VIOLETTA CASTILLHO

Duas semanas depois...

— Olhem aqui... Estão vendo esse pontinho? Esse é o bebezinho de vocês! — O médico apontava para uma parte da tela, com o dedo perto de um pontinho que mais parecia um grãozinho de ervilha. Tive vontade de falar que o bebê era só de Leonard, mas a emoção do momento fez com que aquele erro cometido se dissipasse no ar como fumaça.
Senti um aperto na minha mão e me virei, encarando o rosto vermelho e molhado de lágrimas de León. Ele sorria feito bobo, acho que ele nem estava acreditando no que estava vendo. E eu muito menos. Mas logo estava chorando também, vendo que havia mesmo uma vida crescendo dentro de mim.

— Ele está ali mesmo, ele existe! — León dizia incrédula em meio às lágrimas e eu assenti, também muito emocionada. Era muita alegria para uma pessoa que mal conseguia controlar suas emoções.

— Está tudo perfeito. Como ainda está com cinco semanas, não podemos fazer muita coisa então apenas descanse e nada de esforço físico, ouviu? — Ele disse sorridente e eu assenti. Logo ele tirou a máquina que eu não sabia o nome de mim. Pelo que eu entendi, até que o bebê esteja maior ele não poderá realizar as consultas com a máquina de ultrassom externa. O que era bem estranho, por que a consulta ficava um pouco constrangedora.

— Vou me trocar, já volto. — Disse pegando minhas roupas e entrando no banheiro mais perto. Arrumei-me rapidamente e voltei para a sala onde o médico e León se encontravam.

— Está tudo em seus conformes, apenas peço para que não se esqueça que uma boa alimentação é tudo e que as vitaminas só farão bem aos dois.

— Sim, senhor. Farei com que ela não se esqueça disso. — León disse contente e então tratamos de nos despedir.

— Quero vê-los novamente em três semanas, tudo bem? — Ele perguntou e nós assentimos e saímos de seu consultório.

O dia estava frio mas não me importei muito, dessa vez eu estava bem agasalhada. O vento soprava quase congelando tudo o que tocava e parecia que hoje o Sol não ia dar as caras. Esfreguei uma mão na outra para que não ficassem frias e León percebeu que eu já estava um pouco incomodada com a baixa temperatura.

Tentei não mostrar o quanto fiquei nervosa quando ele segurou minhas mãos com as suas quentes para tentar amenizar o quão gélidas já estavam as minhas. Ele já havia segurado minhas mãos outras vezes - na própria consulta de hoje, mas eu mal tinha percebido - e eu não havia me importado tanto, mas depois daquele beijo de algumas semanas atrás, me sinto um pouco diferente quanto a León. Não me sinto mais tão confortável perto dele como antes. Tudo me faz voltar naquela noite quando nossas bocas estavam coladas uma com a outra e a única coisa que eu queria era que aquilo não acabasse nunca. Mas é claro que quando recobrei minha consciência sobre aquilo, me senti péssima. Não por Ludmila, nem nada disso mas sim pelo fato que que ele é nada mais, nada menos que meu chefe. Nada poderia acontecer entre nós dois. Nada.

Meus pensamentos foram interrompidos por uma forte rajada de vento, que fez com que ironicamente uma folha de jornal voasse e colidisse com meu rosto novamente. Segurei-a e encarei todo o conteúdo presente nela. Não era a parte de anúncios. Ri enquanto me pegava pensando que há quase três meses atrás eu estava passando frio, procurando um emprego que tirasse minha família da miséria em uma folha de jornal que havia me escolhido como um alvo.

— Do que está rindo? — Leonard perguntou sem entender minha reação e eu apenas assenti ainda rindo.

— Foi assim que eu me deparei com o anúncio que você colocou no jornal. — Suspirei um pouco mais leve em relação à proximidade que ele teimava em aumentar conforme andávamos pelas ruas do centro — Em pensar que se não fosse esse vento bendito... — Ele parou e me puxou para mais perto de si.

