Lembranças de uma Saudade escrita por Bia Flor Escritora


Capítulo 5
Minha Resposta


Notas iniciais do capítulo

Aqui estou com mais um capítulo. Eu sei que havia prometido o capítulo para ontem, mas infelizmente não deu! :(
Espero que gostem! Boa leitura!!



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** Sara**

Sempre fui uma pessoa que precisou ser forte para aguentar as amarguras da vida e lutar pelo por tudo que quisesse, que almejasse. Eu não acho que isso tenha sido ruim. Tudo pelo que passei serviu para construir a pessoa em que me tornei hoje. Não posso dizer que sou forte – definitivamente essa não é uma característica minha – mas posso dizer que sei me colocar no lugar do outro, sei compreender o que a outra pessoa está enfrentando, ou pelo menos tento entender.

A palavra Amor nunca teve um significado real para mim. Sempre foi uma palavra vazia, apenas um verbete no dicionário. Porém tudo mudou quando conheci o homem mais perfeito do mundo – pelo menos ele era perfeito para mim na época – o homem que passou a povoar os meus sonhos e meus pensamentos desde o primeiro dia em que o conheci.

Durante muito tempo fui considerada como uma pessoa introvertida, alguém que não sabia conviver socialmente, um ser que vivia perdido em seu próprio mundo. Tudo isso era verdade. E não era para menos considerando tudo o que já vivi. Depois das muitas experiências traumáticas, me fechei para o mundo. Eu não confiava nas pessoas. Elas nunca me deram razão para isso.

Para que você entenda um pouco minha história, tenho que voltar no tempo. Para a época de minha infância. Nasci na Baía de Tamales, na Califórnia.  Eu me julgava uma menina feliz. Tinha um pai e uma mãe que me amavam – pelo menos era o que eles diziam -  Eu só não entendia uma coisa: por que papai e mamãe brigavam tanto, se eles se amavam. De vez em quando eu via minha mãe com o rosto arroxeado e quando eu perguntava o que havia acontecido, ela dizia que havia caído da escada ou que havia escorregado no banheiro de casa. Muitas vezes ouvi gritos e mais gritos, nesses dias, meu irmão mais velho – sim, eu tenho um irmão mais velho – me levava para o quarto e cantava alguma música para me acalmar. Para uma menina de mais ou menos sete anos, ver sua mãe ir constantemente ao hospital parecia coisa normal. Mas não era. Eu só soube disso no dia em que havia voltado da escola e encontrei minha mãe debruçada sobre meu pai, toda suja de sangue com uma faca ensanguentada em suas mãos. Meu pai estava imóvel, de seu corpo uma saía uma grande poça de sangue. Lembro vagamente de minha mãe dizendo quase aos prantos:

— Ele nunca mais vai me fazer mal. Nunca mais!

Depois disso, tudo o que me recordo é de uma mulher chegar a minha casa, me tomar pela mão e dizer que tudo ficaria bem. Naquele dia eu aprendi uma lição. Eu não podia confiar em ninguém. Se eu não podia confiar em meus pais que eram as pessoas que deveriam me proteger, quanto mais nos outros... Minha mãe foi levada para um hospital psiquiátrico, enquanto que meu irmão e eu fomos levados para um orfanato. Ele jurou nunca me abandonar. Mas não teve como cumprir a promessa.  E eu não o culpo por isso. Nenhum casal queria adotar irmãos. Mike foi adotado poucos meses depois que chegamos ao orfanato. Ele sempre foi um rapazinho adorável.  Todos os casais que chagavam ali se encantavam com ele e queriam levá-lo. Até que um dia ele teve a sorte de encontrar um lar.

Eu não tive a mesma sorte. Perambulei por várias famílias, mas como era arredia ninguém me aturava por muito tempo. Eles não conseguiam ver que por trás de toda aquela muralha que eu havia construído existia uma criança carente de carinho e de atenção. Apenas uma pessoa conseguiu enxergar isso. Fui adotada por uma bondosa e paciente senhora chamada Marie Ann Clarice. Marie me deu a família que sempre sonhei. Além de uma mãe e um pai extremamente amorosos, eu ganhei dois irmãos. Foi Marie quem me incentivou a estudar.

Sempre fui precoce para minha idade e aos dezesseis anos fui admitida em Harvard, onde cursei Bacharelado em Teorias Físicas. Mais tarde recebi título de mestre na Universidade de Barkley. Na faculdade até arrisquei um pouco de contato social, mas sempre sem muito êxito, não era fácil me abrir. Depois de formada me mudei para São Francisco e comecei a trabalhar como assistente de legista no Laboratório de Criminalística da cidade.

