Choque de Tempo escrita por Miss Krux


Capítulo 16
Capítulo 16 - Bem armada, bem acordada, muito brava e dois é o mínimo.




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Era o primeiro amanhecer em dias que fazia sol no platô, a casa da árvore estava se enchendo pelos primeiros raios. Como de costume, os moradores já haviam se levantado e estavam na mesa do café da manhã, ou melhor, quase todos; o casal de cabelos escuros continuava a dormir em seus quartos trocados.

No quarto do caçador, a janela costumava ficar aberta permitindo que o sol quente aquecesse o quarto e o iluminando também; bem diferente do quarto da herdeira, que preferia sua janela fechada, embora pela manhã gostasse da temperatura amena do sol aquecendo sua pele, não suportava mesmo era a claridade, pois lhe atrapalhava forçando a abrir os olhos. A herdeira durante a noite, talvez pelo cansaço, havia apenas deitado aguardando John, mas dormiu mais do que esperava, ou melhor, tinha praticamente desmaiado.

M - Bom dia para você também platô, maldito platô. Já sei, está na hora de acordar.

A herdeira ainda se esticava, virando-se de costas para a janela, ainda não ciente de onde estava, quando ela lembrou-se de não ter visto John retornar para seu quarto; na verdade, só se lembrava de ter se deitado e dormido.

M - Eu dormi, mas que droga. E pior, dormi no quarto de John sozinha? Se ele não veio pra cá, então onde está? Droga, droga, Marguerite, você não podia ter dormido.

Ela apressou-se, guardando a arma no coldre e subiu correndo as escadas se deparando com os moradores, até mesmo o novo hóspede já estava na mesa para o café da manhã.

M - Onde está John? E você, o que faz tomando café da manhã sentado no lugar dele? O que aconteceu ontem?

Estava bem claro que a morena estava de péssimo humor e estava se direcionando à William; pior, já estava quase tirando a arma do coldre para direcionar a ele. Os outros já sabiam o que havia acontecido, estavam todos bem, mas a herdeira não fazia noção e, como sabia que antes de deixar John na sala às coisas não estavam tão bem, presumiu que algo havia acontecido. William por sua vez foi pego de surpresa, estava atordoado, não esperava tal recepção da herdeira. Na verdade, ele mal conseguia falar, sua cabeça chegava até a girar ao se lembrar das suas ameaças feitas anteriormente e agora, vendo-a tão bem armada e tão brava, estava nítido que a temia e que estava morrendo de medo dela cumprir com as promessas.

M - Vamos, William Roxton, fale logo. O que fez com seu irmão e meu marido? Fale logo, vamos, ou juro que não vou pensar duas vezes em disparar.

Os outros ainda estavam assustados, a entrada da herdeira havia sido impactante. O homem loiro, sentado em sua cadeira, olhava-a com tanto medo, sentiu-se arrepiar por inteiro, o medo tomou-lhe conta. Ele apenas a olhava sem falar uma palavra, quando, então, a herdeira decidiu agir: tirou a arma do coldre de uma vez por todas, engatilhou e apontou.

M - Ótimo. UM... DOIS...

Verônica foi a única que conseguiu se manifestar; antes que a herdeira terminasse de contar até o três e disparasse ela gritou, impedindo que a herdeira prosseguisse com o equívoco de atirar em William:

V - MARGUERITE, NÃO!!!

Assim, todos respiraram aliviados. Challenger quase queimou as torradas, Malone esqueceu-se completamente do café que estava no fogo, William estava mais branco que uma folha de papel. E Verônica trocava olhares com a morena.

John, claro, acordou de um pulo com o grito de Verônica. "O que será agora? O que aconteceu? Mas que droga, cada manhã é uma surpresa".

M - Então, o que aconteceu?

V - Vamos, William, diga a ela. Marguerite não vai lhe fazer mal algum.

A garota encarava Marguerite, olhando-a no fundo dos olhos como que em um sinal de que estava tudo bem - embora a herdeira não acreditasse muito.

W - É... Eu não estou tão certo disso, Verônica, não estou tão certo que ela não me faria nada. Eu... Eu e John fizemos uma trégua. Ontem você dormiu no quarto dele e, como não havia espaço para vocês dois na mesma cama, o ajudei a ir para o seu quarto, ele estava dormindo lá.

Marguerite olhou para o homem, ouvindo cada palavra atentamente, quando lembrou-se de ter deixado um de seus diários antigos próximo a cama. Era um diário de quando esteve na França; estava relendo outro dia e agora John dormia na sua cama.

M - John está dormindo no meu quarto? Na minha cama?

W - Sim, está sim. Ele tinha que dormir em algum lugar.

M - Ora, e tinha que ser lá? Não havia outro lugar não?

W - E que lugar queria que eu o colocasse?
M - Ora, que o colocasse no chão, não sei, em qualquer lugar. Mas no meu quarto não. Que droga! Ah, mas Lord John Richard Roxton vai ter que me explicar isso muito bem, ah se vai.

