Mudblood escrita por Ella


Capítulo 5
Família


Notas iniciais do capítulo

Oi, moços e moças ♥ Agradecendo pelos comentários lindos do último capítulo, pra começar. Mas lá vem problemas no paraíso. Talvez eu não poste próxima semana, semana de provas chegando e tal. Preciso estudar pra teste de amanhã mas toda vez que olho pro caderno só penso nos zeros que vou levar. Mas vocês me animam, então vou postar hoje e ler amanhã os comentários para não chorar de tristeza pelo desastre iminente que vai ser a prova.
Sem mais enrolação, tá aí o cap.



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   Mamãe gritou da cozinha. Eu estava feliz, era meu aniversário. Mamãe tinha tirado uma folga do trabalho hoje, o curso e o bar estavam tomando todo o tempo dela. Mas hoje ela tinha me buscado na escola e me pagado um milkshake na lanchonete do Martin. O dentista ficaria irritado, eu não deveria comer mais doces. Mas mamãe devia ter esquecido disso.

   Eu estava no banheiro e meu pulso estava doendo. Uma hora iria ter que dar certo. O sabão tinha deixado a minha pele irritada, talvez mamãe tivesse algum remédio pra isso.

   Eu e Chad hoje queremos testar algo. Judith, a prima de Quinn, que é irmã da Stacey, falou que Norrie, a garota estranha do fundo da sala, a que fazia desenhos estranhos no braço, tinha conseguido apagar a marca dela. Eu nunca tinha ouvido nada sobre isso. Judy falou que se eu misturasse sabão, creme dental e vinagre e esfregasse bem forte, a marca iria sair.

   Mas não estava dando certo e minha pele estava muito vermelha. Eu não queria aquela frase boba no meu braço. Eu não queria frase nenhuma no meu braço. Eu queria Chad. E Chad me queria.

   — Winnie? – eu não gostava de quando ela me chamava assim. Vovó não era tão má, mas o nome dela é feio. Tentei limpar toda a bagunça, mas quando passei a mão no rosto para limpar as lágrimas, meus olhos começaram a arder.

   — Não entra! – coloquei meu rosto na pia, os soluços foram parando. A porta atrás de mim se abriu e mamãe entrou preocupada.

   — Andy, que bagunça é essa? – ela tentou usar o tom irritado comigo, mas, como sempre, não conseguiu. Ela não era vovó. Quando viu meus olhos vermelhos e todo o sabão espalhado, segurou meus cabelos enquanto usava a toalha para limpar meu rosto.

   — Judith disse que ia funcionar – eu não conseguia parar de chorar. Ela segurou meu corpo mais e mais forte, beijando meu pulso avermelhado. A frase continuou lá, forte e estranha. Quem era Percy Jackson?

   — Ei, olha pra mim – segurou meu queixo. — Hoje é um dia feliz. Vamos sorrir. Chad vai vir hoje. Vovó vai vir hoje. Kurt vai vir hoje.

   — Não quero ver a vovó, ela vai começar a falar sobre o papai. E sobre minha marca. Porque você teve que chamar ela?

   — Eu sei como resolver isso. Vem comigo - e me puxou para o quarto dela. Mamãe pegou uma caixa embaixo da cama e me entregou. Era pesada. Não pareciam brinquedos. — Eu te daria no fim da noite, mas como tivemos um imprevisto, vai ser agora mesmo.

   — Isso são… Livros?

   — Não são só livros. São livros autografados de Harry Potter. Eram do seu pai. Ele esqueceu comigo — Jenn não gostava de falar do papai. Eu também não. — E, se você segurar desse jeito, ninguém vai conseguir ver seu pulso. Se perguntarem, você diz que está lendo.

  

  

   Norrie não saiu do meu pé desde o encontro. Nem por um mísero segundo.

   — Eu realmente espero que você esteja mentindo pra mim.

   — Não teve beijo, Eleanor. Só porque eu gostei do encontro não significa que nos pegamos em cima da moto dele.

   — Ah, então você gostou do encontro! – não ia mentir, eu havia gostado. Talvez, bem talvez mesmo, Taylor não seja o pior dos seres humanos. E, talvez, se ele esquecer toda essa coisa de tatuagem, nós, talvez, pudéssemos ser amigos. Talvez.

