Choque de Tempo escrita por Miss Krux


Capítulo 6
Capitulo 6 - Marguerite ameaçadora.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/680666/chapter/6

Challenger havia se alimentado de algumas frutas que estavam na cozinha e se abastecido com uma boa quantidade de água para que não ficasse desidratado. Não era a refeição mais adequada, mas no momento serviria, até porque, não se tinha muito tempo para nada além disso. Logo ele já estava tirando William do meio do caminho e o ajeitando no sofá próximo. O cientista, então, percebe a entrada da herdeira no local; ela ainda estava pálida e não era de se admirar, pois toda a situação que haviam presenciado não tinha sido das melhores. Mas além de pálida, por mais que ela se empenhasse em nunca demonstrar o que sentia, seu olhar estava nitidamente perdido; com o passar dos anos, George aprendeu a decifrar algumas poucas características da morena e sabia o quanto isso a incomodava, se sentir perdida. Logo, podia imaginar o quanto ela deveria estar irritada também, portanto, o melhor agora a ser feito talvez fosse falar o mínimo possível e tentar prestar ajuda para que, quando estivesse tudo mais calmo, ele pudesse ter uma conversa civilizada com todos presentes na casa da árvore.

Marguerite caminhava direto para a pia; precisava tomar um gole de água ou talvez fosse melhor café. Ela estava tentando em vão se acalmar, mas sabia que não iria conseguir, ou pelo menos até descobrir exatamente o que houve, se aquele homem loiro no sofá era mesmo o irmão “morto” de John e o que George tinha feito dessa vez.

Ela caminhava até Challenger, que evitava olhá-la e de cabeça baixa ajeitava todas as pedras, instrumentos e anotações caídas no chão. Então ele vê uma Marguerite com semblante extremamente sério, braços cruzados sobre o peito, como se na defensiva, a sobrancelha arqueada, encarando-o profundamente. Chegava até a se assustar, pois fazia recordar aquela Marguerite de quando chegou ao platô: sem escrúpulo algum e que agora, graças à aproximação de John, havia mudado; mas não estava tão certo se ela ainda não seria capaz de matar alguns deles se fosse preciso.

M – Vamos George, vai ficar me encarando assim por toda a noite? Como se tivéssemos esse tempo... Estou esperando uma explicação! Vai me dizer o que fez ou terei que esperar esse aí acordar e arrancar dele?

Challenger foi pego de surpresa com o comentário da morena. Ele decidiu ganhar tempo, pois ainda queria esperar as coisas amenizarem, ainda precisaria de um pouco mais de tempo e até, por assim dizer, coragem para encarar os companheiros e especialmente a mulher à sua frente, que parecia uma fera pronta para atacar.

C – Marguerite, minha cara, eu irei lhe explicar tudo, mas agora precisamos cuidar dessa bagunça, cuidar dos ferimentos de John. Precisarei examiná-lo, para averiguar se não tem nenhuma fratura depois da seqüência de chutes de William e ainda precisamos nos preocupar em como manteremos esses dois longe. O que posso lhe dizer é que tudo o que tentei fazer foi para o bem de John, ou pelo menos pensei que seria. Usei o teletransportador para trazer o William e posso assegurá-la de que “esse aí”, como se refere a ele, é o verdadeiro William. Ainda não sei exatamente o tamanho do estrago que pude fazer, mas só peço que seja compreensiva.

Marguerite respira fundo. De fato, então, aquele homem era o verdadeiro William. “Droga, Challenger e suas malditas invenções. Será que ele nunca vai aprender?”. Mas o cientista tinha razão, talvez agora tudo o que menos precisavam era de outra discussão. No momento ela aliviaria.

