Thinking Out Loud escrita por Grace


Capítulo 21
Papercut


Notas iniciais do capítulo

Oi anjos, tudo bem?
Perdoem a demora, eu acabei me enrolando com algumas coisas da faculdade e do trabalho, mas aqui está o novo capítulo. Espero que vocês não me odeiem muito depois de terminá-lo.
Beijos ♥



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"Right now it feels like we’re bleeding
So deep that we might not get back up
Our words will tear through the surface
Like a paper, like a paper cut"

 

A questão de tempo é relativa. Às vezes, um mês demora tanto para passar que nossa impressão é a de que ele durou um ano inteiro. Foi assim comigo na semana seguinte à nossa fuga. E no mês que decorreu dela. Ele se arrastou. E eu continuava apavorada, tentando, de todas as formas possíveis, superar o que havia acontecido. Eu andava nervosa, paranóica e extremamente sensível. O medo me fazia uma reclusa e eu, além de evitar sair de casa, evitava o contato com as pessoas. Não atendia aos telefonemas, fingia que estava dormindo todas as vezes que minha mãe entrava no meu quarto, seja para dar uma olhada em mim ou para anunciar que algum dos meus amigos estava ali para me ver, mal ia para a escola e nem fazer compras, que era o meu passatempo favorito, me animava.

No meu ponto de vista, eu tinha passado muito perto da morte. As coisas tinham saído do meu controle e eu não sabia lidar com isso. E ainda por cima, eu não aceitava o fato de que a polícia não tinha encontrado os sequestradores. Conforme os dias foram passando, eles continuavam afirmando que “continuavam procurando por todos os lados” o que eu sabia que era mentira - eu sempre fui uma boa mentirosa, o que me dava a dianteira para reconhecer outros mentirosos. Era de se esperar que, por serem da polícia, eles mentiriam melhor, mas não, apresentavam os mesmos trejeitos de todo mundo que mente mal: davam detalhes demais, piscavam muitas vezes por minuto (ou não piscavam de maneira nenhuma), sempre estavam com as mãos inquietas, olhavam muito no relógio e etc. A polícia provavelmente tinha dado uma olhada nos arredores da mata e, ao não encontrar nada, simplesmente decidiu não ficar empacados nesse caso, afinal, Tobias e eu estávamos bem e em casa. Ambos são e salvos - não graças a eles, diga-se.

— Ei. — Tobias, chama, me tirando dos meus devaneios. Eu não tinha percebido que ele tinha acordado. Era uma manhã de sábado e nós estávamos em seu quarto, jogados na cama. O relógio marcava quase oito horas. — No que você está pensando?

— Nada demais. — Eu respondo, me virando na cama para encará-lo e dando um sorriso fraco em seguida. — Só na vida.

Ele sorri pra mim e me abraça forte. Eu enterro minha cabeça em seu peito e fico lá por alguns minutos, respirando fundo. Acho que ele entendia o quão confusa eu estava. Nós raramente falamos sobre o que tinha acontecido conosco naqueles dias infernais. Nenhum de nós tinha nada de bom para dizer ou lembrar, talvez exceto o começo oficial do nosso namoro. Passávamos muito tempo em um silêncio melancólico, que podia dizer muito. Ou não dizer nada. Às vezes, voltávamos a ser o casal que éramos até o dia do sequestro. Outros dias era mais complicado. Discussões, os dois viviam irritados, estressados e tínhamos maneiras diferentes de lidar com as coisas. Mas na maioria das vezes, nós conseguimos nos entender.

A tarde passa de maneira arrastada e quando me dou por mim, estou na porta da casa de Amah, chegando para uma festa. Era a primeira festa que eu ia desde que tudo tinha acontecido e eu ainda estava sem saber porque tinha aceitado vir. Eu sabia que podia ir embora a qualquer momento, mas, apesar de todos os meus sentidos me avisarem que eu devia ir pra casa, decido entrar na festa e tentar seguir com a vida que eu levava antes.

Como eu disse. A passagem do tempo é relativa. Minha impressão? Que eu estava naquela festa há umas dez horas, quando o relógio do meu celular me dizia que não passara nem duas horas desde que eu chegara ali. Eu encarava Tobias friamente e ele me retribuía o olhar. Nós estávamos num canto afastado da casa de Amah. A festa estava bombando à nossa volta, mas eu continuava sem achá-la nada divertida, embora as pessoas ao nosso redor estivessem bebendo, dançando e se divertindo. Meu sangue estava fervendo, num misto de ciúme e irritação.

