— Bom dia. Fiz biscoitos! – Diz uma mulher magra e baixa atrás do balcão da cozinha ao avistar Alexandre saindo do quarto de pijama com cara sonolenta. Ela limpa as mãos no avental branco que usava e abre a geladeira para pegar uma jarra de suco e o servindo.

— Bom dia Mai. – Alexandre responde bocejando. Ele bebe um gole do suco e então o cospe na pia. – Maracujá? Por que não fez de manga?

— Você só reclama. – Ela pega o copo e vira ele na pia. – Da próxima faço de brócolis, você ta precisando mesmo.

— Vocês já estão brigando, nem o Sol acordou direito. – Diz Rafaela saindo do quarto com a mesma cara sonolenta de Ale. – Bom dia amor. – Ela da um beijo em Myria. Sim o nome dela é Myria, mas eu chamo de Mai.

— Primeiro: Eca! Segundo: Ela quer me matar, me dando suco de maracujá. Eu até rimei.

— Você não vai morrer bebendo suco de maracujá, sua pressão só vai cair ainda mais. – Responde Rafaela sentando ao seu lado.

— Viu vocês estão juntas nessa, querem me dopar para pegar meu dinheiro. – Diz Ale se levantando e se afastando.

— Que dinheiro garoto? Não pira. – Rafa pega uma fruta na bancada.

— Eu só queria que você dormisse um pouco para eu poder aproveitar minha namorada. – Diz Myria beijando-a novamente.

— De novo, parem de fazer isso na minha frente. E não interessa, faça meu suco de manga, eu preciso de inspiração para escrever. – Diz ele se aproximando novamente da bancada e pegando uma maçã.

— Não tinha manga no Rio de Janeiro? – Ironiza Myria rindo.

— Sua! – Grita Ale de boca aberta. – Olha ela Rafa, ta implicando comigo. – Ele fecha a cara e aponta para Myria.

— Vocês que são brancos que se entendam. – Responde Rafa pegando sua fruta e voltando para seu quarto. Myria pega a jarra de suco e o prato de biscoito e segue Rafaela dando língua para Alexandre.

— Abusada. – Resmunga Alexandre enquanto vai até a geladeira procurar algo para comer. Ele abre a porta e avista apenas água e temperos. – Os erros de continuidade dessa história estão afetando até meu estômago, a Rafa não tinha feito compras ontem? – Reclama novamente quando a campainha toca. Ele fecha a geladeira e se encaminha a porta de entrada abrindo.

— Oi Ale! – Diz uma moça rechonchuda, de pele branca e cabelos avermelhados. No momento em que ela aparece na porta à plateia começa a aplaudir e assoviar.

— Eu nem sabia que tínhamos plateia. Oi Camila, tudo bem? – Diz Ale se apoiando na porta.

— Tudo sim. – Responde ela estendendo uma xícara para ele. - Você é meu crush. – A plateia ri.

— Da pra parar? – Diz Ale se virando para trás. Ele volta seus olhos para Camila novamente e então conclui. – O que você disse?

— Eu preciso de Açúcar. – Diz Camila com o rosto corado.

— Não foi o que pareceu.

— Em inglês faria sentido.

— Talvez, mas essa foi à piada do capitulo anterior. Enfim, açúcar? Nada clichê isso. – Diz ele indo andando em direção a cozinha e sendo seguido pela moça. – Uma gostosa abre minha porta pedindo uma xícara de açúcar.

— Me acha gostosa? – Pergunta Camila constrangida.

— Agora você ta parecendo a Hinata. Eu só quis dizer que a cena era clichê, parece que o autor ta ouvindo músicas dos anos 80 enquanto escreve. – Ale abre o armário a procura do açúcar, mas as portas não abrem.

— Ta tudo bem? – Pergunta Camila.

— Ta sim, é que é tudo cenográfico, não sei como a geladeira funciona. – Ale desiste de tentar forçar as portas dos armários.

— Ah, então não tem açúcar?

— Não, mas tem eu! – Responde Ale e a platéia ri novamente. – Da para vocês pararem?

— Desculpa, eu não entendi o que você disse.

— Eu disse que tem eu. Tem eu, sou doce e posso ser seu! – Responde Ale se aproximando dela.

— Você não vai enrolar nosso romance por mais uns capítulos para deixar o público aflito e só me beijar lá no final? – Pergunta Camila se aproximando dele.

— Eu não, a Rafa ta se dando bem lá no quarto, vamos aproveitar também. – Responde Ale agarrando Camila e beijando-a sem parar enquanto caminham até o quarto. Assim que a porta do quarto se fecha, Myria e Rafa saem do quarto delas.

— Droga. Por que estamos voltando para a sala? – Indaga Myria sendo puxada por Rafa para o sofá.

— Porque a história é censura leve e não pode aparecer a gente no quarto. Você deveria saber, é você quem está betando. – Responde Rafa pegando o controle e ligando a TV.

— Eu sei, mas acho que vocês deveriam quebrar menos a quarta parede. To ficando bugada. – Conclui Myria deitando a cabeça no ombro de Rafa.

— É porque ele esta sem piadas, mas logo a trama continua. – Rafa fica mudando de canal até que Ale sai do quarto correndo.

