A Herdeira do Infinito escrita por Cabeça de Alga


Capítulo 26
Clarisse




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/679752/chapter/26

Saímos o mais rápido o possível daquela cabana, tínhamos recebido informações de que o exército já tinha chegado aos portões do castelo e que a batalha começaria em menos de duas horas. Kely tinha previsto chegar lá em duas horas e meia, não tinha como chegar lá mais rápido que isso. Então cavalgamos o mais rápido que os cavalos conseguiram, sem parar e nem conversar. Passamos por vilarejos de vários os tipos, além de paisagens maravilhosas, que não poderia parar para aprecia-las. Depois de duas horas exigindo o máximo dos cavalos deu para ouvirmos os barulhos da guerra, já havia começado e nós estávamos atrasados.

— Temos que nos adiantar e logo – Gritou Richard – Eles já estão batalhando.

— Isso é meio obvio né! – Disse Kely em tom sarcástico.

Mas os cavalos já estavam ofegando demais e o caminho até chegar lá ainda era longo, não sei se aguentariam tanta pressão. Toquei no meu cavalo acariciando sua crina, achei que pudesse ajudar em alguma coisa.

— Acha que chegaremos a tempo? E minha mãe será que ela está segura em algum lugar?

— Creio que ela está batalhando também Clarisse, já que ela é uma Cronariana com dons – Gritou Kely para mim – Mas não se preocupe, se ela for tudo o que falaram para mim, se saíra melhor do que ninguém jamais pode.

— Espero que sim Kely – Disse temendo que não fosse verdade, tinha certos receios de que eles poderiam ser atingidos por algum guerreiro. Meu pai não tinha dom nenhum, além dos poucos que tinha aprendido como mago e minha mãe tinha herdado os dons de minha tia, mas mesmo assim ela não poderia acabar com muitos de uma vez só. Os gritos e os choque de espada contra espada ficavam cada vez mais próximos.

— Clarisse, não se preocupe, são apenas dez mil homens dos Reivel e mais de noventa nossos, nós venceremos essa guerra facilmente – Nisso ela tinha razão, mas mesmo assim, parecia que tinha alguma coisa errada. Se eles fossem até onde meus pais estavam e tentasse matar eles, achando que assim a guerra estaria perdida para os Cronarianos, o que não podia era duvidar deles.

— Quantos minutos até chegarmos? – Perguntei.

— Vinte minutos no máximo – Disse Kely – Se os cavalos não estivessem tão cansados seriam dez, mas não dá para forçar eles tanto assim – Nisso até eu concordava com ela, eles tinham feito muito por nós.

O tempo parecia ir em câmera lenta e os cavalos também. Se passaram dez minutos, já dava para ver os guerreiros, a guerra já estava ganha, nem precisaria de nossa ajuda, mas mesmo assim, sentia como se alguma coisa poderia ter acontecido com meus pais e meus amigos, de repente o cavalo parou e eu quase fui jogada para a frente, se não tivesse segurando com firmeza. Na nossa frente tinha um grupo de no mínimo duzentos guerreiros Reivel, Kely foi a primeira a descer do cavalo e com um sorriso no rosto avançou.

— Finalmente – Disse ela rindo – Vocês não sabem o quanto esperei por isso – Seguindo o seu exemplo Richard e eu descemos também.

— Você fica aqui – Disse ele segurando meu braço – Eu e Kely cuidamos disso – Olhei bem para ele.

— Posso cuidar de mim mesmo – Puxei meu braço de volta e avancei para o lado de Kely, que já estava a atacar alguns ou melhor fazer eles atacarem a si mesmos, mas ela não conseguiu controlar todos eles.

— Agradeço uma ajudinha sabe – Falou ela olhando para trás.

— Ué você não tinha conseguido derrotar mais de vinte mil homens com apenas um sorriso – Falei indo para o seu lado.