A herdeira nem bem havia terminado a frase e já estava andando apressada e furiosamente em direção a seu quarto. Todos ainda se olhavam, confusos, surpresos.

N - Pobre John, acho que a lua de mel não será como ele imaginou.

V - Ned!

N - O que? Vocês viram, hoje ela acordou com a corda toda. Sinceramente, são nessas horas que sinto pena do John e o admiro também.

W - Espera, senhor Malone, está dizendo que é sempre assim?

N - Já foi pior. Graças a John ela mudou muito, eu acho.

W - É... Eu tenho minhas dúvidas depois de ter visto o que vi agora pouco.

Challenger observava a conversa dos dois rapazes, trocou um olhar com Verônica como se um soubesse o que o outro estava pensando: o rumo da conversa dos rapazes não era algo apropriado e se Marguerite ouvisse seria pior, com o humor que ela estava seria uma catástrofe.

C - Bem, bem... Quem quer torradas? Estão prontas. Ah William, hoje irei leva-lo ao moinho de vento.

W - Ah... Claro, professor, obrigado. Mal posso esperar.

Verônica chegou perto de Malone e falou baixinho, apenas o suficiente para ele ouvir.

V - Malone, está louco? Falar sobre Marguerite assim com ele? Quer ser o próximo da fila dela?

Malone não havia pensado por esse ângulo, a garota da selva estava certa, ainda mais depois do desastre que quase havia acontecido.

N - É melhor eu calar minha boca grande.

V - Também acho.
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M - Lord John Roxton! Seu Lord de uma figa, não perde a oportunidade não é mesmo? - dizia a herdeira enquanto entrava no quarto.

Pelo grito de Verônica e pelos passos pesados de Marguerite descendo as escadas, John já havia imaginado que algo de sério tinha acontecido. O caçador havia conseguido sentar-se na cama e não entendia o porquê da ira da herdeira. Seria possível que fosse porque ele dormia em seu quarto? Será?

J - Mas o que foi que eu fiz agora?

M - Ora, você ainda pergunta? Preciso mesmo responder? Como se não soubesse… Quer o que? Que eu desenhe?

J - Espera, não é possível. Você está assim por eu ter dormido no seu quarto?

Marguerite atravessava o quarto para pegar discretamente o diário na mesinha e guardá-lo em uma de suas gavetas. O que, por sinal, não passou despercebido pelo caçador, mas ele preferiu ter a resposta de Marguerite antes, não querendo acreditar que ela desconfiasse que ele, seu futuro marido, havia lido um de seus diários.

M - Não, John, foi um raptor que dormiu em meu quarto e não você, não é mesmo? Claro que estou brava por isso! Odeio que entrem no meu quarto sem minha permissão e você deveria saber disso melhor do que qualquer um.

Era a confirmação que John precisava. Infelizmente, a herdeira ainda não lhe confiava tudo, ficou com medo que ele tivesse lido um de seus diários, sendo que ele apenas deitou e dormiu. Ele tinha visto sim o diário, mas não passou nem por seus sonhos lê-lo, não era de seu feitio. Agora era ele quem estava com raiva, sentia como se o sangue fervesse; depois de tudo ela ainda não confiava nele.

J - Não, Marguerite, não é por isso que está brava. Está com medo que eu tenha lido um de seus diários; acha mesmo que eu faria isso? Estou pouco me importando com seus malditos diários. E não faça essa cara de surpresa porque é isso mesmo: VOCÊ NÃO CONFIA EM MIM!!! O que tem nessa droga de diário que ficou com tanto medo que eu lesse? Que a fez me atacar assim? Vamos, e agora quem está com a razão aqui?

Marguerite parou diante da afirmação e acusação do caçador, não achou que ele fosse perceber o real motivo de seu incômodo e, pior, ele estava certo, ela não confiava ainda nele, não por inteiro, a ponto de lhe contar todas as coisas de seu passado. Havia algumas coisa que ela preferia que ele não soubesse, principalmente sobre sua passagem pela França, de sua estadia, de como tinha realmente tirado seu sustento, não era algo de que se orgulhava, mas, acima de tudo, se sentia culpada, ela deveria saber da integridade do caçador e o subestimou, se sentia agora terrivelmente culpada. A herdeira abaixa a cabeça, não conseguia nem sequer olhar para o caçador de vergonha pelo que havia dito.

J - Vamos, Marguerite, estou esperando uma resposta sua; ou será que o raptor que dormiu em seu quarto, como colocou, comeu sua língua?

Ainda sem levantar os olhos e em tom baixo (foi preciso até que John fizesse um esforço para ouvir), Marguerite respondeu:

M - Você está certo, John, eu deveria ter confiado mais em você, mas existem coisas sobre meu passado das quais não me orgulho de ter feito e nem me sinto pronta para falar. Mas eu deveria saber que nunca mexeria em minhas coisas, principalmente em meus diários.
John, ao ouvir tais palavras, sentiu-se menos zangado, mais ainda chateado. Marguerite guardava muitas coisas, coisas que ele sentia que tinha que saber, porém, se pressionasse ela seria capaz até mesmo de recuar quanto a se casarem, impossibilitando-o de uma vez por todas de ajudá-la ou saber sobre seus segredos.

