Weight of Love escrita por Stormborn


Capítulo 14
When the lights go up you'll understand


Notas iniciais do capítulo

É tão bom estar de volta! Acreditem, eu fico mais animada com capítulo novo do que vocês.
Como sempre, gostaria de agradecer as reviews que recebi nesse meio tempo. Leio tudo assim que chega notificação pelo email, pena que acabo esquecendo de responder depois e quando vou ver já se passaram semanas e eu fico com vergonha. Alguém mais passa por isso?
Gostaria também de agradecer a uma recomendação que me tocou muito quando eu li, a ponto de quase me arrancar umas lágrimas. É graças a ela que essa atualização saiu mais rápido (para os meus padrões, 5 meses de espera não é nada, vocês sabem disso...) do que eu poderia imaginar. :)
Enfim, boa leitura para os que perduraram!



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Um som agudo e incessante começou a ecoar pela clareira um segundo antes de Sakura conseguir enfim tocar no sino preso em seu cinto. 

— Não! — ela sibilou em resposta.

Itachi sorriu e deixou a cabeça cair de volta na grama, controlando a respiração para não denunciar o quanto seu corpo estava grato pela interrupção do cronômetro. Sakura realmente o cansara aquela manhã. 

— Um segundo! Eu estava quase...

— Um segundo pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma missão. — ele interrompeu suavemente.

Sakura endireitou o torso e alguns fios de seu cabelo rosado grudaram na bochecha, colo, e onde mais seu corpo se encontrava coberto por uma camada grossa de suor. O sol forte de verão a deixava reluzindo, corando em excesso os trechos já avermelhados pelo exercício. Seu peito subia e descia aceleradamente em busca de ar.

Itachi dificilmente a vira mais bonita na vida.

Sakura abriu a boca para argumentar, mas se decidiu contra. Ela, como uma ninja médica, sabia mais do que ninguém o peso de um mísero segundo. Frustrada, ela tirou o peso do corpo dos joelhos e jogou contra o que estava debaixo dela: ele. Itachi fingiu não ser afetado pela proximidade para não deixá-la constrangida - estava claro pela sua expressão que ela sequer percebia a situação em que estavam.

— Eu ia conseguir pegar o sino se tivesse mais tempo? 

Não, foi o seu primeiro pensamento, porque ele já havia calculado, no mínimo, seus próximos cinco movimentos. — Talvez. — A mentira escapou com facilidade de seus lábios, apesar disso. Ele precisava encorajá-la, não aumentar sua frustração.

Essa era a última semana que ele tinha disponível para prepará-la para a ANBU. Nem ele sabia o que a esperaria - como ele disse na primeira vez que conversaram sobre o assunto, as avaliações mudavam todos os anos, e eram feitas especialmente para cada candidato - mas Itachi estava confiante que havia passado tudo o que poderia em tão curto tempo.

Agora tudo dependia dela.

— Seria mais fácil se eu pudesse te ameaçar com spoilers de um livro que você quer ler. — ela disse, seu humor levantando.

Ele riu suavemente. — Felizmente não compartilhei meus hábitos de leitura com você.

Sakura acompanhou sua risada, seu corpo relaxando totalmente acima do seu. Itachi ergueu uma das mãos e retirou delicadamente o cabelo dela que teimava em ficar no seu rosto, colocando-o atrás da orelha. Seu coração pareceu bater um pouco mais rápido quando ela pressionou a bochecha contra a sua mão, procurando e desejando mais do seu contato.

Como uma nuvem passageira, o clima profissional ameaçava se dissipar.

— Você poderia explorar outras fraquezas. 

— Acho que você já aprendeu a lição sobre se deixar levar pelo meu rostinho bonito enquanto treinamos. — ela sussurrou acusadoramente, um largo sorriso em seus lábios.

Itachi teve o autocontrole de não enrubescer. No primeiro dia em que se encontraram nos campos de treinamento após aquela noite, ele teve certa dificuldade de se concentrar. Tudo nela parecia desconcertá-lo, e a proximidade enquanto trocavam golpes de taijutsu apenas o lembrava do quanto ele desesperadamente sentia falta de seu beijo, seus toques. Dois ou três socos que o pegaram desprevenido fizeram o serviço de recobrar sua compostura, no entanto.

— Você poderia explorar minha falta de estamina. — ele disse, fingindo ignorar seu comentário.

Ela estalou a língua. — Você não iria se cansar antes de mim nem que eu tentasse muito. — antes que Itachi pudesse retrucar, ela continuou apressadamente: — Mas tudo bem, vou ter isso em mente.

E ela realmente teve. Quando eles se desvencilharam e retomaram o treino, o relógio sendo marcado mais uma vez para apitar duas horas depois, Sakura fez o que tinha que ter feito desde o início - ela forçou que ele acompanhasse seu ritmo, não o contrário. Se ela não tivesse gastado tanta energia e chakra na sessão anterior, Itachi sentiu que ela enfim teria arrancado dele o sino dessa vez.

Itachi não pôde deixar de se divertir com as peculiaridades da vida. Kakashi, enquanto seu mentor na ANBU, o fizera passar pelo teste dos sinos. Para a surpresa do mais velho, Itachi não precisou de meia hora para pegar não só um, mas os dois sinos dele. Provavelmente foi naquele momento que Kakashi percebeu que ele era um garoto especial, e não deixou de orientá-lo até sair de vez da organização.