   — Andy – o som acariciou minha orelha. Malfoy beijou a minha bochecha, como se fosse a coisa mais casual de todas. Ele bagunçou os cabelos do Elliot, deu tapinhas nas costas do Alex e piscou pra Norrie. O sorriso dele fazia o meus olhos doerem de tão reluzentes.

   — Oi, Malfoy.

  — Pensei que tínhamos superado isso de Draco e afins. Pode me chamar de Taylor.

   — Claro, Malfoy.

   E claro que tínhamos uma plateia curiosa esperando beijos e declarações de amor. Norrie olhava para eu e ele como se no próximo segundo fosse amarrar os nossos rostos um no outro com o cadarço do seu tênis.

    — Eu. Você. Star Wars. Hoje — Taylor falou enquanto cruzava os braços, olhando sorridente pra mim, deixando duas leves covinhas parecerem.

    — Eu vou estudar para o teste de Espanhol de amanhã – eu devia parar de usar Espanhol como desculpa pra tudo. Eu nunca nem tinha tocado no livro. Sabia cantar as músicas da Shakira, era o suficiente.

    — Que mentira horrível – Norrie falou enquanto balançava a cabeça, parecendo realmente desapontada. Quem precisa de uma inimiga quando se tinha um espécime como ela?

    — Essa realmente foi péssima. Desde quando você estuda? – Alex se juntou ao grupinho “Todos Contra Andy”.

   — Ok, ok. Entendi – me rendi.

   Motivo número oito para odiar o ser em pauta: Taylor era um produto.

   Pense comigo. Ele foi feito direcionado à um público; Eu. Tem sua finalidade; No caso me amar, fazer feliz, me fazer sentir todas essa porcaria de borboletas que todo mundo fala. Merchandising ficava por conta da Norrie, é claro. Se eu tivesse que ouvir mais uma vez sobre o quão bonito eram os olhos do Malfoy, eu arrancaria eles com o garfo reserva que eu tenho na bolsa. Ele também vinha com uma embalagem. Muito bonita, preciso dizer.

   Tem seus prós; Gostava de Beatles e me livrava de ter que vir pro colégio no ônibus escolar.

   E como todo produto também tem seus contras. Taylor fala mais do que devia, tomando como exemplo ontem, na aula de Matemática. O professor é meio lento, o que faz a sala não dar a mínima para o que ele fala. Ontem, Williams resolveu que aquilo devia acabar. Quando ele gritou com a sala e todos se calaram, apenas uma voz permaneceu.  As exatas palavras “Quero que você conheça a minha família” retumbaram pela sala.

   E foi assim que as pessoas começaram a achar que a gente estava junto. De um lado, tinha Taylor, Norrie, Elliot e Alex respondendo sim todas as vezes que perguntavam. Do outro, eu, gritando um “Não”.

   Okay, talvez apenas umas três pessoas tenham me perguntado, já ninguém liga para a vida amorosa de Andy Hill, mas que seja.

   E nem me perguntem o porquê de ele achar que eu conhecendo a mãe dele seria uma boa ideia. Deve ter algo a ver com o fato de ele realmente achar que isso de tatuagem era sério.

   Taylor também era meio romântico demais. Me dava arrepios de vez em quando. Como no sábado passado no meio do encontro, quando ele deitou a cabeça no meu ombro e ficou olhando pra minha boca. Eu continuei olhando pro céu, fingindo não ver. Mas ele não parou de me olhar pelo minuto inteiro e sorria algumas vezes.

   — Então, você vai ou não? – eu odiava aquele tom. Era aquele que dizia “Não estou te obrigando a fazer isso, mas se você não fizer, vou chorar no travesseiro quando chegar em casa”. Isso, crianças, é o tipo de coisa que você aprende quando anda demais com Eleanor Curtis. — Ah, e eu achei o meu volume único de As Crônicas de Nárnia. Só pra você saber.

   Bom, negar Star Wars e As Crônicas de Nárnia num mesmo dia não é a mais inteligente das ações. Qual o pior que poderia acontecer numa tarde de filmes?

