Anjo das Trevas - 2ª temporada escrita por Elvish Song


Capítulo 16
Carta


Notas iniciais do capítulo

Olá! Voltei, depois de meses, e com várias ideias! Peço que perdoem a ausência, mas estava difícil continuar essa fic... Agora que voltei, cruzo os dedinhos para que gostem, porque me dediquei muito a esse cap!
Boa leitura!



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Sentada à janela de sua sala de estudos, Annika fitava os primeiros flocos de neve que caíam, pensando nos últimos cinco anos... Cinco anos e três meses, para ser mais exata. Este era o tempo transcorrido desde que Erik entrara em sua vida, praticamente arrombando a porta de sua alma e arrastando-a para as melhores loucuras que já lhe haviam ocorrido. Na época ela o encarara como um inimigo; depois, como um enigma; afinal, como o homem a quem amava. Hoje era seu esposo, seu amigo, seu amante, o pai de seus filhos, e ela jamais conseguiria exprimir em palavras o quanto o amava. Seu Anjo. Seu amor. Sua alma gêmea.

— Mamãe! – a vozinha de criança a tirou de seus devaneios, fazendo-a se voltar para Selene e Caroline, que entraram subitamente na sala, disparando à frente de Gabrielle, que vinha pouco atrás – mamãe! Tia Gabi tem novidades! – era incrível como, embora ainda faltassem dois meses para seu aniversário de dois anos, elas já falavam perfeitamente bem. É claro que não possuíam a articulação vocal perfeita, mas seu vocabulário era bastante desenvolvido!

— É mesmo?! – perguntou a jovem mãe, com empolgação, ajoelhando-se e envolvendo as filhas num abraço – novidades?!

— Conte, Tia Gabi! Conte, conte! – Insistiu Carol, enquanto Gabrielle entrava na sala, rindo da empolgação das meninas, que sequer sabiam o conteúdo da carta que recebera, mas já se empolgavam daquele modo. A moça de dezoito anos se sentou na poltrona ao lado da irmã e, com semblante sério, falou:

— Annika, recebemos cartas de Berlim. Não abri a sua, mas creio que o conteúdo não seja diferente do que há na minha...

— Berlim? – perguntou a mulher, levantando-se e aceitando a carta que a irmã lhe estendia. Pegou o envelope e o abriu, lendo com surpresa a caligrafia masculina e elegante:

“Cara Sra. Destler

Não apenas na França circulam notícias sobre a pianista-prodígio que conquistou os palcos de Paris com sua inédita habilidade; em Berlim muita curiosidade há a respeito da dama com “mãos de ouro” capaz de tocar as obras de Liszt, Bach, Chopin, Mozart.

Assim, é com grande prazer que venho, em nome de todos os nossos diretores, fazer-lhe o convite para apresentar-se na Casa de Óperas de Berlim, a título de solista convidada. Seria para nós uma honra e felicidade receber em nossos palcos tão bem-afamada artista.”

A carta continuava dizendo que, caso a moça concordasse, deveria enviar uma carta de resposta no prazo de um mês; os custos da viagem e moradia seriam cobertos pela casa de Óperas, que providenciaria à solista alojamento em residência própria, pelo período de três meses que duraria o contrato, podendo este ser prorrogado por acordo de ambas as partes. A carta de Gabrielle possuía o mesmo conteúdo, mas convidava-a não apenas a atuar como solista, bem como a tocar na orquestra da companhia. Os corações de Annika e Gabi estavam acelerados, e elas se entreolharam por longos segundos, mudas.

— Berlim, Annie! – disse a mais moça – Berlim! Consegue acreditar?! – ela estava entre o choque e o êxtase! Aquilo era tudo o que a menina sonhara: ser reconhecida, viajar, ver o mundo, tocar em diferentes orquestras... E agora viera a carta! A carta tão sonhada, que tanto esperara!

