— Eu ainda não acredito que você me fez fazer isso... — resmungou Lily, revirando a comida, com raiva.

— O que a comida lhe fez fazer? — perguntou Pandora, distraída.

— Engordar — respondeu Marlene, antes de virar-se para a ruiva — Te matou?

— Você podia ter ido você mesma! — reclamou Lily, inclinando-se para perto do prato.

— Não, eu não podia — retrucou Marlene — Tinha aula com o Binns, e ele não te deixa sair de sala nem se você estiver tendo hemorragia vaginal.

— Você podia ser uma pessoa normal, e falar “menstruação” — disse Alice.

— Aquilo é uma hemorragia, não uma menstruação! — ela reclamou.

— Deixe de ser dramática! — Alice revirou os olhos.

— Nem três absorventes juntos resolvem o problema — continuou Marlene.

— Não vamos falar de assuntos femininos agora, sim? — Lily alertou-lhe, olhando por cima de sua cabeça.

Marlene calou-se, ao ver que Sirius aproximava-se.

— Vou poupar-lhes por hoje — ela disse, levantando-se para ir na direção dele.

Quando se encontraram, começaram a se beijar, sem importar-se de onde estavam.

— Isso é poupar? — perguntou Alice, incrédula.

— Só desviar o olhar — disse Lily, simplesmente.

— E você? Quando pretende começar? — Alice puxou assunto.

— Não sei do que está falando — Lily tentou cortar.

— Ela vai insistir, você a conhece — sussurrou para que Pandora não ouvisse.

— Pois eu tenho uma ótima solução: nem eu nem ela ganhamos a aposta. Eu não viro amiga de Potter. Fim! — disse Lily, tomando um gole de refrigerante.

— Se não for Potter, pode ser outro muito pior — avisou.

Lily percebeu que Alice olhou para trás, mas Marlene já tinha se afastado. James e Remus, no entanto, estavam sentados com Frank, na outra mesa.

— Vai lá! — disse Lily, assustando-a.

— Não viaja! — retrucou Alice — Eu só me pergunto onde que Ian está...

— Deve estar com os gêmeos Prewett, aprontando alguma... — Lily deu de ombros — Eles, Potter e Black fariam um grupo destruidor.

— Acho que eles preferem trabalhar sozinhos — disse Alice.

— Espero que seja verdade — murmurou Lily.

— James Potter nunca teria problemas... — disse Pandora, assustando às duas.

— O que quer dizer com isso? — perguntou Lily, realmente interessada.

— Ele é afilhado da professora McGonagall — respondeu Pandora — Ela é rígida, mas, no fundo, gosta das brincadeiras dele, acha engraçado. Dumbledore também, embora não apareça muito.

— McGonagall não tem favoritismos — disse Lily, sem muita convicção.

Pandora não respondeu, só deu de ombros.

— Já fez o desafio da canela? — perguntou a loira.

— Marlene me obrigou a fazer. Os vídeos devem estar com ela, ela se negou a me passar — respondeu Lily, rindo.

— Ela também me obrigou a fazer. Não! Ela fez pior! — disse Alice — Ela fez todos da sala fazerem, ao mesmo tempo, e gravou. A gente ficou um tempão depois da aula, limpando todo aquele pó.

— Eu sempre quis fazer esses desafios, como o da água e gelo. Não tem graça sem amigos! — disse Pandora, dando de ombros, antes de tomar uma colherada de mousse.

— Sou sua amiga, Pan — disse Alice, desconcertada.

— Ah! Isso é ótimo! — ela disse, sorrindo.

Lily conseguiu distinguir um barulho diferente dos que a rodeavam, um barulho de metal, batendo continuamente no chão. Ela virou-se, e percebeu que se tratava da mesma garota da biblioteca, a garota que não enxergava. Ela andava junto com uma garota loira e alta.

— Emmeline Vance... — murmurou Alice.

— Não se preocupe, eu estarei contigo — dizia Emmeline para a garota, então ela viu-as — Ora, ora! São as amigas de McKinnon, certo? Não me surpreenderei se não estiveram por lá.

— Estaremos — interrompeu-a Lily, sorrindo.

Alice olhou surpresa para a ruiva, mas foi ignorada.

— Ótimo! — Emmeline sorriu, falsamente — Espero-as hoje à noite! Vamos, Doe!

— Nós vamos? — perguntou Alice, assim que ela se afastou.

— Não vamos dar o gostinho para ela — disse Lily, franzindo o cenho.

— Ah! Mas... Vai ter bebidas, e... Essas coisas! — gaguejou.

