Beatriz escrita por Revoltada


Capítulo 5
16 anos


Notas iniciais do capítulo

Oiii, coelinhos.
Não sei se alguém tem o costume de ler as notas, por isso tento sempre ser direta. Eu gosto muito de escrever Beatriz, apesar do tempo que demoro, e queria saber se vocês gostam de lê-la tanto quanto eu. E, acho que com vocês deve ser assim também, mas quando leio gosto de ler histórias sem erros, e as vezes alguns passam despercebidos por mim. Sendo assim, quando encontrarem algum, podem me avisar! Isso me ajuda e deixa a história mais agradável de ler.
Boa leitura.



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Caído no chão, o menino olhou meio atordoado para cima, fazia um tempo que não encontrava sua prima.  "Me faltava isso, com tantas pessoas neste mundo, por que logo você?", pensou inconformado com o destino e as peças que ele pregava. Quase nunca o seu tio aparecia nos encontros de família, seu avô sempre reclamava que a culpa era da falecida esposa dele. Ela sempre o irritou sem fazer nada, só a sua presença já lhe incomodava desde sempre.  

Observou que ela havia trocado o corte de cabelo, fazia uns dois anos que não se viam.  Olhou por trás dela e notou o novo segurança que o encarava de forma intimidante. Pigarreou e aceitou a mão que Beatriz lhe estendia.  Assim que se levantou ela o abraçou e deu um beijo em sua bochecha. 

— Como vai, Matheus? Quanto tempo, têm o que uns dois, três anos? 

— Dois, o que faz aqui? Ainda brincando de cozinhar?! Quem é novo segurança? 

— Fazendo compras, e esse é o sargento Rafael, amigo do meu pai. — disse ignorando por completo a piadinha do primo, o relacionamento entre eles não era o melhor do mundo, mas ele ainda é o meu primo. — já que você está aqui por que não janta em casa? Irei fazer lasanha. 

— Não posso, estou com um amigo — se virou e viu o amigo cruzando o corredor a sua procura — Na verdade... LON, AQUI — Gritou acenando para o rapaz que veio em sua direção. 

Assim que Apollon chegou perto, reconheceu a menina que tinha atropelado. Abriu um sorriso quando ela também o reconheceu. 

— Que coincidência, como vai a perna? E a cabeça? Desculpa por aquele dia... 

— Está tudo bem, a culpa foi minha que não estava prestando atenção. — Bia balançou as mãos fazendo gestos que diziam tudo bem. 

— Vocês se conhecem? — perguntou Matheus confuso. 

— Sim, eu meio que atropelei ela. Eu te contei, lembra?! 

Matheus ia falar qualquer coisa quando fora interrompido por sua prima, que olhava seu amigo com os olhos estranhamente brilhantes. 

— Apollon, certo?! — ele concordou com a cabeça — Eu estava agora chamando o Matheus para jantar em casa, se quiser vir será muito bem-vindo, farei lasanha! 

— Eu já disse que não po... 

— Claro que vamos, não é Matheus? Você mesmo disse que não estava querendo pedir pizza. 

Os dois o olharam esperançosos para escutarem um sim de sua boca. Concordou com a cabeça e se surpreendeu quando Beatriz lhe abraçou depois de ter soltado um gritinho de criança. Ela avisou que chegassem pelas oito, se despediu dos meninos e eles foram embora. 

Penteou seus cachos com a mão e sorriu suspirando.  Finalmente a casa estará cheia. 

Vamos Rafa, temos muito o que fazer. Ah e por falar em jantar, o que você gostaria que eu fizesse de sobremesa? 

Rafael juntou as sobrancelhas em confusão, olhou pro lado... só restava ele. 

— O que você preferir senhorita. 

— Me chama de Bia, oras, eu te chamo de Rafa, nada mais justo.  E eu lhe perguntei o que você  gostaria! 

— Se é assim... eu gosto muito de brigadeirão, aquele de micro-ondas, sabe? 

Ela sorriu  de forma que suas covinhas aparecessem bateu palmas. 

— Sim, eu adoro brigadeirão. Boa ideia, obrigado! 

»»» 

A casa cheirava uma mistura de chocolate quente com perfume de lavanda para cômodos. Na sala o chão de mármore brilhava. O grande sofá mel, voltado para uma grande televisão, estava sem um amarrotado com as almofadas postas perfeitamente. Tudo estava perfeito. Pietro coçou a cabeça desconfiado, não era normal essa arrumação tão... meticulosa. Colocou a pasta em cima da mesinha que ficava na parede contraposta ao sofá.  

— Pai! — Bia apareceu com um avental na cintura e o cabelo bem preso em um alto coque, retirou a pasta da mesinha e entregou-lhe — Não vê que está tudo organizado? Vamos receber visitas. 

Ele suspirou e perguntou quem seriam as visitas enquanto andava em direção ao seu quarto. Ao ouvir a resposta parou imediatamente de andar e se virou para ela, que o seguia logo atrás.   

— O Matheus? Filho do meu irmão Pedro? Neto do avô que não quer saber nem de mim e nem de você? 