Era apenas justo que outro aluno de Kakashi lhe desse o troco pelos sinos.

— Amanhã eu consigo. Te derrotar. — ela disse entre uma respiração pesada e outra quando já estavam sentados sob a proteção de uma sombra.

— Me derrotar? — ele respondeu, o divertimento fazendo seus lábios arquearem. — Não está levando isso para o pessoal, está?

Sakura tomou um longo gole da garrafa d’água em suas mãos e secou o suor com uma toalha antes de responder, um sorriso iluminando seu rosto. — Claro que estou, não é justo que você ganhe o tempo todo. E nem se esforce para isso.

Itachi se ajeitou contra o tronco da árvore que lhe servia de apoio e olhou para Sakura em confusão por um momento antes de se lembrar que, bom, ele tinha anos de prática para mascarar cansaço em frente a um adversário. Não era de se surpreender que ela visse suas vitórias como fáceis.

Num impulso, ele agarrou uma de suas mãos delicadamente e colocou contra o seu peito, bem acima do coração. O tecido fino da camisa mascarava muito pouco o vai e vem constante, os batimentos acelerados. Os hipnotizantes olhos verdes se arregalaram ligeiramente, e ela soltou uma exclamação de surpresa.

— Eu só escondo melhor do que você. — ele disse em voz baixa, seus dedos se apertando ao redor da mão dela.

Uma pequena parte de sua consciência registrou com certo pânico que ele estava se colocando numa posição de vulnerabilidade para ela. De novo. Velhos hábitos morrem com muita dificuldade, e Itachi teve de se controlar para não se afastar bruscamente. Sakura sorriu, e algo no brilho de seus olhos denunciou que ela talvez entendesse parte de sua luta interna.

— Você precisa me ensinar a esconder melhor as coisas. Eu sou um livro aberto. — ela disse suavemente, se aproximando dele.

Ele soube imediatamente que ela estava se referindo aos seus sentimentos. Essa era a sua maneira especial de dizer que ele não estava sozinho nesse barco. Ela, assim como ele, estava colocando o coração em suas mãos.

Nesses momentos ele entendia com muita clareza como havia chegado nesse ponto. Sakura sempre parecia entender. Ela tinha uma aura de receptividade tão grande e verdadeira, uma vontade de confiar primeiro, perguntar depois. Oferecer redenção para o seu pior e amor incondicional para o resto. 

Ela não sabia absolutamente nada do seu passado. Das coisas horríveis que foi forçado a ver e fazer. Ela não conseguiria chegar a imaginar a pilha de corpos empilhados no seu armário, e ainda assim… ela entendia. Ela sabia que ele era a soma dessas pequenas tragédias, prodígio do clã e da vila, mandado muito novo para sujar as mãos, e ainda assim o enxergava como muito mais do que isso.

Haruno Sakura o enxergava como ele gostaria de se ver.

Não havia treinamento nenhum que o tivesse preparado para isso. Para ela.

Não era nenhum mistério que ele tivesse cedido à tentação sem resistir demais.

Itachi a encarou com uma intensidade que ele esperava transmitir tudo que ele ainda não conseguia deixar escapar em palavras. Ela se inclinou, bochechas coradas e tudo, para dar-lhe um beijo tímido. Sakura, com seu gosto de primavera e novos começos, fez sua cabeça girar.

Ele estava prestes a puxá-la mais para si quando Sakura interrompeu o contato, encontrando seus olhos por alguns segundos antes de sorrir envergonhadamente. Sakura, que enroscava as pernas ao seu redor numa noite chuvosa e sentava no seu colo sem piscar duas vezes, mas incapaz de iniciar um beijo sem corar da cabeça aos pés. 

Ele riu em divertimento quando ela se pôs de pé num pulo, dando as costas para ele, sem dúvida querendo esconder o rosto avermelhado. Itachi se levantou e foi até Sakura, abraçando-a pelas costas, uma mão firme em sua cintura para que ela não pudesse fugir, e sussurrou em seu ouvido:

— Você não precisa esconder nada de mim.

Ele fingiu não notar o arrepio que percorreu o corpo dela, pelo seu próprio bem, e deu um beijo rápido em sua bochecha antes de se afastar para recolher seus equipamentos que haviam ficado espalhados pela grama. Após alguns segundos, ela se juntou a ele, um sorriso que ela parecia não perceber nos lábios.

Eles voltaram lado a lado para a extremidade da floresta, onde os portões para a vila se encontravam. Em determinado momento, Itachi avaliou pela posição do sol que já passava de meio-dia. Eles ainda tinham algumas horas juntos antes que Sakura precisasse ir para o hospital começar seu turno. 

— O que quer fazer agora?

— Tomar um banho. — ela disse, rindo. — Mas eu posso fazer isso no hospital. Almoço seria uma boa, daqui a pouco vou ficar com fome.

— Você pode tomar banho enquanto eu faço o almoço. — ele ofereceu. — Prometo não fazer bagunça na sua cozinha.

Sakura mordeu o lábio inferior e pensou por um segundo. Ela, sem dúvida, assim como ele, estava se lembrando da última vez que ele pisara em sua casa. Itachi balançou a cabeça imperceptivelmente, impedindo seus pensamentos de irem por esse caminho. Seu convite fora inteiramente inocente.

