As vozes ao meu redor pareciam mais altas a cada momento, todos falavam ao mesmo tempo falando algo diferente, eu nem ao menos conseguia identificar em minha cabeça o que era realmente importante e o que era irrelevante. Dylan parecia tão nervoso quanto eu, estávamos no jardim ouvindo o que todos tinham para dizer. A luta seria hoje à noite, tínhamos uma hora para terminarmos de ajeitar tudo antes de eles partirem para a luta. Dylan e o conselho, já tinham estipulado os vampiros e os caçadores que ficariam aqui para fazerem a proteção das destinadas, Stacy e Jonny ficariam conosco, pois estávamos mais acostumadas com ambos e não estranharíamos tanto. Isso era uma teoria ridícula.

—Majestade, o que faremos com o rei deles? –perguntou uma vampira morena

—Eu o matarei. Será o primeiro a morrer. –ele respondeu

—E se você não conseguir? –perguntou um dos caçadores, me fazendo apertar as unhas na cadeira e suprimir um grito.

—Essa possibilidade não existe. –ele respondeu com a voz irônica.

Levantei-me ouvindo a cadeira fazer um barulho irritante no chão, todos se calaram e eu ignorei os olhares e entrei para a mansão, eu não me sentia bem, minha cabeça estava rodando e meu estomago revirando. Odiava me sentir assim, impotente, fraca, com medo.

Subi as escadas correndo e entrei para o quarto, fui direto para o banheiro e lavei meu rosto, a água fria aliviou a tontura, mas pareceu apenas piorar o enjoo. Prendi meu cabelo e olhei para o reflexo, meus olhos estavam vermelhos, cheios de lágrimas. A imagem da luta veio em minha cabeça e percebi que havia sim uma possibilidade de que Dylan não voltasse para casa.

Aquilo foi o suficiente para fazer com que todo o meu café da manhã voltasse, depois de jogar tudo fora o enjoo passou instantaneamente. Lavei o rosto novamente e escovei os dentes, sai do banheiro e olhei para Samanta que estava sentada na cama alisando sua barriga, que já tinha crescido consideravelmente. Ela parou e me olhou com um pequeno sorriso.

—Está tudo bem? –ela perguntou se levantando e pegando minhas mãos, ela me guiou até a ponta da cama e fez com que eu me sentasse ao seu lado. Respirei fundo e dei um pequeno sorriso olhando para o chão

—Não estou acostumada a ficar observando. –eu disse com a respiração irregular

—É eu também não, isso ainda é estranho para mim, mas estou tentando pensar no bem do bebê, então não me opus a nada disso. Mas eu não me referia ao seu resessentimento de não lutar essa noite e sim a você ter vomitado há alguns segundos atrás.  –ela disse sorrindo

—Ah claro, estou melhor. Devo ter comido algo estragado. –eu disse fazendo um coque no cabelo

—Ok, você sabe que Dylan vai ficar bem não é?

—Eu imagino que sim. Espero que sim. Mas ainda não me sinto confortável para discutir isso. Só de imaginar, o enjoo volta. –eu disse me levantando e pegando um copo de água.

A porta foi aberta e Dylan entrou me olhando um pouco curioso. Continuei bebendo a água tentando me acalmar.

—Sam pode nos deixar sozinhos? Alexander está esperando por você no corredor. –ele disse com um pequeno sorriso.

Sam sorriu e se levantou saindo do quarto e fechando a porta em seguida. Dylan a trancou e se virou para mim, ele parecia novamente preocupado. Coloquei o copo novamente na bandeja e apoiei minhas mãos na mesa, ainda me sentia um pouco tonta. Dylan andou até mim e colocou a mão em rosto, ele parecia concentrado em fazer aquilo, como se sentisse medo de eu desaparecer. Na verdade deveria ser eu a temer isso.

Fechei os olhos sentindo sua mão em meu rosto e sorri quando ele me beijou. Eu não estava acostumada a sentir tudo aquilo, o amor, o medo, a felicidade e a confusão ao mesmo tempo, os sentimentos mais distintos, todos juntos em minha cabeça. Eu já havia me acostumado com a ideia de que eu tinha me apaixonado, de que eu era sua companheira e a futura rainha, mas ainda sim, eu conseguia estranhar aquela situação. Eu ali, beijando um vampiro que na primeira vez que o vi tentei mata-lo, que me tirou de uma cabana arrastada, que me obrigou a ficar ao seu lado e que me conquistou mais a cada dia. E que agora fazia com que eu me visse ali, apavorada com a ideia de perdê-lo.

Abri meus olhos e fitei o verde de seus olhos, era impressionante o quanto brilhavam.

—Você está bem? –ele perguntou secando uma lágrima no meu rosto.

