Iridescente escrita por Marina G, Thamiris Malfoy


Capítulo 5
O Solitário Que Vivia na Luz


Notas iniciais do capítulo

Oiiii gente! Peço mil e dez perdões por toda essa demora (pela qual nem eu mesma me perdoo, além de todo o meu não tempo disponível eu estava me desanimando em escrever), mas aqui vão algumas respostas sobre a história. Espero REALMENTE que vcs gostem :D



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O Mais Longe Possível, Sec. XXI.  

  

Davi jogou-se na cama exausto. Havia sido um dia normal, ele fora a escola, vira sua namorada, saiu para tomar sorvete com Carol, sua melhor amiga, depois para o jogo de vôlei com os caras do Nossa Senhora do Carmo e por fim tentara conversar com seu pai no jantar, mas ele estava como sempre, distante. Era assim desde que sua mãe havia fugido para o Sul com um cara mais novo quatro anos atrás. 

Mas as coisas haviam se resolvido desde então. Ele tinha Carol, que era quase sua irmã, sua doce e gentil Sininho. E agora também tinha Julia, de quem ele gostava, na maior parte das vezes eles se desentendiam, mas ainda assim ela o fazia se sentir especial. Davi não conseguia entender porque continuava sentindo que algo estava errado. Pela manhã o garoto acordou com a sensação de que haviam lhe arrancado um braço ou uma perna, ou qualquer outra parte dele. E mesmo após constatar diversas vezes que nada estava faltando aquilo não o largava. Continuava com um enorme buraco no peito. 

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Bowaruchel, Novembro de 1471 

 

— Muito tempo atrás, quando Sêr criou os primeiros iridescentes... 

— Quem é Sêr?! - Perguntou Manuela franzindo o cenho. Sua cabeça latejava tentando absorver tudo o que aquela estranha, que por acaso era uma irmã perdida da sua mãe, tentava lhe dizer. 

 

Mas sinceramente não conseguia acreditar em uma só palavra, não conseguia imaginar seus pais forjando aquela realidade sua vida inteira. 

 

Nealie passou as mãos no rosto, seus olhos estavam cansados e opacos. 

 

"Eu sei o que você está fazendo, pare com isso não vai fazer-me mandá-la de volta para aquele lugar. Nenhum de vocês deveria ter ido, se Alanna soubesse...". 

 

"V-você... Não, NÃO É POSSIVEL! SAIA DA MINHA CABEÇA AGORA!" 

 

"Pare com esse drama criança, como se eu já não houvesse feito isso antes." 

Manuela sabia que a voz de Nealie era a voz que sempre aparecia em seus sonhos, em sua mente. Mas não sabia se estava pronta para aceitar aquilo. 

 

— Tão petulante quanto a sua mãe. - disse Nealie num tom reprovador. Está claro que ela não conhece a minha mãe, pensou a garota com desdém - Se esquece que eu também ouço o que você pensa?! 

 

Àquela altura os olhos de Nealie haviam passado de um azul vivo e frio para um prateado brilhante. A estrela de sete pontas voltou a se desenhar em sua testa enquanto ela dizia alguma coisa que Manuela não conseguiu entender, pois tudo a sua volta havia sumido. 

 

 

Ela estava perdida, havia uma luminosidade insana naquele lugar. 

Ela provavelmente se cansou de mim. 

Antes que dissesse qualquer coisa ouviu outra voz estridente resmungar. 

 

— LUZ, LUZ, LUZ. Por que me deste tanta luz? - o homem que disse tais palavras soltou um longo e cansado suspiro – Luz é solidão. 

 

"Existem pessoas que temem a escuridão, naquela época no entanto, Lumo diria que nem a mais casta luminescência abrandaria a solidão". Ela podia ouvir a voz de Nealie em sua mente novamente, podia sentir sua presença ao seu lado, mas não conseguia ver nada e temia não poder mais ver com toda aquela luz. 

"Tão farto da solidão e da luz, o primeiro Eterno quebrou as regras do Senhor que lhe deu a vida e criou outros seres. Lumo sofrerá tanto com sua luz que resolveu moldar estes seres na escuridão. Deu à eles corpos, essência, os fez viver e chamou-os de filhos". 

A luz se dissipou e Manuela pôde ver melhor àquele lugar, mesmo não sabendo de onde ou do que se tratava, ela nem se importou, ficou maravilhada com a beleza de tudo aquilo. Haviam árvores de todos os tamanhos e formas, algumas que ela conhecia e outras das quais nem ouvira falar. Por entre as copas das árvores podia ver o céu azul e limpo. A brisa leve carregava o cheiro de frutos doces e suculentos que ela jamais vira antes. Mas também pôde ver o homem, que ela supunha ser o solitário que vivia na luz. 

