Avatar: A Lenda de Kyoshi escrita por Lucas Hansen


Capítulo 12
XI - O Alce-leão-dente-de-sabre




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O corpo inteiro de Myoshi estremeceu. Ela olhou para a densa floresta ao leste, o qual o acampamento estava de frente.

― Uma matilha? E desde quando alces-leões-dentes-de-sabre andam em matilhas? 

― Desde hoje, garota! ― Ele a empurrou. Parece que o medo de morrer fizera Handu perder um pouco de sua cautela com Avatar Myoshi. ― Homens! Preparem-se! Não podemos morrer para um bando de animais quando temos os animais de Chin para matar! 

As tropas rugiram em aprovação, mas logo esses rugidos foram cortados com outro rugido vindo de dentro da mata. Um rugido alto, assustador, avassalador. 

As árvores se mexiam, quase como se fossem cair. E, se o ouvido de Myoshi não a enganara, muitas delas caíram. O suspense e o medo ficaram no ar, e os guerreiros ficaram esperando o destino sangrento aos seus pés. 

Myoshi correu para sua irmã. 

― Lutamos juntas, certo?

― Nunca precisei da sua ajuda. ― Kyoshi retrucou. ― E não será hoje que precisarei. ― Se afastou. Não acreditava que aquela conversa de matar ou não matar Chin perdurara até agora naquela cabeça oca. 

Rejeitada por Kyoshi, Myoshi correu até Bonuk. Ele era um simples guerreiro que lutava com uma lança, não recorria a dobra de terra. Por isso, Myoshi resolveu lutar à sua frente. 

― Para trás! ― Disse ao garoto. ― Vou te proteger. 

― E deixar uma dama lutar por mim? ― Riu. ― Para trás você, eu te protejo. 

Ao Bonuk dizer isso, Myoshi avistou uma dezena de chifres de alces imensos deixando as árvores. Depois dos chifres, vieram os dentes de sabre enormes, e então, os monstros por inteiro. Eram pelo menos dez, Myoshi contou. Com mais de quatro metros de altura, tirando o par de chifres, e com dentes do tamanho de crianças. 

― Pensando melhor, ― Bonuk disse. ― acho que você tem o que é necessário para me proteger. ― E sorriu, indo para trás. 

Myoshi não pôde deixar de rir ao menos um pouco antes de enfrentar tamanha situação. 

Conseguiu ouvir a voz rouca de Handu a distância: 

― Vamos seus desgraçados de merda! Mostrem que vocês são dignos do exército da sua Rainha de Omashu! 

Normalmente, em uma batalha normal, os lanceiros e espadachins ficariam na vanguarda.

Entre a vanguarda e a retaguarda, ficam os dobradores de terra, para proteger os lanceiros e espadachins e também para atacar os inimigos a frente deles.

Na retaguarda, ficam os arqueiros, atirando flechas no amontado de adversários na frente da vanguarda. 

Mas essa não era uma batalha contra humanos, era contra feras. Lanceiros e espadachins na linha de frente causariam mais fatalidades para o lado da Resistência do que contra as bestas. No máximo, conseguiriam infringir danos nas patas e nas pernas dos animais, e apenas um corte muito profundo em ao menos duas das pernas poderia derrubá-los. Dezenas morreriam antes disso. 

Por isso, general Handu posicionou os dobradores de terra na linha de frente, a fim de atacar as bestas e proteger todos atrás deles. Os arqueiros vinham logo em seguida, tentando acertar flechas no rosto do animal. Sejam em sua boca, em seus olhos, e, de preferência, para penetrar a cabeça. 

E sua estratégia funcionou. No começo. 

Dobradores de terra conseguiam atingir os animais, e também conseguiam proteger aqueles que estavam atrás. Porém, liderados por uma criatura enorme com um dos chifres partido ao meio, ao menos meia dúzia de alces-leões-dentes-de-sabre invadiram as fileiras de homens.

Esmagando, arranhando, chifrando e devorando, as feras dispersaram a tropa com certa facilidade, e os outros alces-leões-dentes-de-sabre também penetraram no nosso território. Viu um dos lanceiros atingir a perna de um dos animais, e ele vacilou. 