M – Ótimo, Challenger, você se superou desta vez, satisfeito?! Eu não desacredito de que tenha feito por um bom motivo, mas será que não podia nos consultar antes?! Não podia perguntar se concordávamos?! E, como sempre, suas invenções nos metem em problemas. Por hora o que me disse está de bom tamanho, até porque sou obrigada a concordar que temos muitas coisas a serem resolvidas e que exigem maior atenção. Mas me escute e escute com atenção, porque não irei falar outra vez: espero que do mesmo jeito como nos meteu nessa encrenca, saiba como resolver, porque eu não quero ter que me envolver em brigas familiares ou ter que esperar o retorno de Verônica para nós duas resolvermos algo que você causou. E se quiser fazer algo que seja útil e que irá nos ajudar a não vivenciar uma outra cena de luta livre, aconselho que traga uma corda e amarre esse aí em algum lugar. Prometi a John que faríamos isso para nossa própria segurança. Vou buscar o kit medico para cuidar de vocês dois e tomar algo para minha enxaqueca que está me matando.

Challenger apenas encolheu os ombros, incapaz de dizer uma só palavra. Já tinha tido a oportunidade de ver a herdeira tão ameaçadora outras vezes, mas até então nunca havia recebido uma ameaça tão direta dela. Desta vez ela não tinha exposto tanto o sarcasmo em sua fala, mas sim estava estampando o que realmente sentia, a mais pura verdade, e o cientista já não sabia exatamente se isso era bom ou ruim, visto que agora até o rosto da herdeira estava tingido por um leve tom avermelhado nas bochechas lhe dizendo que ela estava ainda mais furiosa do antes.

Marguerite, já seguindo para buscar o kit médico no andar de baixo, vira-se mais uma vez para George, que permanecia calado apenas acatando sua ordem. Não pôde deixar de finalizar com uma última ameaça.

M – E George: quando digo que espero que saiba como resolver, não é que espero; é que ‘quero’ uma solução e ‘quero’ o quanto antes. Porque se quando William acordar e John estiver melhor algo acontecer ou deixar de acontecer por sua culpa, os dois serão o seu menor problema, eu posso lhe assegurar. Fui clara?

George estava ainda calado, já estava boquiaberto com o que havia escutado e visto anteriormente, e agora isso: uma ameaça direta e expressa de Marguerite. Estava tão assustado que foi incapaz de retrucar uma resposta atravessada - embora não soubesse também se tinha esse direito. Apenas respondeu com um pouco de dificuldade:

C – Fo... Foi clara sim, Mar... Marguerite! - e acenou a cabeça em um sinal positivo para a herdeira.

Ela ainda o mediu mais uma vez dos pés a cabeça antes de seguir escada a baixo. “Espero que tenha sido mesmo, porque, George, se algo acontecer ao John será eu quem não irá perdoá-lo”.

Mais tarde, Challenger estava amarrando William ainda desacordado na antiga cama de Sumerlee, o rapaz não estava ferido, mas apenas com um galo na parte de trás da cabeça (de fato, Marguerite tinha lhe dado uma boa pancada), além do mais, deveria estar exausto também, pois o dia não tinha sido fácil para nenhum deles. O cientista amarrou as mãos e depois concluía os pés, quando parou e pensou no que a herdeira havia lhe falado mais cedo; o tom ameaçador, mas escondendo na verdade o quanto estava preocupada com John. “É meu amigo, você não podia ter escolhido melhor. Marguerite Krux, a misteriosa herdeira, madrinha da expedição Challenger, a bela dama sem escrúpulos, havia sido domada por John Roxton. Ou será o contrario?”. Ele mesmo não pôde se conter com seus próprios pensamentos e sorriu diante do que havia lhe passado pela cabeça. Aqueles dois eram de fato um mistério, duas pessoas tão apaixonadas e tão dispostas a esconder e não admitir o que sentiam; até quando iriam guardar isso para eles?

Na sala, Marguerite terminava de arrumar a bagunça. Logo o cientista adentrou, ainda não tão certo de como seriam as próximas horas e de como seria conversar com John.

C – Minha cara, deixe que eu termine isso, talvez seja melhor cuidar do nosso amigo lá embaixo. Já amarrei William na antiga cama de Sumerlee, como me pediu. Logo desço para examinar John e preparar alguns medicamentos para ele.

Marguerite sentou-se na cadeira ao lado, olhando para a noite lá fora; ela sabia que seria uma longa madrugada e que mais cedo tinha sido muito dura com Challenger, mas foi necessário. Agora já estava mais calma, porém não menos preocupada.

