Brandon

Brandon continuava a correr. Todos os seus extintos lhe diziam pra não parar. Mesmo após os barulhos dos passos terem cessado.

Ele e Scarlet correram em direção ao túnel. Apenas seus passos e respiração ofegante podiam ser ouvidos.

— O Marck não estava lá. – disse Scarlet parando de correr. – Será que aconteceu alguma coisa com ele? – sua voz parecia vazia.

Brandon parou bruscamente. Seus pés derrapando pelo asfalto. O suor escorrendo pelo seu rosto, formando uma enorme poça em sua camisa.  

— Não diga isso, ok? Está tudo bem com ele. Ele só se atrasou, você vai ver. – parte de Brandon queria acreditar nas próprias palavras, mas a outra parte temia que Scarlet estivesse certa.

— Podemos parar um pouco? Eu estou morta, e meus pés estão doendo.

— Sim, mas se você não percebeu, estamos sendo caçados por um pando de psicopata, comandados por um príncipe maluco da Disney.

— Mas faz tempo que não vejo nenhum deles. – disse Scarlet respirando fundo. - Você tem um plano, não tem?

— Claro. – Brandon deu um sorriso metido. – Eu sou o garoto dos planos.

O dia começava a se por do lado de fora do túnel. A pouca luz que entrava, fazia aquele lugar ficar cada vez mais arrepiante.

 - Vamos sair desse túnel, e achar um prédio ou lugar para passar a noite. – sussurrou Brandon.

Eles adentraram cada vez mais o lugar, a luz se extinguindo totalmente, Brandon ligou o PSP, e iluminou o caminho a frente deles. Scarlet segurou o braço de Brandon, como se fosse uma garotinha de 5 anos e estivesse com medo do escuro.

Algo se moveu logo atrás deles. Os sons de passos arrastados ecoaram pelo túnel. A primeira figura surgiu em meio a pouca luz, emitida pelo PSP. Era um garoto com no mínimo oito anos de idade. O rosto estava desfigurado. O enorme corte que ia da testa até o queixo, estava cheio de vermes, que se debatiam em meio à carne apodrecida. Os globos oculares estavam vazios. Não havia um fio de cabelo em sua nuca, que estava cheia de hematomas e bolhas cheias de pus. A orelha esquerda não existia mais. Havia um enorme corte que ia da sua cintura até abaixo do joelho, de sua perna esquerda, os vermes rastejavam para fora, alguns caindo no chão, durante os passos lentos.

Brandon e Scarlet deram um passo para trás. O garoto olhou na direção deles. Scarlet levou à mão a boca. O coração de Brandon deu uma batida a menos, e seu estomago se embrulhou.

Outros zumbis começaram a aparecer. Centenas ao mesmo tempo.

— Merda. – sussurrou Brandon, enquanto puxava Scarlet para trás dele.

Todos os zumbis olharam em sua direção. Os olhares famintos e furiosos. Os grunhidos ficando mais alto, enquanto eles avançavam na direção deles.  

— Correr? Perguntou Scarlet.

— Correr! Respondeu ele, girando-nos próprios calcanhares, e começando a correr.

O final do túnel parecia longe demais. O pequeno pontinho de luz resultando em uma adrenalina de esperança.

— Não para! Gritou Scarlet.

— Claro! Até parece que vou parar e pedir pra tirar uma foto com eles. – resmungou Brandon. Sua voz soando cansada.

Eles estavam na metade do caminho, quando algo agarrou o calcanhar de Scarlet. Seu corpo tombou para frente, o rosto se chocando com violência contra o chão. Ela soltou um resmungo de dor.

Os olhos de Brandon encontraram os seus, antes dela ser puxada.

— BRANDON! O grito ecoou pelo túnel, juntamente com o barulho de coisa sendo arrastada.

Ele se sentiu entrando em pânico pela primeira vez. Seu cérebro tentava achar um jeito de ajudar.

— Mas que merda. – sua voz falhou, enquanto ele não sabia se continuava a correr, ou caia matando os zumbis.

Os barulhos cessaram. Tudo ficou em silencio. O coração de Brandon batia freneticamente.

— Scarlet. – sussurrou ele. O PSP apontado para frente. Ele caminhou pelo mesmo caminho.

