Choque de Tempo escrita por Miss Krux


Capítulo 9
Capitulo 9 – Uma Explicação Pela Manhã.




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O pouco sol que havia iluminava todos os quartos da casa da árvore, era certamente mais de oito horas. William, repousando em uma cama até que macia, acabava de acordar tentando entender tudo o que havia acontecido. A última lembrança era a dele brigando com John, quando sentiu que algo o tinha atingindo e uma dor de cabeça horrenda agora estava começando a sentir. Tentou passar a mão sobre a cabeça para ver se havia algo, um corte ou galo; notou que tinha as mãos e os pés amarrados. “Ora, mas porque isso tudo? Eu não sou um selvagem! Sou um Lord, pertenço à alta sociedade londrina. Tenho que ter uma explicação e tem que ser agora”.

William começa a gritar alto, acordando todos os habitantes da casa da árvore.

W – EU QUERO UMA EXPLICAÇÃO!!!! QUEM PENSAM QUE SÃO??? SOU UM NOBRE E NÃO UM QUALQUER!!!!

Marguerite, embora tivesse ido se deitar no mesmo horário que os demais, ou seja, quase quatro horas da madrugada, tinha tido dificuldades para dormir; ela havia visto e ouvido muita coisa em um intervalo de tempo muito curto, sentia-se cansada, mas tinha demorado a dormir; sua mente e seu coração pareciam estar em ritmos diferentes, embora ambos acelerados. Ao ouvir os gritos de William acordou sobressaltada pensando que poderia ser John, mas logo pelo que ouviu recordou-se de William. A morena tratou de vestir seu hobby lilás, pegar sua arma que estava ao lado da cômoda e ir em direção ao quarto que era de Sumerlee.

M – Ótimo, o filhinho da mamãe acordou. Estava demorando.

Challenger, por sua vez, havia caído na cama e dormido, estava muito exausto e já se achava velho demais para essas coisas, principalmente para certos tipos de emoções como brigas de família. Seu quarto era ao lado do que pertenceu ao amigo cientista, portanto, logo que ouvira os gritos tratou de se levantar depressa e correr em direção a William.

John também despertou com os gritos do irmão, mas estava tão dolorido e até um pouco dopado com os medicamentos que o cientista havia lhe dado, que nem se quisesse poderia se levantar e ver o que estava acontecendo. Então o jeito era aguardar que um dos outros descesse e lhe informasse o que teria acontecido.

No quarto, Challenger chegava estar corado de nervoso, irritado ao ver o jovem lhe cobrando explicações, o ameaçando e jogando em sua cara que era um nobre e gritando com ele. Até parecia que George era um de seus empregados. Embora o rapaz tivesse sido muito educado no dia anterior, um cavalheiro, agora mais parecia um descontrolado e, para piorar, o próprio cientista estava perdendo o controle, já elevando sua voz com William, que parecia nem sequer ouvir.

C – Escute aqui, meu jovem, preste atenção no que irei lhe dizer: eu não sou um de seus empregados para os quais você costuma dar ordem. Na verdade, sou no mínimo um conhecido e não lhe dou tal intimidade. Onde está seu respeito pelos mais velhos e sua nobreza nesse momento?

William não deu ouvidos ao que o cientista estava lhe dizendo; pelo contrário, gritou mais alto ainda e mais furioso.

W – POUCO ME IMPORTA QUE SEJA MAIS VELHO. EU QUERO EXPLICAÇÕES, QUERO QUE ME SOLTE E QUERO AGORA!!!! ESTÁ ME OUVINDO???

Challenger estava prestes a perder o controle quando dois estrondos cortaram o ar; dois tiros dados para cima, atravessando o teto da casa da árvore. Era Marguerite e ela estava mais furiosa que os dois homens juntos. O rosto estava rubro e os olhos verdes brilhavam; com a arma ainda na mão, encarando cada um dos dois. Certamente os disparos teriam sido para cada um deles, se pudesse.

M – Você se diz nobre agindo assim gritando como se não passasse de um moleque longe dos mimos da mamãe? E você, George, um homem da ciência, perdendo a cabeça por isso aí me parece mais um velho rabugento. Ora, me poupem! Isso é mesmo necessário?

Ambos os homens se olharam, perdidos. Challenger, na verdade, não sabia o que responder, estava envergonhado; Marguerite estava certa, como ele pudera perder a cabeça assim tão facilmente? E William se sentia confuso, era como se não conseguisse falar; estava encantado com a beleza daquela mulher, mas também a temia; agora que se lembrava que tinha sido ela quem o acertara na noite passada. Além disso, o jovem também se sentia desconfortável com a situação em que se encontrava, mas uma coisa era certa: nunca tinha encontrado uma mulher assim, de aço e fogo, e ele a queria como sua.

M – Bem, já que os cavalheiros não sabem como resolverem seus problemas sozinhos, acredito que eu terei que fazer. George, já que está em pé aproveite para subir e preparar o café para todos nós. Deixe que desse aqui cuido eu. E se ele pensar em soltar um grito ou ousar me desrespeitar pode ter certeza que será o meu tiro que irá atravessar seu peito e, diferente de John que foi acidentalmente, eu o farei propositalmente. Estamos entendidos?