— Estive morta durante milênios, nem tente me cobrar nada ok – Olhei para o céu que estava claro ainda, mas podia sentir as estrelas lá em cima e sabia que elas atenderiam meu chamado, então com um pequeno acenar de mão para baixo, uma chuva de estrelas veio em direção aos guerreiros, alguns correram para os lados, para não serem atingidos, mas com outro movimento para o lado, as estrelas, que mais pareciam bolas flamejantes, foram para eles, ficamos assim durante alguns minutos, mas não paravam de surgir guerreiros – O que é isso? Tem alguma fábrica de guerreiros Reivel por aqui? – Disse Kely ofegando, ela tinha deixado de entrar na cabeça dos outros, para entrar na dos animais próximos, de cara ela mandou um tigre branco para cima deles, além dos outros, mas ela estava ficando muito cansada, e não vou negar que também estava, tínhamos que acabar com isso logo. Richard estava tentando ajudar, mas como não possuía dom, ele atacou corpo a corpo mesmo, enquanto matávamos dez de uma vez ele matava quatro. Tinha que pensar em alguma coisa mais eficiente que as estrelas, bem Belona (mesmo tendo me traído, ela inda sim me deu várias dicas que me pode me ajudar), me disse que eu tinha herdado os poderes dos Gonums, que era impossível, mas não para mim claro, estava na hora de utilizar eles. Fechei os olhos e tentei me conectar a aquela parte minha que era reservada para aqueles dons – Clarisse não pare, iremos morrer se parar. NÃO É HORA DE DORMIR GAROTA – Gritou ela para mim, mas não prestei atenção, quando abri meus olhos, pude sentir as arvores, pude sentir a terra e toda a água que corria por ela, pude sentir a vegetação, as flores e tudo além disso, elevei minhas duas mãos com as palmas para cima, como se estivesse levantando algum peso, o que realmente parecia ser um peso de uma tonelada. Com esse movimento a terra e todas as arvores, vegetações e até mesmo as flores que eram inofensivas, atacaram, as raízes enroscaram nos pés dos guerreiros e os puxaram para baixo, a terra os engoliu como se fossem nada, os galhos das arvores cresceram e se tornaram flexíveis o suficiente para enroscar nos pescoços deles – Pelo que sabia uma Cronariana não tem esses dons – Apenas olhei para ela e sorri, ela não retribuiu esse sorriso, ao invés disso ela me encarou espantada – Seus...seus olhos estão completamente verdes – Bem acho que ela deveria estar endoidando, meus olhos eram negros como os da minha mãe, então voltei minha atenção para os guerreiros dos Reivel, que não paravam de chegar. Até que ouvi um baque, olhei para trás e percebi que Richard tinha sido atingido, não cortado, mas com a parte chata da lamina, tinham o atacado na cabeça e ele caiu desacordado no chão, meu coração disparou, pois o guerreiro estava prestes a dar outro golpe nele, só que dessa vez com a parte afiada.

— NÃO – Gritei e como num passe de mágica todo o tipo de vegetação e terra explodiu, tudo levitou, meus olhos estavam fixos naquele guerreiro em particular, assustado ele parou o golpe e aquela era a minha oportunidade, com as mãos na altura do peito, eu as fechei como se estivesse aplaudindo, e tudo, desde arvore a flores, desde a terra a pedra mais dura que existia foi para cima, mas não apenas dele e sim de todos, isso causou uma cortina de poeira, que deixou a mim e a Kely cegas por alguns segundos, com isso eu perdi o foco e o controle dos meus poderes, quando a poeira abaixou percebi que nem precisava retomar aquela concentração, pois estavam todos mortos, com exceção de Richard, Kely e eu. Richard se levantou meio assustado com o que viu, o lugar onde tinha milhares de arvores foi devastada em um círculo perfeito, deveria ser vinte campos de futebol, estilo copa do mundo, a terra estava uma mistura e tanta, com pedras preciosas e outras que era pedras vulcânicas, as arvores estavam caídas por todas as partes, Kely seguro meus braços e olhos bem em meus olhos. Sem intender o que ela estava fazendo me soltei e fui até Richard – Você está bem? – Perguntei preocupada.

