Gerações - Interativa escrita por Litsemeriye, Haria Ana


Capítulo 2
I




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Thea havia acabado de chegar de sua caminhada matinal, correndo contra o tempo para preparar o café e se vestir a tempo de chegar na aula – seu campus era quase do outro lado da cidade, e nessas horas agradecia o transporte público de Londres ser tão eficiente. Enquanto pulava pela sala tentando vestir as calças e comer uma torrada com geleia ao mesmo tempo, a cabeleira bagunçada de Hazel, a garota com quem dividia o apartamento, surgiu do corredor.

“Você já tá indo?” Ela meio falou meio bocejou, vendo Thea apenas acenar antes de cair de bunda no sofá. “Traz alguma mais tarde. Não temos o que jantar.”

“Hazel, eu tenho que trabalhar hoje.” Falou, amarrando os sapatos. “Minha correspondência tá aonde?”

“Já coloquei na sua pasta. Tenha um bom dia, Thea.”

“Obrigado, Hazel. Até mais!”

Ela pegou a pasta, correndo para fora do apartamento. Estava atrasada, a não ser que seu ônibus também tivesse atrasado. Por algum milagre, a condução estava saindo da parada, e forçando um pouco o ritmo conseguiu bater na lataria, fazendo o motorista parar e deixa-la subir.

O caminho até a última fileira de assentos foi penoso. Haviam muitos homens sentados ao lado do corredor, que lhe miravam sem tentar disfarçar. Não que Thea não soubesse que era bonita, era linda, muito obrigado. Tinha seus cabelos castanhos bem cuidados, olhos verdes e sua estatura baixa, somada ao corpo esguio pelas corridas matinais, lhe dava um ar de fragilidade. Mesmo assim, ela não era nenhuma peça de museu para aquelas pessoas se acharem no direito de encararem ela em todo lugar que ia. Por Deus, era 2034 e os homens continuavam agindo como um bando de cachorros no cio.

Finalmente, sentou-se, ao lado da janela. Teria que ficar um tempo na condução ainda, já que era uma das poucas linhas que margeava a cidade e, por isso, não encontrava o trânsito caótico do centro. Aproveitou o tempo para ver as correspondências.

Havia um cartão-postal de seus pais, uma fotografia da praia de sua cidade natal, com as escrituras gregas ocupando a parte de trás. Deixou para ler depois, quando tivesse tempo de responder, e fez a nota mental de comprar um cartão postal mais tarde, a caminho do trabalho. Os outros envelopes eram majoritariamente de propagandas e algumas contas, porém, um deles se destacou – com um reflexo dourado e fechado com vela derretida, um brasão que ela já vira algumas vezes marcado na cera.

“Vongola...?”

Abriu a carta, passando os olhos pelo texto, o conteúdo lhe dando certeza de que não tiraria aquelas palavras da cabeça.

Quando o ônibus parou em seu ponto, ela passou algum tempo olhando para o prédio da faculdade antes de descer. O envelope em sua bolsa parecia pesar uma tonelada quando finalmente alcançou a sala, se perguntando se estava pronta para desistir de tudo aquilo.

X

Dario não tinha celular, não usava a internet ou quaisquer meios de comunicação que não fossem envelopes pardos com dinheiro que apareciam nas mãos de Afonso, seu parceiro comercial.

Era um esquema relativamente simples. Ele não se importava com quem o estava empregando, ou quem era o alvo – quanto menos soubesse, melhor para os dois lados. Apenas sabia que, algumas vezes por semana era abordado pelo mais velho quando caminhava pelos becos de Lisboa, recebia um envelope com dinheiro e uma folha com a descrição do que deveria ser feito. No dia seguinte ao que concluía o serviço, algum dinheiro extra e pronto, era bola para frente, próximo trabalho.

Por não ter as típicas regalias de um rapaz de dezenove anos, a maior parte do dinheiro ficava consigo. E essa vida de pequenos crimes estava muito mais do que suficiente, embora ele soubesse que logo perderia o interesse em seus trabalhos. Era só outra coisa para se distrair do inferno que era morar com o pai.

