“Não gosto de ficar sozinho

O mundo parece vazio

É tão difícil entender

Meus olhos cegam, fico mudo

É tudo sempre um absurdo longe de você

Você rasgou o véu que encobria os segredos do meu coração

Me fez sonhar mais alto

E libertou meus sonhos da solidão”

(Zé Neto e Cristiano – Anjo Fiel)

Malia permanecia no sofá de Nana, abraçada com Stiles, que acariciava seus cabelos tranquilamente. Os dois não precisavam falar nada, a declaração de Stiles já tinha falado tudo. Mas, curiosa, Malia teve que questionar.

—Essa lenda, onde sua mãe aprendeu? Perguntou, erguendo o olhar para Stiles

—Coisa de família. Minha avó contava para ela. Respondeu, tocando o indicador na ponta do nariz da mulher

—É uma boa história. Elogiou, fazendo o homem rir

—Algumas pessoas acham besteira, mas é uma das melhores lembranças que minha mãe deixou. A hora da história era minha parte favorita do dia. Confessou, nostálgico

—Os personagens tem nomes? Perguntou, desenhando círculos com o dedo no peitoral de Stiles

—Minha mãe nunca se apegou muito a detalhes como nomes, só o nome do filho, na verdade. Respondeu, fechando os olhos

—Qual era? Perguntou, se sentando direito no sofá

—Por que a curiosidade? Perguntou, sorrindo

—Eu só gostaria de saber. Admitiu, dando de ombros

—Thomas. Contou, fazendo Malia sorrir satisfeita

—Gostei desse nome. Disse, se deitando no sofá com os pés no colo do homem

—Eu não sei nada sobre você. Comentou, após alguns minutos de silêncio

—Não há muito para saber. Disse, ficando tensa

—Sempre tem alguma coisa. Rebateu, a encarando

—O que quer saber? Perguntou, nervosa

—Qual era o nome dos seus pais? Perguntou, fazendo Malia enrijecer

—Cora e Derek. Respondeu, usando o nome dos primos

—Nomes legais. Como foi sua infância? Indagou, acariciando a canela da mulher

—Pura e feliz. Meus pais sempre me amaram muito. Lembrou, olhando para o teto

—Alguma lembrança? Perguntou, fazendo a mulher voltar a encará-lo

—Todos os dias no meu aniversário, eles declaravam que era o dia de Helena. Eu fazia a programação do dia e eles seguiam religiosamente. Eles me levavam em uma sorveteria próxima a nossa casa, vestida de princesa e nós tomávamos sorvete de morango com pedaços de chocolate. Depois íamos para a casa e assistíamos uma sessão imensa de filmes das princesas da Disney e da Barbie. Lembrou, apenas trocando seu nome na lembrança

—Você era a princesa deles. Constatou Stiles, deliciado com a sinceridade da mulher

—Eu era a bailarina deles. Amava dançar pela casa, assim como minha mãe. Ela era a mais bela e a amável que eu conheci. Ela me pegava no colo e dançava ao som de Danúbio azul. Dizia que éramos o par perfeito. Sussurrou, com um nó se formando na garganta

—Como eles morreram? Perguntou, fazendo Malia despertar das lembranças

—Foram assassinados em um assalto. Mentiu, se levantando do sofá

—Por isso entrou para o FBI? Perguntou, interessado

—Pode ser dizer que sim. Respondeu, evitando olhar nos olhos do homem

—Desculpe se minhas perguntas te deixam inquieta. Pediu, pegando as mãos da mulher

—Tudo bem. Apenas as lembranças que machucam. Admitiu, com os olhos ardendo com as lágrimas

—Então, por essa noite vamos esquecê-las. Declarou, erguendo o queixo da mulher com o dedo

—Normalmente eu estaria comemorando sozinha em meu apartamento com uma garrafa de Whisky. Admitiu, ganhando uma risada fraca de Stiles

—Nunca mais sozinha. Esqueceu? Perguntou, segurando o rosto da mulher entre as mãos, fazendo o olhar dela se iluminar

—Quer ir para outro lugar? Perguntou Malia, parecendo hipnotizada, encarando Stiles nos olhos

—Vai fugir da própria festa? Questionou, divertido

—Depois a gente volta. Sussurrou, dando um rápido selinho no homem, antes de pegar sua bolsa e correr para a porta

—Espero que a Nana não nos mate. Disse, baixo, entrelaçando os dedos nos de Malia para ajuda-la correr

—Não acha que esses dois estão demorando demais? Perguntou Theo, encarando a porta do jardim

