Zumbiwitch escrita por Paul


Capítulo 3
Capitulo 3


Notas iniciais do capítulo

A crueldade não esta na faca, mas sim em quem a segura.


Soundtrack - Cena dos videos - Lana Del Rey - God knows I tried



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O dormitório era um lugar que fedia a meias sujas, ou era só o chulé de Brandon. Brincadeirinha, nem era tão forte assim. As paredes eram cinza, havia alguns armários encostados nelas. Do lado esquerdo, perto da janela, sim, havia uma janela ali, que maravilha. Bem, perto da janela, estava um beliche. Engraçado, Brandon e eu não brigamos pela beliche de cima, até porque somos muito maduros, então, fizemos joquempô, infelizmente eu acabei perdendo, então fiquei com a cama de baixo.

As horas haviam passado tão lentamente, que parecia que os minutos estavam carregando um elefante nas costas.

Eu estava deitado na minha cama, as mãos cruzadas na altura do peito, encarando as tabuas da cama de cima, ta, isso não é bem verdade, já que o quarto esta completamente às escuras.

Um ponto de luz surgiu, iluminando um rosto. Senti meu coração dando uma batida a menos, dentro do peito. Quase saltei da cama.

— Você ta acordado? A voz de Brandon ecoou pelo quarto, enquanto ele dava um sorriso macabro.

— Droga cara! Não precisa me matar de susto. – me sentei na cama, tentando olhar em meio a escuridão e o ponto de luz, iluminando a cara de pateta de Brandon. – Pensei que você tava dormindo.

— Brandon Jones nunca dorme meu amigo. – Brandon saltou da cama, caindo em pé. – Tipo, as vezes eu tenho paralisia do sono, o que é uma situação horrível, então muitas vezes eu evito dormir. – seus passos ecoaram pelo quarto, enquanto ele caminhava em direção à porta.   

As luzes se acenderam com um “Click”. Meus olhos arderam, quando a explosão de luz os atingiu. Fechei os olhos com força.

— Merda.

— Desculpa, eu não queria queimar sua córnea nem sua retina. O que provavelmente, poderia te fazer perder completamente a visão.

— Só dizer que eu podia ficar cego, já facilitava. – abri os olhos lentamente, até eles se acostumarem com a claridade.

— Por que você ta acordado? Brandon puxou uma cadeira e sentou de frente para mim.

— Sei lá. Eu fiquei tentando dormir, mas o sono não veio. – dei de ombro, esfregando os olhos. – E você? Medo ou me aprontando alguma coisa?

— Na verdade, eu já ia te acordar pra gente aprontar algo. – Brandon deu um sorriso travesso, seus olhos brilharam.

— Cara, vamos acabar nos metendo em encrenca. E eu não to afim de ver a cara do diretor desse lugar, de novo.

— Vamos não. – Brando já estava caminhando em direção à porta. – Vamos lá. Isso aqui é chato, não temos nem TV. Ta, eu pelo menos tenho meu PSP, mas ele fica chato as vezes. – ele enfiou a mão no bolso e puxou o PSP. Ele mexeu em alguns botões e a porta se abriu.

— Vão acabar nos pegando, e vamos ser jogados pros zumbis.

Brandon revirou os olhos e saiu porta a fora.

Esperei alguns segundos, para ver se ele voltava. Nada, nenhum movimento. Senti o peso da solidão começar a me esmagar. Contei  até três e me levantei. Caminhei lentamente, até sair do quarto. Respirei aliviado ao ver que Brandon ainda esta ali, ele estava parado no fim do corredor, mexendo em um pequeno painel, ao lado a porta.

— O que você ta fazendo? Perguntei me aproximando.

— Shii, eu preciso me concentrar. – Ele clicava loucamente na tela. Aquilo parecia um tablet, do tamanho da minha mão. Brandon puxou uns fios embaixo da tela, e depois os colou com um chiclete. – Pronto. – disse ele, enquanto as portas do corredor deslizavam pro lado, sem emitir barulho algum.

— O que você fez? Perguntei espantado.

— Bem, eu mexi no sistema operacional, dei um pequeno curto, troquei os códigos de segurança, pra um código temporário e pronto. Agora temos acesso a boa parte da Arcade. 

Encarei Brandon, sem saber o que falar.

— Que foi? Perguntou ele me encarando. – Você pode aprender muita coisa jogando ta. E eu te falei que era nerd. – ele tirou a touca do bolso da calça, e a colocou na cabeça. – Vamos lá.

Se a Arcade já parecia assustadora com pessoas caminhando pra lá e pra cá, ela era muito pior quando todos os corredores estavam completamente vazios, e boa parte deles com uma má iluminação. A cada corredor, eu me sentia sendo observado, como se centenas de olhos estivessem nos encarando, em meio às sombras.

— Isso aqui é sinistro. – sussurrei. Na verdade, foi como ter falado em voz alta, já que minha voz ecoou pelo corredor.

— É incrível cara. – Brandon  olhou para mim e abriu um largo sorriso. – Me sinto dentro de um dos meus jogos. Apesar que se a gente morrer aqui, não vamos poder reiniciar o jogo e começar tudo de novo.

