Weight of Love escrita por Stormborn


Capítulo 12
Have you no idea that you're in deep?


Notas iniciais do capítulo

Peço desculpas pela demora, mas capítulos de transição são sempre complicados. Boa leitura. ❤︎



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O coração de Sakura batia dolorosamente contra seu peito quando Sasuke terminou de transportar os dois para o lado da floresta ocupado pela outra metade do Time 7. Assim que seus pés tocaram o solo, ela ignorou a tontura momentânea e lembrou de respirar. Se desvencilhando dos braços de seu companheiro, ela esquadrinhou os arredores e correu apressadamente na direção de Kakashi quando o viu ajoelhado de costas para ela.

As árvores naquela região eram altas e densas, minando boa parte da luz da lua, e tudo o que Sakura conseguia enxergar à distância com clareza era a cabeleira prateada de Kakashi. Ela sabia, no entanto, que a silhueta distorcida que via estirada a frente de seu sensei não poderia pertencer a ninguém menos que Naruto, e seus passos apertaram inconscientemente.

— Kakashi-sensei! O que aconteceu? — ela gritou desesperadamente ao finalmente alcançá-los.

Kakashi ergueu a cabeça na direção de Sakura, seu único olho visível brilhando de preocupação até mesmo na escuridão, e se afastou de Naruto para dar espaço para sua aluna antes de responder: 

— Fomos atacados. Ele começou a respirar com dificuldade e desmaiou.

Sakura já estava ajoelhada a frente de Naruto quando Kakashi terminou de informá-la, concentrando uma pequena quantidade de chakra nas palmas das mãos para começar o diagnóstico, o tempo todo sussurrando mentalmente que por favor, por favor, que eu não tenha demorado demais, que ele esteja bem, por favor

Ela olhou para o rosto de Naruto e por um segundo suas mãos ameaçaram tremer, apesar dos anos de treinamento. As feições dele pareciam congeladas no seu momento de maior sofrimento. Ele não se parecia em nada com o Naruto que ela conhecia; Sakura queria chorar.

Lutando contra o pânico, Sakura deixou seu chakra fluir pelo corpo rígido de Naruto. Ela sentiu Sasuke se aproximando dela e Kakashi, mas bloqueou os sussurros apressados trocados entre os dois. Fechando os olhos, ela reproduziu na sua mente o percurso que seu chakra fazia, contornando os órgãos, avaliando-os, a começar pelo coração. 

Para seu alívio, ele ainda batia.

Ela soltou a respiração que segurava e terminou de inspecionar cada canto de Naruto mais duas vezes, só para ter certeza de que não havia deixado nada passar e que não havia tirado a conclusão errada.

— Ele vai ficar bem, Sakura? — Kakashi perguntou em voz baixa.

Sakura interrompeu o fluxo de chakra e retirou as mãos do peito de Naruto, assentindo vagamente. Ela se endireitou e procurou na bolsa médica por sua caixa rosa de comprimidos. Encontrando-a, Sakura retirou duas pílulas pretas de dentro e a guardou. Antes que Kakashi pudesse perguntar se ela queria ajuda, a kunoichi ergueu parcialmente o tronco de Naruto com um braço e o fez engolir os comprimidos, um de cada vez, com a mão livre, impulsionando-os com chakra para que ele não se engasgasse.

Ela permaneceu alguns minutos com Naruto em seu aperto antes de apoiá-lo gentilmente de volta no chão.

— Vocês foram atacados? — Sakura perguntou, como se registrando pela primeira vez o que Kakashi falara mais cedo.

Hatake Kakashi suspirou atrás dela e ela se virou para encará-lo, notando que ele estava sozinho. Ela franziu o cenho, olhando de um lado para o outro em busca de Sasuke.

— Ele foi vasculhar o perímetro para ver se os atacantes ainda estão por perto. — Kakashi respondeu, lendo sua expressão. Sakura notou que ele parecia cansado, mas sem nenhum arranhão. — Um shinobi mascarando o chakra passou pela parte da estrada que Naruto estava vigiando, e antes que eu pudesse pará-lo, ele foi verificar. — ele contou, levando uma mão ao pescoço. Seus ombros estavam tensos.