— Tudo bem. — ela concordou. — Mas eu quero um verdadeiro banquete.

— Não, senão você vai se atrasar.

— E daí? Tsunade-sama vai estar ocupada demais para perceber.

— Ela vai pensar que eu sou uma péssima influência. — ele rebateu em bom humor.

— Mas você é. — ela disse, seu tom de voz baixo e perigoso.

Itachi não supôs que eles estivessem num lugar apropriado para discutir quem era exatamente a má influência dos dois, então apenas sorriu e manteve o passo desapressado para imitar o dela. 

Eles andaram pelas ruas secundárias de Konoha sem dar as mãos, ou se tocar, mas Itachi tinha certeza que qualquer um que prestasse atenção o suficiente conseguiria ser pelo menos tomado por uma onda de suspeita. Eles estavam confortáveis demais na presença um do outro para significar qualquer outra coisa. Havia uma familiaridade entre os corpos que só nascia da intimidade.

Ele só podia esperar que isso não fosse recebido com alarde.

Quando eles começaram a treinar, Itachi especificou que eles só poderiam se ver nos campos de treinamentos, onde a privacidade nunca era desrespeitada - a menos por Shisui, mas ele não contava realmente. Ele disse que não queria ninguém sabendo o que ele fazia nas horas vagas, principalmente sua família. E, ainda que isso fosse verdade, não era a história toda.

No fundo, ele tinha medo que Sakura fosse afetada pela má reputação que seu clã, que ele, estava começando a readquirir entre os moradores de Konoha.

Ele não suportava pensar que ela fosse ser rechaçada só por ser vista com ele, andar em sua companhia. Tendo isso em mente, ele tentou limitar seu contato para onde os olhos não os alcançavam. Claro, isso durou muito pouco, só o suficiente para que ele percebesse estar sendo estúpido.

Sakura era tão adorada e admirada onde quer que passasse que a proximidade entre os dois provocava o efeito oposto do que ele imaginara. Ao lado dela, ele era menos mal visto, e o símbolo em suas costas perdia um pouco da força e do ódio que costumava incitar. 

Que esse efeito dure mesmo quando as pessoas descobrirem sobre… nós.

Nós.

Itachi piscou uma, duas vezes, balançando a cabeça distraidamente em resposta a alguma colocação que Sakura fizera ao seu lado. Seu coração voltou a acelerar como se ele tivesse acabado de sair do treinamento, e ele teve que se manter duas vezes mais consciente de seus passos para não tropeçar nos próprios pés. 

Nós

E nenhum de seus linda e perfeitamente calculados planos envolvia um ‘nós’.

Como ele havia negligenciado isso até agora?

Antes que sua mente pudesse espiralar para fora de seu controle, Itachi reconheceu um incômodo formigamento atrás da nuca que só a sensação de estar sendo observado conseguia provocar. Ele parou de andar e Sakura o imitou, olhando-o de forma interrogativa. Meio segundo depois, uma figura envolta de preto se materializou a alguns metros de Itachi.

— Itachi-taichou, — o recém-chegado cumprimentou, a voz masculina abafada pela máscara de porcelana. — sua presença está sendo requisitada pelo Comandante.

Itachi sentiu a incaracterística vontade de revirar os olhos. 

É claro que eles arrumariam um jeito de arrastá-lo de volta antes do tempo.

— Agora?

O ANBU assentiu. — Temo que seja importante.

Itachi suspirou quando o agente desapareceu em meio aos telhados de Konoha. Pelo menos ele não seria acompanhado de volta. Ele não precisava se desculpar com Sakura por isso, por não poder valer dos planos feitos - como shinobi, ela entendia que não havia como negar o chamado de um superior -, e ainda assim ele se viu sorrindo apologeticamente para ela, seus dedos coçando para suavizar as linhas de tristeza que haviam se formado no rosto dela.

— Eu te procuro quando for liberado. — ele prometeu.

Itachi não esperou por uma resposta. Um rápido movimento de mãos, alguns selos depois e seu shunshin o levou diretamente à sede da ANBU.

 

[...]

 

— Alguém brigando do lado de fora do hospital?

Kakashi, sobressaltado, voltou-se para Naruto. Ele quase esquecera que não estava sozinho. 

— Hum?

O loiro apontou a janela com a cabeça. — Você não desgruda o rosto daí.

Kakashi teve a decência de parecer culpado ao ouvir a pontada de ressentimento na voz de Naruto. Ele não estava representando bem o papel de um ex-professor preocupado, ainda mais sabendo que o garoto estava trancado naquele quarto de hospital há sabe deus quanto tempo sem receber visitas. 

No seu lugar, Kakashi teria fugido antes mesmo que as enfermeiras pudessem piscar.

— Ah, eu pensei que tivesse visto uma ex-namorada precisando de ajuda para levar as compras. — ele coçou a cabeça em falso embaraçamento.

Naruto franziu o cenho e vasculhou as ruas de Konoha de onde estava deitado.

— É mesmo? Como ela é? — o garoto perguntou, cheio de descrença.

— Você sabe, ruiva, baixinha… 

Ele soltou uma risada curta. — Claro.

— Sua falta de confiança na minha palavra me preocupa. — Kakashi disse, sua voz num tom caracteristicamente bem-humorado.