Os dois homens apenas fazem um aceno positivo com a cabeça, não contrariando a herdeira que já puxava uma cadeira para se sentar próxima a cama – mas, claro, mantendo certa distância. George ia subindo para a cozinha para fazer o café da manhã como Marguerite havia pedido. William quando pensou em pronunciar algo foi cortado por Marguerite.

M – Nem pense nisso. É minha vez agora, William.

Ele apenas engoliu em seco diante da mulher que tinha deixado claro que era melhor ele ficar quieto, para o seu próprio bem.

M – Isso mesmo. Quieto até que eu termine. Sabe, desde ontem quando chegou aqui tudo o que vi e ouvi foram ameaças, ofensas, socos e pontapés e isso não é bem meu tipo de passatempo. Você me pareceu ser um verdadeiro cavalheiro ontem, porém, acredito ter me equivocado. Se for mesmo o nobre que diz ser, sugiro que passe a agir como tal e não como um bebê chorão. Eu suponho que George tenha lhe contado sobre onde estamos e gritar não vai adiantar, aliás, no meio da selva só irá lhe servir para ser um almoço de T-Rex faminto.

Felizmente temos essa casa como abrigo, como um dos poucos lugares seguros nesse maldito platô e não vou permitir que crie nesse lugar uma guerra familiar particular sua. Embora eu odeie admitir isso, estamos todos juntos, você não tem para onde ir e nós ainda não sabemos como vamos enviá-lo para seu devido tempo. Durante hoje e amanhã você irá acompanhar George até a caverna de onde surgiu enquanto eu estarei cuidando de seu irmão, que você fez o favor de deixar impossibilitado de sair do quarto por alguns dias. Se não tivermos sucesso em te enviar para sei lá de onde veio, quando a nossa outra amiga e dona da casa, Verônica, retornar, eu mesma e ela o faremos. Mas enquanto isso você irá se comportar; eu não irei cuidar dos dois nem muito menos me envolver nessas brigas infantis de vocês. Será que posso confiar em lhe soltar agora? Ou irá preferir ficar assim pelos próximos dias?

William se manteve em silêncio durante os próximos segundos; estava ainda pensando em tudo que a herdeira havia lhe dito e sabia que ela não iria sair dali enquanto não tivesse uma resposta, mas algumas de suas frases ainda ecoavam mais fortes do que as demais: “Se for mesmo o nobre que diz ser, sugiro que passe a agir como tal... não vou permitir que crie nesse lugar uma guerra familiar particular sua... nós ainda não sabemos como vamos enviá-lo para seu devido tempo... Enquanto isso você irá se comportar...”. Ela parecia duvidar de sua nobreza, parecia ameaçá-lo até mais que uma vez, mas também estava preocupada por não saber como se resolveria toda essa situação. Dava-lhe broncas pelo comportamento indevido e, por fim, parecia preocupada com seu irmão; será que havia algo entre eles? Bom, se houvesse ele iria descobrir.

M – Ei, você ainda esta aí ou já foi embora deixando só a matéria? Seria bem mais fácil, era só enterrar.

W – Oi. Pois não? O quê? O que disse?

M – Nada. Nada de importante. Estou esperando sua resposta, vai me fazer mesmo esperar até que o meu café lá em cima esfrie?

W – Não... não. Perdão, senhorita Krux. Eu irei me comportar daqui pra frente. Acredito que tem razão em tudo que me falou e peço perdão por tudo que causei desde minha chegada. Terá todo o meu empenho em ajudar o professor com a invenção dele, até porque eu sou o maior interessado aqui.

M – Ótimo, assim espero. Eu vou te soltar e vamos subir para o café. Se quiser pode tomar um banho, acredito que as roupas de John devem lhe servir, ele pode lhe emprestar algumas peças e logo depois você irá sair com George. E se até o fim do dia de amanhã você ainda estiver por aqui, você e John irão sim conversar, e conversar civilizadamente, para ao menos tentarmos manter um bom convívio.

W – Claro. Como quiser, senhorita. Afinal, a senhorita vive aqui também, nada mais justo do que uma dama como você ter no mínimo um pouco de paz.

M – Certo. Vamos logo com isso então.

Logo Marguerite libertou William das cordas, tanto dos pés como das mãos. William pôde, então, sentir seu corpo pesado, sua cabeça doendo, e pôde perceber um galo enorme que estava apontado. Marguerite carregava a cadeira em que estava sentada de volta para o lugar junto com as cordas enroladas. Sem que percebesse, uma ponta de uma das cordas se soltou e foi o suficiente para que ela tropeçasse, quase levando um tombo; porém, William correu em seu socorro e a pegou nos braços ficando, assim, cara a cara com a herdeira.

Os dois ficaram alguns instantes ainda se fitando. Marguerite se sentia atraída por William, até porque ele era um belo homem, os olhos como o azul do céu... Não tinha semelhança física com o caçador, mas no temperamento talvez algo neles fosse parecido. Porém, logo Marguerite tratou de se esquivar e empurrar William o agradecendo pela ajuda, mas que dispensava qualquer preocupação. Em seguida, morena trata de subir as escadas o mais rápido que pode.

