A Terra e o Mar - o encontro de dois mundos escrita por Lu Rosa


Capítulo 36
Trinta e cinco




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O inglês empurrou Leonor para o lado e aparou o golpe de D. Constâncio. Os dois homens separaram-se, medindo-se com o olhar.  O português rodava a espada no ar, provocando o outro. Os dois avançaram ao mesmo tempo e um novo choque entre as lâminas aconteceu. D. Constâncio movia-se rapidamente a despeito da idade. A vida de batalhas como El cuervo negro e os confrontos com índios o manteve ativo como se ele tivesse a mesma idade de seu oponente.

            Leonor os observava amedrontada, mas fascinada. A violência dos golpes dos combatentes fazia seu sangue dela gelar nas veias. O sol poente refletia nas lâminas dando a impressão que eram raios que os dois homens seguravam.

            Ela virou-se para trás e viu o pai e o irmão enfrentarem dois homens. Rogou aos céus que os protegessem. Não poderia nem pensar em ficar sem algum deles.

            A alívio apossou-se dela ao ver que seu pai logo livrou-se de seu oponente. Com um pouco mais de dificuldade, Martim também conseguiu se livrar do seu. Ganhou um tapa fraternal do pai enquanto perseguiam mais dois dos asseclas de D. Constâncio.

            Leonor voltou a sua atenção para a luta de seu amado e não viu um dos bandidos ir em sua direção.

            Desviou-se da tentativa do bandido de agarrá-la no último momento. Angustiado, Thomas sô pode observar sua amada tentar fugir do bandido, enquanto repelia mais um ataque de D. Constâncio

            Partiu com mais raiva ainda para cima de D. Constâncio, desarmando-o. Mas o bandido sacou um punhal.

— Reconhece-o? Deste para Leonor e eu quero devolvê-lo. Eu vou adorar devolve-lo enterrado até o cabo em seu peito.

Thomas jogou a espada que segurava longe. D. Constâncio levantou uma sobrancelha.

Thomas abriu os braços. As mãos nuas.

— Não sou homem de enfrentar um punhal com uma espada. Venha e tente me devolver o punhal daquela que amo.

***

Leonor correu para longe de onde estava ocorrendo a luta. Não podia deixar Thomas preocupado com sua segurança.

Aquele cão de guarda de D. Constâncio, Francisco, a perseguia. Tinha que se esconder.

— Eu vejo vosmecê, princesa! Vou levar para o chefe e talvez ele deixe me divertir com você.

— Nem em sonho, paspalho!

Ela correu, mas Francisco a encurralou. A segurou firme contra uma árvore.

Leonor gritou de susto e medo. Francisco tocou o rosto dela deixando um rastro de sangue e sujeira.

"Às vezes uma dama tem que se defender do jeito que pode" parecia que Leonor ouviu a voz de sua mãe enquanto ela lhe ensinava como devia se comportar.

A moça fechou os olhos e ergueu o joelho direito com toda a força. Sentiu ele bater contra algo macio e logo Francisco estava curvado na sua frente com uma expressão de dor raivosa no rosto grosseiro.

Leonor deu um pequeno sorriso ao perder que havia acertado o homem em seu ponto mais fraco.

Correu dele, mas logo o bandido estava em seu encalço.

— Vou matar vosmecê, rameira dos infernos.

Leonor tropeçou numa raiz exposta e caiu. Francisco aproximou-se dela como se saboreasse a vitória.

— Ia lhe entregar para o chefe, mas acho que vosmecê me deve.

Mas antes que qualquer um dos dois piscasse, um galho transformado numa flecha grosseira atravessou o corpo do homem. Ele olhou surpreso para a ponta que aparecia em seu peito, e com um grunhido caiu para o lado.

Leonor levantou-se e viu quem a salvara. Agoirá encostava-se numa árvore, completamente exausto.

Ela correu para a tempo de segurar-lhe o corpo enquanto ele caia. No peito uma mistura de ervas, lama e sangue.

— Agoirá protege moça Leonor...

Leonor riu entre as lágrimas. Quanta obstinação...

— Sim, meu amigo. Vosmecê protege.

***

Os dois moviam-se em círculo encarando-se como dois lobos na tarde que morria. D.Constâncio brandiu o punhal girando na mão. Thomas sabia que só teria uma chance de vencer aquele embate. Não poderia errar.

Constâncio avançou disposto a apunhalá-lo. Atacou uma, duas vezes. E o inglês sempre se esquivava. Mas, na terceira, Thomas segurou-lhe o punho, girou para atrás dele, torceu-lhe o braço e, com toda a força que foi capaz, enterrou o punhal no peito do adversário.

O português arregalou os olhos de surpresa e arfou.

— Você vai cumprir sua promessa no inferno. - o inglês lhe sussurrou ao ouvido, enquanto deixava o corpo escorregar para o chão.

Sem se preocupar com outro bandido, ele saiu a procura de Leonor.

— Leonor! Leonor! - gritou na penumbra da quase noite.

— Estou aqui. - ela lhe gritou de volta.

Ele a viu sentada ao pé de uma árvore. Correu até ela segurando-lhe o rosto e o beijando várias vezes.

            - Minha amada! Você está bem? Ninguém a machucou?

            - Estou bem. Agoirá chegou bem na hora.

            Foi então que ele viu o índio deitado no colo de Leonor.

— Agoirá! Ele está bem?

— Está fraco. Perdeu muito sangue. Eu não sei...

— Vamos eu ajudo. Vamos meu amigo. - os dois tentaram levantar o índio. Com algum esforço, Agoirá se pôs de pé e começou a andar apoiado em Leonor e Thomas.

Quando eles chegaram na vila, foram recepcionados por D. Bernardo e Martim.

            - Filha! Vosmecê está bem?

            - Sim meu pai. Agora precisamos cuidar de Agoirá que voltou para nós.

— Agoirá! Pensávamos que estava morto, bugre!  E vosmecê volta do mundo dos mortos no último momento.

Agoirá respirou fundo antes de responder.

— Agoirá diz a D. Bernardo. Agoirá protege moça Leonor.

 


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