—Deixa a Malia. Ela sabe o que faz. Mandou Alisson, virando seu copo com ponche

—Ela sabe o que faz? Ela trouxe quatro agentes do FBI para uma festa com os ladrões mais procurados de Nova Yorque. Lembrou Theo, amargo, bebendo sua cerveja

—Não somos criminosos de verdade, Theo. Defendeu, o repreendendo com o olhar

—Fala isso para os agentes. Eles acham que nós somos os vilões. Resmungou, bebendo toda a cerveja da garrafa de uma vez

—Esqueça isso por hoje, ok? Hoje é o dia dela. Pediu Alisson, observando as crianças correndo pelo jardim

—O dia dela, mas ela não está aqui. Comentou, cruzando os braços

—Ai eu desisto. Eu vou fazer como a Kira e vou aproveitar. Avisou Alisson, antes de correr atrás de uma criança, que gargalhava com gosto

—Maldito Stilinski. Sussurrou Theo, entre dentes, esfregando o rosto com violência

Agora longe dali, Stiles dirigia em alta velocidade, enquanto Malia sentia seus cabelos esvoaçarem com a janela escancarada. Com os olhos fechados, viajou no tempo para muitos anos atrás. Era como no dia de Malia, mais uma vez, janela aberta, uma música clássica no rádio, seu pai dirigindo enquanto assobiava a música e sua mãe cantarolando para acompanhar a criança, que tinha um sorriso encantador nos lábios.

Malia abriu os olhos quando sentiu o carro parar e percebeu Stiles sair rapidamente, entrando em um mercado. Apenas se recostou no banco e ligou o rádio, enquanto o esperava. Logo, ela viu ele voltar para o carro com uma garrafa de vinho na mão.

—Ocasião especial? Perguntou, aumentando o volume

—Talvez. Respondeu, sorrindo, enquanto ligava o carro

—Onde está me levando, senhor Stillinski? Perguntou, observando a estrada de terra

—Em um lugar especial. Respondeu, concentrado na estrada

—Se está planejando me matar, acho bom que saiba que sei me defender. Alertou Malia, sorrindo

—Se eu matasse você, acabaria a diversão. Rebateu, parando o carro próximo a um penhasco

—Nossa! Foi a única coisa que Malia conseguiu dizer ao encarar toda a cidade lá de cima

—Lindo, não é? Perguntou Stiles, sorridente, a acompanhando para fora do carro

—Maravilhoso. Como eu nunca tinha ouvido falar daqui? Perguntou, caminhando para beirada

—Pouca gente sabe desse lugar. Meus pais me traziam para acampar aqui. Respondeu Stiles, admirando o rosto da mulher, que permanecia entretida olhando a paisagem

—Você teve uma infância bem legal. Comentou, com os olhos brilhando de animação

—Foi uma boa infância. Comentou, sorrindo, forrando uma manta no capô do Jeep e sentando em seguida

—Esse lugar traz uma paz. Comentou Malia, após se deitar em cima da manta

—Sempre que eu preciso pensar, venho parar aqui. Disse, abrindo o vinho e bebendo direto do gargalo

—Eu entendo o porque. Afirmou Malia, sorrindo, pegando a garrafa da mão de Stiles para beber também

—Há algum tempo atrás, eu nunca me imaginaria aqui, com alguém. Confessou Stiles, observando a mulher deitada

—Há algum tempo atrás eu não imaginava nem que estaria no FBI. Afirmou Malia, rindo

—Você imagina onde vai estar daqui há cinco anos? Perguntou Stiles, se deitando ao lado de Malia

—Em alguma casa de campo, de férias, longe de todos. E você? Perguntou, pensativa

—Ocupando o lugar do meu pai. Respondeu, puxando Malia para deitar em seu peito

—É o que você quer? Indagou Malia, um pouco triste

—Quero poder fazer coisas boas e no FBI eu posso fazer. Afirmou, dando de ombros, fazendo Malia fechar os olhos, com medo do que ele faria ao descobrir quem de fato ela é

—Obrigada pela noite, Stiles. Agradeceu, sincera, o apertando contra sí

—Não precisa agradecer, senhorita Tate. Foi um prazer. Afirmou, encarando os olhos da mulher com intensidade, antes de iniciar um beijo apaixonado

—Acho melhor voltarmos, antes que Nana se magoe pela minha fuga. Sussurrou Malia, quebrando o beijo, ofegante

—Claro. Cedeu Stiles, segurando a garrafa para Malia descer do capô

—Vamos logo. Chamou, ajeitando os cabelos bagunçados, enquanto Stiles descia

—Vamos. Disse, entrelaçando suas mãos, enquanto terminavam de esvaziar a garrafa

—Ora, ora, ora se a aniversariante não resolveu aparecer! Exclamou Theo, com a voz carregada de ironia, ao ver Malia entrar no jardim com Stiles

