If I Die Young escrita por Kaya Levesque


Capítulo 13
Bônus: La Vie En Rose


Notas iniciais do capítulo

Olá! Estou postado com alguns dias de atraso, mas é por uma boa causa: hoje é o aniversário da fic!!!!!!!
O que dizer? Gente, muitíssimo obrigada. Se IIDY está aqui pra fazer aniversário, é tudo por causa de vocês. Hoje, estamos comemorando seis meses, 44 comentários, 60 acompanhamentos, 13 favoritos, 1 recomendação e 4.270 views. É muita coisa pra uma história tão novinha, e eu sou muito grata por tudo!
Sobre esse capítulo, como podemos ver pelo título, é um bônus. Eu pensei em postar o 13 normalmente, mas não consegui terminá-lo a tempo e estava seriamente considerando deixar a data passar em branco. No entanto, hoje de manhã tive a ideia pra esse pequeno conto, e decidi postá-lo como uma comemoração.
Além disso, preciso dar alguns agradecimentos especiais. Mrs Dreams, obrigada por ter me ajudado tanto durante a história, betando capítulos e aprovando (ou não) minhas ideias malucas; e Amélia, obrigada pelo incrível apoio quando IIDY era apenas uma ideia, e novamente quando tomou forma em um prólogo de 440 palavras, do qual você reclamou tanto.
Sem mais delongas, feliz aniversário!
La Vie En Rose – Louis Armstrong



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Outubro de 2008, véspera de Ação de Graças, algum lugar entre Connecticut e Filadélfia.

 

Já estamos chegando? — perguntei, pela terceira vez em menos de uma milha.

Ah, meu Jesus Cristo, Emily! — explodiu meu pai, Remi, ao volante. Ele era um homem grande, com um metro e noventa e um centímetros, e podia ser bem assustador quando queria. Sua pele tinha um tom bonito de chocolate, mais escura que a minha, e ele mantinha sua cabeça raspada para combinar com a barba bem feita. — Não estávamos chegando nas últimas duas vezes, e ainda não estamos. Agora, pelo amor de Deus, assista seu filme em silêncio.

Franzi o rosto e cruzei meus bracinhos, birrenta. Não queria mais ver aquele filme – muito embora Alice no País das Maravilhas fosse minha animação da Disney preferida.

No banco do carona, minha mãe, Rose, olhou torto para Remi, reprovando sua resposta dura. Ela tinha longos cabelos negros, que, ao contrário dos meus, eram lisos e escorridos. Seus olhos eram muito grandes para o rosto pequeno, e os lábios, grossos; eu havia herdado aquilo dela. Mamãe era baixinha, quase trinta centímetros menor que meu pai, o que resultava um contraste interessante quando eram vistos juntos.

Seu pai está estressado com o trânsito, querida — assegurou, olhando-me. — Mas você sabe que a viagem até a casa da vovó dura três horas e meia, então qual é o problema?

Estou entediada — falei, dramaticamente.

Meus pais riram.

Eu achei que você gostasse de Alice no País das Maravilhas — disse meu pai. — Olhe, estamos chegando na parte das ostras.

De fato, quando olhei na telinha embutida ao banco de minha mãe, vi que Alice acabara de trombar com os irmãos Tweedledee e Tweedledum. Rose fez uma careta para a tela no painel do carro, bem entre as duas saídas de ar.

Ah, eu detesto esses dois — disse. Meu pai assentiu, concordando.

Eu não sei — falei, voltando-me à minha tela enquanto Alice conversava com os gêmeos ruivos. — Eles são bonitinhos.

São bizarros — disse Remi.

Franzi o nariz para ele e mamãe deu uma risadinha.

Viu, Emily? — perguntou, virando-se para me olhar. — Você gosta do filme. Então o que há de errado, jolie?

Suspirei pesadamente, observando a paisagem e outros carros passarem pela janela na forma de vários borrões.

Eu não quero mais ver o filme — falei.

E o que você quer? — perguntou papai, olhando-me pelo espelho retrovisor.

Já sei! — disse minha mãe, estalando os dedos, virando-se para a frente e tirando o filme. — Que tal uma história?

Remi assentiu, aprovando a ideia.

Emily, eu já te contei como conheci sua mãe?

Ela riu.

Essa é uma boa história — disse, animada e sorri. Não era difícil deixá-la daquela maneira.

Como foi? — indaguei, olhando meu pai pelo espelho retrovisor.

Era uma vez um campus no reino longíquo de Connecticut: a Universidade Wesleyan — contou Rose, olhando para o parabrisa e colocando a mão esquerda no banco de Remi carinhosamente. — Como você sabe, seu pai ganhou uma bolsa para jogar futebol lá, enquanto eu prestei exames para entrar, como uma pessoa normal faria.

Sua mãe estava num grupo acapella — meu pai tomou a palavra, buzinando furiosamente para um carro verde que tentara passar em nossa frente. — E no dia 20 de dezembro de 1986, eu estava congelando numa festa pré-winter break com uns caras da fraternidade quando ela apareceu com o resto das garotas.