J - Você é a mulher mais cabeça dura que já conheci, Marguerite. Sabe, às vezes não sei o que vi em você, mas sei certamente o que não gosto em você. Porém, eu devo ser o homem mais cabeça dura no mínimo do universo, para aguentar você.

O que ele poderia querer mais? Ela estava pedindo desculpas! Ela, Marguerite Krux, pedindo desculpas e ele ainda a estava menosprezando! - pensava ela. Antes que John pudesse continuar, Marguerite o estava interrompendo bruscamente.

M - Ora, Lord John Roxton, está arrependido? Não seja por isso, ainda está em tempo de acabar com tudo...

Antes que Marguerite terminasse de falar (algo que não deveria, aliás), o caçador estava em pé diante de seus olhos, aparentemente muito bem recuperado após a noite de sono, com os olhos verdes brilhando em sua direção, fazendo com que ela própria desse alguns passos para trás - não sabendo ao certo se estava surpresa pela recuperação do Lord ou se com receios de como ele a olhava. Já o caçador não perdeu a oportunidade para encurralar a herdeira entre a parede e a si mesmo, podendo olha-la direto nos olhos.

J - Não vá falar nada de que venha a se arrepender, Marguerite, porque não estou para brincadeiras. Como eu dizia, devo ser o homem mais cabeça dura, no mínimo do universo, para aguentar você, mas não me arrependo de absolutamente nada, tudo o que fiz e faço por você o faria quantas vezes precisasse. Entendo que ainda não esteja pronta para me contar todos os seus segredos, mas duvidar de mim... Achar que para descobri-los eu seria capaz de ler seu diário... Já é coisa demais para eu aturar. Porém, vou levar em consideração tudo o que passamos esses dias, pois sei muito bem do seu nervosismo. E também por ter se arrependido das coisas que falou. Mas terá uma condição.

Por algum motivo desconhecido, Marguerite sentiu-se gelar ao ouvir John falar sobre uma condição, sentiu arrepiar-se inteira, encarava o caçador forçadamente, até porque agora ele mantinha seu rosto erguido para que ela o olhasse nos olhos.

M - Uma condição… Pois bem; e qual seria?

J - Bem, como casados, ou pelo menos noivos, e uma vez que já assumimos de uma vez por todas, vamos dividir o mesmo quarto. Estou cansado, Marguerite, de ter que sair do seu quarto antes que os outros acordem para que não me vejam ou vir pra cá só depois que durmam. Não há mais necessidades de esconder de ninguém.

Marguerite sentiu as pernas ficarem moles como se fosse cair e talvez isso só não aconteceu porque o caçador a estava mantendo firme em pé e encurralada, por assim dizer.

M - Dormir juntos? Como marido e mulher? Todas as noites? Você só pode estar brincando.
John não estava exatamente zangado, mas não era a resposta que ele queria e também não iria se contentar, nem mesmo soltá-la até conseguir a sua devida resposta. Então, decidiu apertá-la mais ainda contra a parede e contra as sua palavras.

J - Exatamente, minha querida. O que ouviu. Daqui em diante, seremos como marido e mulher e, como tal, nada mais justo do que honrarmos o que prometemos um ao outro.

Marguerite chegou até a se sentir tonta, com certeza agora ela cairia, ainda bem que ele estava ali, ou nem ela mesmo sabia se isso era bom. Porém, John estava certo, haviam assumido o relacionamento, ele havia proposto casamento e pretendiam oficializar; ela só não esperava que ele fosse lhe cobrar isso tão cedo. Certamente aquele dia não poderia melhorar.

J - Então, não vai me responder? Estou perdendo a paciência.

M - Tá... Tá... Mas que pressa. Até parece que não sabe que para essas coisas eu penso duas vezes, no mínimo. Mas já tem sua resposta. Se estiver bem hoje, você e o Malone trazem suas coisas pra cá. Inclusive sua cama, assim juntamos e fica uma cama de casal, cabendo os dois.

J - Não tenha dúvidas, minha querida, que farei hoje mesmo. Aliás, assim que subirmos para o café irei já solicitar a ajuda do Malone. Quanto antes melhor, vai que você muda de ideia...

M - Eu não pretendo mudar de idéia, costumo honrar com as minhas palavras.

Ambos ainda se olhavam, a discussão já havia terminado e de certa forma eles já haviam se acertado, mas os dois ainda estavam com os nervos a flor da pele, irritados um com o outro.

Marguerite ainda não estava tão certa da decisão que havia tomado, porém, não iria voltar atrás e John não podia negar que o que quer que fosse que tivesse naquele maldito diário havia despertado tal curiosidade que nunca tivera antes. Ou melhor, ele tinha desconfiança, o porquê dela querer tanto escondê-lo estava martelando na sua mente. Porém, como havia falado várias vezes antes, quando ela estivesse pronta ele estaria lá para ouvi-la, antes disso não iria quebrar sua palavra.


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