— Pai, eu sei que eu e o Matheus não nos demos muito bem desde que nos conhecemos; sei também dos... conflitos internos de nossa família. Só que eu quero deixar para trás, encontrei com ele no supermercado, fazia séculos que não o via. — abaixou a cabeça meio constrangida — mas sinceramente, acho que ele mudou, parece mais maduro e também trará um amigo em comum q... 

Pietro parou de escutar quando escutou as três palavras que em sua cabeça tinham significados mais profundos. Amigo em comum? Ela não tem amigos. Será que está namorando e não me falou? Vou matar esse garoto folgado. Fazia deduções imprevisíveis.  

— Pai?... Paii? Você está me escutando? 

— Sim, filha. Eu sempre te escuto. 

— Sei, bom como eu estava dizendo: Tente ser educado. Por favor! Finja que eles são um de seus clientes, principalmente o amigo de Matheus. 

Depois disso ela o beijou e falou que o jantar seria ás 20:00 horas, e que era para tomar banho, pois faltavam somente duas horas. Voltou para cozinha. Rafael apoiava-se na bancada preta do fogão. Batucava com dois dedos a perna direita.  

— O que faz aqui?  

— O que a senhorita faz aqui? Não era pra estar se arrumando? De qualquer forma, observando a situação aqui me parece que precisa de ajuda... 

Ela abriu o forno e checou a lasanha, ainda não estava pronta. Tirou a pequena mecha do rosto e se apoiou com as mão no balcão.  

— Me enrolei um pouco na receita e fui contar a notícia para o meu pai — suspirou pesadamente — Se tivermos sorte, você não verá o circo pegar fogo hoje. Você estava agoniado sem fazer nada, né? Porque quando fica desocupado sua mente não para de pensar nela — ele a encarou um pouco assustado — relaxa, acontece a mesma coisa com o meu pai. Ele passa horas e horas no escritório ou então bebe. 

Ela deu de ombros, abriu o armário sobre a pia e retirou alguns pratos entregando ao Rafael. Logo depois fez a mesma coisa com alguns copos; por fim pegou os talheres e pediu para que Rafael a seguisse. Os dois aprontaram a mesa, no final estava tudo lindo e sofisticado. 

— Como você se sente em relação a isso? 

— Como assim? 

— Digo, em relação ao seu pai e ele ser ausente. 

— O que você quer que eu diga? Que estou feliz, que o entendo? Ou que quero me matar de tristeza? Eu já acostumei, não é legal, mas espero que ele melhore. Eu vou ajudar! 

Um pouco constrangido ele olhou no relógio e disse que ela poderia ir se aprontar porque ele terminaria o resto, seguiu para cozinha e deixou a só.  Dentro de seu quarto ela abriu o guarda roupa e pegou  uma saia rodada floral, jogou na cama, pegou uma blusa de manga com ombros caídos e separou junto da saia. Tomou banho e lavou os cabelos, vestiu a roupa e colocou um colar com uma esmeralda pendurada.  Passava maquiagem em seu rosto no momento em que foi atrapalhada pela voz do Rafael falando que os meninos haviam chegado. Terminou o delineador puxado e andou até o quarto do seu pai. 

— Eles chegaram — avisou através da porta fechada.  Ele resmungou um "estou descendo" e ela se deu por satisfeita.  Girou os calcanhares e se pôs a caminho da sala de visitas, só agora que ela se lembrava do primeiro convidado que havia chamado, não comunicou com ninguém que seu avô estava vindo também. 

Dentro do quarto Pietro caminhava de um lado para outro. Como tinha me esquecido? Que péssimo pai que eu sou Sentou na cama e abriu com uma pequena chave a porta do criado mudo, dentro se encontrava um pequena caixa vermelho com ornamentos em dourado. Abriu-a, um pequeno medalhão de ourou branco brilhava no fundo. Pensou ser o presente perfeito, fechou a caixinha e levou para baixo. 

Matheus sentava-se confortavelmente no sofá segurando o embrulho em seu colo, de vez em quando mandava Apollon parar de bater o pé. Assim que Bia apareceu na sala, arrumada e maquiada, Matheus percebeu como ela era parecida com Kiera, uma lembrança o assombrou antes de mandá-la para o fundo da mente.   

A campainha tocou antes mesmo dela conseguir pronunciar algumas palavras, pediu licença e foi atender a porta. Seu avó segurava uma grande caixa embrulhada com papéis rosas e lilás, sorriu e  agradecendo o presente abriu passagem para que ele entrasse na casa.  

No fundo Matheus observava o último convidado, não o era familiar. Bia o cumprimentou apropriadamente, estranhando um pouco o presente em suas mãos agradeceu. Não sabia ao certo como logo ele, entre todas as pessoas no mundo, inclusive o seu pai, havia lembrado do seu aniversário. 

— Boa Noite, vamos para a copa — Disse Pietro que adentrava o espaço, acenou para todo mundo rapidamente. 

