Meu Deus...

Não que eu siga uma vertente religiosa específica, porém preciso de intervenção divina agora.

Eu ainda não entendi muito bem o que aconteceu e estou meio perdida enrolada em um edredom, fazendo dele uma espécie de cabaninha, enquanto a Pumpkin está miando ininterruptamente por ter uma dona capaz de passar horas sem colocar sua sagrada ração no pratinho. Aposto que ela está miando ameaças sobre como eu serei escrava na construção de monumentos felinos quando os gatos finalmente dominarem o mundo.

Só que eu não posso alimentar Pumpkin ou sair da cama agora. Não posso e não quero. Vou ficar aqui para sempre ou até esse domingo tenebroso e confuso acabar depois do que aconteceu ontem.

Oh! Espera! Eu não contei o que aconteceu ontem. Eu poderia pedir desculpas, mas estou isenta porque perdi totalmente a cabeça, logo todas as minhas ações não podem ser passíveis de punição.

Bem, eu vou contar para vocês o que aconteceu ontem no famigerado show do Utakata que aconteceu no Karaokê de Kakashi, o barman.

Então vamos recapitulando porque eu sempre quis contar uma história que remontasse fatos passados para revelar um segredo chocante no final. E foi chocante e arrasador, eu garanto.

Oh... Pumpkin está me olhando feio e esse quarto está muito escuro, acho melhor alimentá-la antes que ela me mate e ninguém perceba. Sim, Pumpkin tem uma espécie de segunda personalidade letal quando está com fome.

— Estou me levantando, monstrinha.

Nossa, eu estou muito esquisita só com a camisa estampada com Chewie e o Han Solo que eu roubei do Sasuke e os cabelos soltos e bagunçados. Se ele chegasse aqui e me visse desse jeito...

Não, Sasuke não virá aqui depois de ontem.

Foi engraçado o jeito como Pumpkin se jogou na ração desesperadamente, fiquei com pena dela.

Certo... Estou me distraíndo.

Vejamos, agora eu vou falar aquela frase batida, porém muito eficiente:

Tudo começou quando...

Ontem.

Pois é, para não enrolar mais que o necessário, vou logo para a parte em que estou neste quarto vestindo uma roupa legal para ir ao show enquanto Hinata fazia sua maquiagem. Ela estava comigo pela simples razão de que eu a convidei então nada mais justo que ela fosse comigo.

Eu me sentia muito rebelde e devassa ao enxergar no espelho aquela garota de cabelos rosas recém-retocados usando apenas uma calça de vinil preta e um sutiã rendado azul cobalto. Uma parte de mim ficou insegura sobre usar um batom matte de tom nude, mas ficou perfeito com os olhos bem marcados no delineador e esfumaçados de marrom. Estava como uma deusa do rock preparada para fazer o mundo me venerar apenas com um acorde da minha guitarra imaginária.

Certo, alguém aqui acreditou que eu sairia apenas de calça de vinil e sutiã mesmo?

Minha camisa branca de linho estava muito bem-acompanhada de uma jaqueta de couro preta, um par de ankle boots e uma echarpe azul escuro em cima da minha cama. E com tudo isso eu passei a terminar de me vestir.

Não reparei direito em Hinata, mas a achei bonita usando uma calça jeans e uma blusa florida solta e de mangas compridas, ela estava com um visual meio boho que definitivamente combina com ela. O problema era aquele semblante meio pra baixo que já estava me irritando.

— Hinata, você realmente quer ir?

— S-sim... Sim, eu quero ir. Estou precisando.

— Sabe, eu nunca te perguntei nada, mas... Não acho normal você ficar tão triste por um cara, mesmo o amando, principalmente se considerarmos que vocês nunca tiveram alguma coisa mais séria — movi as mãos de um lado para o outro mostrando minha confusão. — Bem, não acharia normal mesmo se vocês tivessem uns três anos de namoro, só que a questão não é essa. Hinata, o que realmente houve entre você e Naruto?

Vi a garota andar de um lado para o outro estalando os dedos nervosa até sentar-se na cama, quase fiquei com pena, todavia achava mesmo que estava na hora de saber porque esses dois estavam tão estranhos.

