Zumbiwitch escrita por Paul


Capítulo 11
Capitulo 11


Notas iniciais do capítulo

Qual o motivo da sua lágrima?



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Marck

Os sonhos ruins sempre vêm quando você menos os quer. Por muito eu dependi de remédios antidepressivos, remédios para a TDAH, era como um ciclo vicioso, eu sempre queria mais. Poder ficar livre da tristeza e de toda a dor. Era bom poder-me sentir livre. Mas com tudo isso, vinham eles, os pesadelos.

A neve parecia cair em câmera lenta enquanto eu caminhava pela rua, os pequenos flocos passando perto do meu rosto. O  barulho dos meus passos era algo irritante, apesar de ser a única coisa a ser escutada.

Já te contaram que o mundo fica mais magico quando as ruas estão cobertas de neve? Ou que ele parece se tornar um lugar sombrio e silencioso, enquanto os pequenos flocos caem lentamente? Se não, espero que você possa enxergar o mundo por esses dois ângulos em um dia de nevasca.

Enfiei as mãos nos bolsos da calça jeans. Meus pés afundando lentamente na neve. O mundo completamente silencioso. Os prédios, e a cidade, tão normais quanto em qualquer dia.

Não me lembro de onde surgiu o sangue, apenas que começou como uma pequena trilha, a qual eu segui  apenas para satisfazer minha curiosidade. Cada parte do meu cérebro gritava para eu dar meia volta e voltar pelo caminho que eu vim. Porem, minha curiosidade era muito maior.

Algo se partiu embaixo dos meus pés, enquanto algo molhado inundava meu tênis. O ultimo floco de neve caiu, assim que percebi no que estava pisando. Milhares de corpos em estado de decomposição, boiando em algo que parecia ser um enorme lago, à agua em um tom esverdeado, e com um odor desagradável.  Os prédios haviam sumido, e tudo o que restou foi apenas o vazio. 

Tentei me equilibrar, em cima dos corpos amontoados. A água entrando no meu tênis, fez com que um leve arrepio percorresse meu corpo. Cobri o nariz com a camiseta, tentando não inalar tanto aquele fedor.

Me perguntei se era assim que iriamos acabar, apenas corpos abandonados em algum lugar, deixando com que a natureza faça seu trabalho. Espero que exista algum outro lado. E que lá seja melhor que aqui.

A luz do sol, tão inerte em meio a aquelas nuvens cinza e pesadas. Tudo tão deprimente.

Estou afundando. Não sei o porquê. Agito meus braços, meus pés, tentando voltar à superfície, mas a água me puxa para baixo. Os corpos boiando ao meu redor, meus pulmões se enchendo daquela água contaminada. A luz do sol fraca entrando pelas pequenas frestas, por entre os corpos. Meus pulmões queimam, meu coração bate tão forte dentro do peito, que a única coisa que consigo ouvir é suas batidas. Meu corpo dá seus últimos espasmos, enquanto tudo se torna escuro.

A chuva do lado de fora me faz acordar. O som dos pingos batendo violentamente contra os vidros e o telhado de metal. Tudo esta escuro, às vezes as coisas se iluminam por conta dos raios que caem por todos os lados. Os olhos pareciam estar flutuando em meio à escuridão. Meu coração deu uma batida a menos.

— Pesadelos? Perguntou Scott. Sua voz ecoando, mas sendo abafada pelo barulho da chuva.

— Sim. – respondi me sentando. – Mas eu já estou me acostumando com eles.

— Quando isso tudo começou, eles eram frequentes. – Scott deu de ombro, enquanto a luz do relâmpago o iluminava. – Mas agora, sumiram.

— Sorte a sua. – o encarei, o que é algo difícil em meio à escuridão. – Mas saiba que eles nunca vão de verdade.

Brandon

Minhas mãos tocaram o metal frio das portas, enquanto as empurro para poder entrar no colégio. O dia estava frio, nuvens cinza e pesadas cobriam todo o céu, uma névoa cobria o chão, deixando tudo à volta com um ar de mistério, do jeito que eu adoro. Afinal, amanha é Halloween.

Os corredores estavam lotados. Pessoas se acotovelando por todos os lados, cheiros de perfumes misturados no ar. Muitos acenavam para mim, enquanto caminhava para meu armário. Essa é uma das vantagens de ser o capitão do time, e a desvantagem é que muita gente me odeia por isso.

Girei a combinação do cadeado do armário e o abri. Algo tocou minha cintura, me fazendo girar.

