Um Caminho Para Dois Anjos escrita por Helena Van Houten


Capítulo 15
Incapaz


Notas iniciais do capítulo

Hey, sumidos♥
Espero que gostem e que dêem opiniões



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Ele se olhava no espelho, jogando os cabelos para trás. Fechou mais um botão da camiseta azul escuro, e encolheu as mangas justas até pouco abaixo dos cotovelos. Em seguida, se analisou. Estava pronto, hoje optou por tomar banho depois do café da manhã, enquanto Annia terminava de se arrumar.

– Ande logo com essa fera descontrolada que chama de cabelo, Annia. - riu sozinho, esperando a resposta. Essa não veio. - O que foi, resolveu aceitar? - disse indo para o quarto. Antes de chegar, porém, ouviu a voz baixa da criança.

– Me ajuda. - ela pediu num só suspiro.

Loki correu até ela, se ajoelhando ali, a pegou no colo, tirando seus cachos da face. A criança chorava e tinha uma respiração ruidosa, emitindo um grunhido e chiado juntos. Em desespero, ele perguntou a ela o que havia acontecido.

– Gor... Princesa. Bombinha... Ar... Não consigo... - ela tentava, mas apenas inflava o peito tentando capturar ar. Ele entendeu. Deveria levá-la até Sarah, ela saberia o que fazer.

Loki pegou a menina no colo, correndo até a sala. Jurou para si que se Kira tivesse algum envolvimento naquele sofrimento da menina, faria picadinho de bruxa. Ela sofreria muito quando a encontrasse.

Quando chegou na sala, viu o que fizeram na noite anterior, duas capas de chuva e dois pares de botas de borracha, um ao lado do outro. A dele preta e dela amarela. Loki pôs ela no sofá muito rápido, vestindo a capa para a proteger da chuva que caía forte ali fora. Em seguida, pôs um braço apenas, pegando-a novamente no colo, terminou de lhe cobrir com a segunda.

A cada segundo ela tentava puxar o ar com mais força, e Loki sentia seu peito arder tão forte que parecia perder as forças. Parecia pedir um pouco daquele sofrimento para si. Tentava usar algum feitiço de cura, mas era a genética da menina contra sua magia. Para eliminar aquilo, precisaria de algo mais pesado e demorado. Não havia tempo. Annia contava com a habilidade de seu guardião.

O asgardino selou a casa com magia assim que saiu, sentindo o vento gelado e as gotas contra seu corpo. A vinda de Thor não parecia tão boa agora.

Sem pensar mais, começou a correr desesperadamente a caminho da casa da professora. Cortou a rua correndo, já estava encharcado. Carros passavam rápido e sua visão estava turva com o vento e...

– Lo...Loki. - ela chamou.

– Não fale, pequena. Espere. Vou te tirar dessa. - ela negou brevemente e tocou no próprio colar, apertando em seguida. Loki lhe deu um beijo na testa, tomando fôlego para correr mais. - Vamos lá, guerreira.

Perto da casa de Sarah, faltando apenas duas ruas, Loki tropeçou em alguma coisa e caiu de joelhos, molhando um pouco da menina. A parte da frente de seu cabelo estava molhada, assim como haviam algumas gotas em seu rosto.

Ao olhar para a criança, viu, além de mais gotas caindo, uma lágrima cair de seu olho direito, enquanto ela sussurrava:

– Socorro...

Loki apertou a menina em seus braços, apertando os olhos, de onde deixou escapar uma lágrima. Olhou para cima, numa última tentativa, pediu:

– Pai... Me ajude. Só uma vez, me ajude.

Quase que imediatamente o moreno viu um raio cortar o céu, e um estrondo ensurdecedor se ouviu. A chuva cessou.

– Obrigado.

Ele sussurrou, ouvindo bem, agora a respiração quase nula de Annia. Ela estava quase desmaiando, então Loki levantou e correu até Sarah.

Quando gritou na porta, batendo forte, ela respondeu de dentro da casa. Estava passando um batom quando ouviu os gritos do homem. O que havia acontecido?

– Senhor Loki! O que houve? - ela abriu a porta rápido para que ele entrasse.