— Eu já sei! – Grita ele parando na frente da TV.

— Ale. Você está só de cueca. – Diz Rafa enquanto fecha os olhos de Myria.

— Foi mal, já volto. – Ele corre novamente para o quarto onde veste seu pijama novamente. Ele volta para a sala, só que dessa vez acompanhado de Camila. – Eu tive uma ideia, vamos escrever sobre amigos em um apartamento.

— Já não existe algo assim? – Indaga Myria. - Se chama Colegas? Companheiros? Parceiros?

— Não me atrapalha Mai. Vou escrever uma comédia sobre nós quatro morando em um apartamento. - Conclui Alexandre.

— Quem é ela? – Pergunta Rafa apontando para Camila usando uma de suas blusas.

— Oi, eu sou a Camila, vizinha da frente. – Diz ela, acenando com a mão e sorrindo.

— Minha namorada. Conhecemos-nos a alguns parágrafos. Foca aqui. – Força Alexandre se posicionando entre Rafa e Camila.

— Vamos supor que é uma boa idéia. – Diz Rafa.

— O que não é. – Ironiza Myria.

— Qual seria o plot? E a Trama? Já tem pelo menos inicio, meio e fim? – Questiona Rafaela.

— Ainda não, mas por isso estou falando com você para me ajudar. – Diz Ale lhe estendendo a mão como se pedisse ajuda.

— Você sabe como funciona. Você escreve, eu digo se está bom ou uma bosta, e caso esteja bom você escreve e então eu coloco minha mãozona. Mas vamos tentar. Você já pensou em um Tor?

— Só no da Marvel. Tem outro? – Ele pergunta rindo.

— Não idiota. – Ela tenta se justificar.

— Na verdade, tem o da Deep Web, mas se vamos mexer com isso eu vou precisar de um antivírus melhor. – Ironiza ele. E então Rafa se levanta do sofá e lhe da um soco no braço.

— Ator! – Esse corretor que me odeia, mas você entendeu seu idiota. – Diz Rafa indo até a cozinha.

— Não bate no meu bebe. – Diz Camila esfregando o braço de Alexandre. – Você ta bem amor?

— Ela é melosa também? – Resmunga Rafa. – Começar a melação eu irei embora.

— Mas pra que um ator? – Questiona Myria.

— Ajuda na descrição do personagem, eu sempre penso em um ator que se encaixe no personagem que estou escrevendo para me ajudar a descrevê-lo. – Responde Ale. E não, eu ainda não tenho um ator.

— Então você não tem nada.

— Amor, eu preiso ir. – Diz Camila ao dar um beijo em Ale e logo em seguida se despede de Myria. Ela caminha até a cozinha para se despedir de Rafa. – Tchau Rafa. – Conclui ela tentando abraçar Rafa porém ela apenas aperta sua mão.

— Tchau Camila. Você precisa de um apelido, seu nome é muito grande.

— Rafa, seja gentil. – Diz Ale indo abrir a porta para Camila.

— Ta bom. – Resmunga Rafa enquanto Camila se vira para sair. – Espero que você não vire lésbica também. – Ironiza Rafa ao ver a moça cruzar a porta.

— Você já foi melhor! – Diz Ale para Rafa. Então ele se vira para Myria e continua. – Quando você vai embora Mai?

— Ta expulsando minha namorada? – Questiona Rafa.

— Só fiz uma pergunta. E precisamos trabalhar. – Diz Ale.

— Eu também trabalho aqui, sou eu que estou betando essa história. – Responde Myria deitando no sofá e pegando o controle.

— Ta bom, fazer o que né, precisarem de mim estarei escrevendo no meu quarto. – Diz Ale enquanto entra no seu quarto novamente. Rafa então volta e se senta ao lado de Myria novamente.

— Precisamos conversar! – Diz ela enquanto Rafa pega o controle de sua mão e aumenta a TV.

— Agora não, ta começando Once Upon a Time. – Diz Rafa sem tirar os olhos da tela.

— É serio Rafa, eu preciso falar com você. – Diz Myria aflita enquanto Rafa continua a ignorar. Então ela se levanta e continua. – Rafaela, eu to grávida!

— O que!? – Se espanta Rafa. – Como? – Rafa também se levanta.

— Eu sei lá, quem está escrevendo é o Ale. – Responde Myria.

— Foi só brincadeira, era só para deixar o clima pesado e pegar a atenção do leitor. Podem voltar a ver Tv. – Responde Ale rindo enquanto coloca a cabeça para fora do quarto.

— Da para parar de quebrar a quarta parede? Estamos tendo uma conversa séria aqui! – Diz Rafa aflita.

— Nada é sério nessa história. – Diz Ale saindo do quarto. – Vocês estão vendo Once Upon a Time? Quero ver também! – Conclui ele se jogando no sofá vazio.

— Ale. Você está só de cueca novamente. – Diz Rafa segurando os peitos da Myria.

— Rafa, meus olhos são mais para cima. – Diz Myria enquanto Rafa sobe as mãos para seus olhos.

— Foi mal, eu já volto. – Diz Ale correndo para o quarto novamente. Enquanto Rafa e Myria voltam a se sentar no sofá assistindo TV.