A copa estava arrumadíssima de uma forma clássica, Rafael fez um bom trabalho.  Quando ela chamou todos, omitiu que era o seu aniversário, exceto por seu avô. Não queria obrigar as pessoas a comparecerem por se sentirem obrigados e por pena dela.  

— Gente, esse é o meu avô Constantino. Vô esse é o meu primo Matheus e o seu amigo Apollon. 

Matheus foi o primeira a dar parabéns, a abraçou sentindo o seu perfume e depois depositou um casto beijo em sua testa. Ela abriu o presente, era um anel de ouro branco com algumas esmeralda incrustadas. Agradeceu e colocou o anel no dedo. Sussurrou para ele: 

— Como sabia? 

— Eu sei tudo sobre você, Beatriz — ele a respondeu no mesmo tom. 

— Olha isso, até combina com o meu colar. Não precisava, mas de verdade, obrigada.— disse em voz alta, sorrindo. 

— Ei — protestou o amigo dele — foi eu quem fiz ele sair para comprar o presente, acho que mereço um abraço também — disse brincando. 

Ao escutar a voz dele Pietro finalmente o reconheceu, uma carranca apoderou-se de si. No entanto, lembrou do pedido da filha: Agir com polidez.  Colocou a mão no ombro dele e sorriu friamente. 

— Não o havia reconhecido! Que terrível da minha parte. 

— Senh... se... senhor — Lon o cumprimentou. 

— Tio, algum problema? Já conhece o meu amigo?  

— Nenhum, Matheus. Filha gostaria que ficasse com isso, pertenceu a sua mãe — limpou a garganta. Bia petrificou ao escutar a palavra "mãe"— Abra, é para que ela sempre esteja com você. Desculpe a demora em te passar isso. Beatriz colocou o presente do seu avô na mesa e pegou o do seu pai. 

— Nossa, pai. Isso... meu deus... é tão lindo! E há uma foto dela, e sua... Obrigada, pai. Eu te amo! 

— Também te amo princesa.  

Antes mesmo de abrir o último presente, Constantino pediu para que abrisse no quarto, mais tarde. Todos se sentaram, Bia sentiu falta do sargento. Pediu licença e fora chamá-lo, o encontrou deitado no jardim fumando um cigarro. Ele admirava as estrelas.  

—Hey, Rafa. Você está perdendo o jantar — sentou-se ao lado dele — Sabe, é o meu aniversário e você seria muito bem vindo... 

Virou-se, estimou a bela ingenuidade dela perante a vida. Apagou o cigarro na grama e se levantou a puxando junto. 

— Então quer dizer que é o seu aniversário? — ela respondeu um "sim" com a cabeça — Quantos anos? 

— Dezesseis. E eu não sou tão inocente como as pessoas supõem então pode parar de pensar isso! 

— Como?? 

— Seu olhar... acho que seremos grandes amigos.  — riu e voltou com Rafael para dentro. 

Ao final do jantar os adultos foram embora, sobrando só os jovens e Pietro. Na sala, Bia encontrava-se deitada no sofá ao lado do seu primo com Lon no chão. Pietro, antes de se deitar, avisou que estava de olho nos meninos e que se quisessem podiam passar a noite no quarto de hóspedes.   

— Ei, vamos ver um filme? — Matheus propôs e obtendo o consentimento geral colocou A Era do Gelo 2. 

— Não acredito que ainda assiste isso. — Lon caçoou deitando-se no sofá entre os dois. No meio do filme os meninos desmaiaram, Bia se levantou e foi até o jardim, onde deitou novamente na grama, como o Rafael havia feito mais cedo. 

Um tempo depois, Apollon despertou e se juntou a ela. Ele admirou o brilho em seus olhos verdes cheios de vontade de viver. 

— O que aconteceu com você? Com essa família, na verdade. Todos parecem perdidos em um tempo distante.  

Encarando-o, ela o respondeu pesarosa: 

— "Era um vez uma linda garota que se apaixonou perdidamente por um homem cujo a família condenava a paixão. Cegos pelo amor eles fugiram para longe e se casaram, um tempo depois ela engravidou. O problema é que a bela moça dispunha de uma saúde tão frágil quanto a sua beleza. Ao dar a luz, ela trocou uma vida por outra. O marido dela enfurecido com a vida e com uma pequena recém nascida fugiu novamente, mas dessa vez não de lugar e sim da própria vida. Ele entrou em um ciclo vicioso de sobrevivência: beber, cuidar de mim e trabalhar". Você perguntou o que aconteceu com essa família e a resposta sou eu. Eu aconteci.  

Matheus escutava a conversa do sofá, de canto. Apollon abraçou-a, com força e ao mesmo tempo com cuidado. Estava conectado a ela, desde o dia em que se conheceram. 

 Então ela chorou, muito, como se não chorasse a séculos. Soluços invadiam a imensidão do céu que os iluminava com milhares de brilhantes estrelas.  

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Hoje eu assisti um filme que me emocionou bastante, ( Não sei se viram, mas se não vejam) Como eu era antes de você.
Me contem um filme que emocionaram vocês.
Beijinhos, até ! :*



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