— A menos que você tenha namorado a Sakura-chan, o que me dá arrepios, aliás, — ele falou, fingindo se contorcer. — você só pode ter inventado isso.

— Sakura? — ele perguntou, um pouco surpreso.

— É. — Naruto disse, olhando-o como se ele fosse estúpido. — No momento, ela é a única andando pela rua com essa descrição…

Kakashi deu as costas para Naruto e voltou sua atenção para o lado de fora. Do quarto em que estavam, ele conseguia ver com clareza todos os transeuntes que iam e vinham. Assim como Naruto disse, Sakura era um deles. De compras nos braços e cabelo desgrenhado, ela caminhava em direção ao hospital de forma despreocupada.

Bem, quem poderia imaginar que suas mentiras eventualmente se chocariam com a realidade.

— Sakura não é ruiva. — ele respondeu simplesmente.

— Não me chocaria se você fosse daltônico.

Kakashi deu uma última olhada para o céu de Konoha - o que ele estivera, de fato, observando todo aquele tempo em que ficara fora de espaço - e fechou as cortinas, embebendo o quarto numa escuridão natural e agradável para o horário.

— Imagina ser daltônico e não ver seus lindos olhos verdes. 

Naruto riu, e ele sentiu seus lábios se curvarem para acompanhar o momento.

Era bom ver Naruto rindo, inteiro, não estirado em seus braços com um coração parado.

— Vou deixar você descansar. — ele disse suavemente, descendo do peitoril da janela. 

— Mas você acabou de chegar! — Naruto protestou.

Kakashi parou ao lado de Naruto e deu tapinhas de consolação em sua cabeleira loira. Ele não precisava saber que o real motivo de sua visita ao hospital havia acabado de chegar. Além disso, ele genuinamente se sentia mal por ter de deixá-lo sozinho por mais infinitas horas de confinamento.

Mas o tempo não estava a seu favor, e ele precisava correr.

Ele escapuliu do quarto antes que Naruto o convencesse a ficar mais um pouco e andou pelos corredores estéreis do hospital até alcançar o vestiário feminino do primeiro andar. Ele observou os arredores por alguns segundos, procurou pela presença de chakra no vestiário e ao constatar estar tudo limpo, e que ninguém iria vê-lo, entrou rapidamente na sala.

Esse não era o melhor lugar do mundo para uma conversa particular, mas precisaria bastar.

Ele planejara ficar sentado num dos bancos baixos próximos da parede, mas ao ver que os armários das médicas estavam etiquetados com os nomes, ele não pôde impedir a comichão da curiosidade de lhe invadir. Ele passeou com os olhos e dedos os diversos nomes que não reconhecia, até chegar no que lhe era familiar.

HARUNO, Sakura. Seguido de um desenho de uma flor de cerejeira. Kakashi sorriu e teve um debate muito curto sobre ética consigo mesmo antes de dar de ombros e abrir o armário azulado. Não é como se ele quisesse roubar algo, ou pior.

Sakura mantinha quase nenhum objeto pessoal nesse armário. Kakashi supôs que ela deixasse a maioria de suas coisas no pequeno escritório que Tsunade lhe concedera - privilégios de ser aprendiz da Godaime, Sakura dissera uma vez - e deixasse no vestiário apenas o que usasse diariamente.

Havia uma foto recente do Time Kakashi colada na parte de dentro do armário e outra somente com Naruto, Sakura e Sasuke, de quando estes ainda estavam com seus quatorze, quinze anos. Kakashi não era o mais sentimental dos professores, mas ver que ele conseguira transformar três filhotes de rato em pequenos seres humanos o encheu de um repentino e talvez até mesmo inadequado orgulho.

Inadequado, pois ele sabia que poderia ter feito mais.

Na única prateleira, Sakura deixava bagunçado uma série de inutilidades. Clipes de papel, prendedores de cabelo e trocados - sua mão coçou para que ele pegasse todos. Como um homem muito dado a atender suas vontades, ele enfiou a mão no armário e catou todas as moedas que conseguiu ver, dizendo para si mesmo que não estava roubando Sakura, apenas pegando emprestado. Ele tateou o fundo, onde a luz não alcançava direito, e seus dedos esbarraram num pedaço retangular de papel.

Curioso, Kakashi pegou o papel, apenas para perceber que se tratava de um daqueles brindes típicos do Carnaval que visitava Konoha uma vez por ano: três fotos pequenas tiradas em sequência. Ele não esperava exatamente ver fotos do seu time - afinal, se fosse o caso, elas estariam com as demais -, mas ver recordações da época em que Sakura e Sasuke estavam juntos e supunham que todos eram estúpidos o suficiente para não perceber o deixou ligeiramente surpreso.

Sasuke era uma bagunça muito grande no momento para que ele conseguisse conceber uma época antes de tudo descarrilar.

Kakashi sentiu o chakra de Sakura se aproximar rapidamente do vestiário e arrumou tudo de forma que ela não percebesse de cara que alguém mexera em suas coisas e foi para o banco onde ele deveria ter sentado para esperar desde o início.

Ele fez sua melhor pose de desinteresse antes que ela girasse a maçaneta e desse de cara com ele.

— Quem é que vai ao mercado essa hora da manhã? — ele perguntou com naturalidade, no momento em que Sakura exclamou seu nome em surpresa ou susto.

