Avatar: A Lenda de Kyoshi escrita por Lucas Hansen


Capítulo 3
II - A Estrela Cadente




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— Quem é você? — Escutou uma voz familiar dizer com a cabeça ainda atordoada da pancada. 

— Não há tempo. — Ouviu outra pessoa. — Vamos levá-la para algum curandeiro. 

Voltou a si nos braços de um homem de roupas avermelhadas, com uma longa barba escurecida, assim como seus cabelos. Cavalgavam em algum animal... Talvez em algum dos cavalos-avestruz. 

— Me solta... 

— Já estamos chegando... Aguente firme. 

Por todo o caminho preferiu ficar quieta, sofrendo pela dor em sua perna direita e algo em sua testa que doía muito. Ao menos percebeu que era Bicudo que a levava, além do estranho. Poderia contar com ele para derrotá-lo. 

O homem desceu da sela e a carregou para uma casa adentro. Atacaria no momento em que ele a soltasse no chão... Até que ele gritou: 

— Uma garota ferida! Vocês precisam ajudá-la. — Notou três mulheres, uma dela claramente de alguma tribo da água, e outras duas de sua pátria. 

— Eu estou bem! — Anunciou. Isso surpreendeu o desconhecido que a trouxera. Provavelmente pensou que estava desmaiada. 

— Não, não está. — A bela garota de pele escura disse. — Venha, deixe-me cuidar de você. — Sua panturrilha ardia. 

— Faça o que conseguir... Seja lá quem você for. — Esperava que a flechada infeccionasse, mas talvez isso poderia salvá-la. 

— Cynka. — A mulher com vestes azuladas retrucou. 

Só agora percebera que já haviam retirado a flecha, e que o ferimento estava tampado. Levantaram as vestes até o joelho e Cynka retirou água de um dos seus frascos. 

Ela aplicou no sangramento e o líquido brilhou com uma bela e pura luz. Sentiu-se maravilhosamente bem por um momento, até a água ser dobrada de volta. 

— Isso deve bastar. — Ela disse. 

A perna perfurada se fechara completamente, mas uma marca redonda e vermelha ainda permanecia em sua pele, e em seu centro, algum tipo de bolha protegia o machucado. 

— Obrigada... — Falou ao tentar se levantar, e conseguindo, para sua surpresa. A perna direita aparentava nunca ter recebido uma flecha. 

— E quanto a cabeça? — O barbudo disse, preocupado. 

— Foi uma pancada. — Cynka afirmou. — O que espera que eu faça? Ela obviamente está bem quanto a isso, certo? 

— Sem dúvida... — A mente ainda balançava um pouco. Já desmaiara algumas vezes, mas nunca seguidamente de perfurarem sua carne. — Onde está a minha mãe? 

— Foi comprar os grãos... — O homem replicou. — Ela contou comigo para salvá-la, e foi o que eu fiz. Cavalgaria mais rápido sozinho. 

Precisou de um tempo para processar a informação. 

— Deixou a minha mãe sozinha? Maldito... — Dirigiu-se a porta até a voz de Cynka soar. 

— Eu não curo de graça, garota! 

— E eu preciso encontrar a minha mãe. 

Cynka manejou a água dos seus potes e a envolveu ao redor dos seus braços. 

— Você não vai a lugar nenhum, garota da mamãe. 

Myoshi bateu no solo com os seus dois pés, fixando-os e erguendo algumas rochas. 

— Veremos. 

— Parem com essa loucura! — O barbudo gritou, e a porta abriu com um estrondo. 

— Myoshi está bem? — A voz aguda de sua mãe era impossível de não reconhecer. Virou-se, derrubando as pedras no chão. 

— Mãe! — Abraçou-a. — Pensei que poderia ter acontecido algo com você. 

— E eu com você... 

— Você não deve andar sozinha. 

— Consegui todos os grãos, e Pernas-curtas estava comigo.

— Bom, acho que foi o suficiente. E por que me deixou com esse estranho? 

— Querida, esse é o Lee. Ele nos salvou dos piratas. — O homem fez uma reverência um tanto diferente do Reino da Terra. 

— Onde as pessoas cumprimentam desse jeito? 

— Eu sou da Nação do Fogo, Myoshi... Certo? 

— Certo. 

— Agora que estão todos felizes, gostaria de receber minhas cinco moedas de ouro. 

— Aqui. — Lee retirou a riqueza de seu bolso. — Fica por minha conta. 

— Não é necessário Lee. — Sua mãe interviu. 

— Eu faço questão. — Cynak enfim recebera seu pagamento e logo expulsou todos da cabana. 

— Diga Lee, por que nos salvou? 

— Porque eu não deixaria um bando de covardes atacarem duas mulheres indefesas. 

— Não sou indefesa. 

— Oh, eu percebi isso a distância, Myoshi. Derrubou muitos antes de eu chegar. Você luta muito bem. 