Annika dividia da alegria da irmã, mas havia também preocupação em si: pois como poderia deixar a escola, as crianças às quais amavam como seus próprios filhos? E como conversar com Erik sobre o assunto, logo ele, tão ciumento e que todas as noites lhe dizia ser um dia sem ela insuportavelmente longo? Ela não sabia nem mesmo por onde começar a falar sobre o assunto! Quem deixaria em seu lugar, na diretoria da escola, durante os quatro meses que lhe propunham? Desejava desesperadamente ir e, ao mesmo tempo, desejava ficar. Como escolher?

— Annie? – Gabrielle a despertou de seu devaneio – Não parece feliz...

— Estou incrédula, querida! – ela fitou a carta – parece bom demais para ser verdade!

— Sim! – exultou a menina, eufórica com o sucesso; porém, percebeu a dúvida no semblante da irmã, e indagou – você não quer ir?

— É claro que quero! – protestou a pianista – dividir os palcos com você, vê-la conquistar espaço em teatros fora da França... Mas... Como vou deixar...

— É por causa da escola, de Erik, ou de ambos?

— Ambos, eu creio. – ela meneou a cabeça – Não ligue para isso, meu amor: esta vitória é sua, e não deve deixar que nada a oblitere!

— Esta vitória é nossa— afirmou a jovem, segurando a mão da irmã, veemente – e quero você ao meu lado para desfrutar dela, Annika.

Vendo o rosto tão cheio de felicidade de sua abelhinha, a dama soube que não podia desapontá-la. Não podia desapontar a si mesma, privando-se do sabor daquela vitória tão inesperada; não havia sido aquilo que haviam sonhado, por anos à fio? Não era aquela a concretização de seus mais loucos devaneios, o triunfo final de tantas conquistas?! Pois bem, ela e Gabi haviam sonhado juntas, e juntas deveriam realizar aquilo... Não sabia como faria, mas daria um jeito! Seu semblante se iluminou com alegria e determinação:

— E vai me ter ao seu lado, Abelhinha. – disse, finalmente, segurando as mãos da irmã entre as suas – vamos subir juntas naquele palco, vamos fazer com que até o Kaiser ouça falar de nós! Viveremos um verdadeiro triunfo musical para que toda a Europa ouça falar a respeito!

— Essa é a Annika que eu sempre conheci – comemorou a adolescente, e então riu – melhor arranjar uma armadura antes de falar com seu Fantasma...

— Estou mais preocupada em saber o que vou fazer quanto à escola... Já faz muito tempo que não tenho medo de Erik.

— Tenha medo de deixa-lo sozinho com a escola... – aconselhou a moça, traquinas - Vai encontrar as crianças em regime militar, quando voltar.

— Você não está ajudando, Gabi! – protestou a outra, antes de se voltar para as filhas, que brincavam de correr uma atrás da outra ao redor da mesa – meninas, venham aqui!

As gêmeas pararam de correr em torno do móvel, e dispararam em direção à mãe e à tia, que pegaram cada uma no colo. As mãos cruzadas sobre as perninhas gorduchas de Selly, Annika perguntou:

— Lembram sobre o que falei, a respeito da Alemanha?

— O teatro, mamãe? – perguntou a pequena em seu colo.

— Isso; o teatro de Berlim. O grande teatro sobre o qual falei... Gostariam de conhecê-lo?

As gêmeas deram pulinhos e gritos de alegria; ainda estava além de suas capacidades entender o significado de país, mas já compreendiam tratar-se de um lugar novo e, ao menos em seu entender, distante. E se havia algo novo, então aquelas duas diabinhas certamente se animariam em conhecer.

— Quem sai aos seus, não degenera – comentou Gabrielle, acerca da empolgação das meninas com a novidade – Devíamos levar Erik conosco.

— E Renard? – a mais velha duvidava que o ladino estivesse disposto a se arriscar em terras desconhecidas...

— Sabe quando ele vai deixar o Casarão e seu “trabalho”? Dia 30 de fevereiro, com sorte. Além disso, sei que ele se sente deslocado nesse tipo de ambiente. Erik não. Erik sabe agir e conviver nesse meio, que é seu domínio e paraíso, e difícil será fazer com que o deixem sair da Alemanha, quando virem suas composições. Seria um problema a menos para você...

