Amai Desu Ka? escrita por Mildrith


Capítulo 2
Nerd.


Notas iniciais do capítulo

E agora, IwaOi. ♥
Nem é exatamente AU esse, já que eles realmente se conheciam quando crianças, mas...

Boa leitura. -u-



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                                                Nerd.

— Eu não quero jogar esse jogo! – informou alguém. Um alguém pequeno e dono de uma voz que julgava ser  irritante. A mais irritante que já ouvira em sua curta vida.

— Eu não tenho nenhum jogo esquisito ‘pra você gostar.

— Eu não gosto de jogos esquisitos!

Iwaizumi teve de tirar os olhos da tela para encará-lo, um olhar totalmente descrente e intenso sendo cravado no mais novo dali. Quando notou o olhar sobre si, Oikawa se virou e abaixou o controle, agradecendo a oportunidade para desistir daquele jogo difícil e sem graça.

— Os esquisitos são os melhores – justificou empinando o nariz, enquanto os olhos verdes continuavam a queimar sobre si. Sentia até mesmo um arrepio na coluna, prevendo que poderia apanhar a qualquer momento. Afinal, Iwa-chan era como um animal selvagem e imprevisível! Após sua afirmação, as sobrancelhas do outro menino se franziram, como se buscasse lógica no que dissera.

— Quer fazer o que então? Não quero passar mais duas horas olhando ‘pra sua cara sem fazer nada.

— ‘Tá me expulsando, Iwa-chan?

Com isso, fez um beicinho teatral, apenas conseguindo um revirar de olhos da parte do dono do quarto. Estavam ambos empoleirados na cama desarrumada, esperando as horas passarem até que os pais de Tooru viessem buscá-lo. Não que fossem tão amigos para aquela ser sua primeira opção, mas suas mães, eram.

Consequência era que desde muito cedo Hajime tinha de aguentar aquele nerd. Não lembrava-se muito de qualquer coisa antes dos cinco anos, mas desde que se lembrava, ele estava ali.

Pegando suas coisas sem pedir, colocando o pé na sua cama, reclamando do quão chatos seus jogos eram.

“Então por que não traz os seus?!” Queria perguntar. Ou então: “Então por que não vamos ‘pra sua casa?”

Mas não fazia nada disso. Não sabia os motivos do amigo para não convidá-lo. Nem uma única vez desde que se lembrava. Uma vez, questionara sua mãe acerca do assunto, mas esta apenas lhe dissera que “talvez, o Tooru-chan não goste que invadam seu espaço”. Aquilo, longe de acalmar sua curiosidade, serviu para inflamar a sua raiva. Afinal, ele também tinha um espaço e queria que fosse respeitado!

— Não adiantaria te expulsar – respondeu, impondo sua irritação ali, após um tempo relembrando um dos motivos de ser tão hostil com o mais novo. — É tipo um vira-lata, sempre volta.

Não me quer na casa dele!

Por mais que dissesse à si mesmo que não estava nem ai, sabia que no fundo aquilo magoava. Decidido a não demonstrar a mágoa súbita, desviou o olhar para o lençol da cama.

— Isso é cruel... – murmurou Oikawa antes de se deitar para trás, abandonando totalmente a perspectiva de jogar.

Abriu a boca para pedir delicadamente — e com um ponta pé para ilustrar - para que o babaca não se deitasse na sua cama; mas a voz não saia. Por mais egoísta que Oikawa fosse, Hajime era gentil e não conseguia simplesmente expulsar alguém assim. Suspirou com sua própria derrota antes de se deitar também, ao lado da "visita" folgada.

— Por que não podemos ir na sua casa jogar?

Assim que perguntou, se arrependeu. As bochechas esquentaram e por mais que fosse queimado do sol, era perceptível. Observou o teto simples e clarinho, amarelado pela luz da tarde que entrava pela janela, enquanto torcia internamente para que a pergunta não fosse considerada. 

— Iwa-chan não ia querer jogar meus jogos!

— Isso é só uma desculpa! – desta vez, falou mais alto. Se sentou e virou o rosto para encontrar os olhos castanhos. Relaxou um pouco os ombros e tentou controlar a respiração, subitamente agitada, quando encontrou-os arregalados. Mas os punhos já estavam formados, apertados para descontar a frustração. – Você não me quer lá! 

— N-não é nada disso!

E logo, estavam ambos sentados e se fuzilando com os olhos que tinham. Os de Tooru, eram maiores e mais brilhantes, já os seus, eram estreitos e pequenos. O menino mais velho sustentava uma expressão irritada, quanto ao outro, uma indignada.

— É o que então?! – bradou, ainda alto. Logo, sua mãe viria lhe plantar uma bronca, pedir para que tratasse melhor o pequeno Tooru, mas não se importou. Diferente do esperado, a resposta não veio agressiva para refletir sua pergunta, mas sim, em forma de tremores nos lábios alheios. Engoliu em seco enquanto observava Oikawa segurar o choro. Fora ele mesmo quem ensinara-o a fazer isso, já que até algum tempo, o menino chorava mais do que falava.

— Iwa-chan... iria m-me achar um esquisito...! – a frase saiu cortada, mas com sucesso.

— Mas eu já acho – Iwaizumi tentou soar mais manso, abrandando o tom, sem nenhuma paciência para aturar o amigo chorando por longos minutos. Após algum tempo, os lábios pararam de tremer e os olhos pareceram mais confiantes.

