A Terra e o Mar - o encontro de dois mundos escrita por Lu Rosa


Capítulo 37
Trinta e seis




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Thomas observava o mar diante de si. O que faria agora? Procuraria um navio para engajar-se? Qual capitão em sã consciência daria emprego a um ex pirata? Talvez ele pudesse arrumar um jeito de ir para o norte, encontrar-se com Peter Glasgow e viver como ele. Mas nenhum das alternativas lhe pareciam boas. Nunca poderia viver longe de Leonor. Seria como perder a alma ou o coração. Mas o que poderia oferecer a ela? Uma dama daquela pequena sociedade. Mesmo que todos ali sobrevivessem do trabalho duro, da vida selvagem daquela terra. Mas, a maioria descendia de fidalgos portugueses ou espanhóis.  E ele? O que ele era? Um nada.

Ele suspirou e fechou os olhos. E a imagem de sua doce Alice penetrou em sua mente. O sorriso brando que ela lhe dava quando ele sempre dizia que não a merecia.

E as palavras que sempre acompanhavam o sorriso:

"Tom, você é um homem extraordinário. Tem um coração valente e bom. E nenhum dinheiro, título ou posição irá mudar isso. Você é amado pelo que é, não pelo que possui."

E ela o amou. Até o fim. Lhe deu um filho lindo que agora repousava com ela junto de Deus.

E foi baseado nessa confiança que ele ergueu a cabeça e foi na direção da casa de D. Bernardo jurando que se ele não lhe desse Leonor, aí sim ele a sequestraria.

— D. Bernardo, eu quero lhe falar. - Thomas começou dizendo com voz firme.

— Ah sim, rapaz. Espero que já tenha decidido onde vosmecês vão morar? Eu já lhe adianto que Rio Santo é o lugar preferido de Leonor. – D. Bernardo enchia seu cachimbo impassivelmente.

— Senhor?

— Ora, inglês.... É claro que você chegou aqui todo decidido é por que vai me pedir Leonor, não é?

— Sim, eu... hum. - ele limpou a garganta desejando que sua voz estive firme. -  Eu quero me casar com a sua filha e sou trabalhador e vou fazer de tudo para ser digno dela e...

— Já sei. Já sei de tudo isso. Se puder aguentar essa cabeça dura que é essa linda donzela, eu dou minha bênção a vosmecês. Mas lembre-se que ela irá deixar vosmecê de cabos brancos. - o olhar bem humorado de D. Bernardo para além dele denunciou que Leonor estava parada atrás dele.

Thomas virou-se e foi presenteado pelo mais belo sorriso que podia ver. Mesmo com o rosto sujo de sangue e terra, com os cabelos emaranhados e o vestido rasgado e sujo aquela era a mais bela mulher que os seus olhos já haviam pousado. Por que ela era a dona de seu coração.

— Vais ficar aí embasbacado ou vais tomar conta de meu maior tesouro? – D. Bernardo apoiou a mão no ombro dele e lhe falou ao ouvido.

Thomas olhou para D. Bernardo e apertou a mão que o outro lhe estendia antes de arrebatar Leonor nos braços e a beijar-lhe com paixão.

Perdidos estavam nos olhos um do outro que nem perceberam quando D. Bernardo saiu discretamente da sala.

— Amo-te! Amo mais do que minha própria vida. - ele se declarou.

— Amo a vosmecê mais do que a mim. - rebateu ela no mesmo tom fervoroso

Ele fez um carinho no rosto dela e, inclinando-se beijou a novamente.

— Será que posso interromper?

Os dois viraram-se para porta e viram D. Eugenia com um malicioso sorriso nos lábios,

— D. Eugenia! - a moça separou-se de seu amor e abraçou a senhora.

— Vejo que por aqui tudo está ótimo.

—Melhor impossível. Thomas e eu vamos nos casar. -  Leonor indicou a cadeira para a senhora sentar.

— Que bom, menina. Vosmecê é homem valoroso. - disse ela olhando para Thomas - Tenho certeza que os dois serão muito felizes.

Leonor olhou amorosamente para Thomas e ele retribuiu o olhar.

— Bem, então acho que chego em boa hora para dizer o que decidi.

— Decidiu, D. Eugenia? - perguntou Leonor.

— Sim. Eu e Constâncio éramos os últimos Olinto da Siqueira. Meu irmão morreu sem ter se casado. Aquele monstro que tomou o lugar dele não teve filhos com a pobre com quem se casara se passando pelo meu irmão. Casamentos por procuração tem esse problema. Ainda bem, que Deus me perdoe. Não por ela que, me disseram era uma santa mulher, mas por causa daquele demônio.

— Bem. - continuou D. Eugenia. - Então pensando em minha própria história, que poderia ter sido diferente se o meu Joaquim fosse abastado, eu decidi transformá-lo em meu herdeiro, D. Thomas.

Se um exército de elefantes brancos tivesse entrado na sala não teria surpreendido mais o rapaz do que as palavras da senhora.

— Como, senhora? Acho que não entendi.

— Nada mais me resta aqui. Então voltarei para Portugal. Para o convento das Carmelitas, de onde eu nunca deveria ter saído. E sendo assim, todos os bens da minha família ficariam sem ninguém para gerir. Iam acabar indo para os cofres do Rei alimentar aquele bando de parasitas ao redor dele. Não. Meu avô e meu pai não trabalharam duro para criar e manter nosso patrimônio para agora ele ir para a Coroa. E eu considero você, rapaz, alguém capaz de cuidar de tudo.

—Mas, D. Eugenia... Eu não sei como isso funciona. A senhora não teria que ter permissão do Rei para isso?

— Só se eu fosse uma fidalga. O que não acontece. Apesar de abastada, minha família não era nobre.  Então fique tranquilo quanto a isso.

— D. Eugenia... eu nem sei o que dizer. - Thomas balançou a cabeça sem acreditar na repentina mudança em sua vida.

— Diga apenas que agradece por ser digno dela e que irá cuidar muito bem dessa flor.

Thomas olhou para Leonor, mas antes que ele dissesse alguma coisa, a moça declarou.

— Digno você já era. E nenhum dinheiro, título ou posição mudou isso.

Thomas a abraçou comovido demais para dizer algo. Mas, em seu coração, jurou amar essa mulher por toda a eternidade.


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