— O que você está fazendo aqui? — ela perguntou, quase gritando.

— Eu perguntei primeiro.

Sakura o olhou com incredulidade, suas narinas infladas com a vontade de partir para cima dele. Kakashi supôs que fosse seu dia de sorte quando ela se contentou com bater o pé tal qual uma criança contrariada e fechou a porta do vestiário ao entrar. Com força.

— Quem sai do hospital quando todos os mercados já estão fechados. — ela respondeu entre dentes. — Agora você. O que está fazendo aqui?

— Queria te ver antes de sair em missão.

Ela pareceu se acalmar diante disso. — Missão? Solo?

— Uhum. — ele respondeu.

— Logo você aceitando uma missão solo. — Sakura disse, balançando a cabeça.

Ele tinha de concordar com ela. Kakashi fazia de tudo para fugir de missões solo. Nem sob tortura ele admitiria, mas fazer parte de um time por tanto tempo havia deixado-o mal-acostumado. Ele sentia terrivelmente a falta dos seus projetos de shinobi quando estava sozinho por aí.

Mas dessa vez era uma necessidade. Ninguém além dele podia ficar encarregado da tarefa.

— Nada como alguns dias de sossego sem vocês me atormentando.

Sakura sorriu, conhecendo-o bem demais para cair nessa. — Claro, claro.

Sua ex-aluna fez menção de se aproximar do seu armário e Kakashi se levantou bruscamente, parando na sua frente. Ele precisava encerrar a conversa fiada; Kakashi queria estar a quilômetros de distância quando ela descobrisse que seu dinheiro havia sumido da prateleira.

— Você notou algo incomum naquela missão? Pessoas estranhas nos seguindo, coisas faltando da sua bolsa, essas coisas de sempre.

Sakura não precisou de muito para saber que ele se referia a missão em que Naruto quase morrera. Ela endireitou a postura e lançou um olhar rápido para a porta do vestiário. Kakashi fez uma nova varredura do perímetro com seu chakra só para garantir. Se Sakura também se sentia paranoica sem saber os detalhes do que Tsunade lhe contara, ele que não fingiria não estar no limite também.

Ela apoiou as compras cuidadosamente no chão e se recostou na parede, contra o último armário da fileira. Sakura parecia dez vezes mais cansada quando falou:

— Aquela missão não teve nada de comum.

— É verdade. — ele concordou, gentilmente. 

— Você ficou sabendo que os exames do Naruto deram inconclusivos, não é? — ela perguntou, e ele assentiu cuidadosamente. Ele não queria demonstrar o quanto sabia do assunto. — Bom, é claro que deram inconclusivos. As amostras estavam todas sabotadas.

— Sabotadas? — ele fingiu surpresa, arregalando ligeiramente o único olho visível. — Por quem?

Sakura cruzou os braços, olhando mais uma vez para a entrada do vestiário.

— Eu roubei uma das amostras do laboratório quando os resultados saíram. — ela disse em voz baixa, quase sussurrando. Ela não parecia envergonhada pelo feito, no entanto, e isso quase lhe arrancou uma risada apesar da situação. — Mas não diga nada a Tsunade-shishou.

— Por quê?

— Porque eu não preciso que ela pense que eu desconfio do pessoal do hospital.

— E você desconfia?

— Não tenho como responder isso de forma honesta, por enquanto.

Kakashi assentiu, entendendo o sentimento.

— E por que você roubou a amostra ao invés de, não sei, pedir emprestado?

Ela dirigiu-lhe um olhar feio. — Não é assim que um hospital funciona, Kakashi.

Ele coçou o queixo. A noção não parecia nem um pouco absurda na sua cabeça.

— Enfim, — ela continuou, exasperada, antes que ele pudesse fazer mais alguma de suas perguntas brilhantes. — refazendo os testes, conclui que o laboratório não errou. Foi tudo comprometido mesmo.

— Como isso aconteceu? — ele perguntou, genuinamente curioso para descobrir a interpretação dela sobre o ocorrido. 

— Não sei. Kakashi, — ela se afastou da parede e chegou bem próximo dele, segurando um de seus braços com certa força. — eu não cometo esse tipo de erro. Pânico nenhum me faz ser péssima no meu trabalho, muito pelo contrário. Você sabe disso, não é? — sua voz era pouco mais que um suspiro quando falou, mas não havia como negar a firmeza de sua convicção. 

Kakashi olhou momentaneamente para o aperto que ela ainda mantinha em seu braço, depois para os olhos verdes dela. Ele quase estremeceu. Kakashi sentia muito por ela, mas, principalmente, se odiava muito mais quando percebia que após todos esses anos e feitos, Sakura ainda acreditava que ele duvidaria da sua capacidade na menor das provações. Que ele olharia para ela e subitamente veria uma kunoichi recém-graduada da Academia, incapaz de fazer nada certo.

Negligenciá-la seria mais um dos erros que ele não conseguiria consertar na vida.

— Nem por um segundo eu duvidaria disso, Sakura. — ele respondeu suavemente, tentando manter a culpa sob controle.

A intensidade do aperto dela diminuiu consideravelmente. — Certo. Que bom, porque tem mais. Não sei como dizer essas coisas para Tsunade-shishou, então você vai dar para o gasto.