— Gosto de sua ideia, Gabrielle. – a pianista se ergueu e colocou Selene no chão – bem, eu poderia simplesmente dizer a Erik que vamos passar todos alguns meses na Alemanha, mas... Não vou perder a chance de assustá-lo um pouco.

— O que você vai fazer?

— Importuná-lo, é claro! – riu-se a pianista.

— Isso vai acabar em briga...

— É claro que vai. – Annika mordeu o lábio inferior, e por um segundo seu semblante mostrou o quanto sua essência continuava a ser a mesma: uma mulher travessa e atrevida, satisfeita em conseguir um motivo para provocar alguém e arrancar disso boas risadas. Afinal, o que definia Annika melhor do que a capacidade de rir do perigo, das tensões e dos problemas? – Já viu Erik simplesmente aceder a algum “capricho” meu sem uma boa discussão antes, irmãzinha?

— As brigas parecem ser parte essencial do relacionamento de vocês... É um tanto doentio, você sabia? – insistiu a jovem Andrieux, zombeteira, e riu – Parece até que qualquer decisão do casal precisa passar por um conflito para que tudo dê certo.

As irmãs trocaram um olhar cúmplice e gargalharam juntas: sim, Erik ia ficar emburrado, tentar usar de chantagem emocional sobre Annika, utilizar-se de mil e um artifícios até que, enfim, ela lançasse a bomba de lhe pedir que fosse consigo. E quando ele estivesse surpreso, a esposa poderia fazer suas próprias chantagens para que ele não pudesse se recusar. Jogo sujo? Certamente, mas ela aprendera com o melhor.

*

A pianista deixou sobre o leito a carta que recebera, de modo que Erik a lesse ao chegar; hoje fora ele a pôr as crianças para dormir, de sorte que Annika pôde desfrutar de um relaxante banho de banheira, perdendo-se em sonhos com palcos de novos lugares, música e viagens. Sim, era uma curiosa inveterada, e a oportunidade de conhecer novos ares era absurdamente empolgante!

Estava reclinada na banheira, apenas relaxando após o banho, quando Erik surgiu à porta do banheiro, com a carta de Berlim em mãos; ela sorriu e deixou a cabeça pender para trás, satisfeita ao perguntar:

— O que houve, meu amor?

— Li a carta que deixou sobre a cama.

— Ah, sim! Erik, não é maravilhoso?! Berlim nos chamou para tocar em novos palcos!

— Maravilhoso? – perguntou ele, olhando para o para o papel em suas mãos, parecendo transtornado – Ah, sim, claro que é! – mas a alegria em sua voz soou tão falsa que não poderia sequer almejar enganar a jovem.

— Qual o problema? – perguntou a pianista, sentando-se ereta. Imaginara Erik tendo uma crise de ciúmes, gritando e brigando... Mas seus olhos estavam tão... Tão tristes! Tão magoados! Céus, o que havia?! Levantando-se depressa, correu em abraça-lo – Erik, meu amor, o que houve?! – ele baixou o rosto, os olhos fechados com força, os lábios comprimidos como se retivesse uma súbita vontade de chorar; de repente abriu aqueles olhos dourados que ela amava, e a tristeza estava misturada a raiva:

— Vá, então! Vá para Berlim, viver seu sonho! Vá embora, como quer fazer! – explodiu, empurrando-a para longe com força, o que fez a mulher escorregar no piso de pedra e cair de lado. O Fantasma saiu do banheiro com raiva, e sua esposa tratou de se levantar, enrolar-se numa toalha e ir atrás dele. Por que Erik tinha de ser tão difícil?! Por que não falava com ela, em vez de ter aqueles rompantes?! E o que havia de errado em ir para Berlim?

Saiu do banheiro e, para seu desagrado, Alain veio correndo até o corredor, preocupado:

— Mamãe? O que houve?

— Calma, amor, está tudo bem – disse ela, abraçando o filho – papai e mamãe têm que resolver uma coisa... Vá para o quarto e fique lá com suas irmãs, está bem?

