Iridescente escrita por Marina G, Thamiris Malfoy


Capítulo 4
Meias Verdades Cobertas de Gelo


Notas iniciais do capítulo

Olá gente, quero me desculpar pela demora, a vida anda muito corrida... Trabalhos da faculdade, muito trabalho no trabalho, a minha quase não existente vida social... Em fim. Mas agora também temos uma nova autora em Iridescente yeeey o/ espero que gostem, nós inclusive temos outra fic aqui no Nyah, Madness Of Teens. Em fim, chega de enrolação e vamos ao cap.

ps: fiquem atentos nas datas



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Bowaruchel, Novembro de 1471 

 

Era estranho olhar ao redor e não reconhecer nada. A sensação de vazio e de desespero tomou conta de Manuela. O ônibus estava derrapando no momento em que tudo aconteceu, mas agora ela estava ali na companhia daquela mulher estranha. Os prédios já não existiam, nem os carros, até mesmo aquela mulher era sua única companhia ali. 

A tranquilidade parecia emanar das árvores e sussurrar nas folhas junto a uma brisa cálida. Aquilo despertou uma sensação desconfortável na garota. Poderia estar delirando ou sonhando. Mas não, o olhar gélido e sério da mulher à sua frente só lhe dava a certeza de que nada daquilo era um sonho. 

 

— Q... quem é você? - Manuela perguntou se policiando para não deixar a voz falhar – Onde estou e o que aconteceu com Davi? 

— Você tem muitas perguntas criança. - a pesar de ser bela e melodiosa sua voz era tão gélida quanto o seu olhar - Às vezes me repreendo por ter deixado Alanna levá-la. Teria evitado muitas coisas como isso. 

— Minha mãe? - Manuela perguntou estupefata - você conhece a minha mãe?! 

— Sim, é claro. Veja que situação mais desagradável, agora terei de responder suas inúmeras perguntas. Mas este não é o momento. Vamos, levante-se, ainda tenho muito a fazer e acredito que você precise de um descanso. 

E o pior é que ela precisava. Sentia-se fraca e sonolenta, poderia passar o restante do dia deitada na relva, mas forçou-se a contestar a mulher. 

— Eu não preciso de descanso nenhum. E nem vou pra nenhum lugar com você. Eu nem a conheço. A única coisa que eu preciso é voltar para casa, onde estão meus amigos e minha família. 

— Casa... Família... – a mulher tinha um sorriso de escárnio nos lábios – Você é tão arrogante e egoísta quanto a sua mãe. Fora isso Alanna parece ter lhe ensinado alguma coisa boa, se demorou tanto assim para que Ela a encontrasse. 

— O que você quer dizer com isso?! Minha mãe... 

— Cale-se. – Manuela ainda sentia a raiva vibrar no seu corpo, mas havia algo naquela mulher, não sabia se era a imponência ou outra coisa, que a fazia obedecê-la – Você não vai voltar para aquele lugar, ele não é mais seguro para você e se voltar não será seguro para as pessoas com quem você se importa. 

 

Manuela sentiu um frio percorrer a sua espinha, levantou-se confusa se perguntando o que aquela estranha queria dizer com aquilo. O que poderia ameaçar a segurança de seus pais e amigos? E como ela sabia que aquilo aconteceria? Mas os olhos azuis que a encaravam diziam silenciosamente que nenhuma outra pergunta seria mais bem aceita que as anteriores. 

A estranha no entanto começou a andar fazendo seu longo vestido balançar e seus cabelos negros brilharem sob a fraca luminosidade do sol. Mesmo com toda a arrogância e insensibilidade ela era incrivelmente bonita. Manuela olhou novamente em volta e a seguiu. 

As macieiras ficaram para trás dando lugar a enormes pinheiros e outras árvores desconhecidas. Ela não queria constatar o óbvio, mas aquilo apenas a fazia sentir-se ainda mais longe de casa. 

— "Não estamos mais no Kansas..." - Manuela sibilou mais para si, sentindo-se tão perdida quanto aquela personagem. 