Vocês se conheceram aí? — perguntei, enquanto inclinava meu corpo para a frente, curiosa.

Calma — disse minha mãe, rindo. — Nós tínhamos ido nos apresentar na festa como um favor àquela fraternidade, e também para ensaiar para as competições. Eu estava muito nervosa por ser uma caloura e não conhecer muita gente, mas quando subi no palco, meus olhos foram atraídos para um rosto, direto pra ele.

Era meu pai? — indaguei, mais ansiosa ainda.

Os dois trocaram olhares divertidos, rindo.

Não, querida — disse. — Era o tio Louis.

De testa franzida, tornei a me encostar no banco, esperando pelo resto da história. Eu sabia que mamãe e tio Louis já haviam namorado, mas hoje, ele e seu esposo, tio Jack, eram meus padrinhos.

Os dois formavam um casal ótimo, com duas filhas que eu considerava minhas primas, muito embora não tivéssemos laços de sangue. Tio Lou tinha um metro e setenta de pura palidez e era um sujeito muito engraçado, sempre fazendo piadas com tudo. Tio Jack era mais baixo que ele por apenas alguns centímetros, e tinha cabelos castanhos sempre bagunçados, dando-lhe um ar juvenil.

Marie e Jessica, suas filhas, eram gêmeas fraternas, sendo um pouco diferentes por causa disso; enquanto Jessica tinha cabelos loiros, os de Marie eram mais escuros, castanho-claros. A primeira garota tinha a pele lisa, mas a segunda herdara as sardas de sua mãe, Vanessa, irmã de tio Jack, que também fizera faculdade com eles. Tio Lou dissera que as pessoas sempre se assustavam ao saber que tia Vanessa estava grávida do irmão antes que contassem a história toda.

Tio Lou e eu trocamos números depois da apresentação — continuou mamãe —, e saímos logo após o winter break. Depois de quatro encontros, estávamos namorando.

Enquanto isso, eu estava saindo com uma garota, Kelly ou coisa parecida — disse Remi. — Ela era bem legal, mas parecia gostar mais de tio Jack do que de mim. Foi um choque pra coitada quando descobriu que ele era gay, terminou comigo nem bem uma semana depois.

Oh, eu me lembro de Kelly — disse minha mãe, após dar uma risadinha. — Ela cantava acapella comigo, não era?

Meu pai assentiu, confirmando.

Nos conhecemos no dia da apresentação — disse.

Rose riu mais uma vez antes de continuar:

Então, na primavera de 1987, quando conheci tia Vanessa, ela nos apresentou ao tio Jack — contou. Sorri, animada, ao perceber que eles contariam também como meus padrinhos se conheceram. — Ele e Lou ficaram amigos instantâneamente, imagino o por quê — ela cutucou meu pai e ele gargalhou. — De qualquer forma, nós dois ainda namoramos por algum tempo, até 1988. Era engraçado como, mesmo tendo os mesmos amigos, frequentando os mesmos lugares e até estando no mesmo ambiente ao mesmo tempo, seu pai e eu não nos esbarrávamos.

Enquanto tio Jack escondia sua mãe de mim — disse meu pai, tomando a palavra —, eu comecei a sair com outra garota no outono, e uma que não gostava dele, dessa vez. Seu nome era Ashlee, e ela era um líder de torcida. Lembra dela, querida?

Se eu me lembro? — perguntou mamãe, gargalhando. — Aquele foi o melhor término que eu já vi na vida.

Papai riu, concordando com a cabeça.

O que aconteceu? — perguntei, animada com a história. Era bom saber como fora a juventude de meus pais e como eles conheceram as pessoas que faziam parte de nossas vidas agora. Eu esperava um dia ter coisas legais assim para contar a meus próprios filhos.

Bom, Ashlee era uma drama queen — falou Remi. — Ela me ligava milhares de vezes por dia, chorava se eu não atendia e acampou do lado de fora do meu quarto quando fui visitar sua avó. Tio Jack adorou isso, claro, porque dividíamos o dormitório. — Meus pais riram novamente. — Então, obviamente, eu tive que terminar o namoro. Escolhi um lugar público, o gramado em frente ao prédio das aulas de sua mãe, esperando que ela não fosse dar escândalo por estarmos rodeados de estranhos.

Isso não deu muito certo — disse mamãe.

Por quê? — perguntei, agora praticamente escorada no banco de Rose.

Porque Ashlee acabou fazendo um escândalo mesmo assim — falou papai. — Ela gritou comigo, tentou me bater e chorou até os seguranças do campus a tirarem de lá.

E seu pai só ficou parado com a cara mais engraçada de “o que está acontecendo?” — contou mamãe, gargalhando.

Espere, você viu? — perguntei. — Foi aí que vocês se conheceram?

Não — disse minha mãe.

Argh — falei, frustrada. — Vocês estão me matando!