—Poderia estar melhor. –eu respondi rindo fraco

—Sinto sua aflição de longe, não quero que se preocupe, já estive em guerras antes, eu ficarei bem.

—Espero que sim, estarei esperando que você volte sem nenhum arranhão. –eu disse o observando.

—Sim senhora minha rainha. –ele disse rindo

—Isso não tem graça Dylan. Você pode...

—Eu ficarei bem, eu prometo. O que realmente me preocupa é você. Prometa-me que ficará bem, que ficará quieta aqui dentro com as outras, onde é seguro. –ele pediu segurando minhas mãos

—Prometo. –eu disse depois de alguns segundos

—Quero te mostrar algo. Fique aqui e eu já volto. –ele disse indo até o closet.

Sentei-me na cama descansando o rosto em minhas mãos enquanto esperava. Dylan voltou alguns minutos depois, ele já estava com a armadura e a espada na cintura. Ele voltou e se sentou ao meu lado, ele tinha em suas mãos uma pequena caixa de veludo vermelho em mãos, ele a abriu e me mostrou o anel de diamantes que reluzia. Encarei o objeto sabendo o que aquilo significava e fiquei em silêncio.

—Eu ia fazer isso quando eu voltasse, mas quero que considere isso como uma promessa de que irei voltar. Eu também estava planejando te pedir em casamento de uma forma mais bonita e mais elegante do que essa, na minha ideia eu estaria até mesmo usando um terno. –ele disse rindo

—Dylan...

—Não. Não fale nada, apenas escute, sua fala é mais tarde e eu não tenho muito tempo. -ele disse colocando o dedo em minha boca. - Eu apenas preciso que você entenda o quanto você significa para mim, quando o Conde me contou sobre você, sobre como seriamos, eu duvidei, duvidei ainda mais quando te conheci. Mas então, depois de alguns dias com você, eu consegui perceber o motivo de ele ter escolhido você para mim, o motivo era que você me fazia querer ser o melhor você me faz ser melhor do que eu nunca imaginei poder ser, e esse é o motivo de eu saber que você é a melhor esposa e rainha que alguém poderia ter. Você e eu somos opostos em algumas situações e é por isso que sei que dará certo, você é tudo o que eu já sonhei para mim e não falo apenas de mim como Dylan Vladescu, falo também como Dylan McCartney, o humano que foi transformado em um monstro, que teve o coração paralisado e que voltou a bater graças a uma humana, uma caçadora. Então, Selene Lilian Collins, você aceita ser minha esposa? –ele perguntou

Senti as lágrimas caírem em meu rosto e sorri o beijando. Ele retribuiu e então me abraçou, quando eu me soltei eu fechei a caixa e a coloquei em suas mãos.

—Te darei a resposta assim que você chegar da luta. Guarda o anel para mim? –eu pedi segurando seu rosto.

—Estou guardando-o para você antes mesmo de você ter nascido. –ele disse sorrindo

—Eu te amo. –eu disse baixo

—Eu também te amo. –ele disse me beijando

Andamos juntos até a sala onde as eu e as destinas ficaríamos. Os guardas já estavam do lado de fora e alguns do lado de dentro, as portas eram de prata para que nenhum lobo pudesse tocar nelas. Dylan me entregou minha espada e entrou dentro na sala comigo.

Lá dentro haviam três enormes sofás de veludo preto, uma mesa de madeira, um pequeno frigobar, uma TV, um aparelho de DVD com vários filmes ao lado e uma estante cheia de livros no canto. Alguns guardas estavam posicionados com enormes espadas e armas em mãos, alguns vampiros e outros caçadores. Sam e Lucia estavam sentadas cada uma em um dos sofás, Sam estava segurando as mãos de Alexander e Lucia abraçada em Simon. Stacy e Jonny estavam em pé no canto conversando.

Suspirei e me virei para Dylan pegando minhas armas.

—Apenas para que eu fique um pouco menos despreocupado. –ele disse com um pequeno sorriso.

Ele andou até Samanta e deixou sua espada ao lado do sofá dela. Ela deu um sorriso agradecendo e ele voltou para perto de mim beijando meu rosto.

—Eu volto. Prometo. –ele disse baixo

Assenti e o abracei. Alexander e Simon se levantaram saindo da sala com Dylan, eles se viraram e olharam para trás novamente.

—Matem qualquer coisa que tentar machuca-las. Isso é uma ordem. –disse Dylan para os guardas.

—Sim senhor. –ouvi-os dizer em coro

Olhei para Dylan pela a última vez e fitei seus olhos verdes enquanto as pesadas portas de prata eram trancadas por dentro por dois enormes guardas e senti uma pequena lágrima cair do meu olho esquerdo.