Sakura subitamente se sentiu mal por não ter oferecido um conforto maior a Kakashi quando percebeu que tudo ficaria bem; ele passara pela mesma experiência aterrorizante, afinal.

— Enquanto ele confrontava o shinobi, uma kunoichi apareceu. — Kakashi continuou. — Quando cheguei para ajudar, os dois saíram correndo. Provavelmente não tinham sentido minha presença e se assustaram.

Sakura inclinou a cabeça para o lado, sua expressão demonstrando surpresa. 

— E o Naruto simplesmente começou a passar mal depois disso? Assim, de repente?

— Sim. — ele respondeu, tão desconfiado quanto ela. — Pode ter sido uma reação a bomba de fumaça que eles usaram ao escapar… mas não sei.

— Bomba de fumaça, você diz. — Sakura voltou a olhar para Naruto, pensativa. — Ele não apresenta sinais de intoxicação. E se fosse uma fumaça venenosa, você também teria sentido os efeitos.

Kakashi se pôs ao lado dela, também examinando o garoto desmaiado com pesar.

— Talvez a máscara tenha me protegido? — ele sugeriu sem entusiasmo, sabendo que a ideia era absurda.

— Não, é impossível. — ela confirmou. — O chakra dele foi praticamente zerado em questão de segundos, isso fez o corpo entrar em choque. Ele… deveria ter morrido. — Sakura completou, sua voz um mero sussurro.

Kakashi ficou em silêncio, aparentemente absorvendo a realidade do que poderia ter acontecido aquela noite. 

Sakura, por outro lado, não queria pensar nisso. Naruto ficaria bem; as pílulas que ele ingerira ajudariam seu chakra voltar a níveis aceitáveis em meros dias, ela tinha certeza, uma vez que ela mesmo as desenvolvera. Infelizmente, isso era quase tudo o que ela podia fazer. Ninjas médicos simplesmente não podiam criar chakra do nada.

— Precisamos tirá-lo daqui, Kakashi-sensei. Ele precisa de repouso. — a kunoichi disse, levantando do chão num salto. Ela não se importou em limpar a grama que ficara grudada em sua pele e roupas.

Kakashi assentiu e agachou para pegar Naruto cuidadosamente em seus braços.

— Vamos parar por algumas noites na hospedaria da cidade mais próxima, é melhor que correr de volta para Konoha com ele nesse estado. — ele disse suavemente. Sakura concordou. 

— Você vai à frente, vou esperar o Sasuke-kun voltar.

Com um último aceno de cabeça, Kakashi saltou entre os galhos espessos das árvores, e seu cabelo prateado foi a última coisa que Sakura viu antes dele desaparecer na escuridão. Sozinha no meio da floresta, ela respirou profunda e pesadamente, e permitiu seu corpo enfim sucumbir ao estresse; suas lágrimas caíram de forma silenciosa, e ela se abraçou para se proteger do súbito frio que sentia, mas principalmente da culpa.

Ela era a médica do time. Sakura tinha a responsabilidade de garantir que nenhum de seus companheiros sequer chegasse perto de um encontro com a morte, mas ela falhara mais uma vez. Sakura se sentia de volta a seus dias como genin, e ela odiava a ideia de ainda ser inútil e incompetente como antes. Ela lutara tanto para chegar a uma posição de respeito, num nível em que se orgulhasse de verdade de suas habilidades.

Em algum canto de sua mente, ela sabia que estava sendo emocional demais e que, racionalmente, ela não tinha porque se martirizar. Era padrão que o time se dividisse para cobrir mais terreno nas missões, e que usassem frequências diferentes para não atrapalhar a comunicação a menos que uma mensagem geral precisasse ser enviada. Sakura, no entanto, não conseguia parar de pensar no e se

E se ela e Sasuke estivessem dividindo o mesmo canal que Kakashi e Naruto? Eles certamente teriam sido alertados para o iminente confronto, e ainda que não pudessem enxergar nada do seu lado de vigia, teriam prontamente se deslocado para ajudar Naruto, e talvez…

Talvez tudo tivesse transcorrido diferente.

