A Terra e o Mar - o encontro de dois mundos escrita por Lu Rosa


Capítulo 35
Trinta e quatro


Notas iniciais do capítulo

Para proteger a vida de seu pai e de seu amado, Leonor é obrigada a barganhar sua vida.



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Leonor estava sentada na cama sendo atendida por D. Eugenia quando D. Constâncio entrou no quarto,

A moça deu um grito:

— Vosmecê?! Saia daqui!

D. Eugenia levantou-se da cama e dirigiu-se a D. Constâncio

— Constâncio, meu irmão. Leonor ainda está muito abalada, eu acho que seria melhor...

Ele olhou friamente para ela.

— Não estou interessado no que vosmecê acha ou deixa de achar. Quero falar com minha noiva a sós. Saia. Agora! - ele ordenou. D. Eugenia o olhou horrorizada.

— Não, D. Eugenia. Não me deixe com ele.

— Sinto muito, filha. Eu não posso...

A senhora saiu quase correndo do aposento, deixando Leonor sozinha com o homem que mais odiava sobre a terra.

— Eu tenho uma proposta para vosmecê.

— Nada que venha de vosmecê me interessa.

— Ah, mas vosmecê vai se interessar. Porque diz respeito ao seu inglês.

— Thomas? Onde ele está? O que vosmecê fez com ele?

— No que me diz respeito, ele está bem seguro. Mas por pouco tempo.

— O que quer dizer?

— Bem, ele cometeu um crime bastante grave. É claro que o destino dele é a forca.

— Não! – Leonor começou a chorar.

— Mas eu posso salvá-lo.

— Como?

— Com a viagem de D. Brás e seu pai estando preso, eu sou o homem mais poderoso da vila. E sendo assim com o poder de barganhar. Posso comprar a liberdade do seu inglês.

— Pode fazer isso?

— Claro. Sou um homem muito rico, Leonor, Eu compro a liberdade dele e o coloco em um navio para a Europa. Ai lá ele decide para onde ir. Mas só se vosmecê casar comigo sem hesitação.

— A liberdade de Thomas pela minha...

— E a do seu pai também. Será que a vida deles não vale a pena? Então? Temos um acordo?

— É claro que vale. Por isso você quer esse acordo?

— Eu sou um comerciante, querida. Sei quando devo abaixar o preço e quando devo aumenta-lo. O que me diz? Devo avisar ao padre... Ou ao carrasco?

Leonor olhou pela janela. Às aves voavam acima do mar livres como o vento. Ela também havia se sentindo assim. Livre. Uma pena que jamais iria sentir essa sensação novamente. Mas nenhum sacrifício seria grande demais para salvar a vida dos dois homens mais importantes de sua vida

— Bem, o senhor não me deixa outra escolha, D. Constâncio. Me casarei com o senhor está noite.

***

— E então? Já está tudo pronto?

— Sim, señor. - respondeu Francisco. - O patíbulo foi erguido. Um laço só como o senhor pediu.

— Ótimo. Vou presenciar primeiro a morte desse pirata desgraçado e depois vou me enforcar nos laços do matrimônio.

— O señor foi muito esperto em esconder as tatuagens, El cuervo.

— Sim. Valeu a pena pagar caro por aquela tinta chinesa. Meu disfarce continua intacto e eu me livro daquele inglês enxerido. E tudo sem Leonor saber. O que ela saberá é que ele tentou fugir e foi abatido pelos soldados. É ou não é o plano perfeito?

Seria o plano perfeito se D. Eugenia não estivesse ouvindo a conversa. Estarrecida com o que ouvira, foi até os fundos da casa e preparou ela mesma um cavalo. Depois voltou para a casa e subiu as escadas em direção aos quartos.

Leonor virou-se ao ouvir o barulho de alguém entrando.

— Ah, D. Eugenia. Já estou terminando. Queria ter alguns minutos de paz antes de me entregar ao demônio de seu irmão.

— Menina... Paz é algo que não teremos até esse reinado do terror acabar. Esse homem não é realmente meu irmão. Ele disfarçou as tatuagens. Vosmecê estava certa. Sabe o segredo dele. E por isso tem que ir embora daqui.

— Ir? Mas ir para onde?

— Bem longe daqui. Vosmecê não está segura. Já lhe deixei um cavalo arrumado. Vá salvar o teu amado. Ele te protegerá. A levará para longe das garras desse homem.

— Salvar meu amado? Thomas está preso, mas D. Constâncio disse que retirará a queixa dele para que ele vá embora do Brasil.

— Não! Não! Ele vai enforcá-lo. Enquanto vosmecê está aqui se arrumando, ele termina o patíbulo para enforcá-lo. E ele dirá a vosmecê que ele foi abatido por que tentou fugir.

— Não pode ser!

— Mas é. Vá! - pediu D. Eugenia. - Vá para bem longe.

— Não! - Leonor levantou-se do banco. - Eu não vou fugir! Isso tem que acabar, D. Eugenia. Eu vou salvar Thomas da morte certa e libertar todos nós desse pirata disfarçado de fidalgo.

***

Thomas sentiu o laço do carrasco em seu pescoço e suspirou. Então é assim que acabaria? Ele aceitou sua condição. Só lamentou o fato de que nunca mais veria a mulher que o encantara e lhe devolvera a luz da vida. Mas quem sabe se Deus fosse misericordioso com ele, tornariam a se ver na eternidade.

