Avatar: A Lenda de Kyoshi escrita por Lucas Hansen
― Eu estou cansada. ― Myoshi afirmou, bufando.
― Todos estamos. ― Kyoshi retrucou.
― Então seria bom parar um pouco. Avise Handu que vamos parar. A Resistência precisa comer, e eu preciso treinar.
― Fique a vontade para falar com ele. ― Disse, se afastando.
― Mimada. ― Respondeu, sem Kyoshi ouvir.
O dia estava azul, mas com muitas nuvens prateadas espreitando pelo céu, passeando calmamente como se o Reino da Terra inteiro não estivesse em guerra.
Bicudo melhorava mais a cada dia, e contra todas as chances, ele sobreviveria. Porém, talvez, não seria o cavalo-avestruz tão rápido que um dia fora.
― Handu. ― Ele não a ouviu, ou resolveu não ouvi-la. ― Handu! ― Ele parou. ― Mande suas tropas pararem. Já é meio-dia, ninguém aguenta caminhar nesse sol. E todos precisam reabastecer as forças.
― Quanto mais cedo chegarmos em Omashu, melhor, Avatar Myoshi.
― Já te disse para não me chamar assim, general. Só Myoshi está ótimo.
― Como desejar, Avatar Myoshi. ― Myoshi revirou os olhos.
― E isso não é tudo. Eu também preciso treinar minha dobra de fogo com Lee.
― Isso é um bom motivo para parar. Muito bem, Avatar. Vamos descansar um pouco.
Myoshi não suportava o tratamento especial, principalmente por parte de Handu, pelo fato de ser o Avatar. Antes, um bruto que discutia por tudo e com todos, Handu agora era um animal dócil quando se tratava de Myoshi.
Além dele, muitos membros do exército da Resistência veneravam Myoshi, ajoelhando e fazendo reverências, como se fosse uma deusa que salvaria eles de tudo que sofreram até então.
Odiava isso. Não se importava em ser o Avatar, mas preferia ser tratada apenas como mais uma mulher qualquer. Por isso gostava tanto de Bonuk, um dos garotos da Resistência. Ele tratava-a como uma mulher qualquer, além de fazê-la rir.
Aliás, Myoshi sentia que a ficha não houvesse caído completamente. Era a Avatar. O ser mais poderoso dessa Terra, capaz de fazer vulcões entrarem em erupção, causar terremotos, manipular a lava, criar furacões, levantar maremotos e fazer chover fogo.
De qualquer forma, não se sentia tão poderosa. Conseguia apenas dobrar terra, com muita inferioridade quando se tratava de Kyoshi, e não conseguira produzir fogo até então.
Comeu algo com rapidez, a fim de treinar com Lee. O homem com uma barba longa fez o mesmo. Ambos se afastaram da Resistência até um local mais plano, sem árvores ou arbustos por perto.
― Faça a posição. ― Ele disse, e Myoshi afastou as pernas e ficou com as mãos bem na frente do peito. ― Ótimo. Agora, como antes, respire. Sinta o sol tocar sua pele, e sinta o sol que existe dentro de você.
Myoshi respirava profundamente. E a cada vez que inspirava e expirava, notava que existia um fogo que crescia cada vez mais forte dentro de si; principalmente com sua pele exposta ao sol.
― Ótimo. Muito bom mesmo. Você está melhor em sua respiração. Acho que já podemos tentar fogo de verdade.
― É mesmo? ― Falou, claramente ansiosa.
― Sim. Mas só se você conseguir criá-lo. Eu não a ajudarei nisso. E tome muito cuidado. Nós manejamos o fogo, não o controlamos completamente. Fogo é vivo.
― Tomarei cuidado.
Myoshi fechou os olhos. Sentindo o sol na sua pele, inspirou e expirou. Inspirou e expirou. E de novo, e de novo. Até que fez um dos movimentos que Lee a ensinara, e pôde sentir e ver o calor deixando seus punhos em direção ao seu professor.
Ele defendeu o golpe com facilidade.
― Muito bom, Myoshi. Você é natural nisso.
― Obrigada, mestre.
― Me acerte mais algumas vezes. Quero ver o quão quente você consegue ser.