   — Quem leva a pizza, eu ou você?

 

 

   Fui repetindo essa frase por todo o almoço, como um mantra. Quando o som do motor da Jolly soou (Sim, Malfoy é um desses loucos que nomeiam seus automóveis), abri a porta, colocando um sorriso amarelo no rosto. Draco sorriu de volta, seu olhar pousando na jaqueta de couro que eu usava. A jaqueta dele. Ela me fazia parecer uma daquelas adolescentes rebeldes de filmes super dramáticos.

   — Oi.

   — Oi.

   Meu mantra virou pó assim que Malfoy girou a chave na fechadura. Taylor indicou uma porta e eu, um ser ingênuo, fui. Erro trágico.

   Quando pisei os pés na sala, eu vi minha vida inteira passar na frente dos meus olhos.

   Me vi empurrando a cara da Norrie na caixa de areia do parquinho. Me vi colando chiclete no cabelo do Alex. Me vi sendo afogada na saliva do James Sullivan, meu primeiro beijo de língua.  Me vi assistindo Harry Potter e as Relíquias da Morte.

   Mini-Malfoys se alastravam pela sala, olhando diretamente para a TV que exibia algum filme sobre cachorros que falam. Quando Taylor trancou a porta atrás de mim, todos os olhos seguiram o som.

   — Mãe, a namorada do Taylor chegou! – um dos pontos brancos gritou. Eram quatro. Uma garota e um garoto pré-adolescentes cheios de espinhas e duas gêmeas – bem, pareciam ser. Todos eles eram iguais, então...

   A Sra. Malfoy surgiu de um corredor. Seus cabelos não eram platinados como o dos outros, eram negros e bem curtos. Tinha um sorriso dócil no rosto e abria os braços na minha direção.

   — Oh, você deve ser a minha nora! O Tay falou tanto de você – disse enquanto envolvia os braços em mim. Taylor sorria diabolicamente ao lado de uma das gêmeas.

   — Você falou, Tay? – tentei falar enquanto devolvia o abraço. Soou extremamente cínico o tom amável que saiu da minha boca, mas ninguém além do Taylor pareceu perceber. — Eu não sou...

   — Mãe, deixa ela – Tay falou rindo. Quando a mãe do Taylor terminou o abraço, seu pulso ficou à mostra. Um “Oi” estava lá.

   Fiquei encarando por um tempo, me perguntando quão mal educado seria perguntar a ela sobre a palavra. Minha suposta alma gêmea forçou uma tosse e lançou um olhar irritado pra mãe. Um daqueles que gritam “Mãe, não me envergonhe!”. Sra. Darling riu e beijou sua bochecha e acenou pra mim depois. Os Malfoys menores riram e Taylor revirou os olhos. Taylor puxou a minha mão, me levando para as escadas.

   — Você sabia que eles estavam aqui, não sabia? – sussurrei para Malfoy.

   — Obviamente.

   — E ainda assim me trouxe.

   — Sim.

   — Você pretendia me contar que a gente está namorando ou não estava nos seus planos? – sarcasmo preencheu a frase. Taylor corou e começou a passar a mão nos cabelos, parecendo querer correr as escadas o mais rápido possível.

   — Eu nunca disse isso. Eles só... Deduziram.

   — Claro.

   — Desculpa, sério. E-eu nunca fiz isso antes e ela parece mais feliz que eu com o fato de você ter aparecido. Se eu dissesse que me casaria com você hoje, ela não se importaria.

   — Ok – e foi isso.

 

 

 

   Um flash soou.

   — Você baba quando está dormindo – a voz falou seguida de outro flash.

   Taylor só parou de tirar fotos quando derrubei o celular dele no chão. Idiota. Eu tinha dormido no meio do filme, com um pouco de pipoca na boca ainda. Por algum motivo, que nem ousei perguntar, eu estava sentada no meio de suas pernas.

   — Pelo seu bem, apague as fotos agora – tentei dizer no meio do bocejo, enquanto limpava vergonhosamente a baba na minha bochecha. — Que horas são?

   Não era mais dia lá fora, pude perceber. O celular vibrou com uma mensagem da Norrie que me perguntava o tamanho do do Taylor. Não entendi e nem fiz questão de tentar.