— É Bowaruchel criança. Não faça tanto drama. 

— Bowaruchel?... 

As palavras que viriam a seguir, no entanto, perderam-se na obscuridade de seus pensamentos quando a floresta ficou menos densa. Havia ali uma pequena vila, se é que poderia chamar assim. As casas eram rusticas e um tanto afastadas umas das outras, algumas eram modestas, outras compridas como uma torre em miniatura repletas de janelas cumpridas. A maioria mostrava a palidez cinza de suas pedras, poucas mostravam um tanto de cor, azul, verde, violeta, vermelho, laranja. Não havia um padrão, exceto o fato de que aquele lugar parecia viver no passado. 

Lá não havia o menor indicio de tecnologia, nem ao menos de eletricidade. As mulheres daquele lugar vestiam-se semelhantes a mulher de cabelos negros que ainda caminhava à sua frente, com mais simplicidade. E os trajes dos homens pareciam tão antiquados quanto os delas. O senso de moda também parecia ter passado bem longe daquele lugar. Ao perceber a presença delas ali todos paravam seus afazeres e dirigiam um olhar de reverencia e algum tipo de saudação à mulher de cabelos negros, a quando seus olhares se voltavam para Manuela no entanto a admiração morria e belas carrancas entravam em cena. 

Não demorou para que a pequena vila também ficasse para trás. A mulher a conduziu até um imenso casarão de tijolos amarelos e enormes janelas. Um lindo jardim estava à frente na casa repleto de rosas, vermelhas, amarelas, brancas e rosas. 

Assim que a mulher chegou à soleira da porta foi recebida por uma senhora de cabelos grisalhos e olhos bondosos. 

— Melvina, por favor leve a menina até o quarto que pedi à Rachel que preparasse mais cedo. Ela precisa de descanso. 

— O que? Não, por favor – disse Manuela entredentes, reprimindo um bocejo – Eu preciso saber o que aconteceu com meus pais e com meus amigos. Você disse que eles estavam em perigo. 

— No momento não estão. Tem a minha palavra de que mais tarde tudo será esclarecido. – disse a mulher enquanto adentrava a casa e seguia para longe da sala de estar que era tão rústica quanto tudo o que vira antes – Agora deixe-me também terminar meus afazeres para recuperar as energias que perdi. Um evocar não é algo fácil de se fazer, mesmo que o evocado seja um sanguinis. 

— Mas você nem ao menos me disse seu nome... 

Antes de sumir dentro da casa a mulher lhe encarou mais uma vez, fria como o inverno, disse-lhe. 

— Nealie, este é meu nome. 

 

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Melvina era bondosa e gentil, diferente de Nealie. A senhora conduziu Manuela pela escadaria até um quarto no primeiro andar da casa, Na porta estava entalhado o símbolo de uma lua minguante, as paredes de cômodo eram brancas, os móveis eram feitos de madeira, mas a garota nem prestou muita atenção, ao ver a enorme cama de dossel simplesmente jogou-se nela e adormeceu. 

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Quando ela acordou o quarto já estava parcialmente escuro. A menina só então percebeu que havia adormecido com a mochila nas costas, retirou-a e correu para a janela e viu que o sol já estava se pondo. Ao olhar novamente para o quarto sem vida e sem graça, percebeu que havia uma banheira com água em um canto e que alguém deixara um dos "vestidos da moda" sobre a sua cama, ele era azul com bordas brancas. Manuela resolveu que aquilo era mais que sugestivo, Banhou-se e colocou a roupa que destinaram a ela, não eram nada confortáveis, mas ainda assim estavam limpas e quentinhas, diferente do seu uniforme do Nossa Senhora do Carmo, que era a única roupa que ela havia levado de casa. 

 

Tudo estava silencioso na casa, haviam algumas velas acesas em candelabros para iluminar o ambiente que começara a escurecer. Ela seguiu de volta para a sala de estar e começou a se perguntar para onde ir quando ouviu vozes. 

 

— Ela não pode voltar agora, ainda está muito fraca e você sabe que Kevin não pode conjurar nenhuma magia. 