— Eu não teria o prazer de conhecer essa mulher tão forte, tão humilde e tão incrível que está na minha frente agora! — Ele disse com um sorriso encantador nos lábios. Senti meu rosto arder e pude ter certeza que estava mais vermelha que um tomate.

— Leonard...

— Violetta, até quando vai continuar fugindo de mim? Da realidade? Dos sentimentos? Você sabe o quanto mexe comigo. Seus olhos, seu sorriso, suas risadas. Você me faz querer mudar e ser uma pessoa feliz e boa sempre... — Ele parou de falar e me encarou fixamente. Seus olhos cor de esmeralda transmitiam tanta tranquilidade e tanto afeto que não consegui desviar os meus dos dele, como inicialmente pensei em fazer para amenizar aquele incômodo de ter que negar a ele o que eu tinha mais certeza de afirmação na minha vida inteira — Eu sei que esse sentimento é recíproco, não tente negar isso. Por que não deixa que eu me aproxime de você? Por que?

— Por favor, León... Pare! — Pedi e ele não falou nada. Mas seus olhos imploravam uma resposta, eu podia sentir isso — Não podemos, isso tudo é tão errado... Você é meu chefe, Leonard!

— E qual é o problema nisso? Por Deus, Violetta, por que não me dá uma chance? — Ele insistiu e eu respirei fundo.

— Eu não posso, não consigo! Já basta eu estar grávida de um bebê que nem é meu, você quer que eu, sua empregada, te dê uma chance no amor? Você já amou alguma vez em sua vida?

— Eu sei o que é o amor, Violetta! — Ele disse um pouco chateado pela minha pergunta — Você mexe comigo de uma forma tão forte... Seu sorriso acelera meu coração. Seu olhar me deixa louco de paixão e seu toque me dá arrepios, no bom sentido é claro. Não entende que estou apaixonado por você? Eu me imagino vivendo a minha vida inteira ao seu lado e ao lado desse bebê que está vindo. Por favor, pode falar qualquer coisa, menos que não sente o mesmo por mim!

Eu estava chorando? Por que eu estava chorando? Como era possível que suas palavras tivessem tanto poder sobre mim? Eu podia muito bem colocar a culpa nos hormônios, mas eu sabia que não era por causa deles que eu estava naquele estado. Eu estava apaixonada por ele e não podia mais negar isso.

— Céus, por que tudo tem que ser tão complicado? — Me perguntei em voz alta, atormentada. León segurou os meus braços e me puxou, colando nossos corpos.

— Não há nada de complicado em admitir isso, Violetta. — Ele soltou um de meus braços e limpou uma lágrima do meu rosto com sua mão livre — Eu estou apaixonado por você e já não consigo guardar esses sentimentos só para mim. Tenho esperanças de que sinta o mesmo, mas se não sentir, entenderei. Ou tentarei entender.

— E-Eu... León... — Gaguejei nervosa, e ele suspirou — Eu também gosto de você...

Eu nem tive tempo de mirá-lo direito depois do que eu falei. León segurou meu rosto cautelosamente com as duas mãos e depositou um beijo demorado em minha boca, mas eu estava sonhando quase todas as noites com o seu delicado e perfeito beijo. Do nosso primeiro beijo... Eu sentia que queria mais, então passei minhas mãos pelos seus braços e logo depois acariciei seus cabelos sedosos. Ele pareceu entender e aprofundou o beijo. Sua língua invadiu minha boca com tanta delicadeza que fiquei admirada. Tínhamos uma sincronia perfeita, nossas línguas não podiam estar mais ritmadas e suas carícias não podiam ser mais aconchegantes... Por que que ele tinha que ser tão perfeito em tudo?

Nos separamos aos poucos e quando já estávamos menos ofegantes por causa do ar que havia se feito necessário momentos antes, nos encaramos silenciosamente. Ele sorria humildemente, como se aquele beijo sumisse com todo e qualquer problema de sua vida. Mas ele tinha que entender que eu ainda não estava preparada para um relacionamento, ainda mais de esse fosse com Leonard Vargas.