— Vocês vão brigar, mamãe? – perguntou o menino, o que partiu o coração de Annika: não podiam continuar daquele jeito... As brigas entre ela e Erik afetavam também as crianças, mesmo que não brigassem diante delas, e perdoassem um ao outro... Aquilo não fazia bem para ninguém!

— Não, meu amor. Não se eu puder impedir. – e beijou a testa do filho. Bem, precisaria ser o adulto da relação, já que Erik parecia congelado na adolescência... Assim que o pequeno foi para o quarto e fechou a porta, ela caminhou lentamente até o quarto. Seu marido estava ajoelhado ao lado da cama, a máscara jogada no chão, as cortinas do dossel fora dos trilhos, amontoadas sobre a cama, os objetos da cômoda jogados no chão. Mais do que isso, a parede estava suja de sangue, e ele segurava a mão ensanguentada contra o peito... Deus, aquilo saíra de controle!

— Erik... – Ela se aproximou e ajoelhou ao lado do esposo, sem compreender a reação dele – Amor, o que foi? – segurou seu rosto molhado de lágrimas e o fez encará-la, sentindo em si a dor que havia na alma dele – Se não falar comigo, não terei como ajuda-lo!

— E por que se importa? – rosnou ele, a voz embargada de dor e choro – conseguiu o que queria. O que sempre quis... Pegue suas coisas e vá para Berlim, como quer.

— Mas... Mas não entendo... O que foi que eu fiz? Por que está reagindo assim?!

— Você vai me abandonar, é isso o que está havendo! – rugiu ele, em desespero – como todo mundo! Vai embora para Berlim, e não vai voltar! Afinal, por que voltaria? Você é linda, talentosa, e terá a Europa a seus pés... Agora, não vai querer um monstro ao seu lado, para envergonhá-la diante de todos... – ele se afastou – eu entendo isso. Fui um idiota por pensar que poderia ser de outra forma...

Em outros dias Annika teria gritado, ficado brava e chamado Erik de idiota... Como queria fazer, agora. Mas atualmente, mais velha, sabia que não era disso que ele precisava... Com todo o amor que tinha, foi até seu Anjo e o abraçou com ternura, sentando-se no colo do mascarado, alheia às tentativas pouco convictas de empurrá-la. Acariciou o rosto descoberto e apoiou a cabeça dele em seu pescoço, de modo a sussurrar ao seu ouvido:

— Escute-me bem, Erik Destler, porque nunca mais quero ter de repetir isto – e se afastou de modo a olhar para ele fixamente, direto nos olhos dourados que brilhavam como duas chamas tristes – Eu me casei com você porque QUIS me casar. Não fui forçada, não fui coagida. Como você disse, sou linda e talentosa, e poderia fazer o que quisesse de minha vida, hoje. E estou aqui. Eu ESCOLHI estar aqui, com você, porque eu te amo! – ele tentou escapar de suas mãos, mas ela segurou o rosto masculino com mais força – olhe para mim, Erik: você sabe quando alguém está mentindo, então sabe que falo a pra verdade. Eu estou com você porque AMO você, e amor não é algo descartável! EU NUNCA VOU TE ABANDONAR! – agora ela chorava junto com Erik: entendia o vazio e desespero no coração dele, que sempre fora abandonado por todos, repudiado e usado sem qualquer consideração por seus sentimentos. Igualmente doloroso, porém, era pensar que ele ainda não confiava o bastante em seu amor, e pudesse pensar que ela o abandonaria. Que seria tão cruel e fria a ponto de abandonar o homem que lhe dera tudo, que a salvara do inferno e a fizera ser quem era. Mais do que tudo, ele era seu marido, o homem a quem amava, o pai de seu filhos! Como podia passar pela mente dele que o deixaria?!

— Pare, Annika – pediu ele, arrasado demais até para afastar a moça – você queria ser livre... Vá e seja.

— Espere um instante... Você achou, por um segundo que fosse, que eu pretendia ir sozinha?!

— O que? – ele ergueu os olhos.

— Erik... Você é meu marido! Eu te amo! É claro que eu o levaria comigo!