— Bem... Acho que você lembra quando Naruto e eu nos beijamos algum tempo atrás, certo? — balancei a cabeça concordando enquanto enrolava a echarpe no pescoço — Depois disso, nós começamos a passar um tempo juntos e tudo parecia se encaminhar para um namoro, mas... Não sei! Naruto chegou um dia terminando algo que sequer começamos direito e disse que eu não era uma garota adequada para ele. Eu não entendi nada, Sakura! E só fiquei mais confusa e triste quando ele apareceu namorando com a Jocelyn.

Okay, isso foi bizarro. Naruto sempre foi esquisito, mas nunca achei qur ele fosse do tipo que parte corações gratuitamente, principalmente o coração da Hinata que é uma amiga de anos e anos.

— Ele não indicou nada que explicasse esse comportamento?

— Não, Sakura. Todos os dias eu me pergunto o que fiz de errado e nada me vem a cabeça! Eu não fiz nada para magoá-lo.

Eu fiquei sentida com a tristeza no olhar dela.

— Acredito em você.

Respirei fundo e me agachei em frente a garota pegando as suas mãos.

— Eu não sei o que aconteceu de fato com o Naruto, Hinata, mas você precisa levar sua a vida adiante e se permitir ser feliz de verdade, tentar de verdade. Sei que gosta bastante do Naruto, mas sua vida não é voltada apenas para ele e para o que ele quer. Talvez o que eu diga agora pareça cruel, mas é a última vez que eu te estendo a mão — ela me olhou assustada. — Você sempre diz que irá superá-lo e continua do mesmo jeito, você bebe dessa tristeza toda e isso não está certo. Tenta de verdade, Hinata.

Ela ficou um bom tempo calada e eu me levantei desistindo de ouvir uma resposta, talvez eu não seja a pessoa mais paciente do mundo.

— Você tem razão, Sakura — certo, essa firmeza na voz é nova. — Eu não dependo do Naruto e não posso esperar por ele durante toda a minha vida.

— Agora sim! Vamos? — estendi minha mão para a morena.

— Vamos.

Descemos prontas até a sala de estar onde Sasuke esperava junto de meus pais. Meu amado pai voltou-se para nós nos analisando com uma taça de vinho em mãos

— Ora, ora! Temos uma Joan Jett CEO de uma grande corporação e uma Janis Joplin adolescente.

— A Janis não era punk, pai.

— Mas a Hinata está parecida com ela, oras.

— Certo... — meu pai é um tipo estranho de fato — Sasuke?

— Vamos — ele levantou-se.

Caramba! Como Sasuke é bonito! Ele é como um desses caras que participam de clipes filmados com um filtro cafona sendo o cara mau que faz a garota se sentir bem, ou qualquer coisa do tipo. Ele estava de jeans escuro, coturnos, camisa branca e um lindo casaco marrom de brim. Perfeito. Não tenho palavra melhor para definí-lo no momento.

— Sexy, Sakura.

— Idiota.

— Tsc... — ele encarou Hinata momentaneamente — Você está bonita.

— Obrigada, Sasuke.

— Ei, vocês! — Mamãe levantou-se balançando seu cardigã cinza ao andar meio saltitante, outra mulher estranha. — Eu devo fazer recomendações para vocês, crianças. Afinal vocês são jovenzinhos e sairão por aí curtindo a noite e eu andei lendo um livro... Sakura não me olhe com essa cara porque ao contrário do que você pensa, sim, eu tenho tempo para ler um livro. Retomando, eu li um livro sobre conduta de bons pais e nele dizia...

— Espere, querida! Nós não somos bons pais?

— Bem, de acordo com livro, nosso perfil se encaixa em negligentes.

Papai coçou a cabeça e eu os encarei, a testa franzida, tentando entender onde queriam chegar com aquela coisa toda.

— Querida, olha para a Sakura. Ela é uma menina bem-sucedida para mim. É um pouco diferente de nós, mas é uma boa menina, eu acho — ele acha? — E ela é amiga do Sasuke! O Sasuke é um cara legal mesmo com esse estereótipo de galã adolescente e acho que não há nada de anormal com a amizade deles apesar da atração evidente e suspeita. Somos bons pais, a Sakura é uma filha invejável que atesta isso.