— Espero que esteja satisfeito, porque não admitirei que isso aconteça de novo... — Dei uma pausa e ele me encarou com um olhar atônito — ... Não por enquanto. Tenho que assimilar tudo isso na minha cabeça, é tudo tão novo para mim! Não acho que estou preparada para um relacionamento agora. Espero de verdade que me entenda.

Ele me encarou sorridente, deixando suas lindas covinhas à amostra. Ele voltou a segurar meu rosto com suas mãos e depositou um beijo rápido em meus lábios.

— Eu entendo. Darei o tempo que precisar, contanto que no final disso tudo fiquemos juntos... Aceito esperar!

Não respondi. Um sorriso sem graça brotou em meu rosto e ele riu quando percebeu o efeito de suas palavras sobre mim. Será que seria sempre assim? León falaria algo bonito e eu praticamente desmancharia aos seus pés? Uma hora eu cansaria de passar de sólido para líquido com apenas seus elogios. Cansaria, não?

— Vem, vamos dar uma passeada no shopping pra quebrar um pouco desse bloco de gelo que se instalou entre a gente. — Ele disse sorrindo e eu gargalhei assentindo.

...

A tensão no ar de momentos antes haviam sumido por completo, como num passe de mágica. Nós estávamos nos dando tão bem que era até estranho. Ele não ficava em cima de mim, pressionando para que eu, loucamente, resolvesse me casar com ele em dois dias. Isso era um alívio.

Continuamos a andar pelo shopping, conversando sobre assuntos aleatórios da atualidade. Paramos para comer algo e depois voltamos a andar mais um pouco. León as vezes parecia que só faltava me pegar no colo e me carregar para onde quer que fosse, tudo por que ele sismava que a cada dez passos que eu dava, podia passar mal de cansaço ou alguma coisa do tipo. Seria bom se ele guardasse essa coisa de ser super protetor para o filho ou filha dele. Eu não merecia ser tratada com uma enferma em pleno shopping.

— Não quer parar para descansar? — Ele perguntou pela milésima vez e eu bufei em sua direção, demonstrando minha frustração.

— León, me escute. — Disse calmamente, tentando ao máximo me controlar — Eu estou grávida, não doente e em estado terminal. Pare de ficar tão preocupado com nada.

— Mas eu quero me preocupar... — Ele disse baixo e por arrependimento meu, passe minha mão por sua bochecha — É o meu filho que está aí, entende? E quero que você se sinta bem e confortável também...

— Tudo bem, eu sei que não foi por mal. — Disse me virando para começar a andar para um lado mas León me puxou para o outro.

— Seria um bom dia para comprarmos a primeira roupinha dele ou dela? — Ele me perguntou sorridente e apontou para uma loja de roupas de bebês à alguns metros de nós.

— Seria... Seria, sim! — Respondi tão contente quanto ele.

Adentramos à loja e já nos deparamos com as mais diversas roupinhas, desde mini roupões de banho até pequenas e muito fofas pantufinhas de bichinhos. Enquanto eu me perdia em meio aos ursinhos de pelúcia de um lado da loja, León se deliciava vendo alguns sapatinho do outro. Em um momento, nossos olhares se focaram em um único cardigan, pendurado em um cabide perto da entrada. Rimos quando nossas mãos se tocaram ao pegar a roupinha. Eu podia ver seus olhos brilhando ao encarar, agora de perto, a peça. O cardigan era fofo ao extremo, marrom acinzentado bem clarinho e tinha uma espécie de blusa social beje por baixo, mas só aparecia parte de suas mangas e sua gola. Mas havia um problema... Não era de cor neutra.

— Mas é masculino, nem sabemos se é menino ou menina... — Disse e ele apenas riu — Imagina se você resolve comprar essa roupa e acabamos descobrindo que é menina?

