Silver escrita por Isabelle


Capítulo 12
Capítulo 11 - Charlie


Notas iniciais do capítulo

"Vai, menina
Com os teus olhos de mercúrio
Colecione vagalumes
Porque a noite logo vem
E vem
E vem"
— Ana Larousse



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Olhei para Wade deslizando pelas mesas e suspirei lentamente. Aquilo com certeza faria com que meu coração parasse de martelar desesperadamente a presença dele. Eu precisava o mais rápido possível sumir com aquelas borboletas malditas que estava se reproduzindo rapidamente dentro do meu estômago. Eu sabia que iria me dar mal se deixasse com que elas continuassem a brincar comigo daquela forma, da mesma forma que me dei mal ao deixar com que aquela parte de mim se levasse por André.

O cara ao meu lado fazia algumas perguntas que eu tentava responder de forma mais direta e sucinta possível. Não queria ficar com ninguém aquela noite e não queria passar a impressão errada, mesmo que eu já o estivesse fazendo sem nem ao menos perceber. Ele parecia bem interessado, e era estranho ter alguém flertando abertamente comigo depois de tanto tempo. Eu realmente estava enferrujada porque não conseguia o responder com o mesmo interesse que ele fazia as perguntas.

Os olhos deles eram tão claros, e seu rosto era robusto. Ele tinha um olhar sério, mas, ao mesmo tempo, um sorriso relaxado, como se fosse uma pessoa que tinha sérias preocupações, mas não estava dando a mínima para elas aquela noite. Então, eu pensei em me levar. Talvez não estivesse afim de ficar com ninguém aquela noite, mas não tinha motivos para não ter uma conversa aberta com uma pessoa que parecia estar se esforçando para achar um assunto.

Conversamos sobre tudo, faculdade, trabalhos, músicas, vida e descobri que ele tinha terminado seu curso de engenharia meca nica no ano anterior, e agora trabalhava para uma firma. Parecia ter muito o que fazer e ele não parecia muito satisfeito com o salário, mas aparentemente precisava ficar um ano ali se quisesse uma boa recomendação para uma empresa que ele estava realmente interessado em trabalhar desde o terceiro ano de faculdade. Ele tinha um gosto mais para música sertaneja, que realmente nunca havia sido meu gênero favorito. Preferia músicas com um toque mais diferente, e ele riu ao saber dos meus gostos. Tentei não levar para o lado pessoal.

Olhei para o lado tentando encontrar o auxilio de Alex, mas ele não estava mais ali, e sim no canto, parecendo perto de um banheiro se agarrando com a menina para quem ele estava choramingando. Sorri por ele, e voltei a manter meu olhar atento em Rafael, o homem sentado a minha frente. Tentei puxar assunto sobre relacionamento, mas ele me afirmou não estar procurando por isso ultimamente já que estava tão focado em sua carreira. Isso fez com que eu relaxasse um pouco a presença dele.

As mãos dele correram por meus braços, e eu tentei me desvincilhar, não queria uma pessoa estranha como ele me tocando do nada, mas não falei nada, apenas abrir um sorriso leve após afastar as mãos dele de mim. Empurrei meu cabelo do ombro quando levantei o braço chamando o garçom, e isso deve ter chamado atenção dele pois seus olhos desceram pelo meu corpo de uma forma que me intimidou, mas não o bastante, eu ainda estava levando tudo na esportiva. Eu realmente devia ter pensado mais sobre o que eu estava fazendo.

O tempo passou e eu quase me esqueci de Wade por esses momentos, e me senti feliz por ele ter saído dos meus pensamentos, mas então, meu olhar se moveu lentamente de Rafael e seu belo rosto, e mudou para a mesa do fundo. A garçonete era realmente linda, e seu sorriso era mais lindo ainda. Wade parecia estar bem entrosado com ela, rindo e todo conversativo e isso causou alguma paralisação nas borboletas que tanto rodeavam meu estômago. Era como se tudo tivesse sido congelado lentamente, desde a boca do meu estômago até meu coração, e também todas borboletas rodeantes, juntando e formando um grande monte de gelo fazendo que algo pesasse ali, me dando calafrios estranhos. Tentei distrair minha atenção, mas era como se tivesse um ímã levando meus olhos até os dois, queria gritar por eu ter sido tão burra e me deixar levar.