— Sério mesmo, Tobias? Você realmente está dando moral para aquela vaca? — Eu pergunto, praticamente gritando. — Parece até que nunca viu uma puta de saia curta. — Não sei explicar o que estava acontecendo comigo. Meu sangue fervia de ciúmes e eu mal conseguia me controlar. Eu devia ter ido pra casa duas horas atrás, quando os meus sentidos haviam me alertado que esta festa não era uma boa ideia para hoje.

— Você vai dar ataque de ciúmes agora? — Ele responde com outra pergunta, me fazendo revirar os olhos. — Ela é só uma amiga.

— Eu não estaria dando um ataque de ciúmes se você não me desse a porra de um motivo. — Eu respondo, sem conseguir ignorar o meu sangue que ainda fervia muito. Outra coisa que você precisa saber sobre mim: eu sou cabeça quente, estourada e nunca levo desaforo pra casa, mas geralmente consigo me controlar. Hoje não era um desses dias. Eu me sentia fora de mim.

— Se alguém tem que dar ataque de ciúmes aqui, sou eu. — Ele diz, revirando os olhos. — Você acha que eu não vejo o jeito que as pessoas te olham? Você acha que isso não me incomoda?

— Se incomodasse tanto assim você estaria tomando conta do que é seu, e não dando moral pra piranha. — Eu respondo. — Eu pelo menos não to dando moral pra porra de ninguém. Você não devia estar irritadinho.

Nós nos encaramos por alguns segundos. A festa de Amah estava totalmente abarrotada e ao invés de só convidar a galera de sempre, ele tinha convidado várias pessoas de outras escolas também. As meninas estavam aproveitando para cair matando em cima de Tobias, já que ele era popular por conta do time de basquete, o que estava me deixando louca. Principalmente algumas antigas colegas de classe dele. Zeke tinha me informado que elas sempre foram a fim de Tobias. Eu não queria nem pensar como era na época que eles estudavam juntos que o meu sangue fervia.

— Eu não tava dando moral pra ninguém. — Ele diz, soando irritado. Eu dou uma risada debochada e ele me fita. — Talvez esse não seja um bom momento pra gente conversar, Beatrice. — Ele acrescenta, e eu noto o uso do meu nome.

— É. — Eu concordo. — Talvez não seja uma boa hora pra gente conversar, Quatro. — Eu digo, deixando a frase mais impessoal possível. — Você devia voltar a conversar com a sua amiguinha. Sinto muito por ter interrompido.

— Você é impossível. — Ele diz, balançando a cabeça.

— E você é mesquinho. — Eu digo, olhando cinicamente para ele.

— Então o que você ainda está fazendo comigo, se me acha mesquinho? — Ele pergunta friamente, me olhando com desdém.

— Eu não sei o que eu ainda fazia com você. — Eu digo, usando o verbo no passado. — Não sei nem porque eu comecei alguma coisa com você. — Eu acrescento. — Talvez eu devesse manter distância de você, a partir de agora. — Eu praticamente grito.

— Talvez seja melhor assim. — Ele diz. — Porque aí ainda sobra tempo pra eu reparar o maior erro da minha vida. — Ele fala, gritando comigo. Eu me sinto como se tivesse sido jogada ao mar com uma âncora presa ao corpo. Nós já estávamos começando a chamar a atenção das pessoas que estavam mais próximas.

— Dizem que é errando que se aprende. — Eu digo. — Agora eu entendi a frase. — Eu grito, percebendo que era uma coisa nova esse negócio de erro. Eu não costumava errar muito.

— Bem que todo mundo me avisou que era perigoso ficar com você. — Ele diz, se afastando um passo de mim. — Eu só não sabia que além de brincar com as pessoas, você era possessiva também.

— Bem que me avisaram que você não é maduro o suficiente para levar as coisas a sério. — Eu digo friamente. Eu estava sendo maldosa e o machucando com palavras assim como ele estava fazendo comigo. Dou as costas para ele e vou atrás das meninas.

Eu não estava nem um pouco afim de continuar nessa festa, embora ainda estivesse bem cedo. O problema é que eu tinha vindo com Tobias e eu não ia pedir para ele me levar embora. De jeito nenhum. Eu não queria nem falar com ele mais. Nunca mais.

— Chris. — Eu chamo, a puxando-a para fora de uma rodinha formada por uns garotos de outro colégio, Lynn e Marlene. — Você tá de carro? — Eu pergunto, soando irritada.

— Tô. — Ela responde, dando de ombros.

— Me empresta ele? — Eu pergunto, torcendo para ela dizer que sim. Ela não morava muito longe de Shauna e Lynn e eu tinha certeza que as meninas poderiam dar uma carona pra ela. Isso se ela fosse embora ao invés de cair num canto qualquer da festa. — Te devolvo amanhã.