— Sim eu...eu acho que sim – Disse ele me olhando assustado.

— O que foi? – Disse e olhei para Kely, que me olhava com uma grande satisfação – O que vocês dois tem?

— Clarisse seus olhos ficaram verdes, completamente – Disse Kely rindo, o que não fez nenhum sentido para mim.

— Meu olhos são pretos e não verdes, você deve estar doida – Falei certa disso.

— Eles ainda estão em um tom esverdeado Clarisse – Disse Richard.

— O que que tem? – Perguntei e meu coração disparou um pouco, só que de medo, pois até Richard estava rindo – Vocês dois querem me contar o que isso tem haver.

— Clarisse quando isso acontece quer dizer que você atingiu um nível de controle completo sobre seus dons – Disse ela se controlando um pouco – Isso quer dizer que você minha cara tem o controle supremo, se assim puder dizer, sobre os dons que herdou do clã de seu pais e de uma coisa eu posso garantir, isso nunca, na história, desde a criação até agora aconteceu – Disse ela dando alguns pulinhos quase imperceptíveis, para quem era cego – Isso quer dizer que você também pode fazer isso com os poderes da luz e das estrelas, você pode ser a mais poderosa já vista na face de todas as terras e reinos, pode ser mais poderosa até mesmo que Orium, Glondem e Belona juntos e olha que eles são deuses – Kely então parou e pensou um pouco, o que a fez rir que nem uma louca – É por isso que ele a queria – Disse ela para si mesma – É por isso que fazia tanta questão de possuir você – Ela estava falando de Prometheus – E é por isso que a quer morta, por que se você descobrisse isso, ele estaria perdido ou melhor morto e dessa vez para sempre. E é por isso que Belona queria tomar seus poderes também, não por causa da luz, mas por causa de tudo – Kely então olhou para mim e em seus olhos tinham um certo brilho de felicidade, admiração e respeito – Garota você é a chave de tudo, você é a criação que virou criador, você é o que quiser ser, você é os planetas, você é a extensão que existe entre tudo que existe, você...Você – Parou ela de repente – É a Herdeira do Infinito – Naquele momento percebi que Kely tinha ficado doida, ela começou a pular de um lado para o outro rindo descontroladamente, não consegui me conter, mesmo com toda aquela aflição da batalha, com Kely daquele jeito não deu e comecei a rir dela, Richard se esquecendo também começou a rir e por um segundo, nos esquecemos que logo adiante tinha uma guerra e tanto, até ouvirmos uma baita explosão, então paramos de rir e olhamos uns para os outros – Depois falamos mais disso – Disse ela sorrindo, um sorriso de excitação e felicidade de uma criança. Corremos para a batalha, pois com toda aquela confusão os cavalos tinham fugido, fomos o mais rápido que pudemos. Já dava para ver o castelo, ele era lindo, seus muros eram brancos como a neve e provavelmente eram de granito ou mármore, os portões eram de ouro negro, desenhado nele estava uma fênix ressurgindo das cinzas e ao seu redor tinha estrelas, suas torres negras eram ainda mais belas. Mas não dava para ficar olhando tudo, ao redor tinha muitos guardas que lutavam, era evidente o lado que estava perdendo, tinha vários homens dos Reivels mortos, enquanto apenas alguns dos nossos estavam caídos – Chegamos no fim da guerra, mas ainda tem um restinho – Disse Kely me olhando com excitação, ela deveria estar amando aquilo tudo. Avançamos com tudo, quando os guardas nos viram eles gritaram, o que os atrapalhou um pouco para se defenderem contra os ataques dos inimigos, mas nada que pudesse realmente atrapalhar. Olhei em volta procurando meus pais, mas não tive nem sinal deles, um dos guerreiros na esperança de me matar veio correndo em minha direção, apenas apontei minha mão para ele, que começou a flutuar, então como se fosse a coisa mais fácil do mundo eu dobrei ele ao meio, fazendo vários cracs de ossos se partindo. Não tinha muito o que fazermos, tinha no máximo dois mil homens, contra uns noventa mil, então apenas olhei a guerra terminar, alguns guerreiros tentavam atacar a mim e os outros, mas toda a vez que vinha um eu os parti ao meio ou apenas os dobrava mesmo. Por incrível que parecesse eu não estava me sentindo nem um pouco culpada, estava me sentindo até mesmo feliz em recuperar o legado da minha família, demorou cerca de mais meia hora até que a luta finalmente acabou. Os guerreiros gritaram pela vitória, alguns gritaram os nomes de seus clãs, entre eles eu ouvi o nome do meu clã. Fui até um deles, que quando me viu se ajoelhou e disse:

