A Herdeira do Infinito escrita por Cabeça de Alga


Capítulo 25
Clarisse




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Quando a noite caiu decidimos parar para dormirmos um pouco, encontramos um pequeno abrigo nas arvores, deveria ser uma casinha de caça, onde os camponeses a usavam na época certa. Não era grande, tinha uma sala com um sofá antigo e velho e duas cadeiras, tinha uma cozinha com apenas um fogão a lenha e uma bancada enorme de madeira cheia de armas e com respingos de sangue mal limpos. Deixamos o resto do abrigo para lá e voltamos para a sala.

— Você pode dormir no sofá – Disse Kely para mim – Eu e Richard nos arrumamos aqui no chão – Queria poder discutir, mas eu queria muito aquele sofá, então não questionei.

Richard se deitou um pouco mais longe de mim, Kely se deitou ao lado do sofá, não deveria ser confortável dormir naquele chão sujo e duro. Esse sofá era melhor que o chão, mas não deixava de ser tão pouco nojento, tinha cheiro de vomito, troquei de lado para ver se melhorava, mas piorou, agora ficou com cheiro de mijo, então voltei para o de vomito.

Mesmo com aquele cheiro eu poderia dormir, estava morrendo de sono, tinha ficado três dias sem dormir, meu corpo estava cansado e dolorido, fechei os olhos e esperei o sono vir.

” - Clarisse – Ouvi alguém me chamar – Clarisse, acorde – Abri os olhos e percebi que estava em um quarto todo branco, olhei em volta e ele não tinha porta e nem janela. Me levantei e o chão era feito de areia, então permaneci na cama – Clarisse – Chamou novamente.

— Quem está ai? – Perguntei. Não houve resposta, olhei em volta, mas estava todo vazio, não tinha ninguém – Quem está ai? – Perguntei novamente.

— Clarisse – Disse alguém atrás de mim, me virei rapidamente e vi quem estava falando, era Eryna Loriel – Por favor não grite e nem tente fazer nada, não sou aquela Eryna criada por Prometheus – Disse ela.

— Então quem é você?

— Sou a verdadeira Eryna.

— O que você quer? – Perguntei.

— Quero te avisar uma coisa – Disse ela indo para a minha frente, seus pés não tocavam o chão, ela percebeu que eu tinha reparado nisso – Controle do ar, pode te oferecer alguma vantagens, como passar por esse chão horrível, tente mudar isso, acaba com os pés e a vida de quem quer entrar.

— Que lugar é esse?

— Esse é a sala que seu subconsciente descansa quando está dormindo – Disse ela sorrindo para mim – É aqui que você fica toda a vez que está dormindo, as vezes tem como chegar até você aqui e as vezes não, mas por sorte eu consegui chegar até você.

— Mas como? Como você conseguiu voltar ao normal, pelo menos aqui?

— Mesmo tendo sido trazida de volta com o sangue de Prometheus, eu ainda tenho aquela parte dentro de mim que sou eu mesmo, presa, vejo e ouço tudo, mas não consigo distinguir nada, para mim estou num sonho acordada.

— E quanto a Rainha Irys, ela realmente está morta?

— Infelizmente sim, ela morreu para que eu voltasse – Disse ela com a voz meio abalada – Voltando ao aviso, eu vim até aqui para lhe avisar que Prometheus chegará até vocês daqui a três dias no máximo, começando a contar a partir de amanhã, ele partira na primeira luz do dia.

— E o que você exatamente quer que eu faça com essa informação?

— Que você se prepare – Disse ela – Os outros que voltaram a partir dos ossos, ainda tem aquela parte sua viva, mas presa em seu cérebro, mas aqueles que voltaram a partir de magia negra não, eles perderam por completo sua parte original, agora eles são completamente submissos a Prometheus, sem salvação.

— Como assim sem salvação? – Ela me olhou tipo: Como você não sabe?