A verdade é que Sakura poderia continuar se culpando pelo resto da noite, mas, no final das contas, nada mudaria. Ela precisava manter a cabeça no lugar; eles não estavam exatamente no mais amigável dos territórios, e Sakura não tinha o luxo de se manter distraída. Ela precisava ficar alerta.

Cansada de ficar parada no mesmo lugar com um alvo em suas costas, Sakura performou rapidamente os selos do jutsu que melhorara com a ajuda de Itachi. Usando seu controle quase perfeito, ela fez seu chakra se expandir em linhas muito finas, quase invisíveis, ao seu redor, procurando pela assinatura tão familiar de Sasuke. Ela o sentiu quase imediatamente, uma vez que estava muito mais próximo do que ela previra.

Sakura gravou sua localização e desfez o jutsu, ajeitando a mochila de viagem nas costas antes de saltar dentre as árvores para encontrá-lo. Ele estava parado no meio da estrada deserta que levava a cidade vizinha quando ela o encontrou. O poste de iluminação acima dele a permitia ver seu rosto mesmo de longe e, por um momento, Sakura se espantou com a angústia velada que via em suas expressões, mas logo se repreendeu; é claro que ele estaria transtornado, ele ainda não sabia do estado de seu melhor amigo.

Ela saltou do galho para o chão e se aproximou de Sasuke. 

— Sasuke… kun? — ela chamou em voz baixa.

Ele piscou e virou-se para encará-la, seu rosto suavizando ao ver o pequeno e fraco sorriso que adornava os lábios de Sakura. 

— Naruto? — ele perguntou, sua voz mais calma do que Sakura imaginara que sairia.

— Ele vai ficar bem. Kakashi-sensei o levou para uma hospedaria.

Os olhos de Sasuke crisparam-se por uma fração de segundo.

— Qual hospedaria? — ele perguntou, dando um passo em direção a Sakura. Instintivamente, ela recuou.

— Eu… não sei. A cidade é pequena, provável que só tenha uma… — ela respondeu, sua voz tremendo de leve pelo nervosismo que sentia emanando de Sasuke.

Não é que Sakura estivesse com medo de Sasuke - afinal, ele nunca dera nenhum motivo para isso - mas naquele momento, ele a estava deixando ansiosa. Era como se ele tivesse visto algo que o deixara inquieto. Será que ele encontrara os shinobi que estava perseguindo? Talvez eles tivessem mencionado uma hospedaria, por isso Sasuke sentia que não era seguro para Naruto estar naquele lugar?

A mente de Sakura trabalhava impiedosamente, e ela quase não se lembrava de manter a respiração regular mais. Levando uma mão ao braço de Sasuke, ela o olhou nos olhos com apreensão.

— O que foi, Sasuke? Naruto corre perigo indo para lá?

O Uchiha pareceu recobrar a compostura ao sentir o toque nada gentil de Sakura, e após manter o contato visual por extenuantes segundos, sem dizer uma palavra, apenas sorriu apologeticamente e balançou a cabeça em negativa. Sakura não estava nem um pouco convencida, no entanto, mas antes que pudesse pressioná-lo, Sasuke deu as costas para ela.

— Vamos, Sakura, o Naruto pode precisar de você. — ele disse, firme, para desencorajar novas perguntas.

Sakura não era mais a garota boba que se deixava intimidar por Sasuke já havia anos, e em qualquer circunstância não deixaria de confrontá-lo sobre o que a incomodava, mas aquela não era uma situação típica, e alguma coisa na postura de Sasuke a fez morder a língua e simplesmente segui-lo em silêncio até a cidade. 

Ela estava preocupada com Naruto, com a possibilidade de seu quadro deteriorar na sua ausência, pensando que ele poderia sofrer outro ataque surpresa. Sakura não conseguia tirar da cabeça a conversa que tivera com Sasuke, e ficava a repetindo o tempo todo na esperança de encontrar alguma pista ou explicação. Ela não suportava ficar no escuro, mas sabia que não conseguiria nada de Sasuke no momento.

