O Chamado de Nymeria escrita por Sr Mokona


Capítulo 4
Capítulo IV - Um inevitável fim


Notas iniciais do capítulo

Quarta parte de cinco



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                No dia seguinte, Úrsula foi até a casa de Eddie pela manhã, mas sem dizer nada, ela sentou numa poltrona e acendeu seu cachimbo.

“Úrsula, você está bem?”, perguntou Eddie.

 “O criminoso é mais esperto que imaginava. Ele já descontou o cheque e não deixou nenhuma evidencia; não há evidencias da exportação ou comercialização da mamona ou do capuz”.

“Mas quem é o suspeito?”.

“Bem, Eddie, é um jovem rapaz que não possui tantas qualidades, mas possui um sobrenome famoso, a ponto de conseguir ser membro do Culto de Nymeria. E ainda por cima, tem um gênio criminoso como podemos ver. Seu único problema foi a ligação com a vitima e meu confronto que tive com ele e onde pude analisar seus gestos e perceber que ele é certamente o homem que procuro”.

“Então você encontrou o provável criminoso?”.

“Sim, e ele pode ter percebido que eu sei e pode querer me matar, por isso não posso te revelar o nome dele agora”.

“Mas e se ele cometer algo contra você? Eu poderia colocá-lo na cadeia”.

“Calma, Eddie, eu tenho comigo uma carta”, disse puxando uma carta do bolso do casaco, “com o nome do suspeito e como você deve proceder caso algo muito grave aconteça comigo. Eu vou deixá-la aqui. Prometa-me que só usará se algo muito grave acontecer comigo. Muito bem”.

“Mas o quê você pretende fazer agora?”.

“Eu poderia tentar convencer Gabriel sobre o acusado, falar de sua ligação com o culto, de que ele influenciou Alturus a entrar no culto para extorqui-lo, fazê-lo perceber que ele é canhoto. Mas eu poderia estar trocando os pés pelas mãos”.

“Você poderia tentar rastrear o dinheiro do cheque e ligá-lo ao assassino”.

“O dinheiro está circulando no submundo do crime, não seria uma boa idéia fazer isso agora”.

“E essa carta? Não pode usá-la agora?”

“Não. Eu já me envolvi com muitas figuras poderosas, mas essa carta tem certa extensão que não gostaria de cutucar agora. Eu vou ter que conversar com meus amigos da Rua Magnólia”, disse se levantando e indo até a porta.

“Boa sorte”, disse Eddie.

No resto do dia, Eddie não voltou a ver Úrsula e nem ter nenhuma noticia sua. Eddie deu aulas o resto do dia e voltou para casa, onde jantou, leu e dormiu. Nenhuma noticia sobre ninguém até a manhã seguinte, quando lia seu jornal matinal e leu uma noticia que dizia que Úrsula, uma detetive particular de notoriedade, havia recebido um atentado na noite anterior. Leu rapidamente a noticia que dizia que Úrsula havia sido abordada na Rua Cajazeiras por dois homens armados que haviam efetuado tiros e acertado um no ombro de Úrsula, enquanto ela atingira o ombro de um dos homens, levando ambos a fugirem. No texto dizia que o tiro tinha a intenção de acertar algum órgão vital de Úrsula e que nada havia sido roubado, mas que ela estava bem e tinha sido encaminhada para o hospital. Eddie desceu rapidamente e pegou o primeiro táxi para o hospital informado no jornal.

Ao chegar ao hospital, via Úrsula no lado de fora com um braço na tipóia.

“Você está bem? O que houve? Acabei de ler no jornal que você sofreu um atentado”.

“Calma, Eddie, não foi nada tão grave, eu apenas tomei um tiro no ombro e estou usando a tipóia para descansar o braço. O encapuzado mandou alguns homens me matarem, foi só isso”.

“E você diz isso com essa naturalidade? Vamos acabar logo com isso e mandá-lo para a cadeia!”, disse Eddie ficando vermelho.

“Já pedi para se acalmar. Tudo foi resolvido. Acabou”.

“Como? Como assim?”.

“Eu tomei o tiro por volta das 23h00min, você não leu? Deu tempo de tudo ser resolvido. Você não leu o restante do jornal?”.

“Não. Eu fiquei preocupado. Mas o que isso quer dizer?”.

“Parece que vou ter que recapitular para você. Eu consegui um mandato de prisão para o assassino com um anexo de todas as provas e evidencias que eu possuía, alias Gabriel já está cuidando disso agora. Sim, ele soube bem mais cedo sobre mim, já que trabalha no jornal; trouxe até flores, mas enfim esse atentado só vai comprovar e aumentar a ficha do criminoso. Eu conversei com meus amigos da Rua Magnólia e eles conseguiram pegar um dos homens que atirou em mim e esse homem vai falar do mandatário. Sim, meus amigos da Rua Magnólia sabem como ninguém fazer alguém falar”.

