O Chamado de Nymeria escrita por Sr Mokona


Capítulo 2
Capítulo II - O Casarão de Alturus


Notas iniciais do capítulo

Segundo capitulo, dando inicio as investigações de Úrsula.



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                Gabriel esperava impacientemente do lado de fora do casarão de seu avô a chegada de Úrsula e Eddie. Úrsula o havia informado de que o rapaz deveria esperar a policia na casa de seu avô e não deixar que eles mexessem tanto na casa, além de ter que observar cada movimento dos policiais para contar a ela. Havia pensado bastante sobre Úrsula e de como ela poderia ser uma pessoa que não se via todo dia. Úrsula era uma pessoa agitada, espalhafatosa e possuía um raciocínio tão rápido que parecia algo sobrenatural, como se algo que uma pessoa normal teria que deduzir após ficar algumas horas montando o cenário e refletindo, ela fazia em pouco tempo, sem ser leviana. Possuía longos dedos finos e com o rosto magro, olhos como o de alguém que acabou de acordar e uma grande boca, dava-a uma cara com um tom blasé. Essa mulher daria a ele as respostas que ele gostaria de saber para descobrir o assassino do avô e livrá-lo de alguma futura acusação.

                Dobrando a esquina, Gabriel via os dois: Eddie, com seu habitual paletó de tweed e com seu rosto redondo e Úrsula, com o cabelo devidamente preso, com uma blusa colada ao corpo branca com listras negras e uma saia vermelha e meias pretas, fumando um grande cachimbo amarelado com um tampão branco. Úrsula parecia bem calma, diferente da noite anterior.

                “Ola Gabriel”, disse Eddie, se aproximando, “como está?”.

                “Bem, eu fiz o que você pediu”, disse se virando para Úrsula, que guardava seu cachimbo no bolso da saia.

                “Bom, bom”, disse fracamente, como mais para ela do quê para os outros.

                “Podemos entrar?”, perguntou para Úrsula, se virando para Eddie.

                “Claro, não há problema, não é?”, disse Eddie, olhando para Úrsula que não esboçou nenhuma reação. “Vamos entrando”.

                Gabriel abriu a porta e segurou sutilmente Eddie, esperando Úrsula entrar primeiro. “O que ela tem?”.

                “Primeiro, ela tem uma ótima audição, então não se preocupe, ela vai ouvir; segundo, quando se conhece ela melhor, acaba por descobrir que ela é assim”.

                “Sabe, Sr. Gabriel, isso lhe incomoda?”, perguntou Úrsula sombriamente se virando para ele.

                “Não, por favor...”.

                “Eu estava brincando, minhas brincadeiras não possuem humor, não é? desculpe. vamos entrando”.

                Alturus possuía um casarão completamente decorado; os cômodos eram totalmente abertos, exceto o banheiro e o quarto; suas paredes exibiam diversos quadros nas paredes e porta-retratos nas mesinhas, criados-mudos e no hack; a cozinha possuía os eletrodomésticos, uma mesinha com algumas bebidas, uma mesa e armários.

                “Algum policial tocou em algum móvel da sala? Como essa mesinha?”.

                “Com certeza não”.

                “Bom”.

                “Percebeu alguma coisa?”, disse Eddie, observando a mesinha com vários enfeites.

                “Há na mesinha uma pequena gueixa de porcelana que foi mexido poucos centímetros e só ela foi mexida. Olhando bem, essa mesinha do lado esquerdo para quem entra, está todo organizado, exceto a pequena gueixa, o que me leva a crer, pela organização da sala e o fato da mesinha está fora do alcance de algo que faça alguém esbarrar enquanto passa ou que leve alguém a se aproximar, como um sofá ou o cabideiro perto da porta, que poderia sugerir que ao encapuzado entrar, ele poderia ter esbarrado o capuz por acidente, por mais que o deslocamento da gueixa perante os outros enfeites sugere que o encapuzado deslocou enquanto passava”.

                “Você teve que dar uma explicação tão grande para algo que percebeu tão rapidamente”, disse Gabriel espantado e maravilhado.

                “Mas o quê você pode tirar disso agora?”, perguntou Eddie.

                “Por enquanto posso elaborar hipóteses de que ele é canhoto, que ele já tinha uma confiança de conseguir o que queria, de que ele estava de certa forma nervoso e que gueixas devem fasciná-lo”.

                Os três se deslocam para a cozinha e Gabriel se lembra de Úrsula falando da ricina na bebida. “Você falou que meu avô havia ingerido ricina na bebida”.

                “Sim, disse, e pude comprovar hoje mais cedo revendo o corpo do seu avô; daqui a alguns dias você será informado sobre isso pela policia. Os policiais remexeram em algo da cozinha?”

                “Bem, eles cheiraram o copo que está na pia, olharam as cortinas e visitaram o quarto e o banheiro, e nada mais”.

                “O copo da pia eu preciso levar mais tarde para examinar e descobrir se era mesmo ricina. Aquele copo na prateleira de bebidas deve ser o copo do encapuzado, já que o copo está no lado esquerdo da garrafa, um maneirismo de alguém que é canhoto, e olhando o aspecto do copo, ele foi sim usado na noite anterior, além de que”, disse indo vagarosamente até a mesa da cozinha e observando, “essa marca na borda da mesa indique que ele é mesmo canhoto”.

                “A marca está no lado esquerdo da mesa de frente para a cadeira? Verdade”, disse Eddie, observando a mesa.