Antes de passarem pela entrada da cidade, os dois mascararam seus chakras. A cidade era predominantemente ocupada por civis, mas eles não queriam arriscar; eles estavam muito longe do País do Fogo, e não era nenhum segredo que as nações mais distantes costumavam não ser muito receptivas a shinobi de Konoha. Eles pediram informações sobre onde poderiam passar a noite no balcão ao lado dos portões e, para a surpresa de ninguém, ficaram sabendo que realmente só havia uma pousada na cidade inteira.

Sakura fingiu não notar a tensão nos ombros de Sasuke ao tomar ciência desse fato e liderou os dois na direção que o informante apontara. A hospedaria tinha a aparência de uma casa tradicional de dois andares, e ao abrir a porta de correr, Sakura percebeu que o lugar não deveria ter mais do que seis quartos para oferecer. 

 — Sejam bem-vindos! — uma mulher à recepção, que não passava de uma sala de estar com um balcão na extremidade norte, entoou melodicamente. 

Sakura parou de observar o espaço quando percebeu estar sendo rude e com um certo embaraço retribuiu a saudação. Ela saiu do meio do caminho para que Sasuke pudesse entrar também e o sentiu congelar momentaneamente no batente. Ela olhou atrás de si, a ansiedade voltando a se manifestar; eles haviam sido seguidos? 

Sasuke franziu o cenho quando encontrou seus olhos verdes e começou a andar na direção do balcão, praticamente ignorando sua preocupação. Sakura começou a se perguntar se talvez estivesse imaginando coisas. Contudo, ela conhecia Sasuke, e por mais que ele tentasse disfarçar, seu desconforto emanava como ondas enquanto ele descrevia Kakashi fisicamente para a atendente.

Aquela situação estava dando-lhe nos nervos.

— Ahn, ele acabou de pedir um quarto. — a atendente disse, um sorriso amigável em seus lábios. Sua franja bem arrumada tampou a visão de seus olhos incrivelmente azuis quando ela se inclinou para conferir o registro de hóspedes. — Ele disse que viriam procurar por ele. Hotake Kamashi, quarto número 3, o segundo à esquerda. — ela completou, apontando para a direção do quarto.

Sakura quase estremeceu ao ouvir o nome falso que Kakashi usara. Francamente! O homem não tinha nenhuma vergonha de ser preguiçoso.

— Muito obrigada! — Sakura agradeceu com uma pequena reverência. Sasuke apenas deu de costas para às duas e se dirigiu ao quarto. Sakura franziu o cenho, mas o acompanhou após acenar para a atendente que parecia ser da sua idade. 

Sakura poderia jurar que, já perto de entrar no quarto de Kakashi e Naruto, ela ouvira a atendente rir em voz baixa, sussurrando “Hotake Kamashi”.

 

[...]

 

— Se você continuar distraído, esse jogo vai acabar em três rodadas. — Shikamaru avisou, abafando um bocejo com uma mão, enquanto a outra movimentava uma peça de shogi. 

Itachi olhou para o tabuleiro e sorriu de leve quando percebeu que Shikamaru tinha razão.

— Parece que você vai finalmente alcançar meu placar de vitórias. — ele disse suavemente, fazendo sua jogada sem nem prestar atenção. Shikamaru fez uma careta ao ver que ele não tentaria montar uma estratégia para reverter sua iminente derrota.

— Não tem graça ganhar quando você não está nem tentando.

— Imagino que não.

Shikamaru suspirou. — Mas se eu deixasse de contar essas vitórias, seria muito injusto para mim. — ele então fez sua última movimentação, sabendo que independente do que Itachi fizesse, ele seria o ganhador.

O Uchiha levantou as mãos em desistência e aumentou seu sorriso quando Shikamaru apenas revirou os olhos de forma preguiçosa, se jogando no alpendre de madeira. 

— Pronto, agora estamos empatados. — Itachi disse, esticando a mão para apanhar a caixa das peças a sua direita para começar a guardá-las. O estalar de madeira contra madeira foi tudo que permeou a varanda dos Nara por alguns instantes.

— Por que você insiste em jogar mesmo quando não quer? — o mais novo perguntou, cruzando os braços sob a cabeça.