“Mas, por favor, Úrsula, diga-me quem é o assassino”.

“E não era obvio? Quem você conhece que é canhoto, que tinha uma pequena ligação visível com a vitima, que conhecia a vitima e que o conheceu um pouco após Gabriel ter começado a visitar o avô?”.

“Eddie pensou um pouco e respondeu: “Bruno?”.

“Isso. Bruno. O amigo apostador inveterado de Gabriel, o amigo com um bom nome, o amigo que conheceu Alturus com Gabriel e achou que poderia conseguir algum dinheiro com uma trama tão bem arquitetada. Convidar um ex-historiador para seu grande culto secreto onde ele, Bruno, seria maior que Alturus e poderia começá-lo a extorqui-lo. Quem sabe o que poderia acontecer com ele caso o culto soubesse que ele estava usando sua pouca influencia para extorquir alguém”.

“Mas como você descobriu?”.

“Eu tive que investigá-lo por ser amigo de Gabriel e por já ter entrado em contato com Alturus; foi quando descobri de sua família e de sua ligação com o culto. Descobri também o capuz no lixo que ficava num caminho adjacente de sua casa e suas dividas de jogo que perduravam. Pude confrontá-lo cara a cara quando estava com Gabriel e usando certa leitura fria, comecei a achá-lo cada vez mais suspeito. Investiguei e descobri que suas dividas de jogo haviam sido pagas milagrosamente, mas nada disso podia comprovar seu envolvimento com o assassinato, até ontem à noite”

Ontem fui até a casa de Bruno e ele me convidou a entrar.

“Eu sei que você assassinou Alturus fazendo-o ingerir ricina após fazê-lo assinar um cheque que já foi descontado por você para pagar suas dividas de jogo”.

Ele ficou vermelho de raiva e achei por um minuto que daria um soco em minha cara, mas ao invés disso disse: ”Prova, vai até a delegacia e prova. Ou você quer que eu lhe pague algo para você não fazer isso? Porque não pagarei”, disse-me com um sorrisinho.

“Não quero que pague nada, até porque você teria que matar alguém para fazer isso ou apostar contra alguém, o que levaria você, um perdedor, sair com muitas mais dividas”. Nesse momento ele ficou ainda com mais raiva. “Eu não vou à delegacia porque não tenho provas suficientes contra você, o que faria com que sua família pudesse pagar bons advogados que não o deixariam ficar na cadeia. Por isso vim pedir para que se entregue”.

Nesse momento Bruno riu bastante; extravasou toda sua tensão nas risadas. Quando acabou, olhou para mim e disse: “Você está louca?”.

Olhei para ele calmamente e disse: ”Ou eu posso levar as provas que eu tenho para o Culto de Nymeria”.

Nesse momento ele ficou sem reação e após algum tempo disse: “O quê?”.

“Foi você que o introduziu no culto, você pegou emprestado um livro para que pudesse emprestar para Alturus, você o fez sair de casa com o livro na mão para devolvê-lo o mais rápido possível. Eu não pude comprovar que foi você comprou Aquele capuz que você usou na noite da morte de Alturus, mas posso comprovar que você comprou igual; posso levar uma testemunha que achou que era você debaixo daquele capuz naquela noite (Sim, Eddie, eu menti quanto a isso); ainda pode haver alguma investigação sobre a entrada de folhas de mamona na cidade. Eu creio que você não usou intermediários para conseguir sua ricina. Eu posso não ter conseguido a prova de seu envolvimento com a substancia, mas talvez Eles possam. Eles podem ser policia ou Eles podem ser o culto”.

“O que você quer?!”, disse furioso. “Quer que eu simplesmente revele que matei Alturus? Que o extorqui e que o chantageei? Que o matei? Eu não posso”.

“Então diga para mim e me mostre como eu estava certa, como consegui chegar até você em tão pouco tempo”.

“Então me conte como descobriu que fui eu?”, disse estranhamente abalado.