Sorri para Rafael e sugeri que saíssemos dali, e ele sugeriu que fossemos até seu carro, que tinha algo para guardar. É claro que eu não pensei que ele me trancaria ali no momento em que eu sentasse no banco, após ele sugerir que colocaria uma música para eu escutar e repensar sobre o sertanejo. Não pensei que meu coração ficaria desesperado, e que as lágrimas que eu tive que segurar ficaram fazendo minha garganta doer. Não pensei que um não dito com tanta força não teria relevância. Alias, eu estava gritando que não queria, havia lágrimas nos meus olhos, e olhar de repulsa. Como ele poderia pensar realmente que eu queria que ele passasse as mãos pelas minhas pernas, que ele subisse em cima de mim e beijasse meus lábios. Eu só queria que ele parasse. Queria que minha voz fosse escutada, mas era como se ele simplesmente estivesse surdo naquele momento. Como se eu tivesse ficado muda, e a única coisa que saia da minha garganta era um grunhido impossível de ser desvendado.

Usei minhas mãos para o empurrar de cima de mim, mas ele não se moveu. Apenas ficou repetindo que sabia que eu queria aquilo tanto quanto ele queria, e o meu não simplesmente não importava. Ele percorreu aquelas mãos lentamente pelo meu vestido, e o rasgou bem do decote, revelando meu sutiã preto. Um soluço rompeu do meu pescoço, mas ele apenas me beijou, fazendo com que eu sentisse o batom sendo retirado dos meus lábios. Suas mãos tateavam minhas coxas subindo cada vez mais. Meu coração batia rapidamente, cada batida era como se ele fosse parar a qualquer momento. As lágrimas percorriam um caminho silencioso até escorregarem do meu queixo para meu vestido. Minhas mãos tremiam, enquanto ele as segurava com força. Tentei selar meus lábios para que ele parasse com aquilo, mas simplesmente não adiantava. Era como gritar para uma caverna, você consegue ouvir seu eco, mas somente isso, sua voz ecoando nunca vem junto com uma resposta. Havia um barulho no fundo da minha mente, e a única coisa que ele dizia era Charlie, isso parecia me sufocar.

Soltei um suspiro leve e virei meu rosto.

Wade estava parado ali, e pelo olhar que ele tinha no rosto ele estava quase tão sufocado quanto eu estava. Seus olhos deslizaram por cima dos meus passando para Rafael que estava em cima de mim, ele ainda não tinha o visto, mas assim que o fez, se afastou brutalmente. Wade selou as mãos em um punho e bateu naquele vidro com toda a força. Obviamente o vidro não estourou num primeiro momento, deveria apenas ter causado uma grande dor, mas após isso, ele estilhaçou por cima de mim, e eu nem vi quando abri a porta do carro e me joguei em cima dele. Meu Deus, como eu amava o cheiro dele, como eu amava estar perto de um cheiro familiar como o dele. Eu não queria sair dali por nada no mundo.

— Não me solta, por favor, não me solta. — Isso saiu da minha garganta, juntamente com um soluço e lágrimas pesadas.

— Eu to aqui agora, e eu nunca mais vou te perder de vista, tudo bem? — Aquilo fez meu coração não se desesperar mais. Era como se simplesmente tudo tivesse ficado leve novamente, como se eu estivesse respirando sozinha e não por algum tipo de equipamento.

Era como um pesadelo que você tem a noite, e não consegue se libertar, mas por um momento de sorte alguém simplesmente te cutuca ou o seu despertador toca. Eu não poderia dizer naquele momento o quão grata eu estava por Wade estar ali.Ele apenas ficou ali. Em silêncio, enquanto minha cabeça pendia em seu ombro e suas mãos percorriam meu cabelo.

Alex que já havia chamado a polícia apenas cortinou cercando o idiota até que a polícia chegasse, não me pediram para fazer nenhum tipo de depoimento naquele estado, mas eu teria que ir na delegacia outro dia para conversar sobre o atentado e eu apenas concordei com a cabeça. Wade foi conversar com os policiais e se afastou de mim um pouco indo para perto de Alex, o mesmo que se afastou após Wade chegar indo até mim. Seus olhos pareciam tão preocupados quanto os de Wade quando ele parou a minha frente me fitando. Tentei sorrir para ele, mas não consegui muito, então para demonstrar o quanto eu estava feliz por ele estar ali, me levantei e envolvi meus braços envolta dele.