— Da próxima vez... vai ser lá, então!

— Certo!

Concordou e suspirou aliviado, após um tempo desconfortável, deitou-se de novo e desperdiçou as horas ao lado do chorão. Entretanto, uma ansiedade se aconchegava no seu abdômen com a perspectiva de ir até a casa do amigo. Afinal, o que poderia ter de tão estranho para tamanho receio?

Várias ideias rondaram sua mente; morava num pântano, possuía um animal estranho de estimação, tinha irmãos clonados? Mas nenhuma era ruim - nos quesitos de uma criança - o suficiente para que se apegasse à alguma destas. No fim, desistiu. Deixaria isso para o destino – a próxima semana.

Quando esta chegou, exatamente sete dias depois, se vestiu com cuidado especial enquanto seu pai o apressava. Seus olhos verdes pousaram sobre seu equipamento de coleta de insetos, mas não achou que fosse para tanto.

Talvez um guarda-chuva sirva!

Levou um guarda-chuva.

Afinal, nunca se sabe o que poderia ter na casa de alguém como Oikawa Tooru.

Entretanto, sentiu-se desconcertado quando chegou lá e desceu do carro. Era uma casa normal, bonita. Não tinham ervas daninhas se esgueirando pelos muros, nem um caminho de pedra assustador que levaria à uma porta velha de madeira. Longe disso, tinha até um jardim bem cuidado - o que poderia ser uma ótima fonte para suas coletas. Olhou para os lados, uma rua comum, casas comuns.

— É o endereço certo? – se perguntou, franzindo o cenho em confusão.

Deu de ombros em seguida e abriu o portão. Lá dentro, o pequeno o aguardava com uma expressão ansiosa.

— Iwa-chan, você veio! – sorriu alegre, e barulhento como sempre, antes de correr até ele. Saiu tropeçando nos pés descalços enquanto descia as escadas, apenas para ter de subi-las novamente depois, junto do outro. Enquanto seguiam para o quarto, fitou-o confuso. – ‘Pra que o guarda-chuva?

— Proteção – respondeu, analisando cada cantinho que tinha vista. Mas a sala era normal. A escadaria também. A cada degrau que subiam, entendia menos.

No quarto dele, o monstro deve estar lá...

Sua convicção aumentou quando chegaram ao segundo andar; quando Tooru hesitou em abrir a porta de seu quarto. Segurou com mais força o cabo do guarda-chuva, pronto para abri-lo a qualquer sinal suspeito.

A maçaneta girou, a porta se abriu, e...

— Alienígena...? – foi a primeira coisa que verbalizou.

— Uh...uh.

Seus olhos correram pelo quarto, mas em qualquer lugar que olhasse, encontrava um pôster, um figure, uma prova de que aquele garoto, nervoso e com as mãos para trás, era de fato um grande nerd.

— Eu já sabia que você era estranho – tratou de comentar, com um dos raros ares de riso que assumia algumas vezes, enquanto entrava e fechava a porta atrás de si - já que o dono do lugar parecia em algum tipo de choque.

— Você... não acha... estranho?

— Hã? – ergueu os olhos para o teto, vários adesivos verdes brilhantes decoravam-no. — Woah! É daqueles que brilha no escuro?!

— Ah...é, sim! Quer ver? – ofereceu, finalmente tirando as mãos detrás das costas e correndo para fechar as cortinas. Sua animação retornara e a prova disso era a forma como os olhos brilhavam. Iwa-chan sorriu ao notar. Assim que as cortinas se fecharam, o lugar logo ficou menos iluminado e os adesivos pareciam ganhar vida. — Legaaaal, né?!

Hajime concordou com acenos positivos. Ficaram daquela maneira por longos segundos, encarando os óvnis, aliens e armas de sci-fi no teto, e não conseguiram quebrar o silêncio tão fácil. Ainda não acreditava que aquele era o motivo de nunca ter ido ali! Sentiu-se irritado pela insegurança do menino, logo ele, que era cheio de si e vivia com o nariz já arrebitado, erguido.

— Vamos jogar um jogo de nerd — anunciou com coragem, pousando o guarda-chuva no chão e tirando os olhos do teto. Correu até a cama de lençóis verdes e pulou, desarrumando-a no processo. A temática chegava a ser exagerada, mas não era aquilo que faria com que gostasse menos do amigo. Se ajeitou ali em cima, só de meias. Quando virou-se para Oikawa, este meneou com a cabeça positivamente, várias vezes, com um sorriso largo e sem um dente.

Que cara estúpida...

Desviou o olhar e se esticou para ligar a TV, logo, deu espaço para o garotinho sentar ao seu lado. Observou intrigado enquanto várias capas estranhas eram colocadas no colchão e seus nomes anunciados. Iwaizumi não entendia nada daquilo!

— Escolhe você, idiota!

O mais novo, longe de ofendido, pareceu satisfeito com a ordem.

“Os esquisitos são os melhores.” Refletiu a frase que ouvira na semana anterior, curioso enquanto se ocupava em observar a animação crua no rosto do melhor amigo.

Sim, os esquisitos são os melhores.


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Notas finais do capítulo

Preciso treinar mais os focos de narrativa, fica bem confuso as vezes... Vou usar essa fanfic pra treinar isso. q



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