Ela não falou com maldade, mas ainda assim Kakashi se sentiu um pouco ofendido.

— É o que eu ganho por ter você como minha preferida.

— Análises laboratoriais são complicadas, — ela começou, ignorando-o. — eles estavam focados em extrair alguma informação do sangue do Naruto e nada mais. Como não conseguiram, classificaram a amostra como insuficiente e deixaram para lá. Procedimento padrão. — ela esperou que ele mostrasse sinais de estar acompanhando seu raciocínio e ele assentiu, mesmo que não entendesse o ponto. — Quando eu refiz a análise, sabendo que a amostra estava comprometida, procurei evidências na sabotagem. Origem dos elementos presentes, composição, essas coisas. 

Kakashi não fingiria entender como funcionava isso tudo.

— E o que você encontrou?

Sakura hesitou apenas por um segundo.

— Ela foi sabotada mais de uma vez. Aqui, em Konoha, e—

Antes que Sakura pudesse concluir, o som de passos e vozes decididamente femininas alcançaram o vestiário. Estavam muito próximos para que qualquer um dos dois tivesse tempo de trancar a porta - algo que eles definitivamente deveriam ter feito antes - ou desaparecer sem deixar rastros. Sakura nem mesmo teve tempo de se afastar quando a maçaneta foi girada e duas jovens ainda com suas roupas de civis apareceram na soleira da porta.

Elas congelaram na entrada do vestiário, risadas paralisadas no meio do ar.

— Sakura-senpai. Oh. — uma deixou escapar, tão pasma com a visão que ela nem pareceu tomar noção que a voz saíra de sua própria boca.

— Nana. — Sakura cumprimentou, tendo a graça de não parecer constrangida, mas sim irritada.

A garota ao lado de Nana, uma enfermeira que Kakashi jurava já ter tentando arrancar sua máscara enquanto ele estava de cama, soltou uma exclamação um tanto estridente e levou uma mão a boca, seus olhos vermelhos mais arregalados do que ele pensaria ser possível.

— Nana, aquele não é o Kak—

Nana, que parecia a mais sensata das duas, deu uma cotovelada na amiga e interrompeu o que a outra acreditava ser um cochicho. — Ame! Deixamos aquela coisa naquele lugar, lembra? Temos que voltar para pegar.

Ame, uma garota sem dúvida alguma sem tato para entender sutilezas, estava para contradizer Nana quando Sakura respondeu, a voz tão doce que lhe provocou um arrepio na base de sua espinha.

— É uma ótima ideia, Nana!

 — Desculpe pela interrupção, Sakura-senpai. — ela disse, apressadamente já puxando a amiga para longe do batente.

Kakashi sabia que isso não ajudaria em nada, mas ele não pôde resistir em oferecer seu famoso sorriso de olho, uma mão acenando em despedida para as garotas. O rubor de vergonha no rosto de Nana foi a última coisa que Kakashi viu antes de Sakura correr para fechar a porta. Com força.

— Essa porta não vai aguentar mais tanto tempo de abuso.

— Era ela ou você e esse maldito aceno. — Sakura disse, a irritação crescendo. 

A sensação de déjà vu fez Kakashi estalar a língua.

— Eu não fiz nada dessa vez. E o aceno se chama ser educado, será que você não aprendeu nada comigo nesses anos todos?

Sakura escolheu não ouvir sua pergunta retórica. — Você só veio me encurralar no vestiário feminino, Kakashi. Você sabe que elas não vão ficar de bico fechado sobre isso.

Kakashi fez um cálculo rápido de cabeça. — Vai ser a fofoca do almoço.

— Almoço? — Sakura debochou, balançando a cabeça em negação. — Você subestima a eficiência dessas enfermeiras.

— Suponho que o desfecho da nossa conversa vai ter de esperar então. 

Sakura suspirou, fechando os olhos. — Sim. Daqui a pouco elas vão começar a rodear esse lugar como abutres na esperança de ver ou ouvir algo para alimentar a fofoca.

— Você deveria treinar melhor seu pessoal. — ele rebateu com bom humor.

— Acredito que você esteja confundindo minha função nesse hospital. — ela respondeu, dando-lhe um de seus olhares.

Kakashi sorriu, não se importando se isso a deixaria mais próxima de querer socá-lo ou não; ele desapareceria numa nuvem de fumaça antes que ela pudesse levantar um dedo, de qualquer jeito.

Tendo adiado o máximo que podia sua saída da vila, Kakashi levantou as mãos e juntou os dedos para formar os selos do jutsu de teletransporte. Ele estava no meio do processo quando Sakura suavizou a expressão, mordendo um canto da bochecha como se para amaciar suas próximas palavras:

— Tome cuidado nessa missão, Kakashi. — ela sussurrou. — Quem quer que esteja por trás disso se empenhou demais para cobrir os próprios rastros. Não é nenhum serviço de amador. Você pode ser o novo alvo.

De alguma forma, ele duvidava disso. Se essas pessoas estivessem interessadas nele, teriam feito o trabalho naquela noite, e tanto ele quanto Naruto teriam morrido naquela floresta deplorável, sem que Sakura pudesse ter feito nada para salvá-los.

 

[...]

 

Sakura acordou no momento em que sua velha cafeteira foi acionada na cozinha.