Ele me elogiou mesmo? Okay, mencionou o Sasuke em quarenta por cento do comentário, se exaltou junto de mamãe em outros quarenta por cento, mas foi um elogio. E o que seria uma atração evidente e suspeita?

— Você tem razão, querido. Nesse caso, divirtam-se, crianças!

Sério que ela iria mesmo fingir que não ia começar um sermão minutos atrás?

— Nos fizeram perder tempo, seus esquisitos. Vamos, gente! — abri a porta e saí ainda ouvindo um “uma menina boazinha não responde assim para os pais” seguido de “acho que isso evidencia a personalidade autêntica que ela herdou de nós”. Esses dois...

Eu só sei que Hinata ria baixinho e Sasuke devia estar controlando a boca pronta para lançar um comentário sarcástico que me me faria enforcá-lo com minha echarpe.

— Sakura, não ande tão rápido.

Parei e os encarei com meu pior semblante que fez até Hinata parar de rir.

— Vocês que devem andar depressa.

— Certo, irritante.

***

Chegamos com a banda arrasando em um cover eficiente de I Don't Wanna Get Involved With You dos Ramones. Utakata era realmente bom no baixo e muito sexy no seu modo deus do rock. O vocalista não era nenhum perdedor como West havia dito, mas incrivelmente não chamava tanta atenção quanto Utakata. Qual a probabilidade de um baixista roubar a cena de um vocalista e guitarrista?

Eu olhei para Sasuke por um instante e ele não parecia tão à vontade, porém eu pensei que fosse apenas pelo barulho, o Uchiha não gosta de multidões. Por outro lado, Hinata balançava-se timidamente em um compasso paralelo ao da música e parecia feliz e encantada com o show o que me fez ficar leve e despreocupada por um bom tempo.

Só até as minhas preocupações surgirem em bando.

Quando a irmã de Utakata, segunda vocalista, começou a cantar Because The Night da Patti Smith, minha música, Ino, Temari, Shikamaru, Tenten, Neji, Naruto, Jocelyn e ela, Anna, apareceram.

E aquela garota apareceu repaginada com um vestido curto e solto possivelmente azul, um xale preto, uma maquiagem leve e saltos. Quer dizer:

Um: Ino na tentativa de fazer a garota parecer atraente deu a ela um par de saltos que são desconfortáveis até para um coquetel na Associação da Melhor Idade, imagine para um show! A Yamanaka já foi melhor que isso.

Dois: Anna estava encarando Sasuke determinada ainda que nervosa. Ela veio pronta para tê-lo essa noite e eu achava que iria conseguir.

Três: Ela estava fazendo aquela cena batida e repetitiva de andar como se estivesse em câmera lenta e as pessoas a olhavam admiradas, pessoas do colégio por sinal, enquanto tocava a minha música. MINHA MÚSICA! Eu entendi que você quer o Sasuke, mas querer a minha música é um pouco demais, sua desgraçada! Mal sabe escolher os próprios sapatos e acha que já está pronta para usar a música dos outros como trilha sonora.

— Ei, gente! Showzinho legal! — Ino gritou toda feliz como se uma morte terrível e precoce não estivesse a espreitando — Olha só o meu projeto de outono, digo, a Anna! Ela está maravilhosa, não acham? — Por acham ela queria dizer o Sasuke que estava prestando atenção no show.

— Está bonita, Anna — Hinata virou-se e sorriu delicadamente enquanto acenava para o resto do grupo, voltando a atenção ao show logo depois.

— 'Tá arrumadinha — tombei a cabeça para o lado com um sorrisinho médio.

Apesar da música, ficou um silêncio constrangedor na rodinha enquanto Ino olhava para Sasuke em expectativa e vamos fingir que Anna não fazia o mesmo.

— Saaaaaasuke!

Ele olhou a loira devagar.

— O quê?

— Não vai nos cumprimentar?

— Oi.

