Avatar: A Lenda de Kyoshi escrita por Lucas Hansen


Capítulo 4
III - A Fazenda em Erupção




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Três meses de trabalho duro rastejaram no decorrer dos dias. 

Seu pai fez questão de deixar os mais penosos para Myoshi. Ela era a responsável por regar a plantação todo o dia, alimentar os animais e, é claro, reparar as construções... Uma ação a qual não era exatamente habilidosa. 

Ao menos sua irmã a ajudava em muitas das tarefas, enquanto seu pai preferia beber sua cerveja escura e assistir os dias passarem com suas filhas tomando seu lugar na fazenda. Mas não por muito tempo.

Logo a colheita estaria madura e tudo que precisaria fazer era colher. Depois disso não avistaria as terras de seu pai por anos, ou assim esperava. 

Durante as últimas semanas Kyoshi fora muito leal, auxiliando em cada obrigação por livre vontade. Seu pai nunca ordenava ela a nada. Talvez sua irmã tentava convencê-la de sua importância ao seu lado, a fim de acompanhá-la durante a viagem. 

Infelizmente, para sua irmã, esse esforço seria em vão. Felizmente para Myoshi. Precisava de anos solitários e pacíficos, longe de qualquer conhecido ou parente. 

O sol subira, e com ele, a esperança. As sementes brotaram e cresceram suficiente desde que as plantou, e hoje a colheita era eminente. A plantação estava madura o bastante no dia de ontem, porém seu pai, Xudok, tinha uma reputação a manter, e ordenou que os legumes-verduras permanecessem na terra. 

Foi a primeira a acordar com o porco-galo, e ansiosa, despertou também sua irmã. Durante o rápido desjejum matinal, seu pai avistou pela janela a planície em frente a colina esverdada, onde plantaram tudo que compraram. 

— Colherei tudo hoje, e então, arrumarei os meus pertences. — Myoshi anunciou. — Não pretendo ficar nem mais um segundo a mais do que preciso em sua fazenda. 

Caminhando, com certa lentidão, seu pai retornou a mesa, e sentou-se com uma tranquilidade imensa. 

— Não. — Anunciou. — Precisamos de mais alguns dias. Minha plantação é bem falada na cidade, e não quero que isso termine. 

— Eu não ligo pra sua maldita plantação! Vou sair daqui hoje. Você e minha irmã que se virem para colher. 

— Deixaria seu homem velho e gentil fazer todo o trabalho? 

— Gentil? Acho que você não sabe o significado dessa palavra, pai. Já se esqueceu dos nossos treinamentos? 

— Fiz o que precisava fazer, eu te treinei para viver nesse mundo. Se isso fizer você me odiar, que seja. Nós pais temos papéis a cumprir, mesmo que isso te faça o vilão. 

— Você cumpriu bem o seu papel, porque eu te odeio e queria você morto! Quem sabe, quando eu voltar, te encontre assim. 

Com isso, Myoshi abandonou o desjejum. Sem nenhuma demora, juntou suas roupas de lã e couro em uma trouxa. Olhou para o seu quarto e de sua irmã pela última vez, e então, respirou fundo. 

Kyoshi regava os legumes-verduras, tarefa difícil para um dobrador de terra. Era necessário dobrar uma vasilha até o fundo do poço, e então, trazê-la com a água. 

Roubando comida de sua própria casa, para sua viagem, Myoshi encontrou-se com sua mãe. 

— Você está indo de verdade, não é mesmo? — Sukishi disse com tristeza. 

— Sim mãe, mas você nem notará que sumi. Não ficarei tanto tempo fora. 

— Assim espero minha filha. Há boatos circulando o Reino da Terra. Boatos horríveis. E nesses momentos nossa família deveria se permanecer unida. 

— Seja lá que boato horrível é esse, tenho certeza que o Avatar Kuruk poderá resolvê-lo. 

Sua pequena mãe abraçou-a. 

— Volte logo. — Disse, com lágrimas escorrendo pelo seu rosto. — E leve essas maçãs-laranja. — Entregou outra trouxa, com, pelo menos, meia dúzia de frutas. 

— Voltarei. Eu prometo. 

Com a cabeça erguida, Myoshi deixou o casebre que chamavam de lar. Seu pai, sentado em uma cadeira de balanço na varanda, assistia sua poderosa e prestigiada irmã regar a plantação com pouco esforço. 

— Vai realmente deixar sua família, não é mesmo? — Ele questionou. 

— Não quero deixar minha família, apenas você. — Xudok riu. 

— Sabe, você não é tão diferente de mim. Era tão abusado quanto você quando criança. Odiava lutar e preferia plantar. Mas meu pai forçou-me a aprender, aquele bastardo... Odiei ele por muito tempo por conta disso. Até eu amadurecer e ser salvo pela mesma habilidade que ele cansou de me ensinar. Caso meu pai não insistisse em me treinar, nem você ou sua irmã estariam aqui hoje. O que pensa disso? 

O único pensamento possível é de que essa história era uma bela mentira. Seu pai sempre gostou de lutar, e qualquer justificativa dele devia ser suficiente em sua cabeça. Mas jamais seria para Myoshi. 

— Penso que talvez possamos ser parecidos mesmo, não é a toa que não nos batemos. E pode ter certeza que nunca aceitarei que o senhor me forçou a aprender algo que não queria. 

— Ainda é cedo para dizer isso. Vá agora, e veja se aprende também a valorizar sua casa e sua família enquanto estiver fora. Está precisando dessa lição também. Não dou uma semana para você voltar com o rabo entre as pernas. 

Ser subestimada era tudo que precisava para continuar em sua jornada. 

Sem mais uma palavra, deixou seu pai balançando na cadeira que chorava e rangia ao se mover. Tão velha quanto seu próprio velho. 

Agarrou Bicudo no celeiro e dispôs da cela em sua costas. Alimentou-o com alface-cebola e o montou. Cavalgou em direção a sua querida e tola irmã, que fazia como seu pai ordenava. 

— Espere! — Ela gritou a distância, pensando que Myoshi a abandonaria sem nem ao menos se despedir. — Só preciso terminar o trabalho e arrumo minhas roupas para ir com você. 

Myoshi desceu de Bicudo, aproximando-se de sua irmã gêmea. 

— Você não pode vir comigo. 

— Por que não? — Questionou, decepcionada. — Também tenho dezoito anos e também quero viajar como você. 

— E você vai. Mas agora não é a hora. Há muitos bandidos nos arredores, ainda mais com aquela vila que cresceu aqui perto. Não confio em apenas nosso pai para proteger a mãe e a fazenda. Alguém como você precisa fazer isso enquanto eu estiver fora. 

— Mas... É perigoso pra você também. 

— Talvez. Espero que todo aquele maldito treino não tenha sido em vão então. Volto em menos de um ano, minha irmã. — Encostou a mão no ombro de Kyoshi. — Espere por mim. E cuide de nossa mãe. 

— Contanto que prometa cuidar de você. Se você criar gosto por lutar nessa viagem, podemos travar um duelo no seu retorno. Que tal? 

Myoshi riu. 

— Preferia um banquete, mas acho que um duelo entre irmãs vai servir também, apesar de que perderei com certeza. 

Montou na cela de Bicudo e comandou o cavalo-avestruz a correr. Não olhou para trás nem por um momento sequer, e não pretendia voltar em menos de um ano. 


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