**Grissom**

Queria usar palavras bonitas para narrar minha história, no entanto escolhi usar palavras simples para transmitir tudo o que já passei e tenho passado. Vejamos por onde posso começar a história da minha vida... Já sei!

Tudo começou quando fui convidado para fazer uma série de palestras na Conferência Forense em São Francisco, Califórnia. Dentre os muitos significados que o Estado tem para mim, como contarei mais adiante, um deles é que eu nasci nesse local. Não em São Francisco, nasci em uma cidade chamada Santa Mônica e cresci em outra chamada Marina Del Rey. Tenho lembranças alegres e tristes de lá. Minha infância e adolescência decorreram nesse Estado, mas também foi lá que perdi meu pai aos nove anos. E acredite isso é muito doloroso para um garoto de nove anos.

Sou formado em Biologia pela Universidade da Califórnia, com especialização em Entomologia, portanto, o tema de minhas palestras giraria em torno da Entomologia aplicada à cena do crime. É evidente que eu não era o único convidado. A Conferência duraria uma semana e era um evento obrigatório aos CSI’s em início de carreira. Quando falo em Entomologia, os leigos me olham com o canto do olho meio ressabiado. Parece um termo complicado, mas não é. Em termos gerais, seria o estudo da biologia de insetos e vermes em processos criminais, isto é, ela auxilia na investigação de um assassinato, por exemplo, ajudando a determinar local e tempo dos incidentes de acordo com a fauna encontrada no cadáver e o estágio de desenvolvimento desta. Bem, isso basta para entender o que faço. Além disso, trabalho como perito criminalista no Laboratório do Departamento de Criminalística de Las Vegas. Sou CSI nível 4. Tenho orgulho em dizer que sou melhor do país na minha área e creio que foi por isso que fui convidado como palestrante para a Conferência.

É claro que eu tenho uma história antes dessa que escolhi para começar minha narrativa. Talvez em algum momento eu conte, ou talvez não. Isso não tem importância agora. Escolhi iniciar meu relato por essa etapa da minha vida porque foi a mais importante – mais importante até que o dia da minha formatura ou o dia que comecei a trabalhar no Laboratório – foi nesse período que conheci a pessoa mais importante da minha vida, aquela que mudaria completamente minha simplória existência. Na época eu não sabia – ou tentava me enganar – entretanto naquele evento eu havia conhecido a mulher mais linda, mais encantadora, mais deslumbrante que eu jamais havia visto. Eu havia conhecido a mulher da minha vida.

Como eu já conhecia a cidade cheguei com dois dias de antecedência para a Conferência. Não me julgue mal, mas eu não podia perder a oportunidade de visitar lugares incríveis que só existiam ali. E eu sabia que quando a Conferência começasse dificilmente eu teria tempo para realizar tais incursões. Quem quer que fosse a São Francisco não podia deixar de visitar a Crissy Field Beach, o Presídio – a praia fica dentro do presídio. É o máximo! -, o The Walt Disney Family Museum e o Exploratorium. O mar pode até ser gelado, mas a vista é incrível. Da Crissy Field Beach se você olhar para o seu lado esquerdo dá para ver a linda Golden Gate e se olhar para o seu lado direito dá para ver Alcatraz. É uma visão encantadora.

O primeiro lugar que decidi ir foi à praia Crissy Field Beach. E devo dizer que não me arrependo. Foi a escolha mais acertada. Fiz minha visita à tardezinha, o sol já quase se punha. Eu estava parado observando maravilhado aquela cena espetacular, que mais parecia uma cena de cinema, quando uma criatura linda, parecida que saíra das telas de Da Vinci surgiu à minha frente. Ela não devia ter mais do que vinte anos. Era morena, tinha os cabelos castanhos soltos, usava um vestido de algum tecido leve com estampas de pequenas flores. Ela passou do meu lado e pude sentir seu perfume de jasmim. Mal pude me conter porque ela parou ao meu lado. Aquela beldade estava do meu lado e eu precisava fazer alguma coisa, precisava falar com ela. Não sei o que estava acontecendo comigo, contudo eu sentia uma necessidade urgente de travar um primeiro contato com aquela moça. Nem sei por quê. Talvez eu nunca mais a visse. Droga! Eu estava me sentindo como um adolescente. E acho que nem quando eu estava nessa fase me senti tão inepto. Era estranho um homem de quase trinta anos se comportar dessa maneira. Falei a coisa mais boba do mundo, mas a única que consegui pronunciar. Foi assim que a conheci naquele dia junto ao mar:

— Oi – eu lhe falei.

— Oi – ela me respondeu, lançando-me um sorriso encantador que mostrava uma ligeira falha em seus dentes superiores. Encantador.

— O que uma menina tão linda faz aqui sozinha? – eu arrisquei a perguntar e ela nada respondeu, apenas sorriu mais uma vez.

Voltei meu olhar para a vista à minha frente. Ela fez o mesmo.

— Eu amo esse lugar. Não sei, parece que me faz sentir livre. Gosto de sentir o vento batendo no meu rosto como se fosse uma leve carícia – ela disse de repente, rompendo o silêncio que havia se instalado entre nós.

— Eu também.  Esse é um dos meus lugares favoritos. Quando tenho a oportunidade de vir aqui, venho apreciar essa bela paisagem.

— Você não mora aqui? – ela me perguntou, seus olhos deixavam transparecer curiosidade.

— Não. Moro em Las Vegas, Nevada – respondi – E você? Mora aqui?

— Moro – ela respondeu simplesmente – Por que o senhor veio de tão longe?

— Vim a trabalho – era verdade.

Ela calou-se. Talvez pensando que suas perguntas me incomodavam. Ela não tinha como saber que sua voz melodiosa era como música aos meus ouvidos.

— Eu preciso ir. Foi bom conversar com o senhor – ela se despediu de mim com aquele sorriso lindo.

Só então me dei conta de que nem ao menos lhe perguntei o nome. Observei as ondas virem beijar a praia e o sol brilhar de tanta emoção. Aquele rosto lindo como o verão ficou na minha mente. Era possível que eu nunca mais a visse, todavia eu sabia que não a esqueceria. Com aquela menina tive a impressão de que já a conhecia, de que ela era especial.