Anos de reflexo ninja aprimorado a fizeram procurar imediatamente pela kunai que deixava na cabeceira da cama, somente para relaxar em seguida ao perceber a quem aquela assinatura já familiar pertencia.

Curiosidade sobre o porquê da visita e saudades - não que ela estivesse pronta para admitir isso - a levaram a levantar da cama num pulo. Uma rápida olhadela por entre as cortinas entreabertas denunciaram o céu escuro da madrugada, muitas horas antes do nascer do sol. 

Se eu dormi quatro horas foi muito, ela constatou mentalmente, procurando pelo robe que ela jurava ter deixado na poltrona de canto. Não encontrando, ela partiu para a cozinha de pijama mesmo, parando no banheiro para lavar o sono do rosto e ver quão apresentável estava.

O que, pensando bem, era um tanto frívolo, dado que ele já a vira em condições piores.

O assoalho frio que rangia a cada um de seus passos fazia os pelos de sua nuca e braços se arrepiarem. Ela cruzou o braço sob os seios, na esperança de criar uma barreira entre ela e a baixa temperatura que pegara Konoha e ela de surpresa, se odiando por sempre esquecer de fechar as janelas antes de se deitar.

Quando ela entrou na cozinha, no entanto, o frio se tornou o último dos seus pensamentos. Vê-lo sentado à pequena mesa de jantar, olhando acusadoramente para sua cafeteira, fez uma onda de calor viajar por todo o seu corpo. 

Essa era uma cena que ela poderia se acostumar a ver diariamente.

— Não olhe com tanto desprezo assim, ela faz ótimos cafés ainda. — ela disse suavemente, não querendo quebrar o feitiço.

Itachi ergueu os olhos da máquina e sorriu meio sem jeito.

— Desculpe ter te acordado assim, não sabia que ela era tão… 

— Barulhenta? — Sakura deu uma ajudinha.

— Sim.

Eles ouviram as lamúrias da cafeteira até que ela terminasse de trabalhar em confortável silêncio. Sakura se sentou na cadeira oposta à dele e aceitou quando ele lhe ofereceu uma xícara, sorrindo pela inversão de papéis. A casa era dela, e lá estava ele sendo seu anfitrião.

— Se você pensa que um cafezinho vai me fazer te perdoar por desaparecer por dois dias, você está enganado. — ela disse com bom humor, fechando as duas mãos ao redor da xícara para sentir mais da quentura reconfortante.

A mão dele parou no meio do movimento de levar a xícara até a boca. Quando ele olhou para ela com certo pesar, Sakura quis se chutar pela indelicadeza.

— Desculpe por não avisar.

— Está tudo bem, Itachi. — ela o tranquilizou com um sorriso.

Ele tomou um gole da bebida e esticou sua mão livre sobre a mesa. Sakura a encontrou no meio do caminho, entrelaçando seus dedos aos dele. Itachi tinha dedos longos e finos, muito diferentes dos seus curtos e ligeiramente cheios. A diferença fez seu estômago dar saltos.

Sakura não mentiria, ela às vezes se pegou pensando se a intimidade viria assim tão fácil entre eles. Ela não ousaria dizer conhecer Itachi por completo, mas ele emanava uma relutância de estar em espaços lotados, em campo aberto sob a luz do sol, que só poderia ter nascido da necessidade de se manter distante.

— Vou lembrar de te compensar depois. — ele disse após um tempo, um brilho particular em seus olhos escuros.

Era muito difícil ter dúvidas quando ele olhava para ela daquele jeito, no entanto. 

— Consigo pensar em algumas boas maneiras de você fazer isso. — Sakura murmurou, fazendo sua melhor imitação de uma voz sedutora.

— Aposto que sim.

O sorriso que se espalhou pelos lábios de Itachi fez as pernas de Sakura bambearem.

Devo fazer o primeiro movimento? O que ele vai pensar se eu levantar e sen

— Por que depois e não agora? — ela perguntou antes que seu cérebro pudesse concluir a linha de raciocínio.

Ele pôs delicadamente a xícara de café na mesa e inclinou a cabeça. — Temo que não tenhamos tempo.

Sakura se inclinou na cadeira para ver melhor o relógio pendurado na parede. Ainda eram duas da manhã. Itachi não seria sádico ao ponto de tirá-la de casa antes das seis para treinar, certo? Antes que ela pudesse fazer algum comentário a respeito, ele continuou:

— Meu time parte em missão ao amanhecer.

Sakura sentiu seu coração pesar contra o peito. Seus dedos inconscientemente apertaram mais os deles quando ela se lembrou que ele fora convocado por um ANBU antes de sumir.

— Pensei que ainda tivesse mais uma semana de descanso. — ela disse, tentando manter a decepção fora da voz.

Itachi interrompeu o contato e ela teve de controlar o impulso de choramingar. Levantando da cadeira, ele pegou ambas as xícaras de porcelana e as levou para a pia. Sakura seguiu seus movimentos como se para memorizar sua presença, para quando estivesse sem ela mais uma vez. 

A água já estava correndo há longos segundos quando ela se lembrou que deveria impedir que ele fizesse as tarefas domésticas quando era o convidado.

— Eles precisam do meu time nessa missão. — Itachi disse ao desligar a torneira e parar ao seu lado. Havia uma pontada em sua voz que a fez ter certeza que ele também não estava satisfeito em ser arrastado de volta mais cedo do que o combinado.