— Gosto da sua companhia. — Itachi disse, sinceramente, ao fechar a caixa com as peças de shogi. Ele a colocou em cima do tabuleiro e se levantou para colocá-los no canto, perto da porta dupla de tela que dava para o interior da casa. 

Itachi contemplou se deveria ir embora e deixar o Nara com seus afazeres, mas decidiu contra; ele tinha acabado de chegar, afinal, e ainda tinha muito do tempo que Shikamaru reservava semanalmente para ele e shogi para matar. Sem pressa, Itachi voltou a se sentar no alpendre, as costas contra um pilar, e inclinou a cabeça interrogativamente quando viu que Shikamaru o encarava.

— Você sabe que pode me procurar só para conversar, não sabe? — Shikamaru perguntou com seriedade, seus olhos pretos levemente preocupados.

Uchiha Itachi sorriu e assentiu. Ele conhecia Shikamaru desde que este tinha treze anos e fora promovido a chunin. Ainda que eles tenham saído poucas vezes juntos em missões, haviam passado boas horas ao longo dos anos conversando sobre estratégias, e quando descobriram interesse mútuo por shogi, decidiram se tornar parceiros de jogo. 

Como Itachi confidenciara, ele gostava da companhia de Shikamaru, e não só por este ser um gênio como ele. A vida de Shikamaru era tão simples, suas ambições tão modestas, que era apenas justo que ele acabasse com um homem tão cobrado quanto Itachi como um amigo próximo.

— Bem, — Shikamaru disse, levemente embaraçado. — problemas com o clã?

Os lábios de Itachi retorceram em ironia; ele notoriamente tinha problemas com o clã na maior parte do tempo, mas justo quando Shikamaru perguntara, não era bem ele que parecia encrencado no momento.

— Na verdade, — ele começou em voz baixa. — estou preocupado com o Sa—

Itachi imediatamente parou de falar quando as portas duplas se abriram, sabendo que a mãe de Shikamaru estava em casa. Quem apareceu na varanda o fez endireitar sua postura relaxada num piscar, no entanto. 

Parada no batente, tão surpresa quanto ele, estava Haruno Sakura.

— Oh, Itachi! — ela exclamou, seus olhos ligeiramente arregalados, seus lábios se curvando num sorriso tímido e involuntário. Itachi não pôde deixar de retribuir com um de seus sorrisos que ficavam no limiar entre dizer demais e dizer de menos. — Olá!

— Oi, Sakura. — Shikamaru cumprimentou quando ergueu o torso e pôs um rosto a voz feminina que ouvira. Ele não comentou o fato dela ter se dirigido somente a Itachi quando a casa era dele, mas Itachi sabia que ele era inteligente demais para não perceber o clima.

Sakura pareceu ligeiramente alarmada de não ter percebido Shikamaru antes, e ruborizou um lindo tom de vermelho ao retribuir a saudação do Nara com um aceno desajeitado. Itachi não controlou o sorriso infeccioso que se espalhou por seu rosto.

— Shikamaru! Sua mãe me deixou entrar, desculpa se eu estiver atrapalhando. — ela olhou rapidamente de um shinobi para outro, decidindo se deveria voltar outra hora.

Itachi sentiu o olhar de Shikamaru se demorando nele mais do que deveria e se esforçou conscientemente para ignorar. 

— Itachi não morde, Sakura, você pode sair da porta. — o mais novo disse com humor, sentando de pernas cruzadas após se espreguiçar. 

Sakura soltou um riso frouxo e mordeu o lábio inferior, balançando a cabeça de leve antes de se aproximar dos dois rapazes ao fim do alpendre. Itachi a observou com interesse, achando sua reação curiosa, mas sentiu um calor tomar seu pescoço quando foi flagrado por seus olhos verdes. 

Ele desviou o olhar para Shikamaru, que sorriu deliberadamente após observar a cena.

— Então, — Shikamaru começou, virando-se para Sakura. — como posso te ajudar?

A Haruno limpou a garganta. — Preciso de algumas ervas da Floresta Nara, o estoque do hospital está bem baixo. Seu pai disse que eu poderia vir, aliás. Disse que você me ajudaria. — ela explicou, tirando um pedaço de papel do bolso das calças que vestia.