— Mas se ficarem lá senhora... Sabe-se lá o que pode acontecer à eles. Que os Eternos os protejam. 

— Eu poderia tentar falar com as Íris, mas... 

— Soube que elas não ficaram nada satisfeitas com o que a senhora fez 

— Eu também não fiquei satisfeita com isso Rachel, mas não havia mais nada que eu pudesse fazer. Apesar de tudo a menina ainda é sangue do meu sangue. Quase esqueci, ainda esta semana quero que prepare um dos quartos do segundo andar, espero noticias de Longfild, você sabe que os Westlock tem sua própria maneira de comunicação. 

 

Assim que Manuela entrou na sala de jantar a garota, que deveria ter mais ou menos a sua idade, com cachos claros e lábios rosados saiu do cômodo. 

 

— Alanna não lhe ensinou que não se deve ouvir a conversa dos outros? 

 

Manuela sentou-se à mesa aonde havia um prato ao lado de Nealie, Não havia comida em quantidade exorbitante, mas sua variedade era surpreendente. Uma jarra de leite, alguns pãezinhos que ainda fumaçavam por ter saído do forno naquele instante, algumas uvas, maçãs e morangos, queijo e carne cozida. 

 

— Sim, mas você me deve algumas explicações. 

— Sei disso, – Nealie disse com um suspiro – mas isto não lhe impede de comer algo enquanto eu falo, podia ouvir seu estômago do outro lado do País de Gales. 

— É o que? - a menina perguntou estupefata - você disse que estávamos em Bowalgumacoisa... Isto, não, não pode ficar em Gales. Eu ouço você falar português comigo... 

— Bowaruchel fica no leste de Gales, e caso não tenha percebido você está falando galês, isto está no seu sangue. Faça-me o favor Manuela com tudo o que aconteceu você veio se surpreender com isto?! 

— No meu sangue? - ela franziu o cenho 

— Sim menina, você nasceu uma Waedenfyd, assim como eu e minhas irmãs, Alanna e Esther. 

— Você não é minha tia... Acho que minha mãe me contaria se houvesse mais alguém em nossa família... 

— Alanna fez o que achou ser melhor para você - ela fitou a menina com aqueles olhos frios e autoritários, Manuela então percebeu a semelhança daquele tom de azul. Ela já os vira antes em um olhar que costumava ser caloroso e cheio de amor, mas não podia acreditar – Agora deixe-me terminar, sem interrupções, sim. 

Nealie agitava os dedos de maneira curiosa até que pequenas luzes prateadas começaram a emanar deles, deixando a garota estupefata. 

— Há mais magia no nosso mundo do que você pensa criança, como acha que eu a trouxe até aqui? Da mesma maneira que Alanna a levou quinze anos atrás. Você descende de uma das sete primeiras linhagens de Iridescentes. – a mulher gesticulou de forma que algumas uvas saíram de seu cacho e rumaram para o prato de Manuela – Os Iridescentes são como mediadores para luz e sombras neste mundo, somos guardiões da humanidade, não podemos deixar nenhum dos dois lados predominar. 

— Você está me dizendo que... Não faz sentido! Por que a minha mãe mentiria sobre isso pra mim?! A minha vida inteira... E o meu pai... 

— Kevin? Ele também é um de nós, mas você vai entender em breve que algumas famílias iridescentes são diferentes de outras, temos dons diferentes. Você ainda tem muito o que aprender sobre o nosso mundo. 

Mas nenhuma daquelas palavras faziam sentido na cabeça de Manuela. Primeiramente ela quis negar a veracidade do que a suposta tia lhe dizia, mas lembrou-se de como tudo era tão vago quando perguntava a seus pais pelos avós, se haviam outros parentes ou mesmo onde eles moraram antes de se mudar para o Brasil. Depois de um tempo tudo continuou sem sentido, mas também passou a doer, uma dor horrível, ela se sentia traída, enganada. 

— Você disse que tudo isso era para me proteger... DE QUE? 

— De você mesma criança. E de uma maldição. 


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