— Você pode reestruturar todos aqueles que ainda mantem suas partes vivas na mente, pode nos trazer de volta, mesmo que não seja certo, pois o que morre, tem que continuar morto, mas agora que voltamos dei-nos uma chance.

— Para você até que vai, pois seu clã está sem comando, mas e os outros?  Os que viveram nesse planeta também, pois poderemos procurar seus antigos castelos e reestrutura-los, mas e aqueles que viveram em outros planetas? Não poderei abrigar eles em meu planeta.

— Eu sei disso, mas como a Rainha dos outros dois planetas, eu poderei abrigar eles aonde viveram antes de morrerem, poderei reconstruir seus castelos e trazer seus clãs de volta a vida, mas tudo isso depende de você, se quiser pode nos ajudar, mas se não quiser pode nos deixar morrer novamente, a decisão é sua.

— Isso se eu ganhar essa batalha – Disse – Nem mesmo cheguei no castelo para retomar ele.

— O castelo já é seu, Prometheus sabia que não conseguiria mandar reforços para manter ele, então deixou apenas os dez mil homens dos Reivel, você vai perder homens?  Vai, mas irá recuperar o que é seu por direito.

— Tá farei o que você quer – Tinha alguma coisa em minha cabeça que estava me preocupando, mas eu não conseguia lembrar o que era – Como foi que conseguiu me contatar, já que sua parte original está presa?

— Sou mais forte do que você pensa Clarisse – Disse ela – Consegui vencer o Lorde das Trevas e derrotar todo um clã e um planeta cheio de outros clãs, não me subestime.

— Não posso me dar ao luxo de confiar em qualquer um, tenho que ser cautelosa, se é que me entende.

— É claro que entendo e também te admiro por isso – Disse ela – Sabe tem muitos aqui que temem você, a garota que colocara o fim no Lorde das Trevas – D novo aquele nome, Prometheus tinha mudado de nome, Eryna como quem adivinha as coisas percebeu o que “pensava” – Sim seu nome foi trocado, pois nenhum em toda a existência conseguiu fazer seu feito, nenhum jamais voltou da morte e nem trouxe outros da morte.

— Você tinha falado do clã que tinha derrotado, era o Bongolis né?

— Sim, os Bongolis me decepcionaram quando soube o que tinham feito, não tive escolha.

— Luliana Bongolis ainda tem salvação?

— Luliana, sim talvez ela tenha, mas não tenho certeza, ele tomou sangue de demônio durante séculos, não sei se pode ser reversível.

— Seria bom reverter isso, com o Clã Bongolis de volta poderíamos reconstruir o Palácio Branco, dos Anciões, sem os Bongolis, Reivel e vocês Loriel, o Conselho Branco não terá poder algum.

— Nisso está certa, sem algum desses clãs o conselho não existira, sabe quando eliminei o Clã Bongolis, nós tentamos colocar outro clã em seu lugar, um de origem de Brimoudo, funcionou durante alguns anos, mas depois, quando tentamos trazer de volta Brimoudo, para reestabelecermos outro para a descendência dos Bongolis, não conseguimos, a tentativa causou uma enorme explosão, desde então apenas fingimos ter tudo sobre o controle, mas faz décadas que não conseguimos nada do Conselho Branco.

— Espero que isso mude, precisamos de todos no conselho – Como uma lâmpada se acendendo eu me lembrei o que estava me preocupando tanto – Eryna, desculpe, Rainha Eryna, tem uma antiga Líder de Clã, chamada de Kely Hylstel, do Clã Hylstel, ela diz que conseguiu fugir de Prometheus, alegando que ele tentou utilizar seu sangue nela depois que a ressuscitou, mas ela conseguiu fugir dele antes disso, posso confiar nela?  

— Não, ela é mandada por Prometheus, ele pretende te matar a partir dela – Disse ela ficando com uma expressão séria no rosto – Mate-a enquanto é tempo, ela tentara fazer sua cabeça com mentiras, não acredite nelas, acabe com ela antes que seja tarde demais – Como eu desconfiava, não era Eryna.