Ino bufou frustrada e eu dei uma risadinha. Vi que Tenten foi aproximando-se do palco enquanto Neji ia disfarçadamente, ou nem tanto, atrás dela. Temari e Shikamaru foram dançar agarrados ou Temari foi dançar com um poste que era o Nara sempre indiferente e preguiçoso. Logo só ficou gente desagradável e constrangedora ali: Ino, Anna, Naruto e Jocelyn. Uma morte por asfixia seria melhor.

— Sasuke! É descortês não elogiar uma dama ao encontrá-la! Eu relevarei isso porque te conheço e Jocelyn só consegue se interessar pelos elogios do Naruto, mas você não pode fazer uma desfeita dessa com a Anna que é nossa novata — nossa? — e se arrumou tão lindamente, com minha ajuda, é claro.

Quanto desespero! Isso é humilhante, estou quase com pena da Anna e sua cara de constrangimento.

— Olha só, vou te ajudar! Como você acha que Anna está?

— Bonita? — ele levantou os ombros e franziu a testa.

— Droga! Você não sabe mesmo nada sobre as mulheres. Anna, o Sasuke é desse jeito, mas está tudo bem, vamos curtir o show! A noite só está começando... — ele piscou para o Uchiha de um jeito sugestivo — Sakura, converse com o Sasuke sobre o jeito dele, por favor!

Vai sonhando, Yamanaka.

— Até mais, gente — Anna acenou olhando mais para Sasuke do que qualquer outra coisa.

— Ei, idiota! Como vai? — nossa, eu havia me esquecido de Naruto e aquele creme de jiló que ele chama de namorada — Meninas, boa noite!

— Bem.

— Boa noite, Naruto. Jocelyn.

Olhei preocupada para Hinata, todavia a mesma parecia ligar mais para a performance de Call Me do Blondie do que para o grande amor de sua vida com outra garota bem ao seu lado. Não pensei que meu discurso faria tanto efeito, me sinto como a Oprah.

— Quase não te vejo mais, Sasuke. Tá distante e esquisito — Naruto gritou já que o som abafava sua voz, Jocelyn apoiava-se nele reclamando do lugar abafado.

— Eu estou distante e esquisito? Tem certeza?

Naruto sorriu e coçou a cabeça sem graça e depois franziu o cenho irritado.

— Não há nada errado comigo, se é isso que está pensando. Talvez seja apenas você que anda passando tempo demais apenas com a Sakura.

— Não me meta nos seus assuntos, bastardo.

Andei para frente cortando o loiro e passando a prestar mais atenção ao show. Sério, eu odeio esse espectro dissimulado e arrogante do Naruto. Só Sasuke tem paciência com ele nesses momentos.

Abracei Hinata pelos ombros e nos embalamos ao som de mais uma música, ela parecia feliz e encantada. Depois pergunto o que houve.

— Naruto disse que não havia necessidade de tanta grosseria da sua parte.

Me arrepiei completamente com Sasuke falando ao meu ouvido e agarrando a minha cintura. Suspirei e respondi com a voz trêmula:

— Eu quero que Naruto vá a merda.

— Ele acha que você o odeia.

— Atualmente ele não está totalmente errado.

— Nós quase brigamos.

Virei-me para ele assustada.

— Por quê?

— Porque ele é um imbecil que não aguenta ouvir algumas verdades. Agora foi se agarrar em algum canto com a namorada.

— Que droga, Sasuke.

— Hn.

Passamos o resto do show juntos, meu braço esquerdo apoiado nos ombros de Hinata e minha cintura levemente apertada pela mão de Sasuke. Quando o show encerrou com um bis de Because The Night que Sasuke pediu por minha causa, umas músicas animadas começaram e ficamos por lá de bobeira.

— Você veio, Sakura!

— Oi, Utakata!

O bonitão veio até nós secando o suor com uma toalinha.

— Acho que você já conhece o Sasuke, essa aqui é Hinata Hyuuga, uma amiga.

— Sasuke... — ele acenou com a cabeça. — Olá, Hinata! Vi você lá do palco dançando, espero que tenha gostado do show.