Com prazer indizível, D Constâncio aproximou se dele e falou.

— Então pirata. Tem um último pedido?

— Minhas últimas palavras não são para teus ouvidos patife.

— Pois vosmecê vai para o inferno com as minhas ecoando nos teus. - D Constâncio aproximou-se mais dele e murmurou.

— Muitas vezes nessa noite eu violarei a tua amada Leonor de todas as formas possíveis, até que ela me peça clemência.

— Maldito! - Thomas avançou para D. Constâncio, mas foi contido pelo carrasco.

Rindo, D Constâncio desceu os degraus do cadafalso. Thomas fechou os olhos quando o carrasco terminou de apertar-lhe o laço.

Embora sua amada não estivesse ali entre os presentes, e ele agradecia aos céus por isso, sabia que o vento levaria suas palavras onde ela estivesse.

— Leonor! Sou teu por toda a eternidade! - Thomas gritou ao vento que soprava.

Quando o carrasco se preparou para chutar o banquinho que o sustentava, um galope de cavalos foi ouvido e um enorme garanhão subiu no cadafalso.

— É o meu cavalo... – murmurou D. Constâncio incrédulo.

Um golpe certeiro de espada cortou a corda que prendia Thomas. E a voz da mulher amada ressoou em seus ouvidos.

— Vamos suba!

Agilmente ele pulou na garupa, e ela fez o cavalo descer.

Com um gesto de orgulho, ela tirou o chapéu exibindo a longa cabeleira escura. A saia lhe subira até acima do joelho expondo as pernas torneadas, os homens ficaram estupefatos. Muitos dos presentes olharam para D. Bernardo. O pai da moça exibia uma expressão de orgulho. Aquela era a sua Leonor. Já D. Constâncio sentiu o coração parar de bater de tanto ódio.

— Peguem os dois! – ordenou.

Leonor levou o cavalo para o lado de D. Constâncio e o atingiu com a ponta da espada. O homem empalideceu quando a manga da camisa abriu-se revelando a tatuagem.

— Aqui está o seu pirata! Eu lhes apresento El cuervo negro.

As pessoas olharam para D. Constâncio estupefatos. A imagem do pássaro negro estava bem visível na pele do português. Certo de sua vitória, D. Constâncio não pensou em se precaver, refazendo a maquiagem na pele, cometendo assim um erro fatal.

Ela e Thomas desceram do cavalo e ela soltou as amarras dele.

— Vosmecê está bem? - ela perguntou.

— Levado do inferno para o paraíso? Estou ótimo. Não sabia que você manejava tão bem uma espada.

— Meu pai me ensinou. Disse que as mulheres também têm que se defender.

— Seu pai é um homem de visão.

Thomas voltou-se para D. Bernardo

— Eu queria muito lhe contar isso, D. Bernardo. Mas nunca obtive uma prova concreta.

— E a prova está aí. - indicou Leonor. – A tatuagem. E existem alguns documentos tirados dele que, eu tenho certeza, a coroa portuguesa na colônia fará bom uso.

— Isso é mentira. - vociferou D. Constâncio. - Eu sou um súdito leal à Coroa e...

— Não é a informação que eu recebi de várias fontes, inclusive de sua irmã. - cortou D. Bernardo - Vosmecê juntou-se com o pirata Cavendish para salvaguardar os seus bens, enquanto os engenhos e outros bens de todos eram reduzidos às cinzas.

— Não, D. Bernardo. - balbuciou D. Constâncio. - Eu apenas tive mais sorte.

— Sorte?! - perguntou D. João de Góis. - Qual sorte, se vosmecê não ficou refém daquele facínora. Vosmecê encolheu-se como o verme que é, e agora vem cantar de galo. Se não fosse a interferência da filha de D. Bernardo, haveríamos de enforcar um homem que, apesar de não ser inocente de crimes, mas é mais valoroso do que vosmecê.

Os outros homens murmuravam injúrias enquanto se aproximavam ameaçadores de D. Constâncio.

Encurralado, ele sacou da espada e gritou.

— Sim, eu sou El cuervo negro e vosmecês acham que eu não estou preparado?

A um sinal dele, vários homens apareceram e uma luta encarniçada começou. Enquanto os colonos lutavam para defender suas terras de um facínora, Thomas iria lutar para defender o seu maio tesouro.

— Vá minha querida, fuja. - pediu a Leonor.

— Não. Se for para morrer, vou morrer ao teu lado. - respondeu a corajosa moça

Redobrado em suas forças e a despeito do barulho da luta mais próximo, Thomas a segurou nos braços e a beijou Leonor rapidamente.

O casal ainda estava abraçado quando D. Constâncio aproximou-se do casal. Thomas pegou a espada das mãos de Leonor e se colocou à frente dela.

— Agora irei acertar minhas contas com vosmecê, inglês desgraçado e ainda hoje irei cumprir a promessa que te fiz

— Você só há de levar Leonor por cima do meu cadáver, seu patife asqueroso. - completou Thomas brandindo a espada.

— Então que seja. Vou fazê-lo em pedaços. - D. Constâncio sacou sua espada e avançou para Thomas.


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