Myoshi correu em direção a besta com uma pedra pontuda e afiada, e enfincou em sua garganta. Uma cachoeira de sangue jorrou em cima do lanceiro, mas, ele acenou agradecido. Não pôde deixar de se sentir ao menos um pouco culpada por matar o animal. 

Entretanto, a morte de um deles não foi nada. Myoshi e outros dobradores de terra tentavam imobilizá-los, feri-los, matá-los, mas sem sucesso. Os animais eram muitos, agora oito, e matavam os guerreiros com facilidade. 

Avistou Kyoshi a distância enfrentando um deles. Impulsionou a si mesma com a terra em direção ao animal, e enquanto sua irmã atacava a fera por baixo com terra, Myoshi golpeou com fogo por cima. 

Os pelos da fera passaram a queimar, e, desenfreada, começou a atacar tudo e todos, derrubando ainda mais soldados. 

― Não precisava da sua ajuda, podia ter acabado com ele sozinho. 

― De nada. 

Myoshi não parou, correndo para atacar mais deles. Porém, a distância, ouviu o grito de Handu:

― Recuar! Todos os homens, recuar!

Recuando, os guerreiros tentavam atacar e se defender enquanto caminhavam para trás. Agora eram seis, mas ao menos metade dos soldados haviam se dispersado ou morrido. Tínhamos de recuar, ou... Ou... 

Virou para trás e viu sua irmã, sozinha, enfrentando a maior das feras com um dos chifres partido. Ela o golpeou rápido na perna, mas o animal desviou rápido também, e começou uma investida com seus chifres contra Kyoshi. 

Kyoshi se impulsionou com uma coluna de terra para o ar, e o animal destruiu a coluna de pedra em vez da coluna de Kyoshi. 

No ar, sem terra para dobrar, Kyoshi caía, e o alce-leão-dente-de-sabre a avistou e abriu a boca para deixá-la entrar em sua prisão de dentes. Sua irmã tinha outros planos. 

Movimentou os braços no ar, e fez algumas rochas atingirem o pescoço do animal, o suficiente para ele desequilibrar e tombar, deixando Kyoshi cair confortável no solo. 

Mas o duelo não tinha terminado. O velho animal investia com toda a sua fúria e força, e Kyoshi fazia de tudo para escapar, sem contra-atacar. Podia notar que ela estava cansada. 

Mesmo sem pedir, Myoshi correu para ajudá-la, esquecendo do exército, de Handu, de Lee, de seus pais e de Chin. 

Kyoshi recebeu uma patada e caiu rolando no solo. Tentou se levantar, mas estava ferida o bastante para não conseguir. O alce-leão-dente-de-sabre se aproximou, pronto para devorar sua presa, preparado para matar Kyoshi. 

Estava longe. Não chegaria a tempo... 

Até que chegou. Myoshi sentiu um poder imenso, como se pudesse dobrar o mundo inteiro. Usando a dobra de ar, correu como nunca em direção ao rosto do animal, atingindo-o sem dó. 

Ele caiu. E Myoshi se viu no ar, atacando, inconscientemente, os alces-leões-dentes-de-sabre. Aqueles que ela não matava, feria o suficiente para outro dobrador de terra matar. Porém, o primeiro deles, fora o que atacou Kyoshi. Essa fera, ela fez questão de tirar a vida. 

E, ao perceber que estavam todos caídos, Myoshi também caiu no chão. 

Ao abrir os olhos, viu um homem. Um homem que ela conhecia, mas nunca tinha visto em sua vida. Tinha a pele escura, uma barba, e usava uma veste de cão-urso-polar na cabeça. 

― Quem... Quem é você? ― Ela perguntou, piscando. 

E quando abriu os olhos novamente, viu-se nos braços de Kyoshi. 

― Kyoshi... Quem era o homem que estava aqui? 

― Quem?

― O homem bonito, com pele escura, e uma barba... 

― Você está delirando, Myoshi. Acabou de voltar. 

― Voltar pra onde?

