Avatar: A Lenda de Kyoshi escrita por Lucas Hansen


Capítulo 5
IV - O Retorno Penoso




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Dois anos penosos se passaram. 

Aventurou-se por muitos locais e admirou muitas paisagens. Atravessou a perigosa Passagem da Serpente, apesar de não encontrar nenhum perigo. Atravessou o Deserto de Si Wong comprando uma passagem com os vis dobradores de areia. Conheceu dobradores de ar do Templo do Norte, e avistou as muralhas de Ba Sing Se. 

Enfrentou bandidos e até homens do exército de um suposto conquistador no norte e oeste do Reino da Terra. Conheceu a fome e a sede mortal, o frio queimante e o calor escaldante. Porém, conheceu acima de tudo a saudade. 

Durante todos os dias pegava-se pensando em sua mãe e sua querida irmã. Pensava em sua antiga terra com desprezo antigamente, e hoje relembrava-a com nostalgia. Até mesmo os sentimentos por seu pai mudaram, pois tudo que ele a ensinou fizera-a sobreviver no selvagem Reino da Terra. 

Ao menos Bicudo fazia companhia a Myoshi, e o cavalo-avestruz salvou-a mais vezes do que pôde contar. Escaparam juntas de tempestades de areia e tempestades comuns, de ladrões e assassinos, e até mesmo de uma alcateia de lobos-falcões. 

Conheceu muitas pessoas, também. Teeng, um dos dobradores de ar do norte, era extremamente gentil, e dava uma das tortas mais deliciosas que já comera. Myoshi insistiu em pagá-las, e para que ele a levasse junto para o Templo do Ar do Norte quando retornasse ao seu povo, mas ele se recusou afirmando: "Essa sua prata é tão valiosa para nós como a lama. Ela apenas tem valor no seu reino material. Nós convivemos no mesmo mundo, mas vivemos em mundos diferentes. Assim como eu não me envolvo com os problemas do seu, você não deve se envolver com o nosso." 

Além dele, também fez amizade com uma dobradora de terra aos arredores da Muralha Exterior de Ba Sing Se, chamada Enar.

Era uma garota jovem e órfã, segundo ela mesma, e Myoshi compartilhou alguns dias de viagem com ela. Por meses ela tentava adentrar na capital, mas nunca permitiram-na por ser uma órfã e não ter responsáveis. 

Myoshi fez o papel de irmã da Enar, e juntas, conheceram a bela e desigual cidade de Ba Sing Se. Após alguns dias, Myoshi deixou a cidade e Enar para trás, que ficou extremamente agradecida com a ajuda que a cedeu. 

Sem dúvida alguma a viagem fora recompensante. Mas toda viagem precisa de um fim.

Agora retornava a antiga fazenda de seu pai. Muitas perguntas deveriam atormentar sua cabeça: Seu pai ainda conseguia trabalhar na plantação? Sua mãe estava com muita saudade? A colheita nesses últimos tempos foi boa?

Entretanto o único pensamento que a atormentava era: Terei de travar um duelo com Kyoshi? 

O sol já caía do céu enquanto se aproximava cada vez mais da terrinha que chamava de lar. Mas a paisagem aparentava estar um tanto diferente. Onde árvores cresciam até onde a vista alcançava, agora aparentava seca e deserta. Um rio perene que corria perto dessa floresta sumira, e até o próprio verde da grama estava escuro. 

Desconfiada, Myoshi apertou o passo de Bicudo. 

― Vamos logo, estamos quase lá! 

Bicudo correu como se a alcateia de lobos-falcões ainda o caçasse. 

Avistou, a distância, a maior vila que se encontrava mais próxima da fazenda, e então teve certeza de que algo realmente mudara: Antigas construções já não cortavam a paisagem, e novas foram erguidas no lugar. Outras estavam destruídas e queimadas. Entretanto, notou ao topo do morro que um povo ainda vivia nessa pequena cidade. Como formigas operárias acatando com as ordens de sua rainha. 