Lumo tinha olhos determinados e prateados, mas não um prateado qualquer, eles resplandeciam sua própria luz. Sua pele era fina como papel e tão pálida quanto o mesmo. Ele usava uma túnica branca e seus cabelos tão prateados e luminosos quanto seus olhos, estavam trançados até a cintura. Manuela não sabia dizer quantos anos aquele homem tinha, hora parecia tão jovem, mas ao mesmo tempo tão idoso quanto o mundo, no fundo a garota sabia que ele era bem mais velho do que ela poderia supor. 

Aquele ser curioso murmurava qualquer coisa incompreensível para a terra, foi quando o céu começou a escurecer e a menina viu então para o que Lumo estava murmurando, ou melhor para quem. Deitados na relva haviam três corpos e ao reconhecer um deles Manuela quis corre, gritar, esconder-se ou qualquer coisa que não fosse ficar ali parada observando a estranha mulher que vira mais cedo pela janela do ônibus, a mesma que tinha sussurrado coisas horríveis em sua mente. 

 

"Acalme-se menina, são apenas lembranças. Ela não pode lhe fazer nada" Foi a primeira vez que Manuela sentiu alguma coisa além de frieza no tom de voz de Nealie. Não que isso a acalmasse pois o que ouvira foi pura preocupação. 

 

Lumo tinha feixes de luz em suas mãos, se é que aquilo podia ser chamado de luz. Eram pequenos pontos negros que rodopiavam e envolviam uma quase imperceptível luz prateada. Ele a depositou aonde deveria ficar o coração da mulher que Manuela tanto temia. Logo seus olhos se abriram, tão negros quanto a menina se lembrava, o sorriso diabólico também era o mesmo, seus cabelos caiam em cachos negros pela costa e quando ela se levantou Manuela viu a felicidade nos olhos de Lumo. Ele  já não estava mais em solidão. 

 

Antes só que mal acompanhado, a menina pensou. 

"Diz isso porque nunca esteve no lugar dele", Nealie retrucou. "E mesmo assim, o que está feito não pode ser mudado". 

— Por que essa mulher veio atrás de mim Nealie? 

— Porque ela pensa que você pertence à ela. Foi Trevas quem lançou a maldição nas Waedenfyd. 

— Trevas... É esse o nome dela?! Ela fez isso apenas por ser má ou a provocaram de alguma maneira?! 

— Acho que esta é uma história para ser contada mais tarde. 

 

Quando Manuela voltou seus olhos para Lumo e Trevas novamente, os outros dois corpos já haviam despertado. Um era homem, seus cabelos e olhos eram tão negros quanto a noite sem lua nem estrelas, mas não eram sombrios e cruéis como os de Trevas, eram misteriosos e calmos. Ele tinha o rosto anguloso e sua pele era clara. Manuela não conseguia ouvir muito do que eles conversavam, talvez a mágica de Nealie estivesse enfraquecendo, mas conseguiu ouvir Lumo chamá-lo pelo nome, "Breu". 

A outra mulher era muito parecida com Breu, tinham os mesmos traços, o mesmo nariz afilado, as bochechas salientes e os lábios finos e bem desenhados, a pele clara e os cabelos negros, os seus olhos, no entanto, não eram como os dos outros dois. Eram tão prateados quanto os de Lumo, e, ao contrário dos outros, Manuela conseguiu vê-la sorrir algumas vezes, não como Trevas, mas genuinamente. 

 

— Ela se chama Ceifa, sorrirá do mesmo jeito quando vier buscar a sua alma. 

—  O que quer dizer com isso? Perguntou a menina espantada, e para sua maior preocupação sua tia apenas sorriu. 

 

"Quero dizer que nem tudo o que é bom dura para sempre. Os Eternos viveram em paz e felizes por um tempo, mas não muito. Trevas era de toda maldade, fazia jus à sua essência sombria. Tinha ciúmes e raiva de seus irmãos, pois mesmo sombrios Breu e Ceifa ainda conseguiam ser bons como Lumo. Ela entregou-se à sua essência e partiu. 

Lumo sofreu insanamente com a partida de sua primogênita, ele a amava incondicionalmente, mesmo sabendo de toda a maldade que aquela criatura carregava. 

Breu e Ceifa já não sabiam o que fazer para afastar a tristeza do pai. Foi então que tornaram-se criadores também, eles deram vida à Eon, uma Eterna que possuía o mais perfeito equilíbrio entre luz e escuridão...". 

As imagens começaram a oscilar entre a sala de jantar do casarão amarelo e a campina, até que as imagens que as duas estavam compartilhando anteriormente se dissipassem. 

Manuela olhou atônita para a sala de jantar novamente. Parecia que estivera ali há séculos, e não apenas alguns momentos atrás. Nealie voltara a ser apenas a mulher séria de olhos azuis frios e cansados, que aparentava poder cair da cadeira a qualquer momento. 

 

— Você... não está bem. - Manuela pulou da cadeira assustada enquanto via aquela mulher empalidecer - Vou ajudá-la a ir para o seu quarto, quer algum remédio? Água? Ah meu Deus... 