― Pro seu corpo. Seja lá quem fez isso aqui, ― Apontou para o campo com alces-leões-dentes-de-sabre caídos e mortos. ― sei que não foi você. 

― Eu... Eu realmente não conseguia me controlar. 

― Eu sei. Você jamais seria tão cruel com animais, até com aqueles que tentam nos matar. ― Kyoshi a ajudou a levantar. ― É... Obrigada. Se não fosse por você, eu tinha entrado pra cadeia alimentar. 

― Não me agradeça. 

― Eu quero agradecer. Olha, sei que nossos pensamentos não são iguais, mas também sei que lutamos pela mesma coisa. Eu te amo, irmã.

Sorriu. 

― Eu também, irmãzinha. ― Olhou ao redor. ― Onde está Handu e as tropas? 

― Foram para dentro da floresta. Disse que as feras estavam protegendo alguma coisa, e foi checar. 

Myoshi avistou os densos e altos troncos da floresta. 

― Vamos. 

Myoshi e Kyoshi correram para a vegetação. Por um tempo, não encontraram nada. Pulavam raízes, davam de cara com galhos e escutavam apenas o som do vento e da natureza. Até que escutaram a voz de homens. 

Aproximaram-se e Myoshi ouviu Handu. 

― Vamos logo com isso! Não vamos deixar uma dessas pragas viver. 

Encontraram a tropa em uma clareira, e nessa clareira, uma visão de horror. Bebês de alces-leões-dentes-de-sabre, todos alimentando a grama com sangue. Todos mortos. 

― O que significa isso, Handu?

― Ora, nossa salvadora! ― Ele se ajoelhou e a reverenciou. ― Obrigado mais uma vez, Avatar Myoshi. Você é uma luz enviada para nós. 

― Levante! ― Chutou-o. ― E olhe o que você está fazendo! ― Ele olhou, sem entender. 

― Estou garantindo que nenhum alce-leão-dente-de-sabre viva de novo. Eles tiraram a vida dos nossos, agora vou tirar a vida de todos eles. 

― Não. ― Myoshi disse, com firmeza. 

― Não?

― Não. Você vai deixar os bebês em paz. Muitos deles nem ao menos conseguirão viver sem suas mães. 

― Então. ― Ele argumentou. ― Melhor acabar com isso rápido. Para que os animais não sofram. 

― Não! ― Myoshi disse com ódio, e ao dizer, fogo deixou sua boca. ― Você vai deixar os bebês em paz. Se não, o próximo a enfrentar a minha fúria, é você. 

Ele a olhou, com raiva e medo ao mesmo tempo. Handu abaixou a cabeça. 

― Sim, Avatar Myoshi. Homens, vamos continuar nossa viagem até Omashu. Deixem os filhotes em paz.

E, pouco a pouco, os homens deixaram a clareira, e logo, deixariam a floresta. Mas Myoshi deixou-os ir na frente. Permaneceu observando os muitos bebês mortos e os poucos vivos, aterrorizados. 

― Isso... É terrível. ― Kyoshi disse. 

― É. ― Myoshi retrucou com frieza. ― Me fez ter vontade de deixar todos os alces-leões-dentes-de-sabre matarem Handu e seus homens. 

― Eles... São nossos aliados. Mas isso...

― Eles são cruéis. E nisso, não são melhores que Chin. 

― Você mesma disse que não quer matar Chin. Mataria Handu e seus homens? 

― Nunca disse que os mataria. Apenas que os deixaria morrer. 

― É a mesma coisa. 

― Não é. Mas... Você tem razão irmã. Nenhum dos dois merecem a morte. Assim como nenhum desses bebês. 

Passaram-se alguns segundos de silêncio, até Kyoshi quebrá-lo. 

― Vamos, você não pode fazer mais nada. 

― É lógico que posso. ― Aproximou-se de um dos filhotes, acariciando-o na cabeça, onde os chifres nem ao menos haviam nascido. ― Posso garantir que ao menos um deles sobreviva. 

― Você não está querendo dizer que vai... ― Myoshi agarrou a criaturinha no colo. 

― Kyoshi, conheça Xudok. O novo membro da nossa família. 


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