— Tão bem que teria perdido se não fosse por você... Devia ver minha irmã lutando. Ela sim acabaria com eles sem você por perto. 

— Gostaria de ver. 

— Então veja. — Sukishi interrompeu. — Passe alguns dias em nossa fazenda. 

Lee se encabulou. 

— Não, jamais poderia pedir isso de vocês. 

— Não está pedindo, eu estou oferecendo. 

— Mãe, ele é um estranho. — Myoshi lembrou. 

— Que salvou a sua vida. 

— Acho que o crédito vai todo para a dobradora de água... — Lee opinou. 

— Não seja modesto. — Sua mãe insistiu. — Você não está em sua nação porque não pode. Sem dúvida está fugindo de algo, ou alguém. Fique alguns dias em nossa casa, e depois siga sua jornada. 

— Eu realmente não posso retornar para meu continente... Mas também não posso ser um fardo para vocês. 

A estrada de lama seca se bifurcava. Um dos caminhos seguia para o sul, e o outro, para o leste, em direção da fazenda de Myoshi e sua família. 

— É aqui que nos separamos. — Disse Lee. — Sinto muito por qualquer coisa, Myoshi. Percebi que não gostou quando te segurei nos meus braços. Pensava que estava desmaiada. 

— Não se preocupe com isso... Eu nem ao menos agradeci por salvar a minha vida. 

— E nem precisa. Fico feliz em ter feito. Até mais, senhora Sukishi. 

— Tchau meu bom rapaz. 

O homem de barba e cabelos longos escurecidos logo se tornou apenas uma sombra longínqua com sol se pondo no oeste. Myoshi guiou os cavalos-avestruz para a sua fazenda, com a carroça lotada de sementes e esperança para o futuro de seu pequeno e tão importante lar. 

Seu pai e sua irmã expandiram ainda mais a área de plantação, e uma enorme porção de terra se encontrava arada, mais do que o suficiente para plantar tudo o que sua mãe comprara no sofrido dia de hoje. 

Um banho gelado para lavar os pés e retirar as sujeiras era tudo o que precisava. Mas Kyoshi, apesar de estar ainda mais suada e suja, preferiu ficar sem se limpar. Ela sempre gostou da sujeira, desde pequena. 

A conversa na mesa de jantar foi animada, de certa forma. 

— Como assim foram atacadas? — Xudok questionou irritado. — Myoshi, eu treinei você para lidar com esse tipo de bandido. — Cuspiu um pedaço da carne de vaca-hipopótamo. — Preciso dizer para a Kyoshi fazer tudo? 

Mesmo pedindo a sua mãe para não contar ao seu pai sobre o ataque, ela resolveu fazê-lo. Enfureceu-se com toda a sua família por um instante. Com seu pai por exigir mais do que Myoshi poderia oferecer. Com sua mãe por tê-lo contado, e com Kyoshi por ser tão perfeita. 

— Eles eram muitos... — Defendeu-se. 

— Não importa. Você devia ter vencido. Talvez esse seu machucado na testa e na perna te ensinem a ser uma verdadeira guerreira, como sua irmã. 

— E se eu não quiser ser uma guerreira? — Levantou da mesa, deixando a comida no prato. 

— Onde pensa que está indo? — Xudok berrou. 

— Para longe de você. — Retrucou. Kyoshi também se ergueu da cadeira, deixando a refeição para trás. 

— Myoshi e eu somos diferentes pai, mas nenhuma é melhor do que a outra. Pare de tratar minha irmã assim. 

— Não fale muito ou você vai começar a receber o mesmo tratamento que ela. — Kyoshi suspirou e a seguiu. 

Procurou conforto nas estrelas. Sem as nuvens, milhares delas brilhavam no céu, mais de uma dúzia de constelações. Como o Cão-urso-polar do Norte, os Dragões Dançantes, o Navio, a Seta de Ar e os Quatro Elementos. Acima de todos, a lua emanava mais luz do que todas as estrelas combinadas. 

Kyoshi sentou-se ao seu lado na terra. 

— O pai está ficando cada dia pior. 

— Por isso quero deixar a fazenda por alguns anos. — Myoshi respondeu. — Preciso me distanciar dele. 

— Não posso te culpar, e até gostaria de ir junto com você, mas... 

— Pode ficar aqui. Não preciso de você também Kyoshi. 

— Lógico que precisa, só que não mais do que nossos pais. 

Um silêncio desconfortável se seguiu. 

— Partirei depois do próximo inverno. Essa será a última colheita que irei ajudar. 

— Até lá eu consigo convencer você a ficar, e quem sabe, até mesmo de me levar junto. — Myoshi riu da ingenuidade de sua irmã gêmea. Apesar de ser mais talentosa lutando, não era tão beneficiada com a inteligência. 

— Claro, continue tentando. 

Uma estrela cadente cruzou o céu, descendo para o sul. O único desejo que veio em sua mente foi ser tão poderosa quanto a Kyoshi com a dobra de terra. 


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