Seus passos eram o único barulho a ser escutado. Ele sabia que aquilo era algum tipo de armadilha, mas mesmo assim prosseguiu. Seu cérebro trabalhando a mil. Todos os seus sentidos imploravam para ele se virar e ir embora, mas ele não fez isso.

Algo se moveu, um resmungo baixo foi produzido. Scarlet estava caída a uns quatro metros a sua frente. Seu rosto manchado de sangue.

— Ei. – Brandon correu até ela, mas parou a meio metro, ao notar os corpos parados logo atrás dela. – Se levanta lentamente.

Scarlet balançou a cabeça, negativamente. Seus olhos estavam brilhando, literalmente, de um vermelho intenso.

— Ok. Entendi. – Brandon iluminou ao seu redor, procurando algo que pudesse usar como arma. Por fim, achou pedaço de madeira.

— Tem algo me segurando no tornozelo. – sussurrou Scarlet.

— Certo. Quando eu contar até três, quero que você chute essa coisa com toda a sua força, e se levante.

— Falando assim parece fácil. – Scarlet o encarou, balançando a cabeça confirmando.

— Um... – Brandon apertou o pedaço de madeira. – Dois... – algo saltou sobre ele, o fazendo cair no chão. O barulho de corpos rolando, predominou o ar.

Scarlet reuniu toda sua força e chutou aquilo que a segurava, o barulho de “ Crak” indicou que algo se quebrou. Ela se impulsionou para frente e se levantou.

Brandon tentava afastar a cabeça do zumbi, de seu rosto. Os dentes da criatura pareciam próximos demais.

Scarlet sentiu o pânico crescendo dentro do peito, juntamente com uma ardência. Leva levantou as mãos, enquanto uma multidão de zumbi avançava em sua direção. Uma luz avermelhada se projetou a palma de sua mão. Iluminando tudo.

— Deixem a gente em paz! Gritou ela. Sua voz saindo quase bestial.

Havia uma pilha de corpos, a uns dois metros de onde ela e Brandon, que ainda lutava com o zumbi, estavam. Os zumbis foram lançados para trás.

Brandon pegou o pedaço de madeira e enfiou com força na boca do zumbi. O sangue espirrou em seu rosto.

— Que nojo. – disse ele empurrando o corpo pro lado. Brandon se levantou e abraçou Scarlet. – Ta tudo bem? Perguntou ele.

— Acho que sim. – respondeu ela ofegante. – Vamos sair daqui, por favor.

— Vamos. – Brandon se abaixou e pegou o PSP.

Os dois se viraram e correram em direção à saída. Os primeiros pingos de chuva os atingiram em  cheio no rosto, assim que saíram do túnel.

A rua estava vazia. Sem nenhum carro, moto ou outro tipo de automóvel. A vegetação estava alta, batendo na altura da batata da perna de Brandon.

— Devíamos nos esconder em um desses prédios. – disse ele, indicando com o dedo.

Scarlet não respondeu, mas continuou correndo, indo na direção de um enorme prédio, cujo as portas de vidros não haviam sido destruídas.

A multidão de zumbis se projetou para fora do túnel. Os grunhidos de ódio, os olhares furiosos.

— Mas que merda. – gritou Brandon, enquanto abria a uma das portas. Ele esperou Scarlet entrar e fechou a porta. – Que sorte a nossa. – disse ele a encarando. – As chaves estão na fechadura.  – Ou isso seja nosso maior azar. – brincou ele, trancando as portas. Enquanto uma segunda porta de alumínio descia.

— Cala a boca. – Scarlet cruzou os braços.

O hall de entrada do prédio era enorme. O piso era de granizo, com um enorme “ States” escrito no centro. Haviam cadeiras e sofás por toda a recepção. O balcão era feito de mármore branco. Lustres pendiam no teto.

— Temos que achar o Marck. – disse Scarlet.

— Eu sei, to pensando em um plano. – disse Brandon a encarando. Ele caminhou até um dos sofás, e o arrastou, os colocando um de frente para o outro, colados, fazendo uma cama enorme. – Descansa um pouco. Eu fico de vigia.

Scarlet não relutou, cada parte do seu corpo doía.

Brandon sentou na cadeira atrás do balcão e começou a mexer no PSP.

A chuva caiu furiosamente do lado de fora, enquanto os zumbis batiam contra o vidro.

Seria uma longa noite.