E foi exatamente nessa cidade que eu conheci aquele que mudaria minha vida para sempre. Minha vida no Laboratório era estressante e para piorar as coisas eu teria que participar de uma Conferência Forense. Confesso que no começo não me animei.  Sempre que tinha oportunidade eu fazia um passeio pelo meu lugar preferido: Crissy Field Beach. Gostava de dar voltas pela orla e ver as lindas paisagens. Dali dava para ver a Golden Gate e Alcatraz. Era magnífico. Em um dos meus passeios parei ao lado de um homem extremamente charmoso. Não que eu tenha notado isso logo de cara, mas não dá para fingir que não se vê um homem maduro, charmoso e encantador e que ainda trava uma conversa com você. Nunca vou esquecer o som adorável de sua voz. Conversamos durante algum tempo. Eu nem sabia seu nome.  Aqueles olhos, meu Deus! Aqueles olhos foram minha perdição.

Durante aquela noite eu não pude dormir. O destino não existia para mim até que aquele homem o mudou. Em meu barco eu navegava em liberdade com a vela de minha alma e nada mais. Em meus dias não encontrava lógica. Cada noite era uma dúvida a mais. Sentia-me como flor de plástico esquecida em um lugar inóspito. E eu dançava em equilíbrio até saber o frágil que ao cair se pode ser. Em frente ao espelho quantas vezes perguntei se chegaria o amor para mim também.

Minha resposta chegou no dia da Conferência. Cheguei pontualmente como sempre fazia. Postei-me na terceira fileira a contar do palanque para a entrada do auditório. Durante a primeira palestra não prestei muita atenção e quase não prestei na segunda até que ouvi aquela voz. A linda voz que reverberava em minha mente como uma música que se coloca para repetir incansavelmente. Levantei meu olhar e deparei-me com o dono daqueles lindos olhos azuis que eu havia conhecido na praia. Busquei em minha mente o nome que o coordenador geral do evento havia proferido para apresentar-lhe. Gilbert Grissom,  era esse o nome. De alguma forma eu sentia o olhar do senhor Grissom para mim, como se ele quisesse que eu interagisse com ele. Quase que inconscientemente levantei minha mão e formulei uma pergunta a qual ele prontamente respondeu. Aquilo me deu coragem para continuar. No período da tarde continuei a fazer perguntas.

Novamente me vi sem poder dormir. Eu experimentava uma sensação nova. Cada vez eu pensava em Grissom, meu coração disparava, minhas pernas tremiam e ficavam bambas. Agora eu sei que minha resposta era ele porque eu vivia por ele. Agora sei que minha resposta encontrei, amor. Sim ele era meu amor. Meu primeiro amor de verdade.

Ao final do segundo dia da Conferência recebi o convite que eu tanto esperava. Ele me convidou para lanchar com ele. Conversamos agradavelmente e quando menos eu esperava, ele me beijou. E que beijo! Eu quis sem conseguir me decidir, afinal tinha um coração de nômade. Tinha medo de me entregar. Durante muito tempo em minha vida cada fogo era uma chama efêmera e minha pegada um sinal milésimo. Tinha vivido no seio da apatia e meu tempo guardava em um baú. Minha trincheira foi minha triste solidão. Eu roguei para alguém como ele algum dia chegasse a minha vida.

Nos dias que se seguiram passeamos como dois namorados, de mãos dadas. Nos beijamos outra vez. Eu imaginava uma vida junto ele. Dias fáceis. Maravilhosos dias mais fáceis para mim. E quantas vezes ao espelho eu perguntei onde estava o amor que eu sonhei. Agora eu sei que minha resposta é ele porque eu vivia para ele. Nunca serei a mesma porque terei o amor dele para mim. Ele chegou devagar e tomou conta de todo o meu ser com isto me basta saber que eu não duvido dele. Como um círculo que a água vai abrindo, como a madrugada que começa a despertar, a terra do meu mundo eu tinha nele, as coisas tinham sentindo assim.

Eu pensava que as dúvidas jamais regressariam para mim. Enganei-me.  Grissom havia me falado que permaneceria na cidade apenas por uma semana, mas eu tentei me enganar e quis acreditar que ele ficaria mais um pouco. Foi com grande dor que o vi partir. Meu coração foi junto com ele. Eu estava sozinha outra vez.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam?
Deem uma olhadinha na fic nova Escrito nas Estrelas
https://fanfiction.com.br/historia/683328/Escrito_nas_Estrelas/
Até o próximo capítulo! Bjinhos da Bia!!



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