— Você não me ligou ontem, Jones, o que aconteceu? Perguntou Luke.

Luke Grace, meu namorado. “ Nossa, mas Brandon, você é gay?” Sim, eu sou. Eu sei, tive muita sorte. Bem, o Luke é uma das poucas pessoas que podem me chamar de Jones sem levar um muro no meio da cara. Seu cabelo é escuro, seus olhos de um caramelo intenso. Isso tudo combinava com a pele parda e todos aqueles músculos e abdômen definido. Nossa, o namorado dos sonhos em? Que nada, ele é bem babaca às vezes.

Parei por um segundo, o encarando.

— E então? Perguntou ele, erguendo apenas uma sobrancelha.

— Ah, você sabe como é.

— Maratona de filmes de zumbi, de novo? Acho que vou começar a sentir ciúmes desses filmes. Você dá mais atenção pra eles, do que pra mim.

— Na verdade, eu tava jogando. – sorri, dando um soco no ombro dele. – E nem era de zumbis. Era Online, por isso não podia parar.

— Sei. – Luke estreitou os olhos e me encarou.

Seus lábios tocaram os meus antes mesmo de eu poder responder alguma coisa.

— Vamos para a aula, Jones. – disse ele se afastando.

— Nós iremos pedir doces amanha, não é? Perguntei, enquanto caminhávamos pelo corredor, que começava a ficar vazio.

— Brandon temos 17 anos, não acha que estamos meio velhos pra isso?

— Ah, nem vem. Eu já to com minha fantasia de lobisomem, e eu espero que você apareça.

— Ta, que seja. – Luke revirou os olhos e abriu a porta da sala. – Mas não vou fantasiado de Chapeuzinho.

— Ah, qual é? Não é A Chapeuzinho, é o Chapeuzinho Vermelho.

— Brandon, aquela fantasia mostra coisa demais.

— E dai? – o encarei, enquanto sentava na carteira ao lado da dele.

— Que eu não quero que as pessoas fiquem vendo minhas coisas. – Luke revirou os olhos, enquanto colocava o caderno sobre a mesa. – E depois de realizar sua fantasia de pedir doces, não esqueça que temos a festa da Rylei.

— Eu sei. – agora foi minha vez de revirar os olhos.

O professor entrou na sala. A chuva começou a cair com força do lado de fora.

...

Estava começando a escurecer do lado de fora. Terminei de vestir minha fantasia de lobisomem e me encarei no espelho.

— É, isso ficou bem legal. – falei comigo mesmo, enquanto o som da campainha ecoava pela casa.

O bom de dormir no sótão, é que você tem uma ampla visão da rua e da porta da frente.

— Brandon. – disse minha tia, batendo na porta do meu quarto.

Tia May, literalmente a melhor senhora da terceira idade que alguém pode conhecer. Seu cabelo, cortado curto, tipo Chanel, é castanho, porém com umas mechas vermelhas, por conta da sua ultima travessura. Seus olhos são da mesma cor que seu cabelo, um castanho intenso, que quando irritados chegam a dar medo. Apesar de ter quase 65, ela não possui muitas rugas. E ela vive sorrindo.

— Você vai fantasiado de vira-lata? Perguntou ela me encarando.

— Não tia, eu sou um lobisomem. – sorrio, enquanto arrumo a touca.

— Então ta. – tia May franziu a testa. – O Luke ta lá embaixo. E meu deus, por que diabos você deixa seu namorado sair vestindo aquilo? Ele ta quase pelado.

— Ei, a senhora que me ajudou a escolher aquela fantasia. – retruquei.

— Eu sei, mas nunca imaginei que ele ficaria tão indecente assim. As coisinhas dele, tão quase saltando pra fora da sunga.

Começo a rir, enquanto caminho na direção da porta. Seguro tia May pelos ombros e a acompanho, descendo a escada.

[...]

Caminhei ao lado de Luke, o irritando o máximo que eu conseguia. Ele realmente havia ficado muito sexy naquela fantasia, a sunga vermelha realçava suas coxas grosas, e um pouco do seu volume. A capa  vermelha balançava lentamente com o vento. O capuz realçava a cor de seus olhos.