William, ainda no quarto, balança a cabeça pensando no que aconteceu, sentindo o aroma inebriante de flores da mulher que havia acabado de sair dali. Pensava em como era linda e que olhos profundos... Se ela não tivesse o ameaçado como fez momentos antes, ele iria roubar-lhe um beijo. Por um instante ela esteve em seus braços e ainda assim ele não se permitiu agir por impulso; mas não lhe escaparia em uma próxima oportunidade.

No andar de cima, Challenger, auxiliado por Marguerite, ajeitava uma bandeja caprichada para ela levar para o caçador.

M – Não, George. O John não gosta do café em uma caneca, mas sim em uma xícara. Deixe que eu termine isso, pegue algumas peças de roupa limpa do John para William; estão no monte de roupas lavadas de ontem, devem servir. Eu o instruí que lhe ajudasse com teletransportador. Acredito que não irá nos causar problemas. Irei ficar e ajudar John; vou tentar trazê-lo para a varanda mais tarde, senão você já imagina o mau-humor que ele irá ficar em não poder sair do quarto.

Challenger observava a herdeira ao seu lado; embora ela estivesse ainda um pouco nervosa com toda a situação, não pôde deixar de notar a preocupação que ela sentia por John. Há um tempo, talvez, ele diria que era mero interesse pela fortuna de John, mas depois de ver quantas vezes um havia se sacrificado pelo outro colocando sua própria vida em risco, não havia outra explicação, senão amor.

C – Claro, Marguerite. William é um rapaz inteligente, acredito que será muito bom tê-lo como assistente e quanto a John, bem... Ninguém melhor do que você para cuidar dele... Quer dizer... Digo, você já teve outras experiências com homens, pessoas feridas... Vai saber ajudá-lo.

Marguerite olha para o homem ruivo; ela percebe que ele parecia um tanto constrangido pelo que havia comentado sobre seus cuidados com John, mas decidi não falar nada, apenas pega a bandeja e segue em direção ao quarto do caçador. William já estava na ponta da escada e tinha ouvido uma parte da conversa, assim como viu a herdeira sumir na direção oposta.

W – Ah... Professor, acredito que lhe devo desculpas pelo meu comportamento mais cedo, eu... Eu não sei o que houve comigo. Estou envergonhado de ter agido como agi, como um grotesco ignorante. Tem minha palavra de que não irá se repetir, até porque quero uma solução tanto quanto você. Essa situação é muito desconfortante para todos nós, creio eu. E, bem, prezo muito pela minha vida e por alguns momentos pensei que a senhorita Krux não iria hesitar em atirar, ela é de fato uma mulher de atitude. Será que podemos recomeçar tudo do zero?

C – É a senhorita Krux certamente sabe como impressionar nossos hóspedes. Não tenha dúvidas, meu jovem, de que ela seria capaz de cumprir com a promessa do tiro em seu peito. Quanto às suas atitudes, se realmente passar a agir como está falando acredito que iremos nos dar muito bem.

W – Obrigado, Professor. Muito obrigado.

C – Por nada. Vamos, agora sente-se e tome um café, pois irá precisar. A propósito, pode me chamar como os demais, apenas de George ou Challenger. Dispenso muitas formalidades.

W – Certo, Challenger. E já que mencionou, onde estão os demais? A senhorita Kurx também mencionou o nome Verônica.

C – Ah sim, os demais... Bem, Marguerite, ou seja, a Senhorita Krux, está no andar de baixo cuidando de seu irmão e também acredito que estejam dividindo o café da manhã juntos. Verônica é a proprietária desta deslumbrante casa na árvore; ela cresceu nesse lugar, mas posso assegurar-lhe que é tão educada como as damas de Londres. Ela está fora, mas creio que até amanhã à noite esteja de volta. No momento somos nós os habitantes da casa da árvore. Havia mais, porém, agora não temos tanto tempo assim para conversar, termino de te contar durante o dia.

W – Claro. Que impressionante esta senhorita Verônica... Gostaria de ter a oportunidade de conhecê-la. Esse lugar parece ser muito interessante, diferente de tudo que já vi. Acho que poderia aprender muito aqui, se tivesse a oportunidade de passar mais tempo. Bem, quanto à senhorita Krux, ela parece se preocupar muito com meu irmãozinho; ela deixou bem claro que poderia cuidar dele, mas não de nós dois. Não sei se tenho a intimidade, mas parece que há algo entre eles.

C – De fato, meu bom homem, não tem intimidade e, se não quiser que a senhorita Krux cumpra com a promessa, sugiro que não faça perguntas demais. Todos nós aqui cuidamos muito um do outro; depois de quase quatro anos convivendo sobre o mesmo teto, pode-se dizer que somos uma família. Quanto a você passar mais tempo aqui, digamos que ainda não sei o que irei fazer. Terei que estudar melhor os fatos, talvez você consiga certo tempo para aprender mais sobre este lugar. Agora vamos tratar de nos apressar antes que comece a chover.


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