Por essas e outras, foi uma surpresa quando seu pai abriu a porta de seu quarto. O lusitano havia acabado de sair do banho e estava apenas com uma toalha enrolada na cintura quando o homem simplesmente abriu a porta e jogou um envelope no tapete, saindo sem sequer dirigir-lhe um olhar.

O envelope era diferente das propagandas de banco que estava acostumado a receber. Era de um papel firme, com as extremidades delineadas por duas finas linhas prateadas e lacrado com cera vermelha. Não havia remetente, mas seu nome estava escrito numa bela caligrafia pouco tombada para a direita, muito parecido com um dos convites que seu pai frequentemente recebia para aquelas festas chiques.

A questão era: quem o convidaria para uma festa?

O relógio da parede marcava sete horas quando ele deixou a residência pela janela do quarto, usando as videiras para chegar até o chão. Chiado era um bairro bonito, com seus prédios históricos misturados com a arquitetura moderna, porém não era seu destino aquela noite. Ele teve que tomar um táxi até Olaias, na parte portuária da cidade.

Afonso o esperava no mesmo bar copo sujo de sempre, fumando um cigarro barato e bebendo cerveja ruim. Ele estendeu um cigarro assim que o amigo se aproximou, sorrindo de lado e oferecendo a visão de seu pescoço coberto de marcas coloridas.

Dario sorriu, acendendo o cigarro e tragando enquanto sinalizava ao garçom que lhe trouxesse uma garrafa da mesma cerveja do amigo.

“Grande Dario!” Afonso cumprimentou, animado como sempre. Ao lado da sua mão havia um envelope pardo, com algo que deveriam ser letras, mas a caligrafia do amigo não era muito diferente de um garrancho qualquer. “Como foi essa semana de folga?”

“Um inferno, como sempre.”

“Então está a fim de um trabalho?”

O mais novo olhou seu amigo. Claramente, o envelope não podia ter sido enviado por ele, pois Afonso, além de ter a caligrafia horrível, sabia que era estritamente proibido aparecer em sua casa.

“Tem uma coisa que eu quero te mostrar...”

Ele colocou o envelope na mesa, e Afonso se inclinou, tomando o envelope em mãos. Ele o pôs na altura dos olhos, examinando-o por algum tempo. Por fim, devolveu-o para Dario. Desta vez, seus olhos estavam sérios, como o mais novo raramente vira.

“O que houve, Afonso?”

“Faz tempo que não vejo um envelope desses... Me parece uma convocação. Você só vai descobrir de quem quando abrir.”

“Bom, então aí vamos nós.” Dario puxou a cera, que saiu num puxão. Pegou o papel cartão dentro e passou os olhos pelo texto, uma, duas, três vezes. Em algum momento ele simplesmente deixou a boca meio aberta em surpresa. As palavras estavam ali, claras numa fonte Cambria número doze, mas seu cérebro se recusava a processar a informação, de que ele havia sido visto, estudado, vigiado, durante todos os assassinatos. A lista de todos os alvos estava ali, junto com uma resenha de uma ou duas linhas. Então quem me contratava eram esses caras... Mas porque a Varia precisaria terceirizar o serviço?

“E aí? O que é?”

“A Varia... Eles quem me contratavam. Você sabia?”

“Não cara, eu juro!” O mais velho se defendeu, as mãos em frente ao corpo em sinal de defesa. “Sou um simples traficante. Eram pessoas diferentes que me encontravam, eu não fazia ideia.”

Um momento de silêncio se seguiu. Afonso se ocupou em terminar a cerveja em seu copo, enquanto Dario brincava com a cruz que sempre vinha pendurada em seu pescoço. Finalmente, quando não havia mais cerveja para ser bebida nem no copo nem nas garrafas, eles voltaram a se olhar, e não foi preciso que o mais novo dissesse uma palavra para que Afonso soubesse sua decisão.

Seu melhor amigo iria aceitar a proposta.


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Notas finais do capítulo

Personagens apresentados são de autoria de Sugar e Akira H
Então galera, vai ser assim que os personagens serão apresentado: dois por capítulo, não necessariamente de Famílias diferentes
Espero que tenham gostado :)
Inclusive, para quem acompanha, seria legal comentários :p
Os próximos cinco capítulos serão também de apresentação, para vocês conhecerem e se familiarizarem com os personagens, depois, bom... que comecem os jogos!