— Pensamos que Vossa Alteza estivesse morta – Disse ele.

— Mas não estou – Falei sem ser grossa – Onde estão os Lordes, Senhoras e Senhores, além dos meus pais claro – O guerreiro indicou o caminho até uma tenda que tinha sido visivelmente armada às pressas, ela era azul, parecia ser grande o suficiente para comportar cerca de cinquenta guerreiros daqueles, olhei para o guerreiro novamente – Muito obrigada, vocês lutaram bravamente – E com um belo sorriso no rosto ele se retirou, Kely e Richard tinham ficado para trás, então entrei sozinha na tenda. Todos estavam felizes e ao mesmo tempo sérios, quando eles me viram a surpresa não foi aquela que esperava, parecia que sabiam que estava vindo – Olá – Disse a eles.

— Fez uma destruição e tanta naquela parte da floresta – Disse a Senhora Geséle.

— Ah vocês viram – Disse meio sem jeito.

— Todos viram – Disse a Senhora Brindigite – E aposto que deu para sentir o tremor na terra a mais de vinte quilômetros daqui – Disse ela com um sorriso no rosto – Creio que não podíamos ter escolhido uma Rainha melhor para ocupar o trono – A Senhora Geséle olhou para Brindigite com uma certa raiva pelo que ela tinha dito, mas não disse nada quanto aquilo.

— Onde estão meus pais? – Perguntei, todos os sorrisos desapareceram, menos o de Geséle, que tinha ficado mais vivido que todos os que tinha visto.

— Minha cara Rainha, receio que deva lhe dar essa notícia horrível – Disse ela tentando murchar o sorriso.

— Cale-se Senhora Geséle – Disse a Senhora Brindigite, Geséle a fuzilou com os olhos dessa vez, mas não disse mais nada – Seus pais foras atingidos – Aquilo tinha sim sido uma notícia que desequilibrou minhas pernas, a pequena hipótese de perder meus pais logo depois que os reencontrei, era simplesmente desesperadora. Brindigite percebendo meu rosto se apressou em acrescentar: – Não se desespere, eles já foram socorridos e estão fora do risco de morte, sua mãe foi por pouco e seu pai, bem, ele apenas levou um belo de um corte na perna, mas nada que o leve a morte, talvez não volte a andar como antes, mas fora isso, nada de grave – Aquilo sim tinha me aliviado um pouco – Bem a guerra já acabou e nós vencemos, que tal entrarmos e festejarmos um pouco? – Perguntou ela sorrindo, todos então se levantaram em uníssimo, mas eu sabia que não haveria festa alguma, pois tínhamos vencido apenas uma batalha e não a guerra, ela sim teria que ser vencida, e isso só aconteceria daqui a três ou dois dias, dependeria do movimento de Prometheus e seus guerreiros. Mas olhando os meus aliados ali eu não tive coragem para dizer-lhes isso, esperaria entrarmos no castelo, ai sim eu os convocaria e diria para eles, agora o que eu queria era um banho e um roupa limpa, então fui com eles para dentro do meu castelo recém tomado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Herdeira do Infinito" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.