— Sente-se menina! - Mesmo aparentemente vulnerável, a voz de Nealie continuava firme – Estou bem, apenas não poderei conjurar magia por algum tempo. 

— Tem certeza? Não quer que eu chame ajuda ou... 

Mas tudo o que a menina recebeu em resposta foi um olhar glacial. 

"Lumo e Eon se amavam, eles se uniram e aos poucos tudo deixou de ser apenas Luz e Escuridão. Outros Eternos nasceram do seu amor e ascenderam sua existência com novas criações. 

Lumo fez a luz e o dia, o calor e o sol, a lua e as estrelas. Breu deu a sombra e a noite, o inverno e o frio. Elementa, as flores e os campos, as colinas, montes, florestas, as árvores e a natureza, rios, mares e oceanos, lagos, ventos e brisa, tempestades e o fogo, a primavera, o verão e o outono. Fauna criou os animais, os que voavam, rastejavam, andavam e nadavam. Diversas espécies. Oco criou dois corpos para viver naquele mundo, a um chamou de homem e o outro de mulher, mas estavam vazios demais. Por isso Âmago os encheu daquilo que chamou de alma, um espirito prateado com vestígios de essência, aqueles corpos eram frágeis demais para suportar o que preenchia os eternos. Ela habitaria o intimo do homem e da mulher, e seria responsável pelo sentir. Sophia achava que apenas emoções não eram suficientes então concedeu aos corpos o saber, a ciência e o pensar, para que vivessem em sabedoria naquele mundo. Eon foi responsável pelo tempo, para todas as criaturas que lá habitavam. Dispôs um inicio um viver e o partir. A cada ser que partia cabia a Ceifa recolher e purificar a alma, pois o corpo sempre pereceria, mas o espirito sobreviveria.  

Todas as raças procriaram e deram vida ao mundo seguindo e prestando cultos aos eternos que lhes deram a vida.  Trevas ainda nutria um grande rancor pelos outros eternos, a criação apenas o inflamou. Não ser adorada por homens e mulheres foi o estopim. Então amaldiçoou o mundo com escuridão, terror e mal, guerra, ira, conflitos e inveja. Humanos destruíram raças, até mesmo de sua espécie. A pureza se tornou rara e a hipocrisia constante, Trevas reclamou para si as almas que escureciam com seu atos terrenos e o caos se fez.  

Aos poucos os humanos foram criando outros ideais e seus eternos foram sendo substituídos pelo que melhor conviesse aos povos. As grandes entidades primordiais enfraqueciam e Trevas se vangloriava por sua queda. Pois sempre haveria para qualquer um o mal e a escuridão. 

Sêr, uma Eterna, já estava farta de ver tudo o que sua família havia construído ruir, por isso criou os Iridescentes. Eles seriam a luz do mundo, anjos que combateriam a escuridão, curariam as almas e jamais esqueceriam dos Eternos". 

 

— Ainda tenho fé de que a qualquer momento vou acordar e tudo isso não terá passado de um sonho. - Manuela murmurou baixinho, mais para si mesma, como se pronunciar as palavras de fato as fizesse acontecer. 

Mas aquilo acontecia em um livro diferente. E ela já estava cansada de saber que sua vida não era um livro, apesar de ter se tornado bem louca. 

Nealie a olhava de forma curiosa, como se tentasse enxergar sua alma apenas olhando em seus olhos. 

 

— Talvez minha irmã estivesse mesmo certa, nunca ouvi ninguém como você falar assim antes. 

 

— Como eu...? Não entendo Nealie, se me acha tão desprezível assim, por que me trouxe pra cá? Por que sempre a ouvi em minha mente? Por que não deixou que Trevas me levasse? Por que me contou tudo isso? 

 

A mulher franziu o cenho como se Manuela estivesse lhe falando algo absurdo demais para se ouvir. E quando respondeu apenas a encarou com os mesmos olhos azuis e frios. 

 

— Porque é o meu dever criança. 

 

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O Mais Longe Possível, Sec. XXI. 

 

Alanna sentia um aperto no peito desde que aquele dia havia começado. Se ela ao menos tivesse mais forças poderia ter impedido que Manuela saísse de casa naquela manhã. Se ela não fosse tão inútil, ao menos poderia estar em casa novamente, com Manuela, Kevin e suas irmãs. 

Mas sequer tinha forças para levantar daquela cama. 

Ela ouviu a porta se abrir e rapidamente secou as lagrimas que brincavam em seu rosto. 

 

— Ei, não fique assim. – disse Kevin ternamente, a olhando com aquele lindo par de olhos escuros -  Algumas coisas nem nós podemos impedir, e tivemos sorte dessa vez, Nealie a levou para casa no momento certo. 

 

Ela apenas o puxou para si enquanto chorava e inalava o cheiro dele. O cheiro da floresta, o cheiro de casa. O cheiro de tudo aquilo que ela amava, inclusive ele. 


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Notas finais do capítulo

Comentem o que estão achando por favor :*



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