— Quem manda ser o melhor shinobi que eles têm. — ela disse em resposta.

Itachi assentiu, a expressão séria, como se ele mesmo já tivesse dito isso para si mesmo em repreensão.

— Enquanto cuidava das preparações, percebi que seria bom ter um ninja médico dessa vez.

Algo no modo como ele escolheu construir a frase fez o coração de Sakura disparar em expectativa. Parecia demais com um convite, uma proposta boa demais para ser verdade. Será? Será que…

— Coloquei seu nome no quadro de missões, mas posso tirar se você não estiver interessada. 

Sakura arquejou, se controlando para não pular da cadeira. Deus, uma missão com o lendário Time 1 de Konoha! Quantas vezes ela já havia sonhado com isso antes? 

Ajudar Shizune a distribuir missões por Tsunade havia ajudado-a a ter uma boa noção dos esquadrões de Konoha. Ela sabia tudo, ou quase isso, sobre suas fraquezas e pontos fortes e para quais categorias de missões eles eram requisitados por clientes ou atribuídos pela lógica. 

O time de Itachi era sempre o mais cobiçado. Clientes ofereciam pagar uma pequena fortuna só para tê-los no jogo, uma taxa apropriada pela possibilidade zero de falhas. Infelizmente para eles, Tsunade nunca deixava a ganância guiar seu trabalho. O Time 1 era um esquadrão de elite, autorizado pela hokage a aceitar missões apenas em emergências. Ou quando Shisui importunava Tsunade o suficiente. 

— Como é a missão? — ela perguntou, pensando que esse deveria ter sido o caso mais uma vez. Ele deve saber que o Time Kakashi não é mandado em missões de alto nível, ela pensou, pesarosamente, Itachi não arriscaria o sucesso de uma missão importante só para agradar.

E ainda assim, a esperança que brotara de repente em seu coração se recusava a morrer facilmente.

Ele hesitou por alguns segundos antes de responder, enfiando uma mão no bolso para recuperar um pequeno pergaminho enrolado:

— Não posso dizer.

— Como não? — ela perguntou, pega de surpresa.   

Itachi ofereceu o pergaminho para ela. Sakura levantou da cadeira e se pôs à frente dele, pegando o rolo pela extremidade livre. Ela o girou nas duas mãos até achar a ponta selada do pergaminho. O símbolo que ela viu no relevo encerado fez sua respiração falhar.

— Isso é…

— Da ANBU. — ele completou suavemente.

O zumbido que invadiu sua cabeça a ensurdeceu até mesmo para as palavras dele. Ela tinha total certeza que seu coração não deveria estar batendo naquele ritmo; ela morreria antes mesmo de entender o que estava acontecendo.

— ANBU? — saiu em um suspiro.

— ANBU. — ele confirmou pela segunda vez, pacientemente.

Certo, ela deveria ter previsto isso. Ele fora convocado por um ANBU aquele dia, afinal. Pelo Comandante, se ela ouvira certo. Fazia sentido que a missão fosse para seu esquadrão da ANBU, não para seu time chunin.

Mas a ideia de que ele a queria numa missão de tão alto nível não conseguia ser compreensível. Isso por acaso era permitido? E por que ele estava fazendo isso? Teria sido porque ele vira potencial nela durante os treinos ou por algum senso de dever que surgiu quando ela se tornou sua… bem, o que quer que ela fosse?

— Eles te deram permissão, Sakura. — Itachi falou, como se pudesse ler seus pensamentos. — Você é a melhor médica da vila, afinal. E nós não temos muitos ninjas médicos na ANBU. Considere esse o seu último treinamento antes do exame.

Treinamento?, ela queria gritar. Não seria um simples treinamento.

Seria sua chance de ver do que ela era feita, ter um vislumbre do seu possível futuro. Seria uma experiência completamente nova. Perigosa? Sim, mas excitante acima de tudo. Ela estaria sabe deus onde por sabe-se lá quanto tempo, tendo pessoas que ela não saberia o nome ou veria o rosto como companheiros, sentindo-se no limite o tempo todo.

Ela sabia que não haveria espaço para erros numa missão da ANBU; ela teria de aprender rápido, e se adequar a dinâmica já pré-existente do grupo. Ela teria de ouvir e agir com eficiência, sem dar espaço para o medo ou dúvida, assim como Itachi passou o mês lhe ensinando.

Seria sua primeira oportunidade de mostrar que ela sabia fazer mais do que curar.

Seria sua primeira oportunidade de verdadeiramente conhecer o Capitão Uchiha Itachi, o shinobi que ela admirou em segredo muito antes de se apaixonar pelo homem que lhe dava os mais suaves beijos de boa noite.


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Notas finais do capítulo

O problema de terminar o capítulo anterior >daquele jeito< foi que eu fiquei encurralada entre ter de saciar vossas vontades (e a minha também) e entregar o ouro logo de cara ou manobrar para fazer mais um pouco de charme.
Obviamente, optei pela manobra.
Vocês esperaram mais de 10 capítulos por um beijo, paciência que uma hora VEM AÍ a cena que eu sei que vocês querem. Até lá, por favor me permitam explorar um pouco mais essa história que eu ocasionalmente gosto tanto de escrever. ♥



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