— Mas... Mas Annika – ele estava perplexo, confuso – eu não sou... Eu iria envergonhar você!

Sem se conter, a mulher bateu na cabeça de seu marido com os nós dos dedos, ouvindo um “ai” em resposta, antes de esbravejar:

— Quando vai enfiar em sua cabeça que eu NÃO tenho vergonha de você? Entenda de uma vez, Erik, porque estou farta de repetir isso e você não acreditar: somos casados por AMOR. Amor não tem lógica, nem condições... Nem vergonha. Você se sente acanhado diante das pessoas, com tudo o que passou, e eu compreendo isso. Mas eu não tenho vergonha de você! Nunca tive, nem terei! – e então, apelou – eu não sou Christine. – e o abraçou com toda a sua força – eu não vou te deixar, nem hoje, nem nunca!

O Fantasma prendeu a respiração, tenso, antes de perguntar:

— Você jura?

— Jurei isso diante do altar, quando nos casamos. A única pessoa que não o percebe é você, Erik... E confesso que me magoa você confiar tão pouco em meu amor. – ela se afastou e levantou – o convite a Berlim é uma grande oportunidade de carreira, mas eu jamais consideraria deixar você para trás! Somos um só, lembra-se? Dois proscritos contra o mundo!

— Você não é mais proscrita, Annie... – ele se levantou, recompondo-se – perdoe-me, eu só não entendo... Você não precisa...

— Você foi usado tantas vezes, descartado tantas vezes, que não entendeu ainda que não amamos alguém porque precisamos dessa pessoa. Eu preciso de você porque te amo! – e o beijou com paixão – estou com você porque quero. Porque não sei mais viver sem meu Anjo da Música. Oras, chamaram-me para tocar... Como eu poderia tocar, se minha alma ficasse para trás? E como eu poderia sequer pensar em não retornar a você?! Uma pessoa não pode viver sem seu coração, Erik! – lágrimas escorriam pelos olhos da pianista – e você é o meu!

O Fantasma agora derramava lágrimas de emoção e culpa; mas como explicar a Annika o que sentia? Como exprimir o que havia em seu coração? Como se desculpar por duvidar dela, e questionar seu amor?

— Perdoe-me Annika, por favor, perdoe-me! – pediu, a voz embargada – você não entende... Todas as noites eu a vejo adormecer, e penso o quanto sou abençoado por tê-la. Por Deus, eu a amo tanto que meu coração dói! Mas... Você é tão perfeita, tão... Tão maravilhosa, que sinto não merecê-la! Fico acordado, ouvindo sua respiração, e rezando para termos mais tempo, pensando quando você perceberá o quanto não sou digno de você, e irá embora. Sempre foi assim...

— Falou corretamente – ela entrelaçou as mãos à nuca dele – sempre FOI assim. Não é mais. Eu olho para você, e vejo um homem forte o bastante para sobreviver a males terríveis! Capaz de encontrar beleza onde o mundo só veria coisas ordinárias, com uma mente tão genial que, por vezes, tenho dificuldade em acompanhar. Vejo um homem bom... Vejo o meu Anjo das Trevas. E nada, nem ninguém, poderá diminuir o amor que tenho por você, e muito menos nos afastar. Eu sou sua, meu Fantasma, para sempre.

Ele a abraçou quase com desespero, ignorando a dor na mão machucada, apertando o corpo de sua mulher com tanta força que parecia temer seu desaparecimento. Sua respiração era pesada junto ao ouvido dela até que ele enfim se manifestou:

— Nunca me deixe, Annika.