— Eu não to afim de morrer. – encarei o corredor atrás de nós. – Pelo menos, não aqui.

— Entendo. Eu também to louco pra sair daqui. Mas sabe né, a segurança é rigorosa demais.

— Não é o que ta parecendo. Isso aqui ta muito parado, não acha? Tipo, não devia ter um guarda, andando pelos corredores?

— Devia. Parando pra pensar, isso aqui ta quieto demais. Sempre que eu saia, tinha que tomar cuidado com os guardas, e agora não tem nenhum? – Brando parou e olhou pro corredor a nossa esquerda. – É por aqui. – disse ele voltando a caminhar.

— O que é por aqui? Perguntei o seguindo.

— Sabe Marck. – Ele virou a cabeça e me olhou, e foi ai que eu vi algo passar em seu olhar, algo parecido com medo e desesperança. – Eu acho que a Arcade não é isso que eles nos dizem. Tipo, você mesmo viu, eles nos fazem passar naquele corredor, e cara, tem zumbis de verdade lá. Eu fico me perguntando se eles estão realmente querendo nos proteger do que esta lá fora. Isso aqui não me parece nenhum refugio seguro.

— Eu sei. Isso aqui, sei lá, isso parece uma prisão.

— Isso! Eu acho que eles tão pegando pessoas, fazendo testes com elas, com direito a sala de tortura e tudo mais.

— Por que você acha isso?

— Algumas pessoas aqui, bem, elas desaparecem, e tipo, ninguém mais ouve falar delas. – Brandon levantou as sobrancelhas e sorriu, voltando a ser o cara animado de antes. – Eu to com fome.

— Cara, não faz nem duas horas que a gente comeu. – murmurei.

— E dai? Eu vivo com fome. É algo que não da pra evitar.

Viramos em outro corredor. Este era diferente dos outros. Havia vários fios nas paredes, de ambos os lados, que não eram verdes, mas sim de um branco sujo.

— Pra onde estamos indo? Perguntei em um sussurro. Mas foi a mesma coisa que ter gritado.

— Há uns dois dias, eu vi uns guardas armados, tirando pessoas a força de seus dormitórios, e como todas as outras, nenhuma delas voltou a aparecer.

— Acha que elas podem estar mortas?

— Ou pior, elas podem ter sido jogadas pros zumbis lá fora. – Brandon me lançou um olhar sombrio ao pronunciar “zumbis”. Senti meus pelos se arrepiarem.

Caminhamos em silencio por um tempo, o som dos nossos passos era a única coisa que se ouvia. O corredor parecia ficar mais escuro a cada passo. O ar ficando cada vez mais pesado, e então veio aquela sensação de estar sendo observado.

Brandon parou de frente a uma porta de ferro, a ferrugem já começava a tomar conta dela. Ele levantou a mão e empurrou a porta, que se abriu sem emitir um ruído.  Era difícil ver o lado de dentro, já que estava tudo escuro.

— Chegamos. – anunciou ele, caminhando pro lado de dentro. Ele apertou alguma coisa, que fez as luzes se acenderem.

Bem, o que dizer da sala? Ela se parecia com uma daquelas salas de monitoramento, com varias telas de computador, super modernas. Serio, nem se eu vende-se meu rim, eu conseguiria comprar uma daquelas telas. Eram oito ao todo, cada uma com umas quarenta e duas polegadas, e eram tão finas, que pareciam serem feitas apenas de vidro.

Brandon sentou em uma cadeira, de frente pras telas. Ele colocou o PSP sobre a mesa, e conectou um cabo a ele. Logo todas as telas estavam ligadas e ele teclava sem parar.

— Fecha a porta e senta, isso vai demorar um pouco. – disse ele, sem tirar os olhos das telas.

Fiz o que ele disse, afinal, o que mais eu poderia fazer? Trancar ele ali dentro e voltar correndo pro meu dormitório, tentar dormir e me convencer de que isso tudo era um sonho? Velho, eu mal sabia como chegar até minha escola, imagina andar ali dentro. Ele era meu GPS até o quarto.

Sentei na cadeira ao lado e fiquei olhando ele digitar.

— O que você ta fazendo? Perguntei depois de uns três minutos, que na verdade pareceram durar uma eternidade.

— Eu to tentando decodificar a central, tentar mudar o servidor, trocar todas as senhas e bloqueios para alguma que eu possa usar temporariamente, e depois, quando eu descobrir o que quero, vou destruir o núcleo e a placa mãe, apagar tudo, para não descobrirem quem foi.

— Agora diz isso em uma linguagem que eu possa entender.

— Eu vou hackear o sistema e depois apagar as provas.

— Agora eu entendi.

Brando desviou os olhos da tela por um instante e sorriu.

— Com o tempo você se acostuma, ou acaba ficando louco. – ele deu de ombro e voltou a digitar. – As duas coisas parecem legais, e eu vou ta lá, te irritando.

Naquele momento eu tive duas certezas. A primeira. Brandon era o tipo de amigo louco, que esta sempre do seu lado. A segunda? Bem, ele era um nerd e sabia o que estava fazendo.