— Eu gostei muito, vocês são ótimos — Hinata parecia animada mesmo com toda timidez.

— Obrigado! Então, gosta de punk rock?

— Na verdade nunca ouvi... — ela confessou envergonhada.

— Sério? Hinata, você está perdendo um mundo vasto. Posso te apresentar qualquer dia desses.

— Isso seria legal.

Sorri com a conversa mais descontraída que Hinata tinha em semanas, isso até Utakata me estender a mão:

— Vamos dançar, Sakura?

Olhei confusa de Hinata para Sasuke, esse último com a sobrancelha arqueada, e ofereci minha mão.

— Tudo bem! — aceitei em meio a uma risada nervosa.

Começamos a dançar animadamente, Utakata era bom nisso e logo eu estava dando risadas e movendo o corpo ao som da música. Ficamos revezando a dança com Hinata já que Sasuke não parecia muito afim de dançar e Utakata a fazia girar e rodopiar batendo de vez em quando em alguém.

Eu parecia cada vez mais animada enquanto Sasuke parecia cada vez mais irritado, me perguntei se ele tinha algum tipo de rivalidade com Utakata. Quando virei para indagar a ele qual era o seu problema, Ino apareceu.

— Testuda, vou roubar o Sasuke de você!

— O que quer comigo, Ino?

— Ah, preciso de você para algo urgente! Vamos?

Pensei que o Uchiha iria recusar mas ele apenas seguiu a Yamanaka sem nem se despedir de mim. Fiquei lá, com cara de boba.

Estava com um sentimento ruim que decidi ignorar para meu próprio bem. Tenten passou xingando provavelmente o Neji até que eu a puxei e a fiz parar.

— O que houve, garota?

— Nada! Quer dizer, tudo! Neji é um babaca!

— O que ele fez dessa vez?

— Estragou meu lance com o vocalista da banda, simples assim!

— Sério? — Eu estava mais surpresa por Tenten ter conseguido algo com o cara da banda do que com o velho ciúme mal-disfarçado do Neji.

— Pois é... Ei! Hinata parece animadinha dançando com o Utakata. E você?

— Estava fazendo companhia ao Sasuke, mas ele saiu daqui com Ino e ainda não voltou.

— E nem vai voltar!

— O que quer dizer?

— Você nem sabe, mas Ino bolou um plano para fazer Sasuke e Anna se beijarem. Parece que a garota gosta dele e a Ino adora ser a cupido.

Meu Deus... Não podia ser!

— Isso é sério?

— Sim. Ino disse que o plano é infalível o qualquer coisa do tipo. E se eu conheço a Yamanaka, uma hora dessa Sasuke deve estar conhecendo a boca da Anna com a dele.

Eu estava petrificada. Não podia ser! Não podia! Eu queria morrer.

— A Ino é muito assim, não é? — me forcei a dizer para Tenten não pensar detectar nada sobre mim.

— Sim! Mas pensa que daqui a alguns dias você vai ter uma cunhadinha já que Sasuke e você são como irmãos. E a Anna é uma garota tão legal e boazinha, todo mundo a adora.

— Que amor... — eu já suava frio.

— Bom, eu tenho que ir, Sakura. Neji já conseguiu estragar minha noite mesmo. Te vejo nos treinos!

— Tchau, Tenten...

Que dor! Eu me sintia perdida e triste. Hinata ainda dançava com Utakata então eu decidi ir ao banheiro para jogar uma água no rosto.

Assim que me olhei no espelho vi uma garota totalmente derrotada. Então a roda do destino girou e a trajetória romântica de Sasuke e Anna começava. Enquanto isso eu ficaria sozinha vendo meu amor construir uma vida com outra.

Saí do banheiro decidida a ir embora quando fui parada pela voz do DJ anunciando:

“Garota que gosta de punk rock, é linda, cheia de atitude e ri quando está dançando, Utakata West gostaria de beijá-la na pista de dança agora.”

Oh, Deus! Era sobre mim! O que eu faria?

Pensei bastante e decidi que era a hora de deixar muita coisa para trás já que Sasuke trilharia outros rumos. Eu não iria casar com Utakata, apenas beijá-lo, então fui andando em direção a pista de dança com o coração na mão.