— Lice, vamos nos divertir! Não precisamos nos embebedar, ou fazer qualquer outra coisa — disse Lily, sorrindo.

— Tenho trabalho para fazer — disse Alice.

— Trabalho? — Pandora franziu o cenho, estranhada.

Alice suspirou, ao lembrar que ela estava ali.

— Não tem desculpas — disse Lily, levantando-se — O melhor a fazermos, quando as aulas acabarem, será procurar um vestido.

— Tem uma loja de roupas muito boa no campus — disse Pandora.

— O quê? Na faculdade? — perguntou Lily, estranhada.

— Chamamos de “campus” essa região toda, perto daqui — explicou Alice — Deve estar falando da Madame Malkin. É onde a Marlene costuma comprar as roupas dela...

— Eu não confio em uma loja onde a Marlene compra — disse Lily — Ela vai nos meter em cada vestido curto e apertado...

— É só se impor, e isso você sabe fazer — Alice deu de ombros.

A sineta tocou, e elas levantaram-se.

— Você vai na festa? — perguntou Frank, aproximando-se delas.

— Fazer o que, né... — disse Alice, embora sorrisse.

— Então nos vemos lá! — disse, antes de ir para perto de Ian.

— Vocês fazem um lindo casal! — disse Pandora, surgida do nada (como sempre).

— O quê? Não! — Alice começou a rir, corando.

— Você também faz um bom par com aquele garoto, por que não vão conversar? — Lily não conseguiu controlar-se.

— É... Não é uma ideia ruim... — murmurou Pandora, olhando para o loiro, que Lily se referia.

— Nos vemos na aula! — disse Alice, deixando-a para trás — Obrigada.

— De nada — Lily riu — Vamos, tenho aula com a Grubbly-Plank.

***

— Vem cá... Vocês vão para uma festa, ou dormir na casa da tia? — perguntou Marlene, entrando no quarto onde Alice e Lily estavam se vestindo.

— Não amola! — disse Lily, jogando uma jaqueta na direção dela.

— Eu não vou usar vestido de prostituta — retrucou Alice.

— Mas você não tinha que trabalhar? — perguntou Marlene, franzindo o cenho.

— É... Estou estranhando também — comentou Lily, amarrando o cadarço — Tendo encontro às escondidas?

— É claro que não! — exclamou Alice, subindo a alça grossa do vestido floral — Eu expliquei ao Florean que hoje teria a festa de boas-vindas. E, por algum motivo, ele deixou que eu fosse.

— Ele já foi adolescente algum dia — disse Marlene, dando de ombros — De qualquer forma, qualquer uma de nós quer um chefe como o seu. Agora, é melhor irmos!

— Precisa do endereço? — perguntou Alice.

— Claro que não! — respondeu Marlene, fazendo pouco caso — Eu já aprontei algumas com ela...

— Não tenho dúvidas disso — disse Lily, negando com a cabeça.

— Vão assim mesmo? Vocês quem sabem... — ela deu de ombros.

— Surpreende-me de que você não esteja de vestido, Lil — comentou Alice.

— O short cobre coisas que um vestido não cobre — explicou a ruiva, em poucas palavras.

— Está certo... — murmurou Alice.

Marlene, ao contrário do que elas imaginavam, estava com uma blusa curta e uma saia longa. Por debaixo da saia, podia se ver o princípio de uma de suas várias botas.

Lily estava com um short jeans e uma blusa preta, com rasgos atrás, formando a imagem de uma caveira (Marlene lhe deu de aniversário, quando ainda estudavam juntas).

Enquanto que Alice estava com um vestido floral simples, a cintura era marcada com uma fita brilhosa de cetim rosa claro, assim como a maioria do vestido tinha pequenas flores dessa cor. Nos pés, ela vestia umas sapatilhas.

— Cabelo solto não rola — disse Marlene, indo para trás de Lily, e puxando o cabelo dela.

— Ai! — reclamou a garota — O que você está fazendo?

— Uma trança! Vai ficar bem melhor! — respondeu Marlene, começando a separar as mechas.

— Mas você vai de cabelo solto! — reclamou Lily, cruzando os braços, como se fosse criança.

— Exatamente! Quer ficar igual a mim? — retrucou a castanha, trançando — Além do mais, não creio que o seu look combine com cabelo solto.

— É melhor não contrariar — disse Alice, antes de que Lily pudesse continuar protestando.

— Pronto! Vamos! — disse Marlene, por fim, depois de colocar o elástico na ponta da trança ruiva.