Zumbiwitch escrita por Paul


Capítulo 2
Capitulo 2


Notas iniciais do capítulo

Aquele que não tem amigos ao seu lado, nunca saberá aproveitar o verdadeiro sabor da vida.

— Desconhecido -



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Eles me conduziram, sem dizer uma palavra. Havíamos entrado em um prédio, maior que todos os outros. As paredes do hall de entrada eram de um cinza deprimente, e com tantas rachaduras, que eu fiquei com medo do prédio inteiro desabar sobre nossas cabeças.

Eles haviam me dado roupas secas e um par de tênis novo. Foi bom me sentir aquecido e seco, apesar do meu cabelo ainda estar pingando.

— Então, onde estamos? Perguntei, enquanto dobrávamos em um corredor. Nenhum deles me respondeu, então fiquei observando o corredor. Da mesma cor, do que eu tive que correr, até o mesmo chão cinza deprimente.

Aquele lugar era tão deprimente, tudo ali era depressivo. Era como estar dentro de um daqueles hospícios antigos, que vemos em filmes de terror, aonde os pacientes eram largados ao relento pelos corredores, ou torturados em uma parte sinistra do lugar. Até o ar era sufocante, comecei a me sentir como alguém com claustrofobia, preso em um lugar completamente fechado.

Viramos para a esquerda, dando em um corredor com vários bancos de madeira, encostados de ambos os lados das paredes, e que terminava em duas portas de ferro, que pareciam tão enferrujadas, que eu me perguntei se elas realmente ainda abriam. Metades dos bancos estavam vazios, menos o ultimo, perto das portas, havia um garoto sentado nele. Seu cabelo loiro caia até o ombro, e estava jogado para frente, devido à touca que ele usava. Seu moletom verde estava sujo de lama, ou aquilo era ketchup, já que ele estava comendo um sanduiche. Sua calça jeans estava rasgada perto dos joelhos, e seu All Star realmente estava sujo de lama. Ele deu uma enorme mordida no sanduiche e olhou para mim. Seus olhos eram de um verde esmeralda, e pareceram brilhar.

— Me espere aqui. – disse Steven, indicando o lugar vazio ao lado do garoto.

Me sentei, mantendo um pouco de distancia do moleque.

— Ei. – disse o garoto, assim que ficamos sozinhos.

— Que é? Perguntei sem olhar pra ele.

— Qual o seu nome, cara? Perguntou ele, de boca cheia.

— Marcos e o seu? Perguntei. Apoiei os cotovelos nos joelhos, e virei à cabeça, o encarando.

— Brandon Jones. – Brandon deu um largo sorriso e mostrou o sanduiche meio comido. – Quer um pedaço?

— Não, obrigado. Eu to meio sem fome. – menti, enquanto meu estomago começava a roncar, só de imaginar o gosto daquele sanduiche.

— Você também teve que passar pelo corredor, não foi? – Brandon deu outra mordida, e limpou a boca, com as costas da mão.

— Tive. Cara, acho que eu nunca corri tanto na vida. – olhei para meus tênis novos, observando como a linha verde cruzava com a azul e com a branca.

— Eu não precisei correr tanto assim. – disse Brandon de forma animada. – Foi até fácil.

— Sério? Perguntei franzindo a testa.

— Sério! Tipo, eu só segui os fios no teto, até sentir uma corrente de ar. – ele sorriu, como se estivesse satisfeito por dizer aquilo. – Se tem uma corrente de ar, deve haver uma saída, ou algo que seja igualado a isso.

— Vou me lembrar disso, se tiver uma próxima vez. – disse com um pouco de sacarmos.

— Eu to aqui a quase um mês, e até hoje, nunca me fizeram ir lá de novo. – Brandon deu de ombro e encarou um ponto vazio a sua frente. – Aqueles zumbis eram de verdade, ou eram apenas pessoas fantasiadas, ou até mesmo robôs?