Me esgueirava entre pessoas para chegar ao centro da pista, quando cheguei quase lá fui puxada e uma boca se encostou a minha sem que eu pudesse reagir.

Foi um tanto assustador, mas caramba! Utakata tinha domínio do beijo o que me tranquilizou, aliás, não! Me incendiou mesmo! Que beijo maravilhoso! Ele apertava minha cintura com um dos braços e apertava a minha mão com a sua mão livre. O toque de sua lingua na minha era sutil ao mesmo tempo em que seus lábios acariciavam os meus tomando tudo de mim com intensidade. Ele era bom, bom o suficiente para o meu coração saltar.

Ouvi vagamente alguém gritando “Olha! É beijo coletivo!” seguido de um “Vai, Utakata!” e mais aplausos, temi por um momento que Sasuke e Anna estivessem se beijando ao meu lado, mas isso foi só até Utakata morder meu lábio inferior e eu ouvir alguém gritar o nome de Hinata. Ela estava beijando alguém? Me separei de West virando logo o rosto para olhar ao meu redor.

Era estranho. Vi muita gente nos olhando, vi meu grupo de amigos nos fitando surpresos com destaque para Ino irritada de braços cruzados, Naruto furioso e Anna meio deprimida, depois virei para Hinata e... Utakata?! Como assim? Estava confusa demais para lançar-lhe meu olhar “não te disse que era para você superar um cara ficando logo com outro”, então virei-me para olhar meu ficante.

Era Sasuke.

Sasuke havia me dado o segundo e melhor beijo da minha vida!

Sasuke.

— SASUKE! MEU DEUS, SASUKE! SASUKE, É VOCÊ! SASUKE, A GENTE... A GENTE... SASUKE, A GENTE SE... MEU DEUS!

— Sakura...

— SASUKE!

— Calma, Sakura — ele foi aproximando as mãos de mim — Fica cal...

— Euprecisodeáguaagoravocêpodenãoentenderissomaseuvousairdaquiebeberáguaedepoiseuvoltotalvezeunãoseieueueueueu... Eu... Só... Eu só preciso de água.

Saí daquele lugar correndo.

Vi o balcão de atendimento e me joguei em cima dele assustando o barman.

— KAKASHI! KAKASHI, O BARMAN! EU TE CONHEÇO!

— Eu também te conheço, mas por favor, saia de cima do balcão, menina.

— Kakashi, o barman, eu preciso de água e aconselhamento profissional — me recompus, mais ou menos, sentando em uma banqueta.

— Certamente — ele riu debochado.

— Isso é sério, Kakashi, o barman.

Ele franziu o cenho, provavelmente pela forma como eu me referia ao mesmo. Não é como se eu estivesse em meu juizo perfeito de qualquer forma.

— Eu vou buscar sua água. Com açúcar.

— Obrigada!

Minutos depois tomei a água em um só gole ainda desnorteada.

Sasuke Uchiha beijou Sakura Haruno. Beijou e envolveu a língua na história. Sasuke beijou Sakura. Beijou.

Eu parecia uma dessas pessoas que dão entrevista no jornal local alegando que foi abduzida por óvnis enquanto Kakashi, o barman, apenas me olhava esperando pelo meu desabafo.

— Então, você sabe aquele cara que eu te falei outro dia? Ele me beijou aqui mesmo ainda a pouco.

— Ah, sério? — ele debruçou-se presunçoso sobre o balcão — Então eu ganhei a aposta.

— Não tão rápido, Kakashi, o barman! Nós não estamos juntos, só nos beijamos e isso é muito confuso. Fora que aquela garota que eu também te falei está aqui e ela que deveria ter sido beijada por ele.

— Mas não foi, garota. Quem beijou o garoto foi você. As possibilidades não importam. Não mais.

— E o que realmente importa?

— Sakura?

Eu dei um pulo assustada.

— Sasuke!

— Você está bem? — ele parecia tão desconfortável quanto eu.

— Sim, eu acho. E você?

— Hn.