– Annia. Me ajude. - ela viu o desespero em seu olhar. Sua voz grave era falha, e ao ouvir os grunhidos da menina nos braços de Loki, presumiu o que seria.

Correu para dentro, pegando um enorme guarda chuva e sua bolsa. Havia um hospital a um quarteirão dali.

                                 [...]

– Vamos logo! - gritou o médico. - Ficará tudo bem, menininha.

Loki foi barrado na sala de espera, vendo aquela doce menina quase desacordada numa maca, recebendo uma máscara rapidamente. Atrás de si, Sarah parecia tão preocupada quanto ele. Há tempos Annia não tinha uma crise asmática, porém nunca vira uma assim.

– Ficará tudo bem, Loki. - sua voz melodiosa pareceu surtir efeito, e lhe acalmou, mesmo que infimamente.

– Que as Nornas lhe ouçam, Sarah.

                               [...]

– Nunca o vi assim, senhor Loki. Na verdade, nunca imaginei que veria.

– Poucas coisas me tiram o equilíbrio, Sarah. Mas a verdade é que nós somos folhas destinadas a cair.

– Imagino, você não me parece abalável... Ou frágil.

– Fragilidade é nossa beleza no final.

– Sabe, senhor Loki, fez que me lembrasse de uma música. Tides of time. Não sei se faz seu gosto, mas... - ouça, por favor.

A mulher abriu a bolsa, pegando seu celular e um fone. Com a permissão do moreno, os posicionou. Em seguida pôs a música da banda Épica para reproduzir. O toque de violino e piano lhe fez revirar os olhos, e ele fez uma careta ao ouvir a voz aguda da mulher. Sarah resolveu cair na brincadeira.

Loki continuou a ouvir a música, prestando atenção às frases e a bela voz da mulher. Sarah não sabia, mas ele já havia ouvido aquela música. O moreno descobriu apreciar música tarde da noite. Ligava o que chamavam de rádio e escolhia um canal bom. E daria muito para ouvir novamente aquela música. Ali estava ela.

Deixando-se levar pela batida mais pesada, fechou os olhos, apoiando a cabeça na parede. Alguns flashes aleatórios passaram por sua mente. Até abrir os olhos, fazendo seu azul encontrar o âmbar daquela bela mulher à sua frente.

Loki se inclinou à frente, olhando profundamente naqueles olhos. Sem relutar, exclamou.

– Fragilidade é a nossa beleza no final. - e beijou suavemente os lábios corados dela.

Era um beijo incomum para ele. Não havia ali um desejo carnal. Não era isso. Depois de passar tanto tempo olhando naqueles olhos, lembrando de como Annia estava, Loki não prestou atenção que ela seria frágil. Viu sua própria fraqueza, fragilidade. Mas encontrou forças nos flashes que lhe vieram à mente. No sorriso de Sarah; o sorriso que lhe lembrava de como poderia ser feliz. Aquele beijo era como um grito.

Grito de socorro. Grito de guerra. Uma guerra interna. Uma guerra que ainda estava por vir, e que se aproximava com tamanha pressa. Socorro. Loki poderia se proteger de quase todas as armas, se curava fácil, era um mago. Porém se tornou frágil ao lembrar das lágrimas da doce Annia. Quando olhava para aquela criança, ouvindo sua gargalhada, sentia vontade de sorrir também, e aquilo também lhe fazia se lembrar de sua infância, quando não conhecia a maldade da vida.

Loki sabia que era apenas como uma folha. Poderia cair a qualquer momento. Mas se fosse para cair, que vivesse muito antes disso. E desejou profundamente que Annia tivesse ali. A levaria para longe de toda aquela maldade. Um lugar onde poderiam gritar com o sol, dando um sermão por ele se pôr. Ela amava o sol. Assim como Sarah. Ela trazia em  seu rosto um sol.

Se manteve de olho fechado por um tempo, e quando olhou para a humana, que sorria, afastou-se. Alguém se aproximou, os dois em alerta.

– Os familiares de Annia Ross? Ela...


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Notas finais do capítulo

Espero opiniões, amorecos.
Até o próximo♥