— Quem é você? – Ele nem mesmo se deu ao trabalho de se esconder.

— Sentiu minha falta queridinha? – Disse Prometheus, a visão se distorceu e na minha frente apareceu um homem alto, ele tinha cabelos longos e castanhas, olhos completamente negros, sem partes brancas, sua pele era dourada, seu rosto era maldoso – Nossa querida Eryna como sempre querendo ajudar a todo mundo.

— Você achou mesmo que conseguiria me enganar por muito tempo? Não sou tão idiota como antes Prometheus.

— A minha querida Clarisse, não se engane, era realmente Eryna conversando com você, e é graças a ela que consegui chegar até você, graças a aquela idiota eu consegui chegar até seu subconsciente – Disse ele se aproximando de mim – Sabe o que acontece com aqueles que morrem dormindo? Se você não sabe pode deixar que te mostrarei – Prometheus apenas me encarou e eu senti como se minha garganta se fechasse, não conseguia respirar, tateei o ar esperando segurar em alguma coisa. De seu corpo começou a sair uma fumaça negra, onde ela tocava ela matava, as paredes ficaram negras e a areia deixou sua cor marrom de lado, para ficar com a mesma tonalidade das paredes – Mas sabe, eu não quero que você morra, tenho uma ideia melhor para você – Disse ele – Sabe, aqui não é apenas um local para a segurança de seu subconsciente, mas também é aqui onde seu poder da luz esta é aqui que sua escolha ficou, ou seja, se eu empestear esse belo quarto branco de trevas, você será igual a mim, talvez até um pouco pior – A fumaça negra chegou até a cama, a deixando negra, apenas um pequeno espaço, que era onde eu estava sentada ficou branco – Olha, está resistindo, ficou mais forte Clarisse, o que é Kely te ajudou com isso? – Ele pois mais força, para que me alcançasse, não podia deixar ele fazer isso, tinha passado por todo aquele sufoco de entrar em minha própria mente, para agora isso, não mesmo queridinho. Tentei fazer o mesmo que ele, já que podia liberar as trevas, por que eu não poderia libertar a luz, então fechei os olhos e me concentrei, senti como se minha garganta voltasse ao norma, abri os olhos e percebi que saia um pequeno raio de luz de mim, e esse raio de luz afastava as trevas para longe.

— E quem disse que eu quero ser igual a você? – Coloquei mais força, mas não deu certo a luz diminuiu, o que me deixou confusa.

— Você tem muito o que aprender ainda garota – Disse ele sorrindo. Não conseguia compreender, tentei novamente, mas tudo o que consegui foi diminuir esse fecho de luz que me protegia.

— Clarisse não use a força – Disse Kely aparecendo do meu lado – As trevas são a partir da força e da raiva, mas a luz não, ela é delicada, ela é a partir da vida, da paz e da bondade – Prometheus a encarou, obviamente com raiva – Acha mesmo que é só você que consegue chegar aqui Lorde Prometheus.

— Foi um erro tremendo ter trago você de volta Kely, pode ter certeza de que terei o prazer de te devolver a morte – Disse ele aumentando a força de sua fumaça negra, Kely esticou as mãos e como num passe de mágica, um escudo impediu que aquela fumaça chegasse até nós.

— Pena que você já o cometeu – Disse ela e então voltou seu olhar para mim – Ande logo Clarisse, não tenho forças para segurar ele – Fechei os olhos novamente e tentei procurar a paz dentro de mim, tentei encontrar o motivo pelo qual decidi lutar, não pela vingança, mas sim pela justiça. Abri os olhos e dessa vez não coloquei força, mas sim serenidade e paz, o fecho de luz se tornou maior, até que se tornou um grande raio, que percorria cada canto do quarto, deixando ele branco novamente, apenas um pequeno espaço ficou negro, que era onde Prometheus estava – Acho que quem perdeu aqui foi você querido – Disse Kely, Prometheus rosnou de raiva.