— Ei, Sasuke! Conseguiu resolver o que tinha para resolver?

Espera! Kakashi, o barman, conhecia Sasuke?

— Vocês dois...

— Sim, resolvi — Sasuke me olhou estranhamente.

— Ah, sim — Kakashi, o barman, me olhou mais estranho ainda.

— Sakura, precisamos ir. Hinata foi para casa com o Neji e eu quero ir para casa também. Vamos?

Ele estendeu a mão para mim e eu fiquei lá olhando e respirando fundo, decidindo o que fazer. Eu havia entrado em uma realidade paralela surreal. Fechei os olhos por dois segundos, respirei fundo e quando abri, a mão ainda estava lá. A agarrei com força.

— Vamos!

— Boa noite. E desculpe de novo pela fechadura.

Que fechadura?

— Tudo bem, garoto. Tudo será resolvido. E Sakura, isso é o que realmente importa.

— Certo, obrigada. Tchau, Kakashi, o barman — falei já andando com Sasuke.

— Kakashi, o barman?

— É o nome dele, Sasuke.

— Tenho certeza que não é.

***

— Então, o que foi esse negócio de fechadura, Sasuke?

Já estávamos no nosso bairro ainda de mãos dadas, mais por causa da minha letargia do que por qualquer outra coisa, e eu queria saber a história da fechadura.

— Nada demais. Apenas a Ino resolveu dar uma de louca e me trancar com a Anna no banheiro. Ela foi muito esperta ao me atrair para lá, mas não o suficiente para me manter preso.

Então era isso que Ino havia feito? Nossa, que deprimente.

— Quem diria que a aula intensiva de arrombar portas que o Itachi te deu serviria de alguma coisa! Loucura!

— Sim.

— E o que a novata estava fazendo lá? — me fiz de desentendida para colher informações.

— Hn. Ela me perguntava coisas e falava frases que eu mal ouvia, sem falar na mania idiota de apertar a barra do vestido de tão nervosa. Ino acha que sou idiota, eu sei que ela queria que Anna e eu ficássemos juntos, mas não estou interessado.

— Não?!

Não?!

Não?!

Não?!

— Óbvio que não. Ela não faz meu tipo.

Eu estava no meio de um pequeno ataque cardíaco.

— Bem, depois que saí de lá e orientei Anna a procurar Ino e não perder sua carona, fui atrás do barman, ou Kakashi, o barman, como você chama me oferecer para pagar o estrago. Ele disse que não havia problemas e ficamos conversando até... Ah, até um bom tempo.

Eu sei que ele queria dizer até nos beijarmos, mas acho que já estávamos nervosos o suficiente.

— Coitadinha da Anna. Foi uma péssima noite para ela — em todos os sentidos.

— Ela não tem uma mãe prestes a morrer para cuidar?

— Sasuke!

— O quê? Só estou dizendo que ela deve ter prioridades.

Ele não estava errado.

— Esquece, chegamos.

Silêncio constrangedor. Muito constrangedor.

— Então, boa...

Caramba! Ele me beijou de novo! Tipo assim, me puxou e uau! Me beijou de novo. E o jeito como ele apertou o meu corpo foi tão bom, eu me senti quente. Ele dominou meus lábios de forma maestral e foi realmente gostoso e envolvente do jeito como esquadrinhei nos meus melhores sonhos. Porque é claro que Sasuke Uchiha compensa os sonhos de qualquer uma. E ele foi me empurrando de encontro a parede ao pressionar seu corpo contra o meu. Estava no céu, sem dúvida.

Ele terminou o beijo com pequenos selinhos e eu nem lembrava mais o meu nome.

— Sakura...

Eu estava em transe.

— Sasuke, eu...

— Sim?

Acordei. Respirei fundo.

— Preciso dormir. Boa noite, Sasuke!

— Sak...

Nem dei tempo para ele falar entrei em casa depressa e bati a porta.

E tem sido assim que tenho passado esse domingo. Remoendo o que aconteceu. A parte que não está chocada está mais apaixonada, o que me faz ter medo do amanhã.

Porque talvez exista uma chance de ficar com Sasuke Uchiha.