Beside You »lrh escrita por kidinthedark
Don't [4]
Entro em casa em bicos dos pés para que a minha mãe não me ouça.
Quando chego ao meu quarto fecho a porta e encosto-me a esta soltando um suspiro.
Ela não me apanhou.
"Então a fugir de mim?" a voz da minha mãe soa debaixo da cama o que me faz gritar e dar um salto e depois disso tropeço num sapato meu enquanto caio ao chão. A sério? Quando é que eu pus isto aqui?
A minha mãe sai de debaixo da cama a rir-se imenso.
"Eu disse-te para não deixares as coisas espalhadas no chão." ela avisa ainda a rir.
Às vezes agradeço ao Alzheimer e à sua bipolaridade. Já se esqueceu do Luke disso tenho a certeza.
Sim, vocês podem pensar que eu tenho uma mãe perfeita e divertida mas na maior parte das vezes ela não é assim, infelizmente.
"Obrigadinha mãe. E eu a pensar que já tinha batido o recorde da quantidade de tempo que ficava sem cair." digo levantando-me do chão. Sim, eu sou muito desastrada.
"De nada," ela encolhe os ombros a sorrir "Agora anda almoçar."
Assinto e vou ter com ela que já se dirigia para a cozinha.
Assim que a minha mãe me põe um prato cheio de comida, literalmente, eu devoro-o. Sim, eu estou sempre com fome. E por acaso não sou gorda, supostamente. Até sou, pode-se dizer, no mínimo elegante. De certeza que vocês conhecem alguém que está sempre a comer e não engorda, eu sou assim. Mas digamos que a minha auto confianca não está sempre no auge.
"Emma, estavas assim com tanta fome?" a minha mãe olha para o meu prato e eu sorrio-lhe.
"Sim, sabes que sim." levanto-me da mesa e dirijo-me para o meu quarto.
Não me apetece fazer nada. Por isso limito-me a pôr os fones no telemóvel e e atiro-me para a cama a ouvir música.
(...)
Hum, que horas são?
Viro-me na cama enquanto tento descobrir o telemóvel.
19:45
O quê? Eu adormeci? E dormi durante tanto tempo?
Ok vocês também deviam saber que eu sou daquelas pessoas que amam dormir também conhecidas como dorminhocas e preguiçosas.
"Emma! Anda jantar!" ouço a minha mãe gritar da cozinha.
Isto é que é. Almoçar, dormir, Jantar, dormir. Ok, eu não costumo ser assim tão molenga só para vossa informação.
Chego à cozinha e estranho ainda não haver nada na mesa. Olho para a minha mãe que me encara com uma cara séria.
"Passa-se alguma coisa? " digo com receio do que possa vir aí. Às vezes a minha mãe consegue pôr-me a chorar mesmo sem ela querer. Não me perguntem porquê.
"O Dylan ligou-me." ela diz em seco.
Não. Outra. Vez. Não.
"Não tens vergonha filha?" ela diz e eu respiro fundo contendo as lágrimas. Ela está a ter dos seus ataques outra vez. E já sei como vai acabar.
Dirijo-me à porta em passo rápido sem conseguir conter mais as lágrimas.
"Emma para!" ela grita quando eu saio a porta e eu paro para a olhar.
Por favor não.
—-Luke--
Atiro-me para o sofá ligando a televisão. Que seca. Nao dá nada de jeito.
Começo a ouvir gritos no corredor lá fora. Mas o que se passa?
Dirijo-me à porta e antes de a abrir consigo ouvir algumas partes da conversa.
"TU NÃO TINHAS O DIREITO DE O FAZER EMMA TENS NOÇÃO QUE TIVE QUE MUDAR A MINHA VIDA POR TUA CAUSA?" uma voz que eu de momento não reconheço grita.
Abro a porta e vejo a Emma encostada à parede do corredor, sentada no chão a esvair-se em lágrimas e a sua mae à frente.
"Porra tu não sabes o que aconteceu." a Emma diz baixo, mas alto o suficiente para toda a gente ouvir.
Olho para as pessoas que se encontram no corredor a ouvir a conversa e mando-lhes um olhar ameaçador por não fazerem nada.
Quando a mãe dela vai para falar outra vez eu mando-lhe um olhar que se pudesse matava.
"Não." digo entre dentes.
Ela apenas encolhe os ombros e entra dentro de casa fechando a porta com força.
A mulher não é boa da cabeça.
Vou até à Emma e reparo que com o choro os seus olhos castanhos ficaram quase verdes.
"Ei o que se passa? " digo mas ela apenas vira a cara.
"Vai-te embora!" ela diz rudemente.
"Não." digo baixando-me para ficar ao nível dela.
Com a minha resposta ela olha para mim.
"Custa-te muito deixares-me sozinha?"
Então eu apenas a abraço.
Não sei porque o fiz. Aliás nunca fui bom a consolar raparigas. Ou quem quer que seja. Não sei mesmo porque o fiz. Só sei que ela me abraçou de volta.
Ela levanta-se e fica a olhar-me nos olhos.
"Desculpa." ela murmura e encara os chão.
"Pelo quê?"
"Por ter entrado na tua vida." ela diz o que me deixa super confuso.
No entanto não faço perguntas. Eu sei que ela é do tipo de raparigas que não iria responder. Por isso deixo-me convencer que o que ela acabou de dizer foi dito da boca para fora e devido ao choro.
"Anda comigo." digo levando-a pela mão para minha casa.
"O quê?"
"Vais ficar no corredor até a tua mãe sair de casa?" digo com humor o que a faz rir por entre os soluços.
Então levo-a para minha casa que deve ser idêntica à dela e sento-a no sofá.
Eu podia ir buscar-lhe um copo de água como as pessoas costumam fazer mas em vez disso dou-lhe um dos meus kit kat e levo um para mim.
"Chocolate?" ela diz com um sorriso fungando pelo meio.
"Sim." passo-lhe o dela e sento-me a comer o meu. "Queres-me contar porque estás a chorar?"
Ela olha para mim e volta a olhar para as mãos dela "A minha mãe continua a achar que o que aconteceu em Nova York foi culpa minha."
Ela suspira e eu resolvo deixar a pergunta do 'o que aconteceu em Nova York?' para depois. Nem somos nada de qualquer maneira.
"Vai buscar as tuas coisas para amanhã!"
"O quê? " ela olha confusa para mim.
"Podes dormir cá hoje. A menos que queiras ir para casa." aviso.
"Obrigada" ela diz com um sorriso e tira uma chave do bolso das calças.
"Não te tinhas esquecido da chave de casa?" pergunto.
"Eu resolvi guardar logo as chaves caso quisesse sair outra vez durante a tarde, o que não aconteceu porque tive a dormir, mas pelos vistos agora deu jeito." ela encolhe os ombros o que me faz rir.
"Obrigada, tu sabes, quer dizer se tu não aparecesses o mais certo era ela contar ao prédio todo o que eu supostamente tinha feito e eu ia ficar a chorar na minha cama a lembrar-me de tudo e pronto acho que já percebeste." ela sorri para mim e eu assinto.
"Ela é bipolar e sofre de alzheimer. Às vezes ela tem assim ataques. Mas ela foi a única que não se teve a foder para mim depois do que aconteceu por isso não a posso culpar estás a perceber?" ela diz com a voz mais baixa e brincando com os dedos.
"Sim. Eu acho que sim." E é verdade. Eu percebo-a.
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