Um Caminho Para Dois Anjos escrita por Helena Van Houten


Capítulo 2
Que comece.


Notas iniciais do capítulo

Antes de lerem, atentem aqui... Muuuito obrigada pelos comentários. Estou muito feliz memso.
Sobre o capítulo... Se preparem.



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O jantar estava servido, porém só Loki e Annia estavam na mesa. Miranda estava em seu quarto, de onde tossia repetidas  vezes a horas. O dia havia sido comum para a menina, que brincou muito, sem saber que a avó explicava tudo a respeito de sua rotina. A velha contou a ele que todos os dias a pequena deveria ser levada e trazido da escola.

Loki entendeu bem, porém não entendia boa parte das coisas, como por exemplo a respeito das tarefas de uma casa. A mulher disse que havia guardado dinheiro para alguns meses, mas que ele precisaria encontrar uma forma de sustento.

O quarto onde dormiria seria o de Annia, pois desde a doença da avó, dormiam juntas por medo de o pior acontecer.

– Ela vai ficar bem?

A menina perguntou com olhos tristes. Loki gostaria de dizer que sim, mas seria mentira. Os pulmões estavam muito danificados, a velha estava cansada. Mas não diria isso para a garota, que variava o olhar triste para ele ou para a sopa.

– Eu não sei, menina... Gostaria de te responder, mas isso eu não sei. - ela concordou e continuou a tomar sua sopa.

Dado alguns minutos, Miranda dormiu. Quando terminaram, Annia levou os pratos para a pia, determinanda a ensiná-lo a lavar a louça. A menina pegou uma cadeira e subiu para conseguir alcançar a torneira. Enquanto lavava, dava dicas para o moreno.

– Aí você desliga a torneira para não desperdiçar água e a conta vir muito cara. A vovó sempre briga comigo por isso, mas agora que ela não estará mais aqui, eu tenho que ensinar você para que eu não faça de novo. - de braços cruzados, ele observava a doçura com que a menina dizia tudo. Realmente, ela não conhecia a maldade do mundo, era pura como um anjo. - Tá vendo? Fica bem limpinho. Agora é a sua vez!

Depois de um susto, Loki pergunta. - Eu?

– Sim, você. Eu já ensinei, moço. Tenho cara de empregada?

Ele revirou os olhos e afastou a cadeira, tentando fazer tudo direito. A menina continuou ali, observando e reclamando, alegando que ele não sabia.

– Pronto, lady reclamação! Agora vá dormir que sua avó disse que precisa acordar cedo.

– Preciso não, precisamos. Amanhã você me leva para a escola. - diz ela, pulando da cadeira e andando até o quarto. - Boa noite, moço de nome esquisito. 

Loki não respondeu. Além de estar servindo como um servo, teria de servir de guarda também. Parece que tudo ia de mal a pior, isso antes de ele tentar tomar banho...

                                [...]

Loki estava deitado, porém estava acordado a alguns minutos. Pouca claridade entrava na casa, porém sabia que já estava quase na hora de levantar. Ouviu alguns ruídos, e em seguida viu a porta sendo aberta. A cena seguinte parecia até mesmo cômica: Annia estava num vestido rosa surrado; os pés, pantufas de panda; os cabelos estavam desgrenhados, caindo sobre os ombros de maneira espaçada; e para finalizar, ela estava com uma toalha nos ombros.

– Tá na hora de levantar. A vó tá dormindo ainda, então é você que vai me ajudar a ficar arrumada.

– Não obedeço uma criança. - ele responde, se levantando.

– E eu não consigo arrumar o cabelo sozinha. Fim... Você não tem opção. - ela passou para o banheiro, batendo a porta em seguida.

Resmungando, ele se levanta e escolhe uma roupa mais própria para sair. Alguns minutos depois ouve o barulho da porta abrindo. Annia aparece usando um roupão e a toalha na cabeça. Estava engraçada.

– É falta de educação não arrumar a cama, sabia? - diz a menina, sentando-se na cama. - É bom aprender isso, mal educado!

A reação do moreno foi apenas observar a menina. Ela parecia uma versão mais ordinária dele, parecia gostar de afrontar os outros. Ela tirou a toalha, soltando os cachos.

– Pega aquele vidro ali em cima, moço. - ela aponta para a cômoda. Loki andou até lá vagarosamente, provocando a pressa da menina.

– Esse? - aponta para um perfume, Annia nega. - Esse? - um desodorante, ela nega. - Ah, já sei! com certeza é esse! - Loki provoca, pegando um creme corporal e oferece a ela.