                “Que marca?”, perguntou Gabriel se aproximando da mesa.

                “Essa marca”, disse Eddie, apontando para a marca deixada por um copo, “ela se chama culaccino, uma palavra italiana para designar aquelas marcas manchadas de liquido deixada por copos ou garrafas sobre algum móvel. Podemos ver que aqui temos uma, podendo observamos onde o copo estava na mesa. Mas em que momento o encapuzado colocou ricina no copo de Alturus?”.

                “Isso ainda não sei, mas pela arquitetura da casa, deve ter sido quando Alturus foi ao quarto ou ao banheiro. Eu descartaria o banheiro, já que estava bem cismado com o visitante e não o deixaria só se não fosse muito importante. Poderiam dizer que ele poderia estar apertado com alguma atividade fisiológica, mas acho difícil que ele fosse se aliviar naquele momento, isso levando em conta se ele realmente tivesse apertado”.

                Gabriel sentia certa impotência vendo Úrsula e Eddie trabalhando e ele sem poder ajudar tanto. Úrsula observava tudo com muito cuidado, só abria algo após analisar tudo ao redor e de forma lenta. Gabriel percebeu o volume do cachimbo de Úrsula em sua saia e percebeu que ele também poderia ficar atendo aos detalhes e descobrir algo. Ele percebeu que a prateleira dos remédios estava remexida e pediu a atenção do fato para os dois.

                “O que você acha Gabriel?”, perguntou Úrsula antes de chegar à prateleira.

                “O meu avô não costumava deixar os remédios bagunçados assim. Olhe o remédio para febre na ponta da prateleira. Será que o encapuzado tomou o remédio ele mesmo pegando?”.

                “Muito bem”, disse Úrsula, “se o remédio fosse para Alturus, ele provavelmente teria guardado em seu devido local e teria retirado com cuidado para não bagunçar os outros. Tem uma janela próxima ao local. Alturus pode ter pedido para ele mesmo pegar o remédio para se aproximar da janela para alguém vê-lo, mas ele só teria feito esse pedido se o encapuzado tivesse dito que ele estava doente”.

                “Então o encapuzado estava doente?”.

                “Ou ele pode ter fingido”, disse Eddie.

                “Mas por que ele faria isso?”, perguntou Gabriel.

                “Para ter uma desculpa esfarrapada para o uso do capuz, o que vocês acham?”, perguntou Úrsula, enquanto puxava o cachimbo do bolso.

                “Parece estranho, mas é plausível nestas circunstancias”.

                Úrsula vaia até o banheiro enquanto Gabriel olhava pela janela e ficava olhando a pequena rua e os transeuntes. Era por volta do meio-dia, seu avô tinha morrido por volta das 20h30min do dia anterior, ainda nem tivera tempo de organizar o enterro. Úrsula passou do banheiro para o quarto. Eddie ficava olhando um livro que fora deixado perto das xícaras de café numa prateleira exposta do armário. Úrsula vinha inexpressiva do quarto e comentou olhando o nada: “Também está tentando deduzir onde esse livro se encaixa?”, virando para Eddie, ela continuou: “Eu também fiquei pensando em como esse livro sobre a Segunda Guerra Mundial se encaixaria, mas acho que acabei de descobrir”, disse, se mantendo imóvel e voltando a encarar o nada.

                Eddie perguntou, como se para alertar Úrsula: “O quê descobriu?”.

                “Observando o banheiro eu percebi que é quase certo que Alturus não tivesse ido ao banheiro, então quando o encapuzado colocou ricina na bebida? Quando Alturus foi ao quarto pegar algo e trouxe consigo esse livro de sua prateleira de livros”, foi até o livro e observou bem a capa, “estava certo, ele trouxe esse livro para escrever algo em cima. Percebam, há na capa a marca da assinatura de Alturus e uma quantia em dinheiro e outras inscrições que caracteriza a assinatura de um cheque. Se olhar bem, poderá ver, olhe. Ele trouxe seu livro que ficava perto do seu talão para assinar o cheque. Alguém coagiu seu avô fazer-lhe um cheque e ainda matou-o”.

                “Mas nós conjecturamos muito sobre a organização exacerbada do meu tio. Então o fato do livro estar fora da estante quer dizer algo, não é?”.

                “Bem observado, mas provavelmente ele só não voltou a guardá-lo pois desconfiava bastante de seu visitante e não quis voltar ao quarto de deixá-lo sozinho; além de que ele tinha acabado de fazer um cheque com uma grande quantia”.

                “Eu estou cada vez mais achando que não foi o Culto que o matou”, disse Gabriel com uma voz lenta e sem graça.

                “Não se precipite”, disse Úrsula olhando para baixo com uma voz lenta, “o encapuzado, o livro de ocultismo encontrado com o corpo da vitima na hora da morte, pouco circulo de amigos além de você e do culto. Ainda temos muito a investigar”.

                Úrsula acendeu seu calabash e ficou olhando o teto do casarão. Eddie sabia que aquilo significava que Úrsula iria começar uma investigação externa, tendo absorvido o máximo que podia do casarão. Eddie ainda teria que dar aulas hoje, mas ficou preocupado em não poder ajudar nas próximas etapas. Gabriel sentou-se numa cadeira enquanto Úrsula tamborilava seus dedos magros na mesa e fumava.


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Notas finais do capítulo

Um capítulo dado ao inicio das investigações e as primeiras pistas.
Criticas e sugestões serão sempre bem-vindas



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