Contei a ele sobre a suspeita do criminoso ser canhoto. “Isso é incrível”, disse-me, “eu nunca acharia que estava entregando pistas assim”. Contei a ele sobre como descobri a localização do casaco e de como usei a leitura fria nele para interrogá-lo sem que soubesse quando vi ele com Gabriel. “Mas então você sabia de tudo só com isso?”. Contei sobre minhas deduções que tive com você em frente à faculdade (mas omitindo você) e de como fiz pesquisas sobre a compra da ricina e de como sabia sobre o uso da ricina e de como descobri que suas dividas de jogos ilegais haviam sido quitadas. “Você descobriu, moça, descobriu como agi – rárárá – tudo bonitinho –rárárá - mas mesmo assim, me chantageando usando o culto... Eu não quero me entregar”.

Foi quando resolvi jogar com ele. “Que tal jogarmos pôquer? Quem vencer leva o premio. Se eu vencer, você se entrega, se você vencer, eu dou esse caso por encerrado”. Ele ficou ponderando por um tempo até que eu disse: “Você nunca teve a chance de apostar algo tão valioso: sua liberdade. Vai perder essa oportunidade?”. Foi quando ele aceitou.

Eu posso dizer que usei meus conhecimentos sobre leitura fria para fazê-lo crer o que se passava pelo meu jogo, até a hora do bote final e eu vencer. Não vou dizer que foi fácil convencer a aceitar minha vitoria e fazê-lo confessar, mas percebi que o medo que ele inseriu em Alturus sobre o culto, ele partilhava, ainda mais com a família envolvida. Fiz um acordo com ele de não envolver nada do culto no depoimento e chamei o inspetor até onde estávamos. Ele confirmou tudo e foi preso, mas talvez ele tenha conseguido alguma forma de informar dois comparsas para me matarem por vingança, ou isso apenas já estava agendado.

Quando sai de sua casa após a chegada da polícia, eu fui diretamente para a casa de Gabriel. Eu percebi que dois homens altos estavam me perseguindo em plena Rua Quatro Folhas e ambos levavam armas por debaixo dos blazeres no lado direito, fazendo com que descobrisse que ambos eram destros. Quando olhei para eles para tomar notas, percebi que ambos perceberam que eu sabia e alongaram os passos. Consegui dobrar uma esquina de uma rua vazia e esperei eles virem atrás de mim, mas usei um pequeno espelho na ponta de um pedaço fino de ferro e percebi que apenas o homem do meu lado esquerdo tinha sacado a arma. Quando eles apareceram, eu surpreendi os dois e dei uma rasteira no pé de apoio do homem do meu lado direito e antes que caísse, peguei o revolver que ele guardava debaixo do blazer. Enquanto o outro homem empurrava o martelo do revolver e puxava o gatilho, eu consegui fazer os dois ao mesmo tempo e nós dois atiramos simultaneamente, fazendo com que nossas balas tomassem sentidos opostos. Minha intenção era acertar a ligação principal entre seu ombro e o braço, inutilizando seu braço direito, fazendo com que soltasse a arma, e foi o que aconteceu; ele por sua vez, deve ter tentado acertar minha cabeça, mas acertou meu ombro, me fazendo soltar a arma. O primeiro homem que derrubei veio pra cima de sua arma que deixei cair, então girei e chutei a arma para o mais longe possível e o homem veio me dar um soco. Pela sua posição naquela hora e sabendo que ele me socaria com o braço direito, pude prever seu soco e desviei rapidamente. O segundo homem, o que eu acertei no ombro, pegou sua arma e atirou contra mim enquanto estava de costa, não me acertando. Pelo trajeto da ultima bala, eu pude perceber seu posicionamento, então assim que eu peguei a arma, eu me virei exatamente para ele e atirei em seu braço esquerdo. Após ser atingido, o segundo homem conseguiu jogar a arma para seu comparsa, então ficamos apontando armas um para o outro enquanto o segundo homem fugia. O primeiro homem conseguiu dobrar a esquina com a arma apontada para mim e fugiu.

Fui levada para o hospital para tratar do ombro e a policia veio coletar informações. Gabriel soube de tudo e foi até a delegacia, mas me mandou as flores e disse que iria à minha casa assim que desse.

“Então vamos para sua casa?”, perguntou Eddie ainda abalado.

“Não, vamos até a delegacia entregar essa fita onde eu gravei Bruno confirmando tudo sobre o crime. Ele nem percebeu”.

“Mas você tinha conseguido essa prova, por que não usou antes?”.

“Mas que graça teria?”, perguntou Úrsula séria.

“Se você tivesse perdido no pôquer, você teria encerrado essa investigação sem acusá-lo?”.

Úrsula olhou seriamente para Eddie e percebeu o quão desconfortável ele estava. “Vamos Eddie, ainda tem tanto para resolvermos”.


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Notas finais do capítulo

A quinta parte trata-se de um epilogo.
Um melhor desfecho para os personagens



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