– Você é idiota assim todo dia ou só tá treinando? - ela levanta da cama, pegando o creme de cabelo e jogando no moreno, responde. - Só por isso você que vai pentear meu cabelo.

A menina sorriu, dando um pente de dentes espaçados para ele. O moreno não sabia como fazer isso, seu cabelo era liso. Sozinha, Annia passou um pouco do creme para pentear nos cachos úmidos e se virou para que ele passasse o pente. Loki passou o pente superficialmente, enquanto a menina ria de seu estranho medo. Ele usou a mão esquerda para dividir os volumosos cachos, passando o pente neles devagar, enquanto desembaraçava. Magia não resolvia tudo...

– Você nunca penteou cabelo na vida?

– Nunca tive precisão.

– Você é muito metido, sabia? - ela diz sorrindo, olhando para ele por cima do ombro. - Mas é muito bonito...

– Obrigado.

– Mas eu não suporto gente metida, acho bom você cuidar de melhorar logo. - Loki revira os olhos, enquanto pega outra parte do cabelo dela.

Continuaram em silêncio, e a cada minuto a tarefa quase impossível era concluída. Miranda havia levantado, e ao procurar a menina, viu uma cena que acalmou seu coração: Annia ensinava ao moreno como ele deveria partir o cabelo, ao meio. Depois, achou graça de seu jeito atrapalhado ao usar alguns elásticos para prender parcialmente os cachos. Sabia que ele pegaria o jeito, Loki era inteligente, saberia como cuidar de Annia. Sorridente e aliviada, a mulher idosa se dirigiu para a cozinha.

                                [...]

– Você fez a maior bagunça no banheiro ontem, sabia? - Miranda diz, pondo uma panqueca para cada um, Loki e Annia.

– Não estou acostumado aos seus modos de vida. - responde, enquanto saboreia a panqueca.

– Anda logo, não posso me atrasar. - a menina devora o café da manhã rapidamente e puxa Loki.

O moreno saiu com ela da escura casa, sendo cegado por alguns segundos pela claridade. Se lembraria de perguntar o motivo de todas as janelas da casa estarem sempre fechadas. Annia andava apressada, e ele achou engraçado a forma que ela carregava a mochila pesada.

– Por que fazem uma criança tão pequena carregar tamanha bagagem? - perguntou, pegando o peso e prendendo-o no ombro.

– É que preciso dos livros para aprender... - ela disse, ajeitando a gravata preta.

Lado a lado, os dois andavam até a escola. Annia usava seu uniforme, formado por uma camisa branca, uma saia de pregas preta, meias brancas à altura dos joelhos e um sapato; já Loki usava uma calça preta jeans e uma camisa anil por baixo. Por insistência da menina, usava uma jaqueta preta por cima.

– Chegamos! - ela informa.

– Nem é tão longe assim. - Loki diz, prestando atenção ao lugar lotado de crianças e adolescentes, enquanto nota vários olhares sobre si. - O que tanto olham?

– Não sei, deve ser porque você é alto... - ele concordou, levando a menina até onde havia uma mulher que ela disse que era confiável, professora Hazel.

– Eu já vou. - Loki disse simplesmente. A menina deu tchau de longe e entrou junto da professora e dos colegas.

                                     [...]

Estava ali novamente, como um garoto ingênuo. Como daria a notícia para Annia? Os vizinhos estavam ali, juntos de alguns paramédicos e policiais. Quando se atentou mais a rua, viu a menina pisando duro em sua direção.

– Irresponsável! - ela gritou. - Estou esperando você a um tempão...

– Menina... - tentou se aproximar, levando vários chutes em seguida.

– Que espécie de pessoa é você? Olha, a vó disse: 17h00 você deve ir me buscar. Por que você ainda não foi?

Loki parou os braços dela, segurando-a próximo a si. Abaixou e com olhos tristes disse.

– Eu precisava esperar os médicos, e eles não me deixaram sair. - a menina arregalou os olhos, enquanto fitava todas aquelas pessoas ali.

Com toda a velocidade que conseguia, correu até a casa. Ao cortar a sala, viu os vizinhos chorando diante do corpo de sua avó. Ela parecia dormir, mas a pequena Annia já sabia o que se passava. Loki entrou também, vendo a cena de uma menininha chorando aos pés do que os humanos chamam de caixão. Ele viu nas lágrimas dela, uma dor que já sentira. Então sabia, chegou a hora de fazer o que foi ordenado ao sair de Asgard.

Seria a nova família da menina Annia!


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Notas finais do capítulo

Entooon? Digam por favor, o que acharam?
Aguardo vocês, seus lindos. Até o próximo.