M – Challenger, ao invés de me ajudar com a arrumação prefiro que me faça companhia para cuidar dos ferimentos de John, assim aproveitamos os três para conversarmos e decidirmos o que será ser feito. Depois cuidamos da sala e tudo mais. Até porque, quando William acordar terá que enfrentá-lo também, não se esqueça disso.

C – Está certa, minha cara, está certa. Vamos, precisamos cuidar de John. Pobre homem... deve estar totalmente desorientado.

Challenger e Marguerite, já com o kit médico em mãos e demais medicamentos, rumaram para o quarto de John para prestarem os devidos cuidados. Em seu quarto o belo caçador dormia profundamente, nem sequer ouviu os passos dos amigos se aproximando. Challenger aproveitou que o amigo descansava para poder examiná-lo, porém teve que acordá-lo para examinar o abdômen, as costelas e onde mais havia levado pontapés.

C – John? John, meu velho, acorde. Preciso examiná-lo melhor, saber se tem algum osso fraturado ou quebrado. Desculpe, meu amigo, mas só posso fazer isso com você acordado.

John logo desperta com o chamado do amigo sem nem sequer reclamar e senta-se na cama.

J – Claro, George, quanto antes fizer, melhor.

Marguerite estava na cadeira ao pé da cama, atenta ao cientista que examinava cada parte do corpo do caçador. Este apenas respondia se doía ou não. “Graças a Deus, poucos são os pontos que ele responde que sim, que doía. Talvez seja mais o choque do reencontro que o tenha deixado tão exausto”.

J – Então, George, quão ruim eu estou?

Challenger acabara de finalizar seu exame mais detalhado e agora já estava revirando o kit médico em busca de faixas, pomadas e curativos.

C – É, meu velho, como diz nossa Marguerite: vaso ruim não quebra. Tirando os hematomas por quase todo o seu abdômen e um bem grande no rosto, você só está com um inchaço grande no lado esquerdo do seu peito, talvez uma costela fraturada e um corte na boca. Nada que um ou dois dias de descanso absoluto não resolva.

John suspira fundo; odiava ficar de repouso, deitado o dia inteiro, se sentia inútil. O caçador sempre fora ágil, acostumado com suas caças, cortar a lenha, preparar os almoços ou jantares, então, estar assim não lhe agradava nem um pouco. Por outro lado, teria a atenção de Marguerite só para ele - havia um lado bom depois de tudo. Marguerite continuava sentada na cadeira aos pés da cama, absorta em seus próprios pensamentos. O caçador, então, decide desperta-la dos pensamentos, fazendo um de seus comentários que a surpreendiam.

J – Bem, acho que todos esses ferimentos, não são nada que as mãos habilidosas da minha Marguerite não possam curar. Não é, Marguerite? 

Ela desperta de seus pensamentos com o comentário de John, principalmente quando ouviu a forma como ele se referiu a ela: “Minha Marguerite”. Claro, John estava se aproveitando daquela situação, fazendo suas graças como sempre e, pior, na frente do cientista, que logo corou também com o comentário do caçador. Não que ela não tinha gostado de ouvi-lo chamando de minha, mas eles já haviam conversado e feito acordo de esperar mais um pouco para assumirem diante dos outros e agora ele havia dado essa brecha.

M – Ora, John, devo lembrá-lo que não sou de ninguém, muito menos sua, para me chamar de “minha Marguerite”. Agradeço o elogio sobre eu ter mãos habilidosas, mas dispenso suas graças. George, me passe as instruções do que devo lhe auxiliar, por favor.

John não contava que Marguerite o rechaçasse de tal maneira, mas sabia também que a morena não estava de bom humor. Sentiu que talvez tivesse abusado demais, portanto, o belo caçador preferiu calar-se e olhar apenas para o chão, antes que fizesse outro comentário que despertasse a ira da herdeira. Ela sabia que ela seria capaz de deixá-lo apenas nas mãos do cientista e isso era algo que não queria. George observou a cena toda; era óbvio o quanto se amavam, mas também mais nítido o quão orgulhosos eram em assumir tal sentimento. O cientista apenas balançou a cabeça e começou a instruir Marguerite no que deveria ser feito.