A respiração em seu peito pareceu voltar, como se por todo esse tempo ele não tivesse respirado. Seus braços se levantaram e me envolveram da mesma forma, e por alguns instantes eu me senti estranha, mas isso passou. Eu não havia percebido o quanto aquelas duas pessoas haviam se tornado importantes na minha vida, e isso agora estava realmente se mostrando claro.

— Ta, ok, pode se afastar. — Ele disse meio baixinho, e quando eu o fiz percebi que haviam lágrimas em seus olhos tentando fugir.

— Você está chorando, Alex? — Perguntei sorrindo.

— O que? — Ele fez um barulho com a garganta. — Homens não choram, eu estava apenas lacrimejando por conta do calor que está fazendo esta noite.

— Claro. — Eu sorri para ele, me sentindo melhor.

— Não faça mais isso, ok? — Me deu um soco de leve no ombro. — Não suma nunca mais.

— Vou tentar.

Wade veio caminhando até nós e todos entramos de volta no carro de Alex que dirigiu em silencio, enquanto Wade o acompanhava. Quis abraçar os dois pois não me encherem de perguntar naquele momento, e apenas deitei a cabeça na janela deixando que o barulho da cidade a nossa volta falasse mais alto. Sabia que Wade de tempos em tempos verificava se eu ainda estava ali, acho que ele tinha medo de que a qualquer momento eu pudesse querer abrir a porta do carro a me jogar para fora dele.

Alex nos deixou na porta do prédio, mas não quis descer do carro.

— A noite já foi turbulenta o bastante. — Afirmou e depois foi embora.

Wade momento após de me encontrar havia tirado seu casado e o entregado para mim. A noite não estava fria aquele ponto, mesmo que fizesse um frio que poderia ser levado em consideração. Contudo, aquele era apenas um gesto dele dizer que estava ali, e que iria cuidar de mim. Eu realmente não sabia como lidar com aquilo. Era como se a qualquer momento meu coração pudesse explodir, mas não porque ele doía por conta de Alex, mas pelo simples fato de todo aquela forma pequena que Wade estava encontrando para transmitir amor para mim sem ficar muito obvio.

Parei em frente a porta do meu elevador e olhei para o chão, em direção aos meus pés, para os ver girar em direção a Wade. Ele parou de olhar para a fechadura e redirecionou seu corpo até o meu. Ficamos nos olhando, e eu queria jogar os braços em torno do seu torso e o abraçar, mas eu não o fiz. Apenas fiquei o fitando tentando saber o que se passava na cabeça dele, fitando aqueles olhos castanhos, tentando colocá-los na minha mente ao invés das cenas horríveis que se passavam.

— Wade. — minha voz falhou. — Você se importaria se eu dormisse no seu apartamento essa noite? Pode ser no seu sofá, eu só não quero ficar sozinha.

— É claro que você pode. — Sua mão tateou a minha e novamente o choque se espalhou por todo meu corpo, acordando as borboletas congeladas.

— Só vou pegar meu pijama. — Eu disse, e entrei no apartamento fechando a porta atrás de mim.

Coloquei a mão na minha boca e respirei fundo, muito fundo, para que eu conseguisse mover minhas pernas lentamente até o quarto. As cenas ainda ficavam repassando em minha mente, cada vez mais fortes e com mais clareza. Passei a mão nos cabelos prateados, e comecei a chorar novamente. Eu não queria, mas não havia como. Eu simplesmente me sentia… Não havia bem uma definição para explicar tudo aquilo que estava se passando comigo, principalmente quando eu pensava no fato de que aquilo não havia apenas acontecido comigo. Eu não era a primeira garota a sofrer algo daquela forma. Eu era apenas uma das vítimas jogadas no mundo desamparadas, e muitas dela não tinham pessoas para as salvar.