   — Vão dar oito. E você também fala demais no meio do sono – e eu sabia disso. Claro que nada de bom viria depois disso, por isso achei melhor não perguntar o que eu tinha falado.

   — Quero suco – foi a primeira coisa que me veio na cabeça. Uma salva de palmas, por favor.

   As luzes da cozinha estavam apagadas e apenas a luz que saía de um poste e entrava pela janela iluminavam o cômodo. A luz doeria nossos olhos e por isso ele não tentou acendê-la. Taylor pegou uma jarra na geladeira e colocou na minha frente. Os únicos sons audíveis eram os dos movimentos dele. Eu estava tensa e ele estava relaxado demais. Quando ele me ofereceu um copo e sentou no balcão, senti vontade de correr.

   — Então, você acha meus olhos bonitos? – respirei calmamente.  O plano aqui é fingir que ele está enlouquecendo. Franzi as minhas sobrancelhas, colocando a minha maior feição de cego perdido em tiroteio.

   — De onde você tirou essa ideia?

   — Você me disse no meio de uma das suas confissões amorosas sobre mim – e sorriu maliciosamente pra mim.

   — Eu duvido muito – Taylor desceu de onde estava, para meu desespero. — Na verdade, eles são medonhos. Dão medo. Meio Hannibal Lecter. Não sei. Tem cor de pão mofado. É nojento. Eu não gosto de mofo. Nem um pouco – ele deu passos lentos até mim, mas eu não recuei.

   — Não? – o nariz dele tocou o meu. Sua respiração fazia cócegas no meu rosto, seu hálito era gelado e tinha um cheiro insuportavelmente doce.  Ele fechou os olhos, sua mão direita subiu para a minha nuca e a outra deslizou até a minha cintura. Meus olhos não se fecharam, só continuaram a olhar pra ele, arregalados.

   — Você não ia me emprestar As Crônicas de Nárnia? – falei alto, vendo as duas gêmeas nos encarar da porta da cozinha. Taylor seguiu o meu olhar e se afastou lentamente, xingando alguma coisa com um sorriso forçado no rosto.

   As gêmeas continuaram lá, nos olhando sorridentes até Taylor achar que era uma boa ideia ir procurar o livro. Ele me chamou pra ir junto. Procurar livros. É claro. Obviamente. Neguei e comecei a tomar o meu suco.

 

 

   O caminho pra casa foi tranquilo. Falei que queria ir pra casa andando, assim ele não precisaria me levar na sua moto e nem me obrigar a sentir o cheiro bom que seu pescoço exalava. Ele insistiu em me levar, mesmo à pé. O clima não era pesado, já que Taylor corava e olhava pro chão toda vez que eu olhava pra ele. A vergonha dele alimentava a minha vontade de viver. Agradeci mentalmente por Jenn não estar em casa, assim não precisaria inventar uma desculpa para me despedir do Malfoy na esquina de casa. A jaqueta dele continuava no meu corpo e em nenhum momento ele tentou reivindicá-la. Eu não ofereceria de volta, era bonita demais.  

   Quando chegamos na porta, o silêncio permaneceu. Fiquei nas pontas dos pés e beijei a sua bochecha, apenas pra ver a sua reação. Ele ficou olhando pra mim por um tempo, parecendo ter uma luta interna e por fim me entregou o livro.

   — Boa noite, Mal – fui interrompida.

   — Andy? – um homem alto e bem familiar falou. Ele saiu do carro preto que dirigia e começou a sorrir com a mão na boca, parecendo assustado e encantado. Eu conhecia aquele rosto, estavam em fotos antigas no porão, em porta-retratos de fundos de gaveta. Ele se aproximou de mim e recuei, puxando Taylor comigo, que estava confuso, trocando olhares entre eu e o homem na minha frente.

   Algumas lágrimas de raiva estavam começando a acumular nos meus olhos e meus dedos envoltos no pulso de Taylor estavam mais e mais apertados.

   Lá estava ele, sorrindo enquanto meu mundo parecia desabar.

   Neal. Meu pai.


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Notas finais do capítulo

Falem comigo, gente ♥