As casas estavam decoradas. Os esqueletos de plásticos pendurados nas janelas ou portas davam um ar  infantil ao cenário. Mas os vários monstros e efeitos sonoros, que alguns faziam, davam o susto ideal. As folhas das arvores já começavam cair, lotando as calçadas e as deixando amarronzadas. Havia alguns corpos pendurados no carvalho em frente à casa dos Mcfly. Um caixão, com alguém fantasiado, estava deitado perto da porta dos Coopers. Mas nada se comparava a decoração da minha casa. Tia May havia caprichado esse ano. As varias aboboras, com sorrisos maléficos enfeitavam o caminho de pedra até a porta. As cabeças decapitadas, que pingavam sangue, penduradas na arvore em frente à garagem. Os zumbis e os porcos mutilados enfeitavam todo o jardim da frente. Meu tio estava sentado na varanda, vestido de espantalho. Ele segurava um pote de doces, e se mexia para assustar aqueles que ousavam chegar perto dele.

— Você vai me pagar muito caro mais tarde, Jones. – disse ele me fuzilando com os olhos.

— Eu sei. Mas admita você ficou muito bem nessa fantasia.

— Idiota.

— Vamos lá. Sorria e mais tarde você poderá brincar com o lobo mal aqui. – sorri de modo provocante.

— Espero que valha a pena.

Sair para pedir doces com Luke era algo divertido de se fazer. Sei lá, a companhia dele me fazia bem em todos os sentidos e nossas risadas e beijos no meio da rua sempre me deixavam feliz. Mas então vieram as luzes. Elas preencheram o céu, mudando de laranja para um vermelho sangue, seguidas de trovoes e raios. E então tudo explodiu e eu senti meu corpo sendo lançado pelo ar, até tudo se tornar escuro.

Encontrar os corpos de Luke e dos meus tios foi algo tão doloroso, que era como se alguém estivesse quebrando minha alma com algum martelo pesado demais. Ver a cidade destruída e as pessoas que eu conhecia, mortas e logo em seguida voltando à vida era algo estranho e assustador. Ter que me esconder em lugares assustadores, só para me manter vivo, me fez perceber como as coisas podem ficar piores quando se menos espera.

Senti as lagrimas caindo enquanto as lembranças voltavam lentamente. Funguei algumas vezes, tomando o cuidado de não deixar Scarlet ouvir. Mas acho que falhei.

Seus olhos brilhavam em meio à escuridão, e meu deus, aquela menina parecia um demônio no escuro.

— Puta que pariu! Gritei enquanto caia da cadeira. – Não me assusta assim.

— Desculpa, eu devia ter feito algum barulho pra avisar que tinha acordado. – disse ela baixinho.

— Devia mesmo. – me levantei, sentando novamente na cadeira. – É sinistro ver seus olhos brilhando em meio ao escuro.

— Eu sei. Minha irmã dizia o mesmo.

— Pera! Você tem uma irmã?

— Tinha. – Scarlet se levantou e caminhou até o balcão, se sentando em cima dele.

— O que aconteceu com ela? – confesso, minha curiosidade esta me matando.

— Duas semanas depois que havíamos chegado à Arcade, eles a levaram. Eles prometeram que ela iria para um lugar melhor, longe desse inferno todo. E eu acreditei. – Scarlet fungou, enquanto passava a manga da blusa no nariz. – Eu acreditei que eles iam cuidar dela, que iriam leva-la para os nossos pais. – sua voz foi aumentando a cada palavra. As coisas ao seu redor começaram a flutuar. – Mas eles mentiram.

Arrastei a cadeira um pouco para trás. Scarlet flutuava a uns dois centímetros acima do balcão.

— É, coelhinha. O que você ta fazendo?

— NÃO ME CHAMA DE COELHINHA!

Senti meu coração parar, quando ela virou o rosto na minha direção. Scarlet parecia um demônio. Seu rosto havia se deformado, como se fosse o rosto de um gato misturado com alguma outra coisa. Seus olhos brilhavam com mais intensidade, como se eles realmente estivessem pegando fogo. Seu cabelo flutuava, assim como ela e as coisas ao seu redor.

— Ok. – levantei as mãos, em defesa, enquanto levantava da cadeira. – Ok, desculpa.

Recuei alguns passos, até me encostar na parede. Eu não sei se devia começar a me preocupar com a multidão de zumbis lá fora, ou me preocupar com essa coisa em corpo de mulher aqui dentro.

— Bela namorada você foi arrumar, Marck. – murmurei, enquanto Scarlet parecia voltar ao normal. – Essa vai ser uma longa noite, em. – Forcei um sorriso.


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Notas finais do capítulo

Olha quem apareceu por qui.
Eu to cheio de explicações, mas não to bem.
Deixa um Review? Pode ser me xingando mesmo.

Bjs ^^



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