Coloquei um pé a frente do outro e fui até meu quarto. Tirei aquele vestido rasgado e o atirei para longe de mim, enquanto passei os braços envolta de mim. Deslizei lentamente até o chão, inundada pelas lágrimas que berravam para sair dos meus olhos. Pelo meu corpo que berrava por um banho para tirar o contato daquele homem ao meu corpo. Finquei as mãos na minha pele, e abaixei a cabeça enquanto as lágrimas rompiam seus caminhos pelo meu rosto. Enquanto eu sabia que meu cabelo estava em puro caos, tal como minha mente.

A porta do apartamento se abriu e eu nem mesmo me importei que Wade parasse a porta do meu quarto me vendo seminua, nem que ele visse que meu mundo estava simplesmente desabando em lágrimas. Como eu merecia a bosta daquelas lágrimas. Meu namorado tinha sido um estúpido, partido a droga do meu coração e como retribuição o universo havia feito um cara subir em cima de mim e quase me estuprar por conta das minhas decisões idiotas. Eu não conseguia nem ao menos fazer alguma decisão certa, parecia que todas elas me arrastavam para um buraco cada vez mais fundo.

— Charlie… — Ele foi até mim.

Jogou seu corpo ao meu lado e deixou com que eu encostasse meu rosto em seu ombro enquanto chorava. Sabia que ele teria me abraçado se pudesse, porém, ele não queria ser invasivo. Eu tateei o chão a procura das mãos dele e as encontrei jogadas. Deixei que uma das minhas repousassem ali, enquanto ele ficava repetindo que ia ficar tudo bem.

— Eu não deveria ter te deixado sozinha, amor. — A palavra amor saiu tão calorosamente de seus lábios que uma brisa quente tocou meu coração pesado.

— Não foi culpa sua. — Disse, me lembrando que o motivo de eu ter saído fora aquela camada imbecil de ciúmes que havia me tomado. — Não foi culpa sua.

— Nem sua. — Ele olhou para meus olhos. — Não pense em se culpar por nenhum segundo, Charlie. Se foi culpa de alguém foi daquele idiota que… — Havia ódio na voz dele.

— Ei. — Eu apertei sua mão, e suspirei deitada contra seu ombro.

— Me desculpe, de verdade, Charlie, por não estar la para você.

— Mas você estava. — Disse quase como num sussurro. — Se não tivesse chegado lá, eu nem sei o que poderia..

— Não vamos pensar nisso, vamos pensar que você está aqui comigo, sã e salva, e que mesmo que você nunca possa apagar isso da sua vida, saiba que eu vou estar aqui para te ajudar a suportar tudo isso. — Parecia tão adulto falando daquela forma.

— Obrigada, Wade. — Soltei o ar que nem sabia que estava prendendo.

Ficamos em silencio por um tempo, apenas escutando nossa respiração, e eu me senti melhor.

— Eu não queria falar nada. — Sua voz estava mais leve. — Você sabe que eu estou te vendo seminua, certo? — Disse, e eu soltei uma risada, uma que eu não pensava que soltaria nunca mais.

— Você sabe que você continua sendo um idiota, certo? — Me afastei dele. — Saia daqui, eu vou me trocar.

— Não faz muito sentido eu sair agora, já que eu já vi.

— Some daqui, Wade. — Gritei, rindo.

— Nossa, não precisava gritar. — Ele disse, saindo.

Sorri levemente, e abri a porta do guarda-roupa para pegar meu pijama. Abri um sorriso leve, e peguei a coberta e meu travesseiro. Wade estava jogado no meu sofá olhando para seu celular, e quando ele me viu, apenas o guardou no bolso, e se levantou. Colocou sua mão nas minhas costas e me guiou até seu apartamento. Ele tinha cheiro de chá, que pelo visto, Wade havia preparado enquanto eu fui me trocar. Sorri abertamente naquele momento e não pensei em repreender meu coração por disparar daquela forma. Não mesmo. Eu sabia que aquilo tudo se tornaria numa grande bagunça, mas naquele momento, com o cheiro de chá no ar, e em um Wade que eu nem havia percebido antes, mas agora usava uma calça de moletom, e uma blusa branca, eu sinceramente, não me importava de deixar meu coração fazer aquele barulho por ele.


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