O Chamado de Nymeria escrita por Sr Mokona


Capítulo 3
Capítulo III - Uma Analise Oculta


Notas iniciais do capítulo

Terceira parte de cinco



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                O dia anterior tinha sido estressante para Gabriel; a manhã toda ficou na casa de seu avô para receber os policiais e Eddie e Úrsula Reios. O restante do dia, Gabriel ficou resolvendo burocracias do enterro de seu avô. Úrsula havia dito que continuaria a investigar o caso e Eddie que daria aulas. Ainda não havia tido noticias de Úrsula ou de Eddie, mas havia tido noticias da pericia sobre as causas da morte de seu avô: contato com alta dose de ricina e taquicardia. Tinha criado hipóteses infantis sobre a morte do avô com aquela historia de que o culto teria enviado algum monstro invisível para matá-lo. Talvez os gritos de seu avô tivessem sido efeito da submersão que ele tinha feito naquele culto. A morte de seu avô era submerso em vários mistérios. Quem o mataria, sendo que fosse alguém conhecido e que o extorquiu antes? Úrsula havia dito para não descartar a idéia do culto:

                “Seu avô mantinha contato com você e o culto, então temos que investigar primeiro ambos. Pode ter sido alguém do passado que veio trazer alguma coisa do passado a tona, vamos investigar também. Mas o capuz, o livro do culto debaixo do braço, o assassinato mesmo depois que ele fez um cheque. O culto é poderoso, eles com certeza poderiam ameaçar alguém”, havia dito Úrsula.

                Gabriel havia chamado seu amigo Bruno para lhe fazer companhia. Naquela hora, Bruno com certeza estaria em casa.

                “Desculpe parceiro, eu deveria ter vindo antes, mas é que fiquei resolvendo umas coisas”, disse o amigo de Gabriel.

                “Jogando”, pensou Gabriel. Úrsula já o havia chamado de “amigo da jogatina” devido a algum tipo de insinuação de Eddie, era o que Gabriel lembrava. “Não se importe com isso, eu estava bem ocupado com tudo, sabe. A morte dele me deu uma ocupação. Pedi licença do jornal para cuidar disso”.

                “O enterro, a herança. É, é muita coisa com quê se preocupar”.

                Gabriel ficou sem palavras pela força que estava recebendo nesse momento que não sabia o que falar. Esperou até dobrarem a esquina para falar algo: “A vida vai voltar a ser o que era antes desses meses que passei ao lado dele”, disse com a voz embargada.

                “Ele era meio ranzinza, mas era gente boa. Era bastante atencioso e meio maluco com aquelas historias – e riu”.

                Gabriel lembrou quando falou para Eddie que quem matou se avô foi um monstro invisível. Gabriel viu de longe Úrsula dobrando a esquina e indo em direção a ele. Naquela quente manhã, Úrsula vinha com um vestido tomara-que-caia preto, justo no tronco, sendo costurado por fora e que descia formando uma saia e luvas pretas que subia os cotovelos.

                “Olá Gabriel, olá provável amigo jogador do Gabriel”, dizia Úrsula e Gabriel achava tão animada como no dia em que a conheceu.

                “Você veio me ver?”.

                “Sim, vim, eu moro na Rua Magnólia, se esqueceu? Muito longe, eu não moro por aqui e estamos meio longe da rua de seu avô, então sim, eu vim te ver. Sabia que eu estou cuidando do caso da morte do avô dele, jogador?”, disse Úrsula com um sorrisinho para Bruno, que se irritou.

                “Eu não sou jogador, eu não sou esportista”.

                “Desculpe-me, mas a intenção era chamá-lo de apostador. É que estudo tanto sobre pessoas e métodos que às vezes eu me esqueço de especificá-los. Algumas pessoas preferem ser chamadas de “jogadoras”. É como se eu estudasse sobre eles, mas não conseguisse ter traquejo social, o que realmente não tenho, embora eu tenha uma relação de cumplicidade com a turma da Rua Magnólia”, disse mantendo o sorriso.

                “As pessoas da Rua Magnólia são barra pesada, eu acho que não seria legal você, uma agente da lei, ser amigo deles”, disse Bruno calmamente.

                “Eu não me meto no que eles fazem”, disse Úrsula puxando seu cachimbo e baforando, “e além do mais, eles me ajudam sempre que peço, são pessoas boas”.

                “E eles estão ajudando agora?”, perguntou Gabriel.

                “Não, mas Eddie está ajudando agora. Ele está pesquisando sobre o Culto de Nymeria”.

                “Culto de Nymeria? Era o culto de seu avô, não era? Eles são bem barra pesada. Dizem que vão desde senadores a bancários”, disse Bruno como forma de alerta.

                “Obrigado, eu vou anotar isso, mas não se preocupe Gabriel, estamos cada vez mais perto de resolver o caso”, disse Úrsula, se despedindo e saindo.

                “Você foi um pouco grosso com ela”, disse Gabriel baixinho.