C – Bem, John, vou precisar que remova sua camisa. Se não conseguir eu o auxilio. Marguerite, preciso que pegue essas pomadas que separei para passar na região torácica do nosso amigo aqui, são algumas misturas que fiz com base nos diários dos pais da Verônica. Elas vão ajudar com o inchaço e são antiinflamatórias também. Quero que espalhe bem no tórax e na região do rosto, próximo a boca, onde John levou o gancho e tome cuidado para não deixar pegar no olho. John, também preciso verificar os hematomas das suas pernas. Preciso que remova suas calças também. Ah... Minha cara, nesse caso peço que se retire para que eu possa fazer isso.

Marguerite, já seguindo para o andar de cima, olha para Challenger, que começava a auxiliar John com a remoção da camisa.

M – Claro, George. Quando terminar é só me chamar. Estarei preparando um chá para tomarmos e vou trazer algumas frutas também. Não demore.

Challenger faz um sinal positivo com a cabeça e começa a trabalhar, removendo as roupas de cima e de baixo do caçador, para poder tratar os machucados.

A herdeira já havia se retirado do quarto e agora estava na cozinha preparando o chá e separando as frutas. Como Challenger estava demorando a chamar, ela se permitiu recostar em uma cadeira, se perdendo em tudo o que havia vivido naquele dia; olhou para o sofá e se lembrou como ela e John haviam se amado naquela manhã, como haviam se divertido e como haviam dançado à tarde. Ela adorava dançar e John era um dançarino nato, sabia como a conduzia pela casa da árvore. “Será que um dia teremos a chance de dançar assim em um salão de uma das grandes festas da sociedade londrina? Não, talvez mesmo se um dia voltássemos para Londres, ela não poderia se dar ao luxo de participar desse tipo de festas, não com todas aquelas pessoas colocando sua cabeça à prêmio. Seria suicídio”. Mas por outro lado, como ela desejava que aquilo um dia acontecesse... Logo Marguerite, embalada por seus desejos e, principalmente, imaginando-se dançando com John em uma das grandes festas da alta sociedade, se entrega ao mundo dos sonhos.

O cientista, no andar de baixo, já havia examinado as pernas de John e também aplicado a pomada. Também fez com que ele ingerisse um remédio que logo aliviaria as dores ou as amenizaria quando começasse a senti-las. A cargo de Marguerite ficou cuidar apenas do rosto e região torácica de John. Porém, quando Challenger chamou por ela não teve retorno; os dois homens trocaram um olhar de surpresa e preocupação.

J – George, tem certeza que amarrou bem o William na cama?

C – Amarrei sim, John. E outra: Marguerite está com a arma no coldre, então se algo tivesse acontecido teríamos ouvido. Fique aqui, meu velho, vou subir e ver o que está acontecendo.

No andar de cima, Challenger se depara com Marguerite sentada em uma cadeira, adormecida, apoiada no balcão da mesa. Ao seu lado estava uma bandeja de frutas e uma xícara de chá. No fogão havia mais chá no bule, fervendo. As feições de Marguerite estavam suaves, com um leve sorriso. Só podia estar dormindo mesmo, porque ele sabia o quão perigosa a herdeira podia ser quando acordada. Contudo, infelizmente ele tinha que acordá-la.

C – Marguerite, minha cara, sinto muito, mas John precisa de seus cuidados.

Ainda a contragosto, Marguerite, resmungado algo que parecia um lamento em ter que acordar, consegue se orientar em poucos segundos do que estava acontecendo e logo estava em pé, mesmo que ainda bocejando.

M – Challenger, acho que peguei no sono. Como John está?

Challenger já estava seguindo até o bule e tirando-o do fogo, depositando-o na bandeja junto com as frutas.

C – Ele está bem, Marguerite. Exausto, acredito que como todos nós. Ainda precisa de seus cuidados; porque não desce para tratá-lo? Vou terminar de arrumar algo para comer. John precisa se alimentar e, na verdade, até me esqueci que nenhum de nós comeu nada ainda.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Choque de Tempo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.