— Nunca. – jurou ela – como disse, não posso deixar meu coração, sem morrer. – ela lamentava por Erik, e sabia que dificilmente acabaria com o medo dele de ser abandonado... Talvez com os anos, mas certamente não em pouco tempo. Erik era mentalmente abalado e, por vezes, comportava-se como uma criança assustada e machucada, como o fizera mais cedo. Uma criança de dois metros de altura, mas uma criança, ainda assim. Não, ele não era normal, mas ela o amava exatamente por isso: fora aquele lado vulnerável, doce, sonhador e tímido que a conquistara, acima de tudo, e faria de tudo para acalmar seus medos, confortar suas inquietudes e afastar suas tristezas – sei que a vida não lhe deu motivo para confiar, Erik, mas eu nunca lhe dei motivos para desconfiar. Eu te amo, e vou amar até o último dia de minha vida. – ela pousou a mão em seu peito – se não acredita em nada mais, confie em nosso amor. Ele é real. E ninguém vai nos separar. Isso eu juro a você, pela vida de nossos filhos!

Com lágrimas ainda a escorrer pelo rosto, ele a abraçou novamente e tomou com fúria os lábios de sua mulher. Quando afinal se separaram, ela fitou a mão machucada e a pegou entre os dedos com cuidado, ouvindo o gemido abafado dele:

— Isso está feio – e moveu os dedos, o que arrancou respirações pesadas dele, na tentativa de suportar a dor – mas não parece ter quebrado nada... Felizmente não são apenas os osso da sua cabeça que são duros! – e sorriu, vendo-o sorrir de canto de boca – Nunca mais diga uma bobagem dessas, meu Anjo. Eu te amo com todas as minhas forças, e nunca deixarei de amar.

— Eu também te amo, Annika Destler. Perdoe-me por duvidar de você.

— Não tem que se desculpar – ela beijou sua cabeça – vou buscar curativos, está bem? Tente não destruir mais nada em seu corpo até lá.

*

— Não e não, Annika! – Erik retornara a seu estado normal e, três dias depois, discutia com sua esposa – Você não vai me exibir para aqueles bufões de Berlim!

— Não seja ridículo, Fantasma! – esbravejou a moça, mas com divertimento na voz – Você é um dos principais contribuintes da Ópera de Berlim! É claro que vão querer conhecê-lo!

— Você me convenceu a voltar àquele lugar, e por você e Gabrielle eu aceitei, porque sei como isso é importante para ambas... Mas não vou aparecer na Ópera!

— Pare de agir como criança!

— Para de ser estúpida! – devolveu ele – Já se esqueceu disto? – e apontou a própria máscara.

— Ninguém tem qualquer coisa a ver com o que você usa ou deixa de usar. E se as perguntas o incomodam, diga que se trata de uma queimadura. – e ante o revirar de olhos dele – Ah, pare com isso! Quer continuar se escondendo, com medo do mundo? Vai mesmo perder as oportunidades que a vida lhe dá? – e quando Selena apareceu à porta – até as crianças vão aparecer por lá!

O Anjo entrelaçou os dedos aos cabelos, irritado:

— Annika, eu estou dizendo que não. Vou com vocês, mas não vou aparecer na Ópera. Continuarei a travar com eles por carta, e será tudo!

— Ah, está bem, seu vampiro ranzinza! – concordou a mulher, dando de ombros; quando estivessem lá, tentaria convencê-lo. Mas é verdade que ele já fazia um enorme esforço para fazê-la feliz, forçando-se a ir para um lugar novo, deixar os lugares que conhecia e nos quais se sentia seguro, apenas por elas. Bem, aquele era o modo Erik de declarar amor, e ela não poderia exigir mais dele... Dando um sorriso, foi até ele e o abraçou – Eu te amo.

— Também amo você, minha teimosa pianista. – e para a filha – e nós dois amamos esta pequena curiosa!

A criança riu e correu para os pais, que a pegaram no colo com amor, sorrindo: Annie e Gabi haviam respondido à carta, portanto, a viagem se daria dentro de um mês. Haveria tempo para organizar tudo de modo que as coisas se mantivessem em funcionamento durante sua ausência, e a pianista suspeitava que tais meses longe de Paris fossem ser não apenas agradáveis, mas importantes para a relação do casal. Sem falar, é claro, na alegria que proporcionaria às crianças. Ah, tudo estava correndo perfeitamente bem!


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Notas finais do capítulo

Bom, é isso! O que acharam do capítulo? O que esperam para a viagem a Berlim?
Beijos enormes, amores!



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