Shikamaru coçou a barba por fazer. — Ah, sim… — ele disse pausadamente. Subitamente, ele parou e olhou para Itachi com uma expressão de divertimento. — Você sabe onde fica a estufa, não sabe? Por que não ajuda ela? Estou muito confortável aqui…

Itachi já sabia o que Shikamaru faria antes mesmo dele ter a ideia.

Procurando os olhos de Sakura em busca de consentimento, ele sentiu seu coração apertar quando ela lhe deu o mais bonito dos sorrisos. Com surpresa, ele percebeu que sentia falta de Sakura. Ela estivera fora por mais de uma semana em missão, e ao retornar, não havia aparecido no campo de treinamento para treinar. 

Ele soubera por Shisui o que acontecera com Naruto, então podia imaginar que ela teria estado ocupada observando sua recuperação de perto, mas parte de sua insegurança social não podia deixar de se manifestar quando ele ainda estava tentando entender em que pé sua última conversa os deixara.

Levantando sem dificuldade, Itachi fez um gesto para Sakura segui-lo até o interior da floresta que rodeava a propriedade do clã Nara e ignorou a risada que Shikamaru soltou quando pensou que não poderia mais ser ouvido. Sakura acompanhou seus passos em silêncio, e quando o caminho entre as árvores alargou o suficiente, ela se pôs ao seu lado.

— Você recebeu meu aviso sobre minha ausência? — ela perguntou, tentativamente. — Eu quis procurá-lo para dizer pessoalmente que estava saindo em missão, mas Kakashi-sensei só me avisou de última hora.

— Não se preocupe, fui avisado. — ele respondeu, tranquilizando-a.

— Que bom! Aliás, desculpe por faltar no treino de ontem, fiquei presa no hospital com Tsunade-shishou.

— Não precisa se desculpar. — Itachi sorriu, abaixando a cabeça quando um galho particularmente baixo apareceu no caminho. Sakura bufou; ela era tão baixa que não precisou mover um músculo quase. — Como foi sua missão? Tirando o que aconteceu com Naruto, é claro.

— Bem, um fracasso. Nós não interceptamos o alvo. — ela respondeu com um sorriso de canto.

— Vocês não tiveram culpa. — ele balançou a cabeça, deixando claro que não era com isso que se preocupava. — Espero que tenha melhorado a situação passar um tempo com o seu time.

— Ah! — ela exclamou, percebendo o que ele queria dizer. — Estamos bem. Fiz o que deveria ter feito desde o início. — ela inclinou a cabeça, seus adoráveis olhos verdes brilhando. — Obrigada pelo… ahn, incentivo. — ela sorriu, mordendo o interior da bochecha em vergonha.

Itachi parou de andar para encará-la, e ela imitou suas ações. 

— O quê? — ela perguntou quando ele apenas a encarou por um longo minuto. 

— Quer dizer então que você vai parar de me tratar como uma espécie de namorado secreto que ninguém pode ficar sabendo? — Itachi perguntou seriamente, mas a curva de seus lábios denunciava o divertimento que estava sentindo.

Sakura arregalou os olhos na mesma hora, abrindo a boca para retrucar, mas nenhum som saiu de sua garganta. Itachi não podia exatamente culpá-la; não é como se ele não tivesse pegado a si mesmo de surpresa também com seu comentário. Era tão fácil não se policiar o tempo todo ao lado dela que ele dizia as coisas sem nem pensar.

Um dia isso ainda seria seu fim.

— Eu… — ela começou, sua boca abrindo e fechando repetidas vezes.

Itachi inclinou a cabeça. — Estou brincando, Sakura.

— Sei disso! — ela disse apressadamente, quase engasgando. 

Ele estalou a língua e voltou a andar a passos lentos, dando tempo para que ela formulasse alguma resposta inteligente que o faria sorrir como de costume. Itachi já podia ver a estufa dos Nara ao norte quando Sakura apertou o passo e se pôs a sua frente, fazendo ele parar. Ela ergueu o olhar para encontrar o seu, e não pela primeira vez, Itachi percebeu como seus olhos eram do mais bonito verde que ele já vira.