—Você não acha que está reparando demais não? Perguntou Stiles, se aproximando, lentamente

—Stiles, não liga para ele. Deve ter bebido demais. Pediu Malia, abraçando o braço do homem

—Olha só para vocês. Parece o casal perfeito, quem vê até pensa que é tudo real. Comentou, amargurado

—Theo, cala a boca. Mandou Kira, o puxando

—Por que eu deveria me calar? Vamos comentar sobre essa maravilhosa cena romântica. Onde o trouxa do agente acha que ela realmente está apaixonada. Pediu, dando uma gargalhada irônica

—Se você não calar a droga da boca, eu mesma vou atirar em você. Ameaçou Malia, bem próxima

—Faça isso, Hale. Mostra para eles quem você realmente é. Sussurrou Theo, com o olhar desafiador

—Parem, por favor. Pediu Alisson, tentando puxar Theo pelos ombros

—Se você revelar algo para qualquer um deles, eu mato você. Avisou, o encarando cheia de ódio

—Faça isso, Malia. Será um prazer ver a verdade tomando o olhar de seu querido antes de morrer. Pediu Theo, de forma que apenas ela e Alisson escutassem

—Se afasta dela, agora. Ordenou Stiles, elevando a voz

—Calma pessoal, não vamos perder o controle. Pediu Lydia, se aproximando

—Vocês vão acordar as crianças. Parem já com isso. Ordenou Nana, saindo da casa, enrolada em um robe comprido

—Eu não deveria ter voltado aqui. Comentou Malia, se afastando do homem

—Verdade. Deveria ficar com seus novos amigos. Cuspiu Theo, com ódio, fazendo Malia fechar as mãos em punho

—Quando foi que você ficou tão imbecil? Perguntou Malia, o olhando com rancor

—Se você estivesse aqui, talvez saberia. Rebateu , com um sorriso sarcástico

—Eu não preciso escutar isso. Afirmou, saindo do lugar, balançando a cabeça em negativo

—Helena, por favor, não vai. A festa ainda não acabou, fica mais um pouco. Pediu Alisson, a alcançando

—Não sei se é uma boa ideia. Se eu ouvir mais algum desaforo dele, devo lhe dar um tiro. Alertou, olhando para Theo, que virava um shot de vodka

—Fique por nós. Pediu Kira, pegando a mão da mulher

—É Hel, agora que eu queria dançar. Disse Lydia, fazendo beicinho

—Fica mais, Helena. Pediu Scott, parando ao lado de Kira

—Vou ficar por vocês. Afirmou, sorrindo ainda tensa, voltando para a área das mesas, acompanhada de Stiles e os amigos

—Querem comer alguma coisa? Perguntou Alisson, após guiar o casal para uma mesa

—Pode trazer alguns doces? Perguntou Lydia, animada, fazendo a maioria rir

—Eu te ajudo. Ofereceu Malia, seguindo Alisson para a cozinha

—Não escute o Theo, sabe como ele age em relação a você. Pediu Alisson, pegando um prato no armário

—Ele não tem o direito de fazer o que fez. É a minha vida, Alisson. Exclamou Malia, indignada, se encostando na bancada

—Eu sei, só tenta dar um desconto, ok? Pediu, arrumando alguns doces no prato

—Vou tentar. Prometeu, esfregando os olhos, cansada

—Temos um problema. Anunciou Kira, entrando na cozinha, apressada

—Outro? Perguntou Malia, suspirando

—O colar vai ser transferido amanhã para o cofre do banco central. Contou Kira, virando o notebook para as garotas

—Como sabe? Perguntou Malia, assumindo sua postura de líder

—Eu deixei o GPS do carro forte, usado para o transporte do colar, hackeado, para caso houvesse mudança de planos e parece que teve. Mudaram o endereço para o banco central. Explicou, digitando, rapidamente

—Conseguiu descobrir quando ele será transferido? Perguntou Alisson, apoiando as mãos na bancada

—Eu invadi o sistema do banco, eles estão se preparando para uma grande entrega amanhã a noite. Contou Kira, as encarando preocupada

—Só pode ser o colar. Afirmou Alisson, suspirando

—Precisamos interceptar o carro forte antes que ele chegue ao banco. Não podemos arriscar ter que invadi-lo para pegar o colar. Afirmou Malia, começando a andar de um lado para o outro na cozinha

—Tem certeza que não quer deixar isso pra lá? Pode ser bem perigoso. Perguntou Alisson, preocupada

—De jeito nenhum. Amanhã daremos um fim nisso. Prometeu, seria