E assim ele continuaram. Myoshi atacando com seus punhos, com suas palmas, com suas pernas e com seus enormes pés. E a cada golpe de chamas, Lee defendia com facilidade. Como se ele cortasse o fogo no meio, extinguindo-o da existência.
― Ótimo, Myoshi. Mas eu espero que você estivesse me olhando com atenção, pois agora, é sua vez de defender meus golpes.
Com isso, Lee soltou três rajadas de fogo seguidas. Myoshi, desesperada, esquivou-se, pulando para o lado. O fogo se extinguiu no ar logo depois.
― Está louco?
― Estou te ensinando.
Novamente, ele começou a atacá-la.
Com certa insegurança, Myoshi pulava e desviava, esquivava e agachava, sem nunca parar o fogo com sua própria força.
Entretanto, Lee notou seu padrão, e foi mais esperto. Lançando rajadas de fogo nela e em todas as possíveis rotas de fuga, seu mestre não lhe deixou opção a não ser parar a chama com seu poder.
E, de alguma forma, conseguiu. Colocou os dois braços na frente de seu corpo, e quando o fogo fez contato, controlou-o fazendo um movimento para cima com um dos braços, e com o outro, para baixo, e a chama dissipou.
― Impressionante! ― Ele falou, animado.
― Impressionante? Você podia ter me machucado.
― É claro que poderia. ― Disse, despreocupado. ― Isso é um treino de dobra de fogo, Myoshi. Acha que nunca me feri quando era um moleque? Mas você foi muito melhor do que eu. ― Sorriu. ― Você é a Avatar, afinal.
― É, acho que você está certo.
― Sente um pouco. Vou buscar água para nós.
E Myoshi fez o que o seu mestre mandou. Sentou-se, e logo, estava deitada na grama, olhando para o céu azul, desejando ser uma das nuvens passageiras que observava. Desejando acordar na sua antiga fazenda com seu pai gritando uma tarefa ou outra para realizar.
Lee retornou com a água em um balde.
― Tome com a mão mesmo.
― Você acha que eu sou uma princesa pra só tomar água em taças?
― É, ― Ele riu. ― acho que você não faz do tipo de realeza.
― Nem você. ― Ela retrucou. ― Ainda não consigo acreditar que você é um príncipe da Nação do Fogo. Por que você está aqui, e não na sua terra?
― Bom... ― Ele claramente ficou desconfortável. ― Eu não posso retornar para a minha terra agora. Mas prometi a Handu que meu pai viria com um exército nos ajudar contra Chin. Sei que ele vai.
― E por que você está na Resistência? Nós não somos nada para você.
― Não suporto tirania e crueldade. ― Respondeu com um ódio puro.
― Mas por quê? Podia estar com uma família, comendo frutas e bebendo cerveja-vinho em um palácio qualquer. Por que está aqui?
― Cuida da sua vida! ― Falou um pouco mais alto.
Um silêncio perdurou, com apenas o som do vento soprando em suas orelhas lutando contra o frio que ficou entre os dois.
― Desculpe por perguntar demais. Não quis te irritar, mestre. Eu vou me retirar.
Myoshi se levantou, e já caminhava para o acampamento a fim de retornarem a marcha para Omashu, quando Lee a chamou.
― Espere, Myoshi. ― Veio correndo até ela. ― Não é sua culpa. Me desculpe por agir daquela forma.
― Não há com o que se desculpar. ― Sorriu para ele.
Ele não esboçou um sorriso de volta. Caminharam em silêncio, e quando chegavam perto do acampamento, Lee revelou:
― Me preocupo com meu filho. É por isso que não posso voltar para a Nação do Fogo.
― O que quer dizer?
― Há pessoas más que podem feri-lo caso eu volte. E eu farei de tudo para protegê-lo. ― Falou, com determinação.
Myoshi tranquilizou-o colocando um dos braços ao redor de seu pescoço, por cima do ombro.
― Ele vai ficar bem, Lee.
― Vai. Farei questão disso.
Ao retornarem, notou movimentação por parte das tropas da Resistência.
Myoshi correu em direção de Handu.
― Chin?
― Não. ― Retrucou, com medo. ― Uma matilha.
― Matilha do quê? ― Falou, rindo. ― Lobos-morcegos? Você tem praticamente um exército.
― Tire esse sorriso do rosto, Avatar. É uma matilha de alces-leões-dentes-de-sabre.
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