— Você já tá indo, Bea? A festa nem começou direito ainda. — Ela diz e eu concordo com um gesto impaciente. Se eu ficasse mais dez minutos aqui era bem capaz de eu cometer um assassinato. — E Quatro?

— Me faz um favor e não fala mais o nome desse cretino perto de mim. Por mim, ele pode arder no fundo do inferno, em agonia eterna. — Eu digo e ela arregala os olhos. — Sério, Chris. Me empresta seu carro. Pode me ligar na hora que você quiser ir embora que eu venho te buscar. Eu só preciso sair daqui.

Ela concorda com a cabeça e abre sua bolsa. Ela acha a chave do carro e me entrega, sem fazer mais perguntas. Eu agradeço, pego a chave e dou as costas à festa, indo embora rapidamente.

Dirijo o carro em velocidade alta, lutando contra as minhas lágrimas. Eu não queria chorar, mas estava sendo algo totalmente involuntário. Eu só queria chegar em casa e me jogar na minha cama e deixar o silêncio me engolir.

Era um pouco mais de meia noite quando eu estaciono desajeitadamente o carro de Christina em frente a minha casa e passo pela porta rapidamente. Eu estava totalmente descontrolada e só queria ir para o meu quarto, mas a voz da minha mãe, vinda da sala de jantar, me faz parar.

— Tris? É você que está em casa? — Ela chama e eu vou até lá, enxugando as lágrimas que escorriam pelo meu rosto. Eu me surpreendo ao ver Evelyn e Marcus jantando com os meus pais. Só o que eu queria era esquecer que Tobias existia, mas ele não parava de aparecer no meu caminho, mesmo que involuntariamente. — Você chegou cedo, querida. — Ela diz, sorrindo pra mim.

Eu me limito a cumprimentá-los e jogo a chave do carro em cima da peça do canto, junto com a minha bolsa e meu celular. Eu queria distancia de tudo. Eu já estava quase saindo da sala quando minha mãe volta a falar comigo.

— Querida, está tudo bem? Você estava chorando? Que chave é essa? — Ela pergunta, confusa, olhando para as coisas que eu tinha jogado no canto.

— Do carro da Christina. — Eu digo rapidamente, segurando o choro. — Ela me emprestou. — Eu dou de ombros. — Se vocês me dão licença, eu não estou me sentindo muito bem, vou para o meu quarto.

Não espero resposta nenhuma e saio, subindo as escadas praticamente correndo. Entro no meu quarto, bato a porta e me jogo na cama. É quando eu finalmente deixo as lágrimas escorrerem livremente pelo meu rosto. Afundo o rosto em um dos travesseiros, para evitar que alguém me ouça chorar. Eu mal consigo controlar meus soluços.

Ouço a porta se abrir vagarosamente, mas não me viro para ver quem entrava. Talvez, se a pessoa achasse que eu estava dormindo, ela me deixaria chorar em paz.

— Tris? — Minha mãe chama, entrando no quarto de uma vez e acendendo a luz — O que aconteceu, meu bem?

— Eu não quero conversar. — Eu digo, tirando o rosto do travesseiro e o enxugando com as minhas mãos. A minha maquiagem estava toda borrada, mas eu não me importava. Minha mãe e Evelyn entram no quarto e fecham a porta atrás delas.

— Tudo bem. — Minha mãe diz, se sentando na beirada da minha cama e fazendo carinho no meu rosto. Evelyn se senta na poltrona próxima a minha cama. — Mas deixa a gente ficar aqui com você. Você vai se sentir melhor se não ficar sozinha.

Eu dou de ombros e me limito a tentar controlar as minhas lágrimas. Não era do meu feitio chorar na frente das pessoas nem deixar que elas me vissem de uma maneira vulnerável. Minha mãe e Evelyn ficam em silêncio, mas provavelmente já tinham sacado que alguma coisa tinha acontecido entre Tobias e eu. Nós havíamos saído juntos horas atrás e até então estava tudo bem.

O nosso relacionamento passava por uns dias difíceis ultimamente, mas eu nunca esperaria que ele terminaria dessa forma. Nós andávamos discutindo bastante nas últimas semanas, sempre por alguma besteira, mas nunca tinha chegado nesse nível. Eu respiro fundo, sentindo a minha alma se estilhaçar junto com o coração. Nós tínhamos passado por tantas coisas juntos, sobrevivido a um sequestro, e era assim que tudo ia terminar. Uma briga em uma festa.

Fico deitada na cama, em silêncio, com o rosto enterrado no travesseiro, ignorando a presença da minha mãe e de Evelyn. Eu não conseguiria lidar com elas agora. Em algum momento, no meio dos meus pensamentos confusos e tristes, caio na inconsciência.


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Notas finais do capítulo

Vocês não querem me matar, né? rs



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