Resolveu visitar a vila e questionar alguns de seus moradores antes de retornar a sua casa. Mas quanto mais se aproximava, mais notava que algo estava fora do lugar. 

Alguns dos cidadãos utilizavam um uniforme; o mesmo que muitos dos homens que enfrentara em suas viagens utilizavam. Vestimentas com um verde claro e escuro, com detalhes marrons nos ombros e nos pulsos. Lanças e escudos poderosos de ferro. E, é claro, um estandarte que já havia avistado antes: Um rosto severo com uma barba pontiaguda. A bandeira de Chin, o Conquistador, segundo dizem. 

Milhares de sentimentos e preocupações percorreram sua mente e coração, e tudo que conseguiu fazer foi ficar parada por alguns instantes, sem reação. Até ser interrompida por dois homens que patrulhavam os arredores.

― Ei! O que você está fazendo fora da cidade garota? E você roubou esse animal do exército? Volte já para o trabalho! Não quer que o chicote seja seu incentivo, quer? 

Um deles sacou o chicote, enquanto o outro preparou a lança. 

― Eu sou uma forasteira! ― Respondeu. ― Não sei o que se passa nessa vila, ou a razão pela qual querem me chicotear. Só me deixem seguir viagem. 

― Uma forasteira, não é? De que cidade? ― O gordo com a lança perguntou. 

― Vamos levá-la para Chin. ― O chicoteador retrucou. ― Seja lá de onde ela é, tenho certeza que ele vai se interessar. 

― Tem razão. Desça do cavalo-avestruz, garota. Dê ele para meu amigo e me acompanhe imediatamente. 

Myoshi permaneceu montada com um ar desafiador. 

― Não me faça pedir novamente. 

― Não pretendo. ― Retrucou. 

Myoshi saltou do cavalo-avestruz com agilidade na direção dos homens, e ao fazer contato com o chão, levantou o solo no qual os soldados se apoiavam, derrubando-os. Dobrou uma rocha na mão do homem gordo que segurava a lança, provavelmente quebrando seus dedos, e prendeu suas pernas, imobilizando-o. 

O outro homem, maior e mais forte, contornou o chicote no pé de apoio de Myoshi e puxou. Myoshi caiu de costas no chão e o baque a fez perder o fôlego. Uma dor enorme tomou conta de si por um instante, e o forte homem montou em cima dela. 

― Sua maldita! Acha que pode atacar homens do poderoso Chin e sair ilesa? ― Ele segurava suas mãos, e o peso do homem não a permitia movimentar as pernas. Moveu a cabeça, tentando arremessar uma pedra. Ele desviou com facilidade. 

― Isso não vai bastar. Terei que te desmaiar, ou você virá quieta? 

A única resposta que ele recebeu fora o cuspe de Myoshi em seu rosto. Para sua surpresa, ele riu. 

― Ótimo, será do jeito fácil então. 

Ele preparou o punho para atordoá-la. Fechou os olhos esperando o pior em seu rosto... Mas ele não veio. Bicudo atacou o soldado na cabeça com seu bico rígido, atravessando o crânio do mesmo. Gotas de sangue pingavam da extremidade utilizada para matá-lo. 

― Te devo mais uma. ― Disse Myoshi se levantando com dificuldade, ainda com dor nas costas e com perda de ar. ― Vamos. Não temos tempo a perder. 

Montou em Bicudo e partiu em disparada em direção a fazenda. 

O sol já estava no fim da terra quando enfim retornou ao lar que estava tão familiarizada, mas o local não estava nada familiar: A plantação estava queimada, a casa, construída pelo seu pai, desolada. E tudo que se via com a pobre iluminação do crepúsculo eram destroços e cinzas. 

Uma lágrima salgada escorreu em seu rosto, encostando em sua boca. 


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