— Ainda te matarei Kely Hylstel, ainda te matarei.

— Terá que passar por cima de mim Prometheus – Disse para ele. Ele desviou seus olhos para mim e sem mais nenhuma palavra sumiu.

— Hora de acordar – Disse Kely me empurrando para um buraco que a um segundo atrás não existia.

 

Me sentei assustada no sofá, Kely estava sentada no chão ao meu lado, ainda estava com os olhos fechados e de repente ela os abriu e estava ofegante.

— Nem dormindo você me da paz – Disse Kely sorrindo.

— o que foi aquilo?

— Eryna tentou te alcançar e quando conseguiu Prometheus aproveitou disso – Disse ela – Isso é meio obvio né, Prometheus te falou isso.

— Tá, mas como conseguiu chegar até lá?

— Entrei em sua cabeça e procurei onde seu subconsciente estava, olha tenho que te dizer, que para uma garota que alguns meses atrás não sabia quem era, você tem um sistema de segurança ótimo, quase morri, para poder chegar até você.

— Mais uma vez muito obrigada por salvar minha vida.

— Não me agradeça, mas sim a Richard, foi ele quem percebeu que tinha algo de errado com você, ele quem me acordou. Só espero que tenha valido a pena ter feito isso Clarisse – Ela falou e voltou a deitar – Agora preciso ir dormir um pouco, faz séculos que não sonho tão intensamente – Disse ela rindo.

— Eu pretendo ficar acordada, já chega de sonhos por hoje – Realmente para mim estava ótimo, não queria fechar os olhos nem mais um minuto.

Me levantei e olhei para fora, deveria ser umas quatro ou cinco da manhã. De repente senti falta de alguma coisa, olhei em volta e percebi o que era, Richard não estava mais deitado. Fui para fora do abrigo e o encontrei sentado em um pedaço de madeira caído, ele olhava para as estrelas, como se pudesse gravar elas em sua cabeça. Mesmo sabendo que não deveria, fui até ele e me sentei ao seu lado.

— Como está se sentindo Vossa Alteza?

— Bem melhor agora, tenho que lhe agradecer Sor. Se não fosse por você eu estaria..., não sei como estaria, mas não seria nada bom – Ele sorriu, o que foi bom.

— Fiz apenas minha obrigação como seu cavaleiro pessoal – Tinha que ter tido algo mais do que apenas a obrigação. Limitei-me a apenas olhar para o céu, que estava lindo, estrelado como nunca tinha visto na minha vida, além de que elas também pareciam estar maior.

— Sabe nunca tinha prestado a atenção nessas estrelas daqui – Disse para ele – Elas são lindas.

— Sim elas são – Disse ele meio perdido nelas – Desde criança eu gosto de observar as estrelas, elas falam a verdade – Ele olhou para mim e seus olhos brilhavam, o que o deixava ainda mais bonito, mas além disso percebi uma simplicidade e sinceridade, uma coisa que nunca percebi em ninguém na terra – Elas são sinceras, nunca mentem, não mudam quando alguém não gosta delas, elas continua lá, sendo aquilo que sempre foram.

— Nunca tinha pensado dessa forma – Ele voltou os olhos para as estrelas, que começava a sumir, para dar espaço aos raios do sol e para indicar que Prometheus tinha saído de Brimoudo.

— Ninguém nunca pensa – Disse ele – Meus pais são um exemplo disso, eles ficaram com medo de que eu ficasse delicado demais, então me mandaram para o Clã Voltys me treinar como Sor. Mesmo assim nunca deixei de olhar para elas todos os dias – As estrelas já tinham desaparecido e dado lugar a um céu rosado, lindo, aquele era o pôr do sol que eu já vi em toda a minha vida.


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