                “Quando? Ela que me atacou me chamando de jogador. Você disse isso pra ela?”.

                “Não, mas não é tão segredo. Mas ela é incrivelmente observadora, você precisa ver”, disse Gabriel enquanto seguia com Bruno.

                Úrsula estava em frente ao portão da faculdade fumando em seu cachimbo e conversando com um rapaz jovem quando Eddie apareceu. Úrsula se despediu do garoto com um aceno e foi até Eddie.

                “Está querendo fisgar algum aluno da faculdade? Roubar um aluno meu?”, disse Eddie com um sorrisinho.

                “Não seja bobo; você possui menos humor do que eu, aquele garoto estuda antropologia, você é professor de política; na verdade ele veio falar comigo porque descobriu meu artigo sobre a psicologia cultural dos druidas, mas isso não vem ao caso, pesquisou sobre o culto?”, perguntou puxando Eddie para um local mais isolado.

                “Sim, está aqui”, disse puxando algumas folhas e entregando à Úrsula.

                “O Culto de Nymeria está estritamente ligada à ciência das águas. Segundo uma crença antiga, Nymeria veio a Terra em forma de água e deu vida marítima, criando abundancia. Desde a antiguidade, o culto emprega a água e seus estados da matéria para se guiarem e criarem textos sagrados. Da água também vem os outros seres, como aquele que Gabriel achou que tinha matado seu avô, mas na verdade não era um ser ‘invisível’, mas um ser ‘gasoso’’.

                “Sim, mas é inegável a força exercida por ela nessa cidade. É um poder até comum, um de poucos sendo exercido sobre muitos, tanto que os livros, como pude apurar, são bem escassos, dado a quem tiver muito poder dentro do culto”.

                “Espere!”, disse Úrsula tampando a boca de Eddie com um dedo e ficando imóvel. Eddie já conhecia Úrsula e sabia que precisava desse momento quieta. Sempre imaginou como seria a mente de Úrsula agindo mais rápido que o habitual, criando centenas de hipóteses e descartando-as em pouquíssimo tempo.

“Já sei”, diz depois de um tempo, “Esses livros são tão escassos que apenas os mais poderosos ficam com eles certo? Mas e se os novatos pudessem pegar emprestados para aprender? Mesmo em cultos, os textos sagrados são preciosos, não ficando apenas a mercê do oral, a não ser aqueles cultos que só são transmitidos pelo oral, mas esse não é o caso, o caso é que provavelmente o avô do Gabriel não começou a contar a ele quando descobriu que o neto se interessava pela cultura do ocultismo na região, mas quando Alturus começou a contar sobre o culto que tinha acabado de descobrir e Gabriel havia demonstrado interesse; essa época deve ter sido entre o começo da visita de Gabriel e o momento das historias do culto. Ele conheceu alguém nessa época que fez questão de lhe entregar o livro e inserir ele no culto. Sabe quando Gabriel nos contava sobre o culto e ficava com receio? A pessoa que introduziu Alturus no culto devia ter inserido nele esse medo para que o ‘encapuzado’ pudesse ter alguma influencia sobre ele para seu propósito final: exigir dinheiro e matá-lo antes que Alturus pudesse revelar para o culto e o culto saber que esse ‘encapuzado’ estava usando o culto desta forma, por isso que depois da noite estressante de Alturus, ele ia levando o livro, não para a policia, pois não havia delegacia no caminho, mas para alguém do culto e talvez abdicar dele entregando o livro para outra pessoa”, dizia Úrsula se movimentando agitadamente.

Eddie percebeu que não importa o quanto conheça Úrsula, sempre quando ela terminava de falar após suas grandes conclusões, ele sempre achava que ela iria parar para respirar.

“ Você não acha que Alturus estaria indo devolver o livro para o ‘encapuzado’?”.

“Não. Pelo caminho que fazia, provavelmente estaria indo para a casa da juíza Cássia do Socorro Amaral que é uma cultista de Nymeria que teria o gabarito para ser uma das principais, além de que ontem eu fiz uma varredura pelas ruas e pude encontrar o capuz num camburão de lixo algumas ruas depois do casarão. É lógico que ele não iria para a casa com aquilo podendo ser visto, mas felizmente pude encontrar antes que o caminhão de lixo triturasse o capuz. Pude verificar que é um capuz vagabundo e não um usado pelo culto, até porque seria estupidez usá-lo nesse caso, mas admito que isso tortuou um pouco minha linha de raciocínio. Eu tenho um suspeito e o capuz encontrado no caminho da casa desse suspeito, mas também admito que possa estar modificando um pouco os fatos para se encaixar na minha solução, por isso eu preciso averiguar mais com o Gabriel, preciso encontrá-lo antes que o encapuzado vá atrás de você e eu”.

“Atrás de nós? Como?”.

“Posso ter me precipitado um pouco, mas não se preocupe, vá dar aula que eu darei um jeito nisso tudo e sua pesquisa sobre o culto não vai passar de pesquisa. Preciso planejar uma captura. Vá dar aula”.


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