— Tenho certeza de que ela não irá nos matar por isso... — Ele riu bobo e eu dei um tapa em seu ombro.

— Então, acha que será uma menina? — Perguntei e ele parou para pensar um pouco.

— Se for, será linda como você... — Ele disse quase em um sussurro mas consegui escutar direitinho. Do que ele estava falando? Resolvi dar de ombros ao sentir minhas bochechas arderem pela milionésima vez hoje.

Uma outra parte da loja era preenchida apenas por móveis. Diversos berços, cômodas e armários eram dispostos com a finalidade de formarem pequenos quartos de amostra. Andei até lá para dar uma olhada. Ri quando percebi que um berço tinha forma de uma carruagem, como as de princesa e outro mais parecia um carro de verdade. Mas a minha atenção foi totalmente para um bem escondido atrás daqueles "carros alegóricos", vulgo berços. Ele era branco e bem simples mas tinha um ar de sofisticado ao mesmo tempo em que seu design exalava antiquado. Era realmente lindo.

Olhei em volta para ver onde León se encontrava e me deparei com uma cena um tanto engraçada. Uma das atendentes parecia dar em cima dele, se aproximando mais toda vez que tinha chance e ele, de um jeito galante, tentava a afastar. Não resultando então em praticamente nada. Num dado momento, nossos olhares se cruzaram e ele fez uma careta apontando com os olhos para ela enquanto a moça estava distraída. Cruzei os braços e ri de seu pequeno desespero. Andei até lá em passos lentos e quando o alcancei, arranquei o pequeno cardigan de sua mão e o abracei de lado.

— Oi, amor! — Disse fingida e sorridente. Dei um selinho nele e encarei a atendente, que me olhava com a cara fechada, parecia levemente irritada — Ah, querida, gostaríamos de saber se teria um cardigan desse tipo só que unissex...

— Não sabemos se é menino ou menina... Por enquanto só peças brancas. — León entrou no seu personagem e a atendente o encarou de uma forma séria, meio desiludida até e eu ri fraco.

— Hum, eu posso ver para vocês... — Ela disse já saindo de perto.

— Agradeço desde já. — Respondi educada e depois comecei a rir, mas disfarcei para que ninguém percebesse que eu estava me divertindo com aquilo. León suspirou aliviado quando viu que ela finalmente havia saído de sua frente e segurou meu rosto com as mãos macias e um pouco geladas.

— Obrigado! — Ele disse contente e eu apenas assenti.

— Aqui está. — A garota apareceu com um novo cardigan, mas dessa vez branco e, particularmente, mais fofo ainda.

— Obrigada, querida. Vamos, babe? — Puxei León para o caixa para finalizar a compra.

Saímos da loja em total silêncio mas nenhum de nós segurou a risada ao se afastar de lá. Aquilo havia sido muito engraçado, talvez até inesquecível. Lembrar da cara que a atendente fez ao me ver abraçada com ele me fazia querer rolar de tanto rir. Acho que León compartilhava de um mesmo pensamento que eu por que suas gargalhadas só aumentavam toda vez que ele olhava disfarçadamente para dentro da loja novamente.

— Formamos uma dupla perfeita, não? — Disse ainda anestesiada das risadas de momentos antes. León parou bruscamente, me encarando sorridente.

— Formamos um casal perfeito, não? — Ele disse como se estivesse corrigindo minhas palavras e eu tapeei seu braço — Ei, quer me deixar roxo?

— Vá te catar, Leonard! — Vociferei mas logo depois começamos a rir novamente.

E então comecei a pensar novamente sobre nossa situação. Eu estava disposta a reconsiderar a questão sobre ficarmos juntos. Ele me fazia um bem tão grande que parecia um pecado me distanciar dele ou negar querer a presença dele na minha vida. Eu não queria mais viver sem seu sorriso. Eu é que não queria ficar sem seu encantador olhar sobre mim.

Eu preciso... Ou melhor, necessito dele.
Eu, definitivamente, necessito de Leonard Vargas.