme chato o bastante pra me dar o sono que eu havia perdido de noite. A pizza não estava tão dura e Taylor finalmente saiu do meu lugar na mesa.

   Não consegui olhar mamãe no rosto hoje de manhã, tinha a sensação de que estava mentindo pra ela.  Mentir e omitir são totalmente diferentes, não?

   Não.

   Norrie tinha seus próprios problemas, os que ela insistia em esconder de mim, mas ainda assim estava preocupada. Alex percebeu meu mal humor de primeira, fez questão de falar bem alto um “Quem te mordeu?”, mas me esqueceu quando coloquei os fones de ouvido. Elliot me deixou em paz. Ele estranhamente me entendia, devia ser uma dessas coisas de hippie.

   Taylor me abraçou quando me viu essa manhã, e eu deixei.  E eu gostei. Acredite ou não, tinha sido pior que me mandar parar de drama.

   — Hey, doce – Leopold surgiu de algum lugar e beijou a minha nuca.

   Como se tivessem programado, Elliot, Norrie e Malfoy reviraram os olhos. Leo não deu a mínima e me puxou para descer a arquibancada. Eu fui, nem um pouco afim de reclamar.

 

 

   — Então, você e ele estão juntos?

   Além de eu preferir ficar no silêncio confortável que estávamos antes, pensar na minha marca ainda era incômodo, só não tanto quanto pensar em Neal.

   — Quer mesmo falar disso?

   — Tem um bom tempo que a gente não passa um tempo junto. Você tá sempre com ele – ele estava errado. Eu não estava sempre com Malfoy. Malfoy sempre estava comigo. E, sim, tem uma diferença.

   — Pensei que tivesse sido clara sobre o que eu acho da minha marca.

   — Não é natural, Andy – ele disse. Era impressionante como Leopold conseguia soar igual a minha avó.

   Da minha infância, quando as professoras mandavam soletrar as letras do meu pulso e eu acabava na diretoria, para a minha adolescência, quando eu ouvia sermões sempre que mencionava a ideia de apagar a minha marca, nada parecia ter realmente mudado.

   — Você não devia estar me beijando agora? – antes que ele conseguisse falar mais alguma coisa inútil, tomei seus lábios nos meus, ignorando quão errado pareceu e quão confuso foi.

   Tentei jogar Taylor pra algum lado escuro da minha mente mas era frustrante como ele parecia sempre voltar,  mais e mais forte.

   Eu me sentia Elliot, pensando demais em coisas corriqueiras. Em um documentário idiota que eu assisti sobre isso, as pessoas retratavam o beijo do seu destinado como uma das melhores sensações de toda a sua vida, tinha até um mapazinho mostrando o que acontecia no corpo durante o ato. Na minha mente, a marca sempre fora algo menos científico e mais cultural. Ao que tudo indicava, eu estava errada.

   Agora, aqui estou eu, me perguntando como seria o beijo dele e se seria como todos os outros. Claro que não estava considerando a possibilidade de beijar ele e descobrir, mas havia algo científico por trás da marca? Algo que me obriga a sentir algo na hora?

   Enfim, ignore esses últimos dois parágrafos, Leo mordeu minha língua, alguém acabou de tropeçar na perna dele e agora ele está gemendo do meu lado.

   — Ei, olha por onde pisa! – ele reclama. E tudo faz um loop na minha cabeça.

   Olho para cima e vejo Judith sem reação. Se o meu humor estivesse melhor, eu provavelmente faria um comentário maldoso e riria de Leopold. Mas algo me dizia que se ela abrisse a boca, a reação dele não seria rir. Ela parece ainda mais assustada do que eu na minha vez, talvez por isso eu tenha certa empatia pela garota nesse instante.

   Ela sai correndo, largando um Leopold dolorido e um calafrio na minha espinha.

   — Okay, você não tem mais oito aninhos. Pode parar – ele ainda está fazendo bico quando pego seus rosto nas minhas mãos e beijo sua testa. — Agora saia daqui e vá atrás da sua alma gêmea.

   Ele não entende muito bem no começo, — Leopold sempre seria Leopold – mas enfim arregala os olhos pra mim e indica o pátio para o qual a garota acabou de correr, me perguntando algo sem palavras.

   Aceno com a cabeça e sorrio enquanto ele some da minha vista.


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Notas finais do capítulo

Vamo sorrir porque o próximo capítulo é narrado pelo Malfoy barato