Choque de Tempo escrita por Miss Krux


Capítulo 7
Capitulo 7- O chamado do Xamã Zanga.




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Verônica, como dito naquela manhã, seguia rumo à aldeia Zanga. Por algum motivo que ainda não tinha conhecimento (uma vez que o guerreiro que lhe trouxe o recado não deu detalhes), o Xamã solicitava a sua presença e que quanto antes pudesse partir, melhor. Por ser urgente e grave, talvez fosse preciso que Verônica ficasse mais de um dia na aldeia.

O guerreiro havia lhe dado o recado há dois dias enquanto ela estava em uma caçada acompanhada por John, mas infelizmente a temporada de chuva tinha atrasado sua partida. Verônica andava a passos largos e rápidos, estava com o coração apertado por não saber do que se tratava. O que poderia ser tão importante que permitiu que o chefe Jacoba enviasse um de seus guerreiros, em alta temporada de chuvas, apenas para lhe transmitir esse recado? Será que era a respeito de sua mãe? Será que era por causa do Tryon? Talvez tivessem encontrado algo sobre Avalon, algum meio ou algum caminho que a guiasse até onde sua mãe se encontrava.

Ela havia saído por volta das 9 horas de casa, gostaria de ter saído mais cedo ainda, porém a chuva não dava trégua e até mesmo em seu caminho para a aldeia teve que se abrigar por duas vezes em cavernas diferentes. A garota da selva aproveitou para se alimentar com as frutas que levava em sua bolsa transversal, mas por outro lado isso só estava atrasando ainda mais sua chegada e deixando-a mais aflita do que já estava. Somente por volta das 15 horas conseguiu adentrar na aldeia; ela estava encharcada.  Mas nem bem havia entrado, Assai veio ao seu encontro; sua expressão estava tensa, parecia preocupada com algo, seja lá o que estivesse acontecendo era grave.

A – Verônica, que bom vê-la. Como estou feliz e mais aliviada em te ver... Já estávamos achando que não viria mais. Venha, vamos direto ao Xamã; ele a aguarda ansiosamente, precisa muito falar com você.

Verônica, depois de se soltar do abraço de boas vindas da amiga, não pôde negar o pedido e tratou logo de segui-la em direção à cabana do Xamã; queria saber o que estava acontecendo e o porquê de toda essa pressa. Antes de entrar na cabana, ela segurou o braço da amiga, impedindo-a de por um instante de entrar.

V – Assai, espere, por favor, me diga o que está acontecendo aqui? Por que toda essa urgência?

Assai olha para amiga, tão aflita como ela mesma, segura suas mãos na tentativa de acalmá-la e esboça um sorriso.

A – Verônica, entre na cabana. Você vai saber o que está acontecendo e entender, mas só o Xamã é capaz de explicar. Por favor, minha amiga.

Verônica olha para a amiga e a abraça como sinal de gratidão. Então entra.

Ela mau podia acreditar no que via; por inúmeras vezes tinha sonhado com isso, até mesmo acordada, esperando que após aquela tempestade horrível, com as mudanças de lugares e o platô já não sendo mais o mesmo, que ele achasse o caminho de volta para ela, para todos eles. E agora ele estava lá. Malone havia retornado. Porém, estava muito ferido, deitado diante do Xamã, que lhe oferecia toda assistência possível. Verônica não sabia se estava mais emocionada ao vê-lo novamente ou com a gravidade dos ferimentos pelo corpo de Ned.

V – Malone?! É mesmo ele? Está ferido e mais magro também. Como o encontraram? O que houve?

X – Chegue mais perto, filha. Sim, é mesmo o seu amigo, aquele que escreve. Sente-se perto dele, talvez lhe faça bem. Os guerreiros o encontraram próximo a uma aldeia inimiga, todos que estavam lá haviam sido mortos em lutas entre aldeias por território e comida. Seu amigo talvez tenha sido atacado por estar de passagem neste lugar que foi destruído. Embora fosse uma aldeia inimiga nossa, não eram hostis. Ele sofreu lesões por todo o corpo, e desde que chegou aqui não recobrou a consciência. Só tem chamado por você dia e noite, está sonhando talvez, não sabemos. Esteve queimando em febre. Esperamos que os deuses permitam que sua presença aqui o ajude.

Verônica senta-se ao lado de Malone, colocando-o em seus joelhos, abraçando-o afetuosamente e chorando de alegria por tê-lo encontrado novamente, mas também de dor por vê-lo naquele estado. As palavras do Xamã, “chamado por você dia e noite”, eram como ecos em sua mente. “Ah Malone... Por onde esteve? Senti tanto sua falta... Como pude pensar e lhe dizer que seríamos apenas amigos? Você é muito mais do que isso para mim. Volte para mim, Malone! Não vou perdê-lo, prometo; não agora que está aqui comigo, nunca mais”.

