Emília

Já faz duas semanas  desde a morte do pai, ela nem sabe como sobreviveu ao velório e ao enterro dele, parecia nem ser ela ali naquelas cenas, ela relembra mais uma vez como foi aqueles momentos,  sendo consolada, abraçada e beijada por pessoas que em sua maioria nem reconhecia, lembra de tudo com um borrão,  mas lembra nitidamente de ter gritado ao extremo quando o caixão foi sendo abaixado lentamente sobre a cova, gritou tanto que ainda sente dor na garganta, sua dor naquele momento foi tamanha a levando ao desmaio, acordou tarde da noite já em seu quarto, tendo Bernardo sentado ao seu lado da cama segurando em sua mão,  ela lembra que de novo ele não acreditou nela, em suas palavras quando disse que Lia tinha voltado e matado seu pai, novamente ele não acreditou nela,  e ainda a dopou na clínica,  ela solta a mão dele com tudo,  fazendo ele dar um pulo da cama.

– Emília. .. - ele ainda esta meio dormindo - O que foi?

– Ela esteve aqui Bernardo. - ela fala como uma súplica,  ele passa a mão sobre os cabelos negros,  um gesto de uma leve impaciência.

– Emília,  seu pai ele faleceu..-

– Deixa você não acredita em mim- ela levanta vai ao banheiro toma um banho e ao sair lança um olhar de mágoa sobre ele e sai do quarto, agora ali estava ela duas semanas depois sentada na janela da sala, ela e Bernardo mal se falavam, ela nem mais acompanhava Miguel na escola, mal ficava com Lívia,  só tinha vontade de dormir, era Beth que cuidava das crianças e da casa, tinha abandonada a tempos a livraria, foi na época que soube do estado do pai, a semanas que não aparecia lá, mal saia do quarto,  andava se alimentando pouco, a noite ficava mais acordada do que dormindo indo ao quarto da filha e de Miguel o tempo todo, já não dormia mais com Bernardo, o tempo todo ela segurava aquela pulseira como um lembrete de que Lia estava por perto.

Bernardo no começo até tentava falar com ela , mas ela sabe que tem sido intragável, insuportável e chata nesses últimos tempos que ele acabou por desistir, ela tinha certeza que ele chegava cada vez mais tarde para evitá-la, ela não tocou mais no assunto de Lia, não valia a pena, ela passava horas a fio pensado em como poderia tentar desmascará-la,  ela ainda tem os diários , guardado na casa do pai, mas eles trazem informações do passado, nada do agora,  talvez se voltasse a reler eles poderia ter alguma pista de onde ela possa estar, quem sabe, iria no dia seguinte a casa do pai pegar esses diários,  nunca mais voltou lá, sabia por Bernardo que a casa estava fechada, desde quando seu pai foi internado, mantinha um pessoal para cuidados básicos, no dia seguinte ela iria lá.

Ela ouve a porta se mexer, é Bernardo quem entra, ela olha para percebe nele um ar cansado, será se era o mesmo cansaço que ela carrega.

– Boa noite Emília.- ele lhe diz de longe sem se aproximar dela.

– Boa noite, anda trabalhando cada vez até mais tarde.- ela um tanto quanto irônica, ele que estava andando para por um segundos, parece quer dizer algo mas desiste e sobe as escadas. Ela ainda fica um tempo sem acreditar, começa a ver que esta situação não só esta acabando com ela, mas está começando a ruir seu casamento, precisava resolver isso logo.

No outro dia Bernardo, sai logo cedo, ela leva  Miguel ao colégio, e sai com Lívia, para ir na casa do pai os diários,  a casa parece tão abandonada, apesar de limpa, lhe dá uma tristeza de entrar ali, ela primeira vez sem  seu pai. Ela entra e fica parada na porta, são tantas as lembranças.

–  Mamãe. -  Lívia segura em sua mão - Você morava aqui com o vovô?

– Sim minha filha - Emília diz com os olhos cheio d'água,  Lívia se solta e sai a andar pela casa, ela pensa o que vai fazer com essa casa, não queria se desfazer dela, antes de se casar com Bernardo, tinha vivido sempre ali, mas por hora  não queria ter que pensar nisso,  ela sobe as escadas e vai ate seu antigo quarto, e lá onde deixou a cinco anos atrás esta os diários, ela da um breve olhada , mas sabia que onde deixou ninguém iria mexer, desce as escadas e pega a filha para voltar para a casa, queria logo ler eles.

– Mamãe vamos ao parque?- ela pergunta toda ansiosa, ao olhar a carinha dela Emília não resiste, afinal faz tempo que ela não saia com a filha.

– Sim vamos minha filha.- ela avisa ao seguranças.

Ela fica atenta, um pouco depois de Lívia correr e brincar um pouco elas decidem passar em um restaurante ali perto para tomarem algo, ao entrarem Lívia sai correndo e Emília a chama, mas a menina não atende, então ela grita:

– Papai, papai- e em uma mesa distante esta Bernardo e Malu, sozinhos.