— Sabe, hipoteticamente… — ela começou, as bochechas corando levemente, as mãos inquietas em nervosismo. — você que me manteria em segredo. Se tivéssemos um… relacionamento.  

Itachi piscou uma, duas vezes.

Você deveria ter previsto isso, ele pensou. 

A verdade é que ele continuava subestimando Sakura, e ela não parecia exitar em aproveitar as janelas de oportunidade que ele deixava abertas por estupidez. Dois podiam jogar o mesmo jogo, ele precisou se lembrar, e não havia como culpar Sakura por assumir a ofensiva quando, no fundo, era exatamente isso o que ele instigava. Propositalmente.

Itachi pensou sobre suas opções por um segundo: cortar gentilmente a direção que essa conversa seguia porque facilmente poderia fugir do controle ou…

— Por que eu faria isso? — ele perguntou suavemente, contrariando o bom senso.

— Bem, seu clã não me aprovaria. — ela disse com um sorriso de quem tem certeza do que está falando.

— E por que eles teriam de aprovar?

Sakura o olhou como se ele fosse estúpido, e ele não pôde deixar de cruzar os braços no peito, um sorriso enviesado nos lábios.

— Vocês não fazem nada sem aprovação do clã. — ela disse, seus olhos verdes brilhando em desafio.

Itachi imediatamente entendeu o que Sakura estava tentando fazer.

Essa é uma péssima ideia, pensou. Mas… 

— Estou te treinando, não estou? — ele pontuou.

— Não é como se eles soubessem que é isso que você faz no seu tempo livre. — ela argumentou, estreitando os olhos.

— Você quer que eles saibam?

A kunoichi balançou a cabeça em negativa, seus cabelos rosados acompanhando o movimento graciosamente. — O ponto não é esse. — ela disse, sorrindo.

Uchiha Itachi deu um passo para frente. O sorriso de Sakura congelou. 

— Sakura. — ele deixou seu nome escapar, como se fosse um pecado. 

Ela pareceu perceber quão próximos eles estavam. Seus braços quase se tocavam. 

Itachi foi assaltado por um déjà vu de uma noite chuvosa em que eles passaram minutos nessa exata posição, decidindo o que falar, o que fazer. Pela reação de Sakura, ela se lembrou da mesma coisa. 

De repente, o clima não parecia tão descontraído assim.

Ele levou a mão direita até o topo da cabeça de Sakura e entrelaçou gentilmente os dedos em uma mecha de cabelo, deslizando-os até a ponta, desfrutando do momento com uma intensidade que ele sabia estar visível nos seus olhos. 

Hipoteticamente, — ele sussurrou. — meu clã nunca me impediria de ficar com você.

 Itachi estava consciente que este precisava ser seu último ato de auto-realização do dia, antes que ele cruzasse a linha imaginária que traçara na última vez que conversaram. Eles agora eram amigos, só isso, e esse não era exatamente o tópico mais amigável e inocente do mundo.  

Ele estava retirando sua mão do cabelo dela quando Sakura a agarrou antes que ele desfizesse o contato, mantendo-a no lugar. 

— Você fala como se eu tivesse alguma chance, Itachi. — ela sussurrou de volta, tentando soar descontraída, ainda entretida pelo faz de conta.

Itachi era mais esperto que isso. 

Ele se desvencilhou gentilmente da mão de Sakura e voltou a andar, passando por ela como se nada tivesse acontecido. O sorriso no seu rosto, no entanto, denunciava um divertimento particular que Sakura ainda não conseguia entender.

 


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Notas finais do capítulo

Esses dois... por que eles só não se beijam logo?

Próximo capítulo deve sair mais rápido porque já está parcialmente escrito, aliás.
Espero que estejam bem e se cuidando.
Mais uma vez, agradeço o carinho de todes que deixam reviews e favoritam essa história. Vou me esforçar para trazer um conteúdo de qualidade, ainda que a quarentena esteja acabando com a minha inspiração.

Até o próximo! ❤︎