Os minutos se arrastaram lentamente. Brandon teclou mais algumas coisas e sorriu triunfante.

— Pronto. – disse ele me encarando. – Vamos descobrir mais sobre esse lugar.

Ele abriu varias pastas, então as telas escureceram e um vídeo começou a rodar.

Aquilo era horrível. O vídeo mostrava um ataque zumbi a uma cidade. As pessoas tentando se salvar, enquanto outras caiam e eram estripadas, com seus órgãos sendo jogados pra fora. Mães tentando salvar seus filhos. Uma mulher cega tentando se salvar, enquanto seu cão guia corria freneticamente, a levando com ele. Pessoas pisoteando umas as outras. Animais correndo atrás de seus donos. Uma das cenas que mais mexeu comigo, foi a de um casal de idosos, que não conseguiam correr rápido, e assim como a moça cega, ninguém se preocupou em ajuda-los. E então os dois se beijaram e morreram de mãos dadas, enquanto vários zumbis os estripavam.

— Isso é horrível. – sussurrou Brandon.

— Concordo. – sussurrei de volta.

As imagens mudaram, as pessoas estavam na Arcade. Algumas pareciam felizes, outras nem tanto. Havia uma garotinha que não parava de chorar e perguntar ao pai, aonde a mãe dela estava, e assim como a filha, o pai chorava entre soluços.

O vídeo seguinte mostrava varias pessoas, tentando escapar do corredor, mas quase nenhuma havia tido sucesso, e acabaram sendo devoradas ali mesmo.

Eram vários vídeos, alguns pareciam ter sidos gravados por alguém, outros pareciam ser imagens das câmeras de segurança. Quando o ultimo chegou, senti cada pelo do meu corpo se arrepiar, enquanto meu coração acelerava dentro do peito.

O vídeo mostrava vários guardas da Arcade, atrás de um grupo de pessoas ajoelhadas. Os guardas estavam armados e mirando pra cabeça das pessoas. Um garoto, com no mínimo uns dez anos, segurava a mão da mãe, que chorava e ficava repetindo: “ Vai ficar tudo bem. Apenas vamos nos encontrar com o papai em um lugar melhor”. Algumas pessoas rezavam baixinho, outras imploravam por misericórdia. Um cara levantou e correu em direção a beirada do muro. Ele pulou antes do tiro o atingir. Algumas pessoas não levantaram a cabeça pra observar a cena. Fechei os olhos, quando os guardas puxaram o gatilho. O som dos tiros ecoou pela sala.

Brandon deixou escapar um “ Meu Deus”

Quando abri os olhos, os guardas estavam jogando os corpos sem vida das pessoas, para uma multidão de zumbis, do outro lado do muro.

— Então é isso que eles fazem. – Brandon levantou, irritado. Seus olhos estavam marejados, as lagrimas prontas pra cair. Ele socou a mesa.

Senti uma confusão passar pela minha mente, uma mistura de raiva com medo.

— Temos que sair daqui. – disse me levantando. – Temos que dar o fora desse lugar, Brandon.

— Eu sei, já copiei tudo, saídas, onde ficam os guardas e todo esse resto. – Brandon mal acabou de falar, quando as telas e as luzes se apagaram.

— O que aconteceu? Perguntei, tentando enxergar em meio à escuridão.

— Não sei. – respondeu Brandon, iluminando a sala com a luz do PSP.

Um brilho azulado partiu das telas, e quando elas voltaram a ligar, estavam mostrando algo. Senti meu sangue gelar, ao perceber o que era.

— Droga! Exclamou Brandon.

As telas estavam mostrando a gente. Tipo, deste a nossa saída do quarto até a nossa entrada na sala. Então elas começaram a nos mostrar em tempo real.

— Mas como? Perguntei acenando, para ter certeza. A câmera, sou seja lá o que aquilo era, se aproximou, até apenas o meu rosto aparecer nas telas.

Meus olhos verdes pareciam brilhar de medo. O cabelo grande, caindo sobre a testa, parecia mais escuro que o normal. E então veio aquele bibe irritante. O som ecoando dentro dos meus ouvindo, atingindo o tímpano como se fossem marteladas.

— Vamos cara. – gritou Brandon, acima de todo aquele barulho. – Temos que sair daqui.

Ele abriu a porta e me puxou. Começamos a correr, como se nossas vidas dependessem disso, e por um lado, elas dependiam mesmo. E então vieram os barulhos dos passos. Tentei olhar pra trás, mas fiquei com medo de tropeçar nos meus próprios pés, e acabar caindo.

Dobramos o corredor, sem diminuir o ritmo dos passos. Brandon segurava o PSP com força. Meus ouvidos doíam, senti o liquido escorrendo, saindo deles e descendo pela minha bochecha. Aquele momento era literalmente correr ou morrer. E eu estou muito afim de viver.


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Notas finais do capítulo

Olá gente,
Bem, alguns já devem me conhecer mesmo.
Espero que vocês gostem do cap.
Comenta ai, o que vocês tão achando da fic. É muito importante pra mim saber.
Bejos pra vcs



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