Lembrei do osso exposto na perna da mulher, o que me causou um ligeiro arrepio.

— Olha cara, aposto a minha primeira refeição, que eles eram bem reais.

— Ah! – Brandon deu de ombro, e voltou a sorrir. – Eu amo zumbis, mas encontrar eles pessoalmente foi meio assustador, e eles quase fizeram picadinho de Brandon.

— Pensei que você tinha falado, que foi fácil sair de lá.

— E foi, mas isso não quer dizer que eu quase não fui feito em pedaço, por eles. – Brandon acabou de comer e soltou um pequeno arroto.

Os minutos se arrastaram e Brandon não parava de falar. Eu devia estar começando a ficar irritado com ele, mas isso não aconteceu, na verdade eu até estava gostando de falar com ele. Brandon tinha um jeito meio maluco, mas deixava aquele lugar, bem, um pouco mais alegre. Ele me contou quase tudo sobre ele, como o fato de ser um tipo de nerd popular na escola, que por alguma coincidência era a escola que eu devia estar estudando, mas minha mãe perdeu o dia das matriculas. Contou sobre ter perdido os pais, quando ainda era bebê, e teve que morar com os tios, que tinham uma loja de queijo do outro lado da cidade. Bem que eu desconfiei de ter ouvido o sobrenome Jones, tipo, os queijos dos tios deles, são os melhores da cidade. Ele contou sobre os planos de ir pra faculdade, antes de tudo acontecer. Contou sobre ser viciado em filmes de terror e amar jogos de zumbis, e como ele se sentiu dentro de um de seus jogos, quando isso tudo começou de vez. Ele também falou sobre os ex’s namorados, que o machucaram demais. Sim, ele era gay, nossa, isso devia ter me chocado? Claro que não, eu nunca me importei com esse tipo de coisa. Pra mim, Brandon era um garoto normal que gostava de outros garotos, simples assim. E em nenhum segundo, ele deu em cima de mim, o que eu achei bem legal também.

Brandon parou de falar e respirou fundo.

— Sua vez. – disse ele sorrindo, enquanto tirava algumas migalhas do moletom.

— O.K.

Só percebi o quanto eu já me lembrava, quando comecei a contar as coisas. Contei sobre eu ter perdido meu pai, quando eu tinha três anos e de como cresci ajudando minha mãe na confeitaria dela, pra poder ajudar nas contas de casa. Contei que não tinha muitos amigos na escola, mas os que eu tinha, significavam muito pra mim. Sobre eu gostar de rock, e só ter namorado uma vez na vida, e como ela me deu um lindo pé na bunda, pra poder pegar o zagueiro do time, e ficar popular na escola. Contei sobre as faculdades que eu queria poder fazer, e sobre minhas crises depressivas e o monte de remédios que eu tinha que tomar por dia, e que por sorte, eu não estava precisando deles, nesses últimos messes.

— Nossa essa garota foi uma vaca. – disse ele, depois que acabei. Ele parecia indignado, mas querendo rir, o que foi uma cena meio engraçada. – Ela não sabia que ele só a queria para transar? Esse povo que faz tudo por popularidade. – Brandon revirou os olhos e tirou algumas barrinhas de cereal do bolso. – Pega, você parece ta com fome.

Pensei em recusar, mas meu estômago roncou alto. Peguei umas cinco barrinhas, e as devorei em menos de dez segundos.

— Sabe Marck. – ele me chamou pelo apelido, que legal. – O mundo tá catastrófico. Lá fora ta sendo matar ou morrer, e os que morrem, não querem ficar mortos.

— Pois é. – dei de ombro, devorando a ultima das barrinhas, que ele tinha na mão.

Eu estava preste a falar de novo, quando a porta se abriu e Steven apareceu. Ele nos encarou por um segundo.

— Tirem essas bundas desse banco. Ele vai falar com os dois.

Troquei um breve olhar com Brandon, que apenas deu de ombro e arrumou a touca. Seguimos Steven.