Estamos perto, eu juro — prometeu Remi. — Bom, depois daquilo, deixei de namorar por algum tempo, e foi tempo suficiente para seu tio Louis descobrir que gostava mais de Jack que de sua mãe.

Assim, na primavera de 1988, Lou terminou comigo para ficar com Jack — contou Rose. — E isso, claro, partiu meu coração, então Jack decidiu se redimir e pediu para Vanessa me apresentar a um de seus amigos do time.

E era meu pai? — perguntei, animada.

Ainda não — negou mamãe. Rolei os olhos, exasperada. — E querida, por favor, encoste em seu banco.

Fiz o que ela pediu, escorando o corpo no banco de trás, e cruzei os braços.

O que aconteceu depois? — indaguei. — Quem ela te apresentou?

Um rapaz chamado Jesse Black.

Eu ri, incrédula. Tio Jesse era agora casado com Vanessa, e ambos moravam em Nova York, tendo um bebê a caminho. Ele era um homem hispânico e tão alto quanto tio Jack, e tia Ness era apenas um pouco mais baixa que ele, com belos cabelos castanhos e sardas que foram herdadas por Laura.

Mamãe, você realmente namorou os maridos de tio Jack e tia Vanessa? — perguntei, ainda rindo.

Ah, meu Deus, não! — disse mamãe, como se fosse absurdo, e meu pai riu.

Mais sobre isso depois — falou ele. — Bom, na primavera, precisamente dois dias depois que sua mãe e tio Lou terminaram, eu conheci uma garota, Carly. Ela era do tipo que estava sempre ocupada, fosse com escola ou trabalho, e fazia uma cadeira de cálculo com sua mãe. Eu a esperava todo dia do lado de fora da sala.

— E foi aí que você se conheceram? — indaguei.

Ainda não, meu bem — negou Remi. — Você está de cinto?

Sim — respondi impaciente. — O que aconteceu depois?

Bem, Jesse era ótimo — minha mãe retomou a palavra. — Era engraçado, inteligente e sempre pagava os M&Ms quando íamos ao cinema. No entanto, ele era bom apenas como um amigo, e foi aí que Vanessa começou a se interessar. Assim, com Lou e Jack namorando e Ness começando a sair com Jesse, no verão de 88, eu estava sozinha.

Foi aí que tio Lou arrumou dinheiro para alugar um barco no 4 de julho — contou papai. — Jack me convidou, finalmente pretendendo me apresentar o namorado, e Vanessa chamou Rose também.

Foi uma viagem divertida de fazer, eu, Jack e Lou no mesmo carro — comentou mamãe. — Claro que eu não sentia ciúmes nem raiva; o problema não eram eles, e sim o trânsito de Nova York, que, como você viu, é horrível.

Remi riu.

Eu saí da Universidade com Ness e Jesse algumas horas depois, e os outros já estavam ficando loucos quando chegamos.

E aí vocês se conheceram? — perguntei.

Sim — confirmou mamãe, finalmente. — Mas não de cara. Eu já estava no barco quando seu pai chegou, na parte de dentro, e só saí quando a queima de fogos começou. Estava olhando para cima, e de repente, algo que ele fez atraiu minha atenção. Nós nos encaramos por alguns segundos, e eu sorri, então voltamos a olhar para cima.

E foi assim que eu conheci sua mãe — completou papai, antes de dar um sorriso largo. — Ah, veja.

Segui seu olhar, e percebi que já havíamos entrado em West Chester, PA, a cidade de minha avó. Meu pai apontava para uma casa com pintura amarela e alegre, onde uma pessoa estava sentada em uma cadeira de balanço na varanda: vovó Sereine.

Quando Remi estacionou o carro, tirei o cinto, saindo do veículo e correndo em direção à minha avó. Ela se levantou, sorrindo ao nos ver.

— Bonjour, cher — disse, abraçando-me.

— Bonjour, grand-mère — respondi, arranhando em meu francês mal-falado. Sereine riu, e a olhei, animada. — Vovó, meus pais já lhe contaram como se conheceram?


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Notas finais do capítulo

Como puderam ver, foi apenas uma historinha, mas foi o capítulo que mais gostei de escrever na fic inteira. Nele, Emily está mais nova, com 9 aninhos, dois anos antes do apocalipse. Optei por não colocar nenhuma frase nesse, primeiro porque não achei uma que se encaixasse direito, e depois porque não se fez necessário.
Pra quem não entendeu o por quê das palavras em francês, Remi e Rose têm raízes congolesas, e a língua oficial do Congo é francês. Os atores que representam eles dois são Freema Agyeman e Mike Colter; não escolhi ninguém para o resto dos personagens, preferi deixá-los para a imaginação de vocês.
Além disso, quero lançar um desafio aqui: mandem sugestões de nomes para o fandom da fic. Eu vou escolher a melhor, e quem sugeriu vai ganhar um spoiler dos próximos capítulos!
Eu sinceramente espero que tenham gostado da história dos pais da Emily tanto quanto eu gostei! Muito obrigada por seis meses maravilhosos e que venham muitos mais!
Beijinhos e até o próximo!