O Xamã observava silenciosamente a garota da selva abraçando o jornalista: as lágrimas escorrendo pelo seu rosto; o amor que havia entre eles era muito grande, muito forte, poucas foram as vezes que ele pôde testemunhar algo assim.

X – Verônica, ele pode ser salvo. Os ferimentos externos estão sendo cuidados, estou dando antídotos desde quando chegou, mas parece não fazer efeito. Está disposta a se arriscar pela vida desse homem?

Verônica levanta levemente a cabeça e, entre lágrimas, faz sinal que sim.

X – Existe um outro antídoto que eu posso fazer e salvar seu amigo, mas será preciso coragem. Um ovo do pássaro voador que come pessoas; preciso do liquido do ovo para fazer o antídoto, isto e mais algumas outras poções minhas irão salvar seu amigo.

Verônica sabia que era possível. Logo nos primeiros dias que os exploradores chegaram ao platô, John havia feito aquele mesmo antídoto. Eles haviam pegado o ovo de Pterodáctilo, o pássaro voador que come pessoas como o Xamã dizia. Mas ela sabia que sozinha nunca tinha feito, seria quase impossível.

V – Eu trago até o final do dia de amanhã; mas preciso de pelo menos um dos guerreiros Zanga para me acompanhar.

X – Certo. Mas apenas um, não podemos arriscar perdemos nossos guerreiros nessa época de chuva. Escolha um guerreiro e vá. Quanto antes conseguir o ovo, mais rápido e mais certo salvo seu amigo.

V – Obrigada. Por favor, cuide dele, logo estarei de volta.

Verônica sai da cabana e encontra Assai aguardando-a ansiosamente. A loira conta para amiga tudo o que o Xamã lhe explicou, contou como estava emocionada ao ver Malone e da missão que teria que cumprir para salvar a vida do homem que amava. Assai sugere que ela levasse Jarl para ajudá-la, pois ambos tinham uma afinidade maior, por ele ser seu marido e as duas muito amigas, além de ele ser um guerreiro experiente e acostumado a caçadas. 

Verônica e Jarl partiram pouco antes do escurecer; embora soubessem o quanto era arriscado sair à noite, era um risco que valia correr. Eles procuraram evitar os locais onde havia canibais e dinossauros carnívoros. Por receio de serem atacados, optaram por dormir nos galhos mais altos de uma árvore, pois os manteria mais seguros, principalmente de ataques de raptor. Dormiram por poucas horas, pois haviam andado em boa parte da noite até próximo aos penhascos onde se achava com facilidade os ninhos de Pterodáctilos. Também decidiram que seria o ideal escalar um dos penhascos e pegar o ovo logo pela manhã, assim que o sol nascesse, pois era quando os animais saíam para caçar e isso poderia demorar um pouco, dando a eles o tempo que precisavam.

Os primeiros raios de sol iluminavam o rosto da garota da selva, que logo despertou, acordando também o seu amigo e companheiro de viagem. Ambos verificaram ainda do alto da árvore se havia quaisquer movimentações no território, prestando atenção aos barulhos da selva, para só então descerem e irem rumo aos penhascos, que não estavam a mais do que dez minutos de caminhada.

Jarl – Verônica, tem certeza que quer fazer isso? Nenhum dos guerreiros Zanga que tentaram, conseguiram. É arriscado demais.

Verônica sabia que o amigo estava certo. John mesmo quase morreu tentando. Mas não era impossível e era Malone que dependia disso, ela nunca o abandonaria; já tinha passado por coisas piores e não iria desistir.

V – Agradeço a preocupação, Jarl. É arriscado sim, mas é a vida de Malone que depende disso. Eu vou fazer.

Jarl olhou a garota da selva ao seu lado. Ele ainda tinha receios, mas sabia o quanto aquela mulher era destemida. O tempo que ela passou completamente sozinha, desde os onze anos de idade, com certeza a fizeram uma guerreira até mais forte que ele próprio ou os demais da aldeia.

Jarl – Então iremos fazer isso juntos. Tenho minha lança, a corda que pediu e trouxe algumas facas a mais em minha sacola. Fico aqui embaixo e te dou cobertura.

Verônica sorriu, um sorriso de alegria, que iluminou o seu belo rosto. Ela iria salvar Malone, iria sim.

V – Obrigada Jarl, sabia que poderia contar com você. Eu também trouxe mais algumas facas em minha sacola, se precisar não hesite em usá-las.

Jarl mais uma vez admirou a amiga e não pôde deixar de perguntar:

Jarl – Verônica, você o ama não é mesmo? É por isso que está se arriscando? Pelo seu amor? É capaz de arriscar sua vida por ele?

Verônica sente-se corar, não esperava tais perguntas, não imaginou estar tão óbvio, ainda que soubesse que ela e Malone eram (ou estavam) muito próximos. Eles sempre preferiram ser discretos, mas ela mesma já não negava mais esse sentimento dentro de si.

V – Sim, Jarl, eu o amo. Não sei o que passou em minha cabeça ao dizer a ele que seríamos apenas amigos, Mas eu o amo tanto que estou disposta a me arriscar por ele, a arriscar minha vida por ele. Porque se sairmos dessa, eu quero poder dizer isso a ele pessoalmente.

As belas palavras ditas pela amiga tinham também muito significado para Jarl, pois ele sentia a mesma coisa por sua esposa, Assai; ele a amava com sua vida. E agora mais ainda do que antes estava decidido a ajudar a amiga.

Jarl – Faça isso, minha amiga. Nós vamos conseguir. Os deuses não irão permitir que um amor como o de vocês acabe assim, e nem eu irei permitir.

Verônica consegue jogar a corda, laçá-la na ponta de um penhasco próximo e inicia então a escalada. Jarl fica o mais perto possível, atento e pronto para ajudar no que fosse preciso. A subida seguia tranqüila; com uma corda menor, Verônica amarra o ovo muito bem seguro e o desce até onde Jarl estava para que ele guardasse em uma das sacolas. Feito isso, ela inicia sua descida. Quando já estava próximo ao chão, um pterodáctilo passa a sobrevoar bem perto deles, mas ainda não havia notado sua presença, o que dá o tempo necessário de Verônica terminar sua descida ilesa. Já no plano, ela e Jarl fazendo movimentos leves, cuidadosamente guardavam suas facas, não se importando com a corda que estava presa ao penhasco – seria loucura tentar tira-la de lá. Porém, Verônica e Jarl cometem o erro de saírem de perto dos penhascos juntos e em pé, ao invés de saírem um por vez e abaixados, acabando, assim, por serem percebidos pelo pterodáctilo que há minutos estava sobrevoando próximo a Verônica. Aparentemente o animal não havia sentido falta de seu ovo, apenas estava em busca de uma refeição; e agora a refeição eram eles.

V – Jarl, pegue o ovo! Ande rápido e se esconda nas árvores! Embaixo das copas das árvores é fechado e os pterodáctilos não iriam te achar. Além disso eles só sobrevoam lugares descampados. Vá, eu darei cobertura.

Jarl apenas segue as instruções da mulher loira, deixando-a para trás. Verônica ainda estava muito perto dos penhascos, sabia que não podia ficar muito tempo ali ou logo teria um monte daqueles animais por cima dela. Então, decide fazer uma manobra que já havia feito algumas vezes antes: chama atenção do animal para que viesse para cima dela, desse modo fazendo-o voar raso ao chão; o suficiente para ela se esquivasse pela lateral esquerda e lançasse uma de suas facas perfurando-lhe o olho. Verônica correu em direção à corda ainda pendurada, se segurou firme nela tomando impulso para voltar na direção do pterodáctilo que voava em direção a ela com sacrifício e atordoado pelo ferimento. A garota tinha uma faca na boca que lança direto no peito do pterodáctilo. O animal, ao sentir a dor e se ver incapaz de terminar sua manobra, cai e em sua queda agarra-se na corda estourando-a, devido ao seu peso, e trazendo Verônica ao chão. Jarl, que havia retornado correndo, segura-lhe a mão evitando, assim, que ela tivesse despencado penhasco à baixo junto com o animal.

Jarl puxa Verônica para cima e logo nota que a garota mancava de uma das pernas, provavelmente uma das garras do animal havia esbarrado e cortado, mas não parecia profundo. Ele ofereceu o ombro como apoio e logo ambos estavam embaixo das copas das árvores.

Jarl – Verônica, como se sente? Temos que estancar seu ferimento, senão outros predadores podem nos seguir.

Verônica tomou fôlego, tinha tomado um susto e tanto. Ainda bem que havia alguém consigo, senão não estaria ali naquele momento. Tinha realmente se arriscado demais.

V – Estou bem, Jarl, só retomando o fôlego. Você tem razão, temos que estancar o sangue. Na minha sacola deve ter um pedaço de pano, use-o para enrolar no ferimento, por favor. Também tem algumas plantas próximas daqui que poderão ajudar. Me ajuda a caminhar até elas? Assim fazemos o curativo e já partimos para a aldeia.

Jarl – Claro, ajudo sim, vamos.

Em pouco tempo Jarl estava auxiliando Verônica com o curativo com as plantas que iriam cessar o sangramento e enrolando o pedaço de pano em volta de sua perna. A loira mancava um pouco, porém isso não a fez diminuir o ritmo, pois queria logo chegar na aldeia, queria logo estar de volta para os braços de Malone, mal se continha de ansiedade. Ele estaria salvo agora e, melhor, logo poderiam resolver sua situação.


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