O silencio estava começando a me irritar de novo. O único barulho que ecoava pelo corredor era o dos nossos passos.

Paramos ao lado de uma porta de madeira, Steven indicou para que entrássemos. O lugar era algum tipo de escritório. As paredes eram de cimento puro, e todas possuíam uma estante repleta de livros e pastas. No centro havia uma mesa de madeira, a superfície lisa parecia brilhar em meio a luz, havia um prato cheio de sanduiches e Doritos, no lado esquerdo. Em uma enorme cadeira trás da mesa estava sentado um cara. Ele não parecia ter mais que trinta anos. Seus olhos eram de um azul gélido, prontos para congelar o primeiro que fizesse uma pergunta idiota. Seu cabelo era preto e estava um pouco grande demais, mas que por algum motivo combinava com o cavanhaque por fazer. Ele era o tipo de cara que você não gostaria de encontrar em um beco escuro.

— Olá novato. – ele olhou para mim e depois para Brandon. – E Brandon.

— E ai cara. – disse Brandon se aproximando da mesa e pegando um sanduiche.

O olhar que o cara lançou para ele foi tão gélido, que me fez tremer, mas Brandon pareceu não ligar.

— Largue isso Brandon. – disse ele, ainda o encarando.

— Eu to sem fome mesmo. – disse ele largando o sanduiche no prato.

— Marcos, eu lhe trouxe aqui para lhe dar as boas vindas, e dizer que você bateu um certo recorde ao sair do túnel.

Encarei o cara, completamente perdido.

— E como o Brandon, que eu ainda vou querer saber o que esta fazendo aqui, é o único com o dormitório livre, vocês dois vão ser colegas de quarto.

— Ele anda roubando comida, de novo. – disse Steven da porta.

— Brandon, acho que já conversamos sobre você roubar comida por aqui. – ele encarou Brandon e levantou uma sobrancelha.

— Aquilo que vocês chama de refeição, não é capaz de matar minha fome, aquilo nem dá pra começar.

— Eu não vou ter essa conversa com você de novo. Todos recebem uma quantidade igual de comida.

— Mas eu preciso de mais. – disse Brandon irritado.

— Agora vão, saiam daqui, o Steven vai acompanha-los.

— Como é? Perguntei irritado.

— O Steven...

— Não, como assim? Ficamos quase uma hora ali fora, só pra você nos falar isso? – eu estava preste a pular no pescoço daquele cara e sufoca-lo até a morte. – Pode começar as explicações.

— É seu babacão que nega sanduiches e comida pra um doce, meigo e divertido garoto como eu. – disse Brandon o encarando. – Pode começar a falar.

— Olha, escutem aqui vocês dois, prestem muita atenção, eu só vou dizer isso uma vez. Sou eu que manda aqui, entenderam? Se vocês querem sobreviver aqui dentro, e não serem expulsos e jogados para os nossos amiguinhos lá fora, acho melhor vocês carregarem esses traseiros lá para fora, e sumirem da minha vista. E Brandon, eu já mandei você largar a droga desse sanduiche, ou eu juro por Deus, que eu mando arrancarem suas mãos, e te jogarem pra fora daqui. Agora, saiam!

Fuzilei o cara com os olhos e sai pisando firme, com Brandon logo atrás de mim. Estávamos quase na porta, quando ele se virou, caminhou até a mesa e pegou o prato de sanduiches e Doritos.

— Você pode me ameaçar e cortar minhas mãos. – disse ele encarando o cara. – Mas isso fica comigo, idiota. – ele se virou e marchou pra fora, batendo a porta com força.

Foi impossível não rir com aquela cena. Brandon dividiu metade das coisas do prato comigo, e caminhamos rindo, nossas risadas ecoando pelo corredor.


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Notas finais do capítulo

Oeee amores.
Aqui estou eu em mais uma madrugada, postando novamente.
Espero que vocês gostem do cap ta.
Logo eu posto cap novo na minha outra fic.
Beijos.



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