A Terra e o Mar - o encontro de dois mundos escrita por Lu Rosa


Capítulo 38
Trinta e Sete




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Andando pela praia perto de Rio Santo, Leonor olhou o mar a sua frente. Quantas mudanças haviam acontecido em sua vida desde da última vez que olhara o mar dali. Perdas dolorosas como a morte de João Guilherme. E alegrias como a união de Agoirá e Carmo e a sua própria com Thomas. E mais uma que era um segredo só seu.

Depois de ter salvado a vida de Leonor, D. Bernardo achou justo dar a liberdade de Agoirá. Ainda deitado no leito se recuperando do tiro dado por D. Constâncio, o índio recebeu a boa notícia do próprio D.  Bernardo.

Ainda feliz com a decisão do pai, Leonor se surpreendeu com a tristeza de Carmo.

— Carmo? O que tens? Não está contente por Agoirá? - a moça perguntou

— Sim, D. Leonor. Carmo contente. Mas ao mesmo tempo triste, porque Agoirá vai embora.

— Ah, mas ele ainda tem que se recuperar. Eu sei que vosmecês se tornaram amigos e... - Leonor parou de falar quando viu a expressão de dor da menina índia. Ela não considerava Agoirá um amigo. Ela o amava.

E é claro que, estando apaixonada, Leonor haveria de querer ajudar a índia a conquistar o amigo.

Sempre que podia delegava os cuidados ao ferido para Carmo o que ela desempenhava com o máximo cuidado e prazer.

Até que um dia, ao entrar no quarto onde ele estava, Leonor flagrou os dois beijando-se.

A índia saiu do quarto sorrindo feliz e com o rosto afogueado. Deu de cara com Leonor que sorria. A índia ficou envergonhada e baixou a cabeça.

— Não te apoquentes, Carmo. O amor nos deixa bobas.

Alguns dias depois, já recuperado, Agoirá pediu permissão a D. Bernardo e a Leonor para casar com Carmo.  A moça se sentiu recompensada pelo amor que viu no rosto do índio. O amor de Carmo havia aplacado a amargura de Agoirá. D. Bernardo e Leonor haviam deixado bem claro que os dois eram livres para irem embora na hora em que desejassem. O casal preferiu ficar.

Agora, Carmo era mais do que uma criada. Era uma amiga e bem-vinda, depois que Isabel havia partido para Portugal após morte de D. Brás. E, passados mais de um ano do drama ocorrido no Natal, a casa dos Duarte da Meira se preparava para ir para a vila comemorar mais uma vez o nascimento do menino Jesus.

Ela olhou na direção da casa e viu seu irmão Martim se aproximar. Sentiu um nó na garganta ao lembrar que, passado o Natal, ele iria singrar os mares para conhecer Portugal. Ela sentiu medo que Thomas quisesse ir também. Afinal, como herdeiro de D. Eugenia era de se esperar que ele quisesse conhecer Portugal. Mas para seu alívio, ele declarou que estaria delegando essa tarefa a Martim, pois um inglês em terras papistas seria um tanto perigoso. Tanto que para a doação de D. Eugenia tivesse valor em Portugal, D. Brás teve que se valer de amizades e uma quantia em dinheiro para que o direito de herdeiro de Thomas fosse válido.

Mas tudo estava acertado. As mesmas pessoas que gerenciavam os bens dos Cubas em Portugal agora cuidavam dos bens de D. Tomás Henriques, que era o nome que Thomas havia assumido como herdeiro de D. Eugenia.

Mas Portugal era somente um nome no mapa, uma terra distante separada deles por um oceano inteiro. 

Durante aquele tempo, Thomas havia tomado algumas lições com John Whitehall de como era proveitoso ter dupla cidadania. Assim os seus navios tinham proteção tanto inglesa quanto espanhola. E os dois lucravam muito com isso.

Mas, quando o dia de trabalho chegava ao fim e ele podia ir para casa e olhar para a jóia mais preciosa que a nova terra havia lhe dado, ele agradecia aos céus por ter embarcando com Thomas Cavendish.

E agora, voltando para Rio Santo, ele observava com ansiedade a curva do rio. Dois meses de saudade. Dois meses que ele havia deixado sua Leonor em Rio Santo e embarcado numa viagem ao Rio de Janeiro para conhecer mais uma parte dos negócios que herdara. John Whitehall era uma boa companhia, mas como ele ansiava pelo toque macio de Leonor.

Ele simplesmente não conseguira esperar. Assim que o navio atracou, ele pegou Agoirá pelo braço.

— Arrume mais um homem que seja bom remador. Vamos agora para Rio Santo.

— Mas D. Thomas, o senhor não vai verificar o desembarque do que trouxemos?

— Dois meses, Agoirá! Não está com saudade de Carmo?

— Sim, é claro. Mas...

— Então, homem! Deixa de mais e vamos embora daqui. Você já foi bem mais arrojado, índio!

Agoirá sorriu enquanto balançava a cabeça, a medida em que Thomas se distanciava rapidamente na direção do entreposto. Nunca vira homem mais apaixonado do que aquele. Se pudesse tinha vindo a nado.

E agora que o barco conduzido pelos três homens chegava na curva do rio que desembocava nos fundos da propriedade, a ansiedade de Thomas chegava a níveis inimagináveis. Parecia até que ele pressentia alguma coisa.

Naquele momento, Leonor olhava para o horizonte e desejava que seu Thomas já estivesse ali. Mas, se tudo corresse bem, no dia seguinte aquela mesma hora ela já teria dado a notícia a ele.

Virando-se na direção da casa, ela começou a caminhar pela areia branca e quente da praia. Com as mãos sobre o ventre começou a cantar baixinho a balada preferida da mãe.

De repente, um homem vinha em sua direção e ela colocou a mão sobre os olhos para ver melhor. Uma sensação de alheamento a invadiu, como se ela já tivesse vivido aquilo antes. Seu coração deu um salto e ela começou a correr na direção do homem.

Thomas a tomou nos braços e a abraçou firmemente.

— Meu Deus! Como senti saudades de ti. - ele a beijou ternamente nos lábios.

— Calma, homem! Já estás aqui. Não vou sumir como num sonho.

— Não aguentava mais um dia longe de você. Na próxima viagem a levo comigo.

— Então espero que faças isso antes que eu fique tão grande quanto um barril.

— Nunca ficarias grande quanto um barril. - discordou Thomas olhando o corpo esguio da mulher.

— Ficarei sim. Talvez quando os dias frios passarem e toda essa terra estiver coberta de flores.

— Eu não estou te entendendo. O que podes te ocorrer depois do inverno... - subitamente, os olhos dele se arregalaram. - Tens certeza?

Leonor sorriu, a felicidade transparecendo por todos os poros.

— Sim. Pensei que minhas regras não viessem por saudade de ti, mas Mãe Maria examinou-me e decretou. Estou esperando um filho teu.

Thomas sentiu os olhos arderam com lágrimas de alegria. Iria ser pai. Novamente, é claro, mas aquele filho ele não deixaria de estar junto por nenhum segundo enquanto vivesse.

Ele abaixou-se e tocou o abdome da esposa com o rosto. Leonor pousou as mãos sobre o abundante cabelo escuro e deixou que o calor e o amor os envolvessem.

O inglês que procurava a morte, havia encontrado a vida em uma nova terra.

E o mar trouxera o amor ao coração da brasileira.


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Notas finais do capítulo

E então chegamos ao fim dessa bela história. Espero que todos tenham tido prazer em lê-la o quanto eu tive de escrevê-la. Agradeço de coração a todos que deram uma